Jasmine escrita por YOSEN912


Capítulo 1
I


Notas iniciais do capítulo

Bom, essa one faz parte do Projeto Disney In Reverse. Para entender a one recomendo que assista ou assista de novo o filme. lol Não liguem muito para a escrita, eu corri contra o relógio e não saiu como esperava. ;_;



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Boa noite, valioso amigo.

Venha ler essa história que ocorreu em Agrabah, uma cidade de mistérios e encantamentos. Lugar de intensas tempestades de areia, caravanas de ladrões cruéis, que pelo menor motivo que seja, cortarão sua orelha apenas para mostrar o quão bárbaro é esse lar. Uma imensidão arenosa; terra onde o dia e a noite são tão quentes, que irão deixar você num estado de puro êxtase. Lugar de orgias, roubos e trapaças.
Se você se distrair, desviar os olhos, cairá e ficará para trás na busca por tesouros escondidos nas dunas de areia.

E sobre os artigos excepcionalmente raros dessa terra, muitos de vocês, caros leitores, já se interessaram em saber sobre a Lâmpada Mágica. Mas não se deixe enganar! Ela é como qualquer outro artefato; não aparenta ser o que é. Essa Lâmpada já mudou o destino de dois jovens nativos. Jovens semelhantes a lâmpada. Que eram mais do que aparentavam ser. Dois belos diamantes brutos.

Antes de começar a dissertar sobre qualquer coisa sobre a vida de Jihad e Aladdin, vem duas simples perguntas:

O que é liberdade para você? Qual é o seu mundo ideal?

Primeiramente, não existe a possibilidade de definir a liberdade de uma maneira direta. É tão complexa a forma que esse termo se constrói, que cada pessoa responde a mesma de acordo com suas necessidades - além que há diversos tipos de liberdade.

Em conceito geral, passa a ser um termo para definir a necessidade de concretizar sonhos, conquistar o seu próprio espaço e itens que estão além de sua esfera privada e, por consequência, ser aquilo o que é ou quer ser.

O sonho de ser livre, por muitas vezes, é o único conforto que alguém pode ter ao longo de sua vida. De suprir a falta que existe dentro da alma, por ser acuado, preso, torturado pela realidade que é enfrentada todos os dias.

E esse sonho, distante e não palpável, passa a ser uma válvula de escape para qualquer pessoa. Entretanto, os jovens acabam sendo as vítimas mais afetadas, por nutrirem sonhos e expectativas que ultrapassam os limites impostos pela vida, e se você perguntar para algum deles o que mais almeja naquele exato momento, a possibilidade de receber alguma resposta com ''ser independente'' ou ''liberdade'' em sua essência é gigante. E realmente, não há nada melhor que poder ir e vir sem que terceiros tentem intervir nisso. A autonomia que a juventude sonha, em um mundo ideal onde não existam problemas e a tão temida responsabilidade, é por vezes, o que move alguém aos seus objetivos - fazendo de tudo para alcançá-los.

E para ser sincero, Jihad não escapava dessa estatística.

Toda vez que se debruçava no galho da árvore que ficava nos limites do palácio, seus olhos brilhavam, imaginando todas as paisagens que existiam fora daqueles muros. Seus lábios formigavam, pensando em todos os sabores novos e exóticos que um dia experimentaria.

Em seus vinte anos de vida, completos a três luas atrás, nunca ultrapassou os muros alto que delimitavam o seu mundo tedioso do real.

Fazia questão de deixar claro que gostaria de viver no mundo onde ele poderia respirar sem ser questionado por isso. E por mais que soubesse que a liberdade era um conceito utópico, o rapaz queria poder desbravar todos os cantos; desde as planícies de areia que sua terra abrigava aos grandes oceanos que eram descritos nos livros de história na biblioteca do palácio. As montanhas de gelo, as águas ardentes, as florestas verdes... Jihad queria saber como era o mundo em seus vários aspectos.

Estava cansado de ser um pássaro com o destino era ser confinado em uma gaiola para o resto da vida. E mesmo que, se fosse para ser um pássaro, que fosse livre. Com as asas libertas, que pudesse voar para onde quiser. Que pudesse deixar gravado em mente e coração todas as experiências e lembranças de onde passasse.

Jihad só queria que seu desejo se realizasse.

Até pensou que seu pai pudesse-lhe entender; entender esse desejo ardente que apoderava cada vez mais de seu coração. Mas de todas as vezes que tentou tocar no assunto, com o tom de voz mais macio e aveludado que conseguia reproduzir, a resposta negativa que recebia era dolorosa. Um tapa na cara que era desferido em seu rosto, dizendo-lhe com todas as letras ''Você não consegue, não pode e nem deve sair deste palácio. Seu Lugar é aqui''.

E como um bom príncipe que era, Jihad engolia os esporros em silêncio, esperando o dia em que a decepção de seu pai tornaria-se palpável por ter um filho fujão.

Quanto mais velho ficava, o sonho de fugir daquele lugar parecia ficar cada vez maior. Por incontáveis vezes chorou na calada da noite, tendo como único conforto Rajah, o tigre que de estimação que recebeu ainda criança como presente de sua falecida mãe.

Em todas as noites, olhava o céu estrelado e, lembrava-se da mesma. Ela era tão parecida consigo. Carinhosa, teimosa, rebelde. Sentia falta do abraço aconchegante, das histórias que ela contava sobre os lugares por onde havia passado e, principalmente, dos beijos de boa-noite. Jihad queria saber o porquê dela não estar mais ali. O porquê de sua mãe não estar viva para apoiá-lo. Só queria ter tido a oportunidade de beijá-la e abraçá-la pela última vez. Ter dito que amava mais que a si mesmo.

Ainda podia lembrar das últimas palavras trocadas.

''Você está determinado a realizar todas as suas ambições, Jihad. Não deixe ninguém ficar no seu caminho. Você nasceu com muitas vantagens que podem parecer desvantagens quando você esta tentando ser, apenas, você mesmo. Você é independente e não é afetado pelas opiniões de terceiros. Então meu filho, não desista. Vá atrás daquilo que deseja e encontre seu verdadeiro amor. Por favor, Jihad, não seja como eu. Seja o que deseja ser. Faça o que deseja fazer. Não morra como um pássaro sem asas, porque elas, meu filho, irão ser sua salvação.''

Porém, seu papel como príncipe de Agrabah lhe reservava outro destino.




O sol já se aconchegava no horizonte quando um velho baixo e gordinho adentrou nos aposentos do moreno. Toda vez que seu pai o visitava em seu quarto, o assunto era o mesmo.

Casamento. Assunto tão tedioso, que apenas por brincadeira, Jihad já havia decorado o discurso. Sentado no divã que ficava ao lado da porta que dava acesso ao seu próprio jardim, Jihad observou seu progenitor sorrir nervoso, enquanto sentava em uma das cadeiras que estava em volta da mesa de madeira bruta no centro do quarto.

“Já sabe o do porque de eu estar aqui... Certo, meu filho?” O homem de cabelos branquinhos, perguntou num tom risonho. O sultão esperava que pelo menos desta vez, seu filho não fosse tão cabeça-dura e terminasse a conversa com uma resposta afirmativa. Com um belo sim para alguma das propostas de casamento que recebia a cada semana.

Já era de se esperar que Jihad, o tão belo e aclamado Príncipe de Agrabah, fosse uma das pessoas mais cobiçadas do mundo. Tanto por mulheres quanto homens. Como tradição, meio ano depois do vigésimo aniversário, o herdeiro do trono árabe deveria se casar com um rapaz ou uma moça de sangue azul, que ao seu lado, pudesse governar Agrabah. Se optasse por um príncipe, para manter a linhagem real, deveria após cinco anos, escolher uma mulher de bom porte para gerar e cuidar de seus filhos.
Restava apenas cinco meses para que Jihad encontrasse o partido ideal e fazer com que relacionamento futuro de ambos se tornasse oficial perante as leis dos homens. A única coisa que impedia esse plano perfeito, era o simples fato que Jihad não queria se casar. De maneira alguma. Fora de cogitação. Impossível.

Não bastavam as amarras que o prendiam naquele palácio - o amor pelo seu pai e, seu papel como príncipe e futuro herdeiro do trono -, ter mais uma na lista, só que dessa vez a outra pessoa ''desconhecida'', fazia Jihad estremecer. Se um dia fosse se casar, que fosse por amor. Não por uma necessidade de cumprir as expectativas que todos colocavam sobre si.

“Certo, eu sei.” Respondeu simplório, sentindo o ronronado baixinho de Rajah aos seus pés. “Mas eu realmente não quero falar sobre esse assunto agora, meu pai. Temos longos meses pela frente. Também sei que vossa majestade tem medo que eu fuja e não cumpra com as minhas obrigações de príncipe, mas apesar de ser mesquinho, sei quando devo sacrificar meus desejos egoístas para o bem de outros que não tem a mínima culpa sequer na criação que tive.” Sua voz saiu harmoniosa, enquanto o sorriso fraco adornava seus lábios finos. “Desculpe-me meu pai, mas quando for a hora, minha resposta será dada com satisfação. Por enquanto, nenhum dos pretendentes apresentados me agradou. Prometo que quando gostar, o mínimo sequer de um deles, irei acatar a ordem de matrimônio.” Jihad sabia que estava mentindo descaradamente. Uma hipocrisia sem fim.
Queria fugir dali na velocidade de um leopardo. Sair daqueles muros, esquecer da responsabilidade que estava recaída em suas costas. Gritar aos sete ventos que era livre. Entretanto, a partir do momento em que o sonho egoísta envolvia outras vidas, o sacrifício é inevitável. A liberdade utópica precisava ser sacrificada. Para o bem de um povo.

Sacrifícios. Liberdade. Utopia.

Três palavras tão simbólicas, que fizeram os olhos de Jihad marejarem levemente. Nem mesmo seu pai, que estava com o olhar fixo sobre si, percebeu. Forçou um sorriso branco, de dentes alinhados, digno de sangue real a seu Sultão.

“Fico alegre em escutar isso, filho.” O velho, de barriga flácida, ditou brincando com uma fileira de bonequinhos de porcelana postos de maneira calculada na mesa. “Só que agora é a hora, Jihad. Sim, há ainda meio ano pela frente, mas para que não ocorra nenhum imprevisto e também, para que você tenha uma relação amigável em seu casamento, eu já decidi quem irá ser seu futuro marido.”

A boca semiaberta e os olhos arregalados de Jihad deixavam o quão surpreso o garoto estava. De supetão, levantou-se do divã, colocando-se a frente do mais velho. “Como assim o senhor já escolheu?” Perguntou em tom baixo, sentindo sua garganta doer após proferir aquelas palavras. Olhava ainda incrédulo para o sultão, que se mantinha brincando com os bonecos com um olhar visivelmente acuado. Jihad sabia que seu pai nunca iria decidir sobre quem deveria ocupar o trono ao seu lado. Por mais que o Sultão de Agrabah lhe desse várias proibições, escolher a pessoa que Jihad passaria o resto da vida como marido e amante não era uma situação viável. “Quem, pai? QUEM É ELE?” Gritou veemente, esperando uma resposta direta do Sultão.

O homem rechonchudo fitou-o um pouco perdido, mas logo esboçou um sorriso na tentativa de apaziguar a situação.

“Jafar.”

A resposta não foi uma surpresa para Jihad. “NÃO! EU NÃO IREI-ME CASAR COM ELE!” Bateu com força, ambas as mãos na mesa, fazendo com que os soldadinhos de porcelana tremessem e caíssem sobre a mesa. Apenas um pobre soldado solitário caiu ao chão.
Quebrou-se. Transformou-se em pedacinhos, assim como o coração de Jihad.

Mas é claro... Só poderia ter sido ele.

Quando ruído típico de porta sendo aberta chegou aos ouvidos do moreno, Jihad com sua postura naturalmente firme, retribuiu o olhar de desprezo que lhe era direcionado.
O sorriso cínico que era estampado nos lábios de Jafar, o Grande Vizir de Agrabah, não mais assustava Jihad como antes. Logo que se deu por gente, Jihad já conseguia ver o mau caráter que Jafar era. As mentiras, o suborno e a manipulação que ele fazia em seu pai. E por mais que tentasse avisar o velho, de todas as formas que conseguia, o Vizir conseguia se inocentar. Seu ódio só cresceu ao ver o mesmo cruzando a porta de seu quarto, sem autorização, com um sorriso vitorioso e olhar de cobiça.
Tentou pegar a mão do príncipe, que logo se afastou, sentindo nojo da cena que era planejada a ocorrer.

“Não ouse tocar em mim.” Virou-se de costas, fitando com decepção seu pai. O Sultão de Agrabah tinha um olhar triste, mas manipulado, como se no fundo, soubesse o que Jafar havia feito para chegar até aquela decisão.

“Como não irei te tocar, meu querido futuro esposo?” Conseguia sentir de longe o veneno no tom de voz de Jafar. “Em algum momento teremos que ter intimidade... Melhor começar desde já.” Jafar, homem alto, magricela e de perfume amadeirado que fazia o nariz de Jihad arder, fez menção de tocar a parte do ombro do príncipe que era desprotegida pelo tecido azul turquesa de sua roupa. Poucos centímetros de tocar seus dedos gelados na pele macia, a mão que segurou seu pulso com firmeza - impedindo de tocá-lo, fez um gemido de incomodo escapar por entre seus lábios.

“Tente tocar em mim novamente, e irei mostrar que não sou somente um rostinho bonito como pensa.” Apertou os dedos em volta do pulso de Jafar, jogando-o para longe de si. Jihad conseguiu escutar um ''moleque insolente'' do Vizir e riu. Até segundos atrás ele não era o querido futuro esposo?

“Eu não quero e nem irei me casar com Jafar. Sem discussões. Além de que a lei diz que devo me casar com um príncipe. E adivinha só? Ele não é!” Jihad encaminhou-se até a porta, abrindo-a para dar espaço. “Peço por gentileza que ambos se retirem. Quando minha pessoa estiver com um humor macio, irei querer falar com você, papai. A sós.” Fitou Jafar com escárnio, vendo ele se retirar logo após a indireta direta. O Sultão despediu-se cordialmente de seu filho, torcendo para que Jihad não fizesse nenhuma besteira até a hora da ceia.

Logo após a porta trancada, as lágrimas não tardaram a correr.

Jihad sentiu Rajah aproximar-se acuado, querendo confortar seu dono e melhor amigo mais uma vez. Abraçou-se ao tigre, e fitou o céu que aos poucos, era pintado com vários pontos brancos iluminados. Por quê? Por que a lembrança daquele garoto volta? Percebeu o olhar de incredulidade que Rajah lançava.

“O que é? Deixe-me.” Formou um bico nos lábios ao ver o tigre revirar os olhos.

Rajah era o seu único e melhor amigo. O príncipe acariciou o topo da cabeça do animal, voltando a lembrar dos acontecimentos de cinco anos atrás.

Por mais que não admitisse nem para si mesmo, o coração já havia sido domador pelo rapaz plebeu e ladrão que um dia de sol, conseguiu invadir (sem realmente querer) o jardim privado de Jihad, próximo aos limites do palácio, em busca de comida. Passaram uma tarde relativamente agradável, com Jihad fazendo o possível para esconder a presença do garoto. O plebeu, não muito mais novo que o próprio princípe, pode experimentar das mais deliciosas comidas existentes. Porém, em nenhum momento disse qual era seu nome.

Isso só foi acontecer quando os guardas invadiram o jardim de surpresa, expulsando o rapazinho do lugar. “Aladdin, majestade, Aladdin!” Ele berrou, à ponta pés dos soldados reais, “Meu nome é Aladdin!”.

Naquele momento, a camada de gelo usada como escudo no coração de Jihad, começou a derreter.

Eu quero conhecer a real Agrabah antes de me casar, murmurou baixinho. Só quero experimentar um pouco da liberdade antes de me trancafiar aqui para sempre. Jihad olhou o tigre ao seu lado com pesar. Desculpe-me Rajah, mas amanhã antes do amanhecer, irei embora por um tempo.




A visão do mercado de Agrabah não era algo que Jihad esperava. Superava qualquer uma de suas expectativas. O cheiro das especiarias expostas a céu aberto, as cores cintilantes das joias que eram postas à venda, as crianças correndo pelas vielas faziam que o coração do moreno palpitasse ritmado.

Sorriu, deixando que o pano de algodão egípcio cobrisse parcialmente seu rosto. Por mais que nunca tivesse pisado fora do palácio, Jihad tinha um medo de ser reconhecido. Chamar a atenção e consequentemente, ser levado para seu pai. Suspirou fundo e deixou que seus pés, sem direção, fossem levados pelas ruas de chão batido.

Mesmo sabendo que o mundo real não era perfeito, Jihad não esperava que ele fosse tão cruel como teimavam em dizer.

Ver uma criança, ainda inocente, ser destruída pela corrupção dos adultos era algo que fez o príncipe chorar. Não se conteve ao ver um menino na faixa dos oito anos ser espancado por ''roubar'' uma maçã podre. Enfrentou os comerciantes de cabeça erguida, despertando a raiva nos dois homens obesos que seguravam os pulsos do garoto de forma violenta.

Somente quando um outro rapaz apareceu, poucos centímetros maior que Jihad, a situação foi controlada. A lábia que o outro possuía era tão forte, que somente Jihad foi capaz de perceber a trapaça que o outro fazia. Fingir que era o irmão mais velho dos dois garotos que estavam dando problemas aos mercadores, e trocando uma maçã podre por outra em perfeito estado.
Os comerciantes foram embora, resmungando coisas ofensivas, mas sem ameaçar tocar o garotinho de novo. E ele, ainda com medo de ser apanhado novamente, pode desfrutar de uma refeição simples, mas que poderia sustentá-lo por mais dois dias. Quando o garotinho sumiu de vista, Jihad tomou coragem para agradecer o outro rapaz.

“Ei! Qual seu nome? Quero agradecer!” Jihad berrou, seguindo o rapaz que já se movia por entre a multidão. Faltando pouco para acabar com a distância, os dedos finos do menor tocaram o pulso do plebeu com gentileza.

“Há, não precisa agradecer, e prazer, sou Alad...” A voz do rapaz morreu assim que se virou para fitar aquele corria atrás de si.

“Aladdin...” Jihad deixou escapar quando o tecido que cobria seu rosto caiu.

“M-Majestade!” Aladdin proferiu em tom alto demais, fazendo com que algumas pessoas olhassem torto para os jovens. “O que faz aqui? Fora do palácio?” O rapaz já murmurava, como se estivesse compartilhando um segredo valioso, puxando Jihad para uma viela sem saída.

“Você não mudou nada.” O príncipe comentou ainda encantado, rodeando Aladdin, como se fosse uma mercadoria exótica. E sinceramente, Aladdin era um rapaz de encher os olhos. “O quê? Só disse a verdade.” Falou ao entender o olhar de confusão que o maior estampava no rosto.

“Vossa majestade não respondeu minha pergunta.” O mais alto ditou sério, encarando o menor com certa dúvida. Jihad apenas suspirou, colocando o tecido sobre a cabeça.

“Só irei responder num lugar seguro.” O herdeiro do trono de Agrabah murmurou. “E Jihad. Apenas me chame de Jihad.” Por fim, cobriu o rosto parcialmente esperando o momento certo para sair dali junto do jovem plebeu a sua frente.

“Abu, vamos!” Aladdin gritou, chamando seu macaquinho de estimação, caminhando até a saída da rua enquanto era seguido por Jihad. “Vamos para casa!”




“Como herdeiro do trono, devo me casar daqui cinco meses.” Ditou, enquanto observava a paisagem do palácio da parte aberta da construção abandonada que Aladdin chamava de lar. Apesar de ser um mero ladrão, o lugar não era dos piores. Jihad poderia passar várias noites ali sem reclamar. E aquele pensamento fez suas bochechas arderem num sinal que era melhor continuar seu discurso antes que a situação ficasse constrangedora. “Mas eu cansei de nunca poder decidir por mim mesmo. Nunca tive poder sobre mim mesmo. Sempre me dizem o que fazer, vestir e comer... Às vezes eu penso em como seria se eu não fosse um príncipe.” Jihad fechou os olhos, evitando que as lágrimas infames inundassem seu rosto.

“Você não deveria falar assim.” A voz suave de Aladdin chegou aos ouvidos de Jihad como uma cantiga de ninar. “Posso não saber como é a vida no palácio, mas acredite em mim, a vida aqui fora é muito pior. Qualquer pessoa daria a vida para estar no seu lugar. Valorize a vida que tem.”

Aladdin suspirou alto. “É horrível que eles te forcem a se casar... E bom, hm, desculpe a curiosidade... Quem será seu marido?”

Jihad não evitou sorrir com a pergunta. “Você realmente mora em Agrabah?” Perguntou divertido. “Pelo que sei, em boa parte da província, meu nome corre de boca em boca por rejeitar todos os pretendentes.” O rapaz abraçou os joelhos, fitando o crepúsculo que se iniciava no céu. “Eu quero me casar por amor...” Murmurou. “Apenas estou esperando conhecer o homem fabuloso que irá balançar meu coração de gelo.” Jihad sorriu de canto, virando-se para encarar Aladdin.

Ambos fitaram-se por longos minutos, até que o maior desviasse o olhar por constrangimento. Jihad gargalhou internamente.

“T-Tomara que o encontre logo... Não falta muito tempo até o casamento...”

“Talvez eu já tenha o encontrado.” Lançou um sorriso envergonhado para o maior, porém, antes que Jihad pudesse completar seu pensamento, um grito assustou ambos os jovens.

“É a polícia real! Devem estar atrás de mim...” Jihad levantou-se desesperado. Aladdin fez um sinal para que Abu fosse à frente.

“Você confia em mim?” O jovem ladrão arqueou as sobrancelhas, estendendo a mão para o príncipe.

“Sim...” Jihad não ponderou ao dar sua resposta.

Então ambos pularam da velha construção.



Os passos firmes de Jihad só não ecoavam pelos corredores do palácio porque ele não havia se dado ao trabalho de calçar algum sapato. Com os pés desprotegidos, ele saiu a caça da presença de Jafar.
A raiva que sentia daquele homem era mais do que qualquer pessoa pudesse imaginar. Mandar uma tropa de guardas atrás do rapaz, que nenhuma culpa tinha com sua fuga, e ainda tratá-lo como animal fez Jihad despertar seu pior lado.

Assim que encontrou o Grande Vizir, respirou fundo antes que fizesse alguma loucura.

“Jafar! Onde está Aladdin?” Disse em alto e bom som, para que não só Jafar, mas como o Sultão presente no salão principal escutasse.

“Ó, querido príncipe. Era sobre este ladrãozinho que eu estava falando com o Sultão...”

“Não insulte Aladdin na minha frente.” O olhar lançado era mais do que desprezo.

“Perdão. Realmente, não deve se insultar os mortos.” Jafar sorriu o ver a confusão no rosto de Jihad. “Príncipe Jihad, a sentença já foi cumprida. Morte por decapitação.” Por alguns breves segundos, o conselheiro pensou que fosse ver o herdeiro desmoronar ali mesmo. Na sua frente. Entretanto, a reação que recebeu não passou nenhum pouco perto de suas expectativas.

“Se você acha que vou me enganar pelas suas palavras, Jafar, receio que você deve estudar-me um pouco mais.” Jihad sussurrou próximo ao homem. “É bom Aladdin estar vivo, ou do contrário, mesmo eu ainda sendo um príncipe, posso transformar sua vida num inferno.” Após terminar sua breve e nada amigável conversa com o Vizir, sorriu triste ao ver seu pai brincando com o louro de estimação de Jafar. Retirou-se em direção ao seu quarto. Sua garganta seca e dolorida era só um dos pequenos sinais de que Jihad não estava nada bem.

Assim que fechou a porta de seu quarto, Jihad correu em direção a sua cama e lá se jogou. Sabia que logo menos Rajah estaria ali para socorrê-lo e fazê-lo sorrir novamente. Mas era difícil evitar o medo e a angústia que havia retornado com as palavras cruéis de Jafar.

E se Aladdin estiver morto? Maldito... Não. Ele não morreu. Jafar não tem poder o suficiente para decretar algo desse tamanho... Desgraçado.

Acabou adormecendo antes mesmo de sentir Rajah se aconchegando na cama, por entre seus braços. Confortável no mundo dos sonhos, Jihad só queria um descanso momentâneo.




De primeira, Jihad acordou com Rajah ronronando alto. O tigre batia com delicadeza uma de suas patas contra rosto de seu dono com o objetivo de acordá-lo. Rajah já entendia qual era a situação.

Mais uma vez, a cidade de Agrabah era tomada com festa pela chegada de mais um príncipe em busca de casamento. Os gritos que ovacionavam o visitante eram altos. Assim como a música que fazia questão de apresentá-lo ao povo da cidade. Inclusive para o príncipe. O eco dos tambores rufando fizeram os olhos de Jihad abrirem finalmente. A claridade que entrava pela porta de vidro que separava seu quarto da varanda em nada ajudava.

Príncipe Ali é este aqui, Ali Ababwa.

“O que está acontecendo...?” Jihad fitou o tigre a sua frente, ainda confuso. Levantou-se ainda zonzo, caminhando com dificuldade até a varanda.

Quanto conseguiu absorver as cenas que transcorriam perante aos seus olhos, o príncipe bufou. Não estava nem um pouco feliz em ter mais um pretendente ao seu encalce. Sabia que seu pai faria de tudo para que aceitasse o pedido e finalmente pudesse se casar. Mas não queria. Não agora.

Era necessário um tempo para que superasse o fato de que Aladdin não mais pertencia a esse mundo.

Por mais algum tempo, ficou observando a festa que acontecia. Quanto mais nítida a imagem do Príncipe Desconhecido ficava, Jihad tinha a sensação de que o conhecia. Ele se parece com Aladdin... Sentiu o coração apertar, gelado e inconsequente. Estava tão abalado que já tinha alucinações com o rapaz. Pare Jihad... Isso é coisa da sua cabeça. Pare.

“Me recuso.” Disse e deu as costas para multidão.

Mesmo tentando esquecer aqueles pensamentos ilógicos, a curiosidade que nutria no momento foi o suficiente para fazê-lo sair de seus aposentos e ir de encontro ao tal Príncipe Ali.

Escondido atrás de uma das grandes pilastras, Jihad escutava com atenção a discussão que tentava ser travada pela parte de Jafar.

Quando eu me tornar o Sultão de Agrabah, a primeira coisa que irei fazer é me livrar dele.

Balançou a cabeça apagando aquelas ideias. Por mais que odiasse Jafar, ele não era tão cruel a ponto de acabar com uma vida. Percebendo que seu pai não dava bola para as investidas do Vizir, Jihad sorriu, deixando sua atenção completamente voltada para a cena.

“Ah, pare Jafar! Uma das coisas de que me gabo é que eu sei julgar muito bem as pessoas!” A voz, quase infantil do Sultão, chegou aos ouvidos dos presentes como uma piada. Será? “Tenho certeza de que Jihad irá gostar deste aqui!”

“E eu estou certo que irei gostar do Príncipe Jihad também!” Por mais que o tom do rapaz saísse animado, aquilo não impediu do estômago de Jihad embrulhar.

“Alteza, não! Eu devo interferir em favor do príncipe.” Jafar se colocou na frente de Ali. “Este rapaz não é diferente dos outros. E o que faz pensar que ele merece o príncipe?” O Vizir já encarava Ali com raiva nos olhos.

Aquela conversa já deixava Jihad enjoado. Aos poucos, ia se aproximando dos três homens que discutiam em voz alta. Eles sequer perceberam a presença do personagem principal no mesmo recinto.

“Majestade, hm. Eu sou o Príncipe Ali Ababwa. Deixe que ele me conheça e eu conquisto seu filho...”

“Como se atrevem?” A voz do jovem soou tanto magoada quanto incrédula. “Todos vocês ficam aí decidindo o meu futuro... Eu não sou um prêmio a ser disputado!” E esquecendo-se do seu real objetivo, ver o rosto do Príncipe Ali, Jihad retirou-se do saguão prestes a chorar.

“Oh. Desculpe Jihad, Príncipe Ali, dê apenas um tempo para ele se acalmar...”



Já era madrugada quando uma presença inesperada invadiu o quarto de Jihad. Não que ele estivesse dormindo, pelo contrário, já fazia algumas boas semanas que não pregava os olhos por culpa das preocupações em torno de arrumar um pretendente. Rajah já estava preparado para atacar ao mínimo sinal de seu dono. Só que Príncipe Ali estava mais preocupado em sofrer danos do próprio Jihad do que o tigre.

“Príncipe Jihad, podemos conversar?” Ali já era intimidado pelas investidas do tigre de pelo malhado. Jihad realmente não estava calmo o suficiente para encarar uma conversa com aquele rapaz. Já havia escutado asneira demais vindas daquela boca.

“Não desejo vê-lo. Vá embora!” Gritou, sem se dar ao trabalho de olhar para o moreno. Cruzou os braços, esperando o momento em que ele desistiria e saísse de sua varanda.

“Calma gatinho, gatinho... Belo animal, não é?” Podia sentir o nervosismo na voz do outro. Jihad virou-se a fim de mandar ele embora, mas seu congelou-se no lugar. Seus olhos brilharam e ele teve certeza.

É ele...

“RAJAH!” Levantou-se, gritando o nome do tigre, indo de encontro ao outro príncipe. “Aladdin?” Perguntou, olhando fixamente para ele. Espero que não tente me fazer de burro.

“Eh? N-Não.. De jeito nenhum...” Era palpável seu nervosismo. Jihad revirou os olhos.

“Não minta para mim, Aladdin!” O menor gritou, aproximando-se do moreno e arrancando o turbante. “Você acha que eu sou burro? Que não iria perceber? Que eu não iria lembrar do seu rosto? De você?” As perguntas escaparam cambaleantes pelos lábios dele, chegando até Aladdin como facadas do exército real.

“Rajah, vá para dentro.” Apontou para o quarto, fazendo com que ficassem à sós.

“E-Eu achei...” Aladdin não conseguiu terminar de ditar as palavras quando percebeu o olhar cheio de mágoa de Jihad. “Perdoe-me... Achei que...”

“Você não achou nada! Vai ser a única vez que irei concordar com Jafar... Mas ele tinha razão ao dizer que você era como os outros.” Jogou o turbante no rosto do mais alto. “Você é tão petulante e presunçoso como os outros que conheci. Vá embora!” Cerrou os punhos e apontou para o vazio. “Se quiser pule da sacada, mas suma da minha frente.” Já estava voltando para seu quarto, quando escutou murmúrios vindos do outro.

“... Eu sei.” O príncipe de Agrabah parou perguntando-se caso Aladdin costumava falar sozinho. “É.. Você tem razão.” Jihad olhou por cima do ombro, sem se virar completamente. “Eu menti e é horrível te forçar a se casar com alguém que você não conhece. Você deve ser livre para fazer sua escolha... mas eu achei que você gostava de mim.”

Jihad era orgulhoso demais para se virar e perdoar Aladdin pelo que havia feito. Mentir não era algo fácil de perdoar.

“Mas eu entendo. Vou embora... Adeus.” E seguindo a sugestão do mais baixo, Aladdin pulou da sacada.

Aladdin sorriu quando escutou o grito desesperado de Jihad, que se debruçava no momento sobre a sacada. A expressão no rosto alheio era uma mistura de raiva e preocupação.

“C-Como...?” O sorriso quase imperceptível que cruzou os lábios de Jihad foram um sopro de alívio para o mais alto.

“Isso é um tapete mágico.” Sentado sobre a tapeçaria de cor roxa, Aladdin deu uma volta completa no ar, deixando o mais velho encantado. “Quer dar uma volta? Sair do palácio e ver o mundo lá fora...?” Jihad esqueceu-se por um momento de que o outro sabia do seu ponto fraco. Jogo sujo.

“É seguro?”

“Não confia em mim?” O ex plebeu estendeu a mão.

Jihad pensou por um breve momento se deveria ou não confiar em Aladdin. A lógica estaria em recusar e mandá-lo embora, mas ele tinha um tapete mágico... Nada fazia sentido ali. Não seria ele quem quebraria esse ciclo.

“Mas não pense que isso irá fazer você ganhar meu perdão.” Ditou, aceitando a mão estendida a sua frente. O tom orgulhoso na voz do príncipe fez o moreno mais novo sorrir largamente. Talvez o perdão não pudesse chegar, mas ele teria a oportunidade de passar uma noite maravilhosa ao lado de alguém especial.


Planando e subindo cada vez mais alto em direção a imensidão azul que é o céu, Jihad sentia-se o pássaro livre que era. Fechou os olhos e, esticando os braços, deixou sua mente e imaginação voar. As mãos de Aladdin em sua cintura lhe davam uma segurança nunca sentida antes. Valia mais do que um exército inteiro.

Ignorando todos os embrulhos que seu estômago dava, Jihad aproveitou para gravar cada detalhe de onde passou em cima daquele tapete. Desde as dunas de areias árabes, pirâmides egípcias, até os panteões gregos. E desarmado, esquecendo todas as suas angústias, deixou-se deitar no peitoral do mais novo e ser abraçado por ele. Por mais que não falasse em voz alta, Aladdin fez tudo e um pouco mais para deixar a vida de Jihad mais feliz.

Pela primeira vez cinco anos atrás. A segunda quando tentou salvá-lo dos guardas. E a terceira por dar a oportunidade que Jihad fingia ter superado.

“Por que não me contou antes?” Perguntou, fitando o perfil de Aladdin. Haviam pousado no telhado de uma construção real chinesa. Sabia que em dado momento, as mentiras não iriam conseguir se sustentar mais.

“É que...” Aladdin suspirou cabisbaixo.

“Que...?”

“Ah, você sabe... Pressão que existe dentro do palácio... Eu gosto de fugir um pouco também.” Aladdin sorriu e recebeu um semelhante, só que mais fraco. Mas nem chegou a perceber que Jihad olhava de forma triste e um pouco receosa. Subiram novamente no tapete, retomando o caminho para o palácio de Agrabah.

Ficaram em silêncio por todo o trajeto, mas Jihad sustentava um sorriso tímido. Mesmo com as mentiras de Aladdin, ele não poderia dizer que não estava feliz com a presença do mesmo ali.

“Boa noite, Aladdin.” Cantarolou o nome do maior, sorrindo divertido. Jihad apoiou-se na varanda, observando o outro, ainda sobre o tapete, poucos centímetros a sua frente.

“Boa noite, meu querido Príncipe Jihad.” E com um empurrãozinho do tapete, esperto por sinal, a distância entre eles foi quebrada. Os lábios macios se tocaram de forma rápida, dando ínicio para o que ambos denominariam o melhor - e primeiro - beijo de suas vidas.

O mais velho entreabriu os lábios, deixando que o músculo quente e molhado do interior da boca de Aladdin invadisse a sua. O ritmo que as línguas se entrelaçavam e os lábios se tocavam fez com que a necessidade por ar chegasse mais rápido do que esperavam. Os pequenos selares de despedida trocados foram apenas para deixar claro que aquela noite nunca seria esquecida.

E vendo Aladdin se afastar com o tapete, Jihad sentiu um peso novo ser colocado sobre seus ombros.

Por que ele teima em não me contar a verdade?




Faltavam poucas horas para o amanhecer. Mas o pai de Jihad batia periodicamente, num intervalo de cinco em cinco segundos, na porta de seu quarto. O jovem príncipe respirou fundo, pensando que nada e ninguém estragariam seu humor. Mesmo tendo um coração levemente apertado por saber que Aladdin não havia contado toda a verdade, ele decidiu esperar pelo momento certo para perguntar o que tanto o rapaz fazia questão de esconder.

Abriu a porta e tentando exibir o sorriso mais sincero que conseguia formar em seus lábios, recebeu seu pai cordialmente. Jihad acompanhou com os olhos o trajeto que o Sultão fazia pelo quarto, sentindo que algo estava de errado. Era difícil ver seu pai calado, não importasse qual situação era.

“Pai?” Aproximou-se delicadamente do homem de barba branca, parando alguns passos a frente. “Está tudo bem? Aconteceu algo...?” Preocupado, Jihad puxou uma cadeira para seu pai sentar-se.

“Você não irá gostar da notícia...” A voz saiu mais triste que Jihad esperava.

“Algo trágico aconteceu, majestade.” E mais uma vez, sem ser chamado, Jafar interrompeu uma conversa séria entre pai e filho.

“Eu já disse que você não tem permissão para entrar em meus aposentos. Fora.” Jihad preferiu não olhar para as feições enjoativas do Grande Vizir. Preferiu fixar o olhar em seu pai, esperando que este dessa continuidade no assunto.

“Receio que Jafar seja mais indicado para lhe dar esta notícia no momento, meu filho.” O Sultão de Agrabah olhou para o outro homem magrela ao seu lado.

O sorriso de Jafar era de satisfação. Aquilo não deixou Jihad nem um pouco feliz.

“O Príncipe Ali sofreu um acidente logo após voltar do passeio com vossa majestade...” O conselheiro real parecia não fazer questão de esconder a própria felicidade ao pronunciar aquelas palavras. “Sinto muito...”

O mundo virou de ponta cabeça para o príncipe. Sua garganta ficou seca; seus lábios, assim como o restante do corpo, ficaram trêmulos. Recusava-se a chorar na frente de outras pessoas. E assim sendo, quando recebeu a notícia, estava prestes a mandá-los embora, quando uma presença mais do que essencial resolveu dar as caras.

“Não conte vitória antes do tempo, Jafar.” Com as roupas ensopadas, pálido e respirando pesado, Aladdin atravessou o quarto em passos firmes até bater de frente com Jafar.

Até o papagaio, louro, vá saber o nome daquele animal, de estimação do Vizir pareceu ficar chocado com a presença do ex ladrão. “Conte para eles! Assuma que você tentou me assassinar!” A voz do garoto saiu alto o suficiente para fazer Jihad despertar de seu transe.

Só pode ser uma brincadeira de mau gosto...

“Mas que acusação ridícula! É óbvio que ele está mentindo alteza...” Jafar mantinha-se atrás do Sultão, colocando seu cajado mais a frente, como se quisesse proteger-se de algo e ter o homem mais poderoso da Arábia como refém.

Somente quando a voz do Sultão ficou vazia e esganiçada, Jihad pode perceber o que realmente ali acontecia.

Tem razão, Jafar. Ele está mentindo.” Aladdin pareceu estar lutando contra seus medos secretos, mas Jihad não tinha tempo para ficar se preocupando com ele no momento em que seu pai era vítima de uma feitiçaria barata.

“Papai!” Correu até o mesmo, arrancando as mãos de Jafar o bastão em com a cabeça de Serpente. Aqueles olhos de rubis... Quando ainda era pequeno, Jihad ganhava pesadelos diversos com cobras e serpentes de diversas espécies. Tudo por culpa daquele maldito bastão.

Jafar pareceu ser tomado por fúria quando viu seu bastão de bronze ser espatifado em migalhas no chão.

“Eu só precisava de uma situação, a menor que fosse, para provar o que você fazia com meu pai.” O príncipe de Agrabah poderia ser tão sombrio como qualquer outra pessoa. “Ele estava usando magia no senhor, papai. Garanto que ele te manipulou, e muito, para chegar onde está.”

Seu olhar sobre Jafar era do mais puro ódio que alguém poderia sentir.

“J-Jafar...”

“Majestade, não é bem assim...” Os passos recuados pelo magrelo, em nada ajudavam-no na situação.

O velho observou o bastão, e com fúria, gritou para que os guardas do palácio prendessem-no. O que eles não contavam, eram com os truques na manga do feiticeiro. Com uma fumaça vermelha impossibilitando a visão dentro no lugar, foi fácil para Jafar escapar.

“Nós ainda não terminamos, rapazes.”

“Não acho que ele tenha coragem de voltar depois dessa.” Aladdin disse baixo, parecendo estar envergonhado. “Desculpe por essa cena. Não queria que fosse tão...”

“Shh. Está tudo bem.” O mais velho foi até Aladdin, abraçando-o com uma saudade desnecessária. Por causa de um susto mais desnecessário ainda. “Por um momento eu achei que você realmente tinha morrido...” A voz soou tão baixa que foi preciso ambos estar com os rostos próximos. Os braços levemente musculosos de Aladdin circundavam o corpo de Jihad de forma possessiva, deixando claro que não tinha a intenção de soltá-lo tão cedo.

Foi somente o pigarro de uma terceira pessoa, para que os príncipes saíssem do seu estado romântico.

“Mas será verdade? Meu filho finalmente encontrou seu noivo?” Era visível e quase papável a felicidade do pai do mais velho.

Jihad assentiu com um sorriso sincero nos lábios, enquanto seus olhos de castanhos claros cruzavam e fitavam os amendoados de Aladdin.

“Encontrei, papai. E se quiser, já pode marcar o casamento para semana que vem.” Fez a piada com um fundo de verdade. Talvez quanto mais rápido fosse unido pelo matrimônio com o mais novo, Jihad pudesse descobrir todos os segredos e medos de Aladdin.

Mas antes disso, selaram os lábios mais uma vez.



Faltavam cerca de cinco dias para oficialização do casamento entre os Príncipes Jihad e Ali. Porém, o primeiro não conseguia dormir, comer ou deixar de pensar no que Ali, ou melhor, Aladdin escondia.

Jihad havia adquirido, ao longo do tempo, uma boa percepção de tudo ao seu redor. A forma como Aladdin gaguejava, suas mãos tremiam e seus sorrisos amarelos se formavam, foram pequenos sinais para que o mais velho tivesse certeza que algo ali era escondido.

Como tradição, o sol adentrava e dominavam aos poucos o palácio de Agrabah. Jihad acordou cedo - sequer havia pregado os olhos -, e antes mesmo dos criados passarem em seus aposentos com o café da manhã, o príncipe já cuidava dos cabelos negros e sedosos, que desciam até seu ombro de pele parda bronzeada.

Mesmo sabendo da beleza exótica e digna dos deuses, Jihad nunca se gabou realmente dela. E sua vaidade, lentamente, voltava com a chegada de Aladdin.

Maldito ladrão...

Sabia que em nada ele era culpado. O próprio príncipe foi tolo em se apaixonar a primeira vista por um plebeu, que anos mais tarde, revelou-se um de seus pretendentes. Riu alto, enquanto banhava-se com os pensamentos vagando entre Aladdin, os poucos dias para a cerimônia e com uma antiga preocupação.

Tenho certeza que ao lado dele eu serei livre.

Depois que se vestiu, decidiu que iria matar sua curiosidade e insegurança numa cajadada só. Se Aladdin resistisse em contar-lhe a verdade, iria usar das mais diversas armas para arrancar o que realmente queria escutar daqueles lábios.

Jihad parou a poucos centímetros da porta, ponderando se deveria ou não incomodar o outro tão cedo. Seus pensamentos logo voaram ao escutar sussurros do lado interno do quarto. Sabia que era um atitude infantil e impensada, mas colocou seu corpo a porta, deixando que ouvido ficasse próximo a abertura mímina que havia entre a parede e a mesma.

“Ele não vai me perdoar... Quando descobrir que sou só um ladrão e plebeu, Jihad irá desistir do casamento.” Com um pouco de esforço, o príncipe conseguiu escutar o que tanto Aladdin conversava com alguém que ele ainda não sabia.

“Mas você sabe que ele te ama, não é? Então Al, conte a verdade para eles. Seja você mesmo...” Aquela voz não era de nenhum servente do palácio, e era quase que impossível alguém de fora ter entrado nos territórios reais nos últimos dois dias. Era o que Jihad achava.

“Eles querem que seu governe Agrabah ao lado de Jihad, mas eu não sei se posso... Eu sendo apenas Aladdin não é merecedor de tantas graças...”

“Tome vergonha na cara, garoto! Al, Jihad te ama e pouco se importa se é sangue real ou não. Apenas diga.” Como esse cara pode me conhecer tanto, uh?

“É isso, Gênio! Eu vou contar tudo a Jihad!” O mais velho, escondido atrás da porta, sorriu satisfeito por escutar logo da boca de Aladdin. Decidiu voltar ai seu quarto e fingir que ainda dormia quando o maior chegasse lá, entretanto, sua curiosidade extrapolou o nível comumente ao escutar explosões, trombetas e fogos de artifício dentro do quarto de Aladdin.

Que barulhos são esses?

Com um longo suspirou, abriu a porta, dando uma visão o tanto quanto estranha.

Aladdin ainda sobre a cama, e ao seu lado.... Quando Jihad escutou ``Gênio´´ na última frase do maior achou que fosse um apelido usado ao invasor que se encontrava no quarto de seu noivo. Mas para sua surpresa, ele realmente era um Gênio.

“Mas o que é...” Boquiaberto, Jihad se aproximou do homem (ou espírito?)azul. De perto ele era muito maior e irradiava poder. Só que seu sorriso de criança lhe deixava infantil demais para ser levado a sério.

“Jihad! Deixe-me explicar...” O príncipe de Agrabah rindo com as imagens que o Gênio formava atrás de Aladdin, como Perdoa ele logo!, Ele te ama!, Se casem!

“Aladdin, está tudo bem.” As mãos delicadas e macias do menor, tocaram o rosto do mais novo com cuidado, fazendo com que Aladdin pudesse encarar a face risonha de Jihad. “Eu acabei escutando a conversa... Eu entendi o que aconteceu. Não se preocupe, acho que eu sempre soube que você nunca foi um príncipe.” Seu coração apertou-se com o olhar de arrependimento do mais alto. “Escute-me, Aladdin. Eu não me importo com o que você foi, é. O será eu me importo sim, já que eu vou estar ao seu lado... Garanto que nem meu pai irá impedir nossa união pelo simples fato que você foi um plebeu. E você sabe... Se eu não quisesse você” Enfiou com força o dedo indicador no peito de Aladdin, “Cinco anos atrás, eu teria deixado você morrer nas mãos dos soldados.”

O abraço dado foi um sincero e mudo pedido de desculpas.


“E aliás!” Jihad se desvencilhou dos braços de Aladdin para olhar em sua volta, encontrando Gênio, Abu (que no momento era um elefante) e o tapete chorando e suspirando com a cena digna de cinema que o casal havia protagonizado. “Você tem um Gênio, um tapete mágico e um macaco... Elefante? Mais esperto que muita gente que conheço. Você ganhou disparado dos outros príncipes, fique tranquilo.”




Numa madrugada quente, enquanto todos no palácio dormiam, Aladdin foi assaltado sem nem perceber. No voo silencioso, o louro de estimação de Jafar, Iago, roubou algo que repousava dentro do turbante que o ex plebeu usava diariamente após sua entrada no palácio

“Jafar vai me agradecer por isso eternamente.” E alçou voo para longe, levando a lâmpada mágica do gênio até seu mestre, na calada da noite.



Jihad acordou com o coração gelado.

Talvez havia sido o pesadelo que teve no meio da noite, ou talvez a ansiedade de apresentar Aladdin para o povo de Agrabah como um de seus governantes.

Logo pela manhã, o palácio já se preparava para a festa que aconteceria depois da apresentação do futuro marido de Jihad, este que passou um bom tempo fitando o vazio com um sorriso bobo nos lábios. Seus pensamentos vagam em todos os lugares ao mesmo tempo em que se estagnavam a um único acontecimento.

Da vida que começou monótona atrás dos muros do palácio, até o dia em que seu olhar se cruzou pela primeira vez com os dele.

Aladdin, mesmo com todas as mentiras criadas, Jihad não poderia dizer que não havia o perdoado. Entendeu o medo de ser rejeitado, mas ainda sim achava que a burocracia pelo qual passaram foi totalmente, completamente desnecessária. Era o começo de uma nova vida, e com isso em mente, o príncipe levantou para se preparar para o anúncio no fim da tarde.

A hora passou em vários piscares de olho. Jihad mal percebeu que já era o momento de encarar seu povo e contar que havia arrumado o par ideal. Além disso, os serventes insistiam em arrumar a roupa azul turquesa em seu corpo delicado (fato qual não se orgulhava, já que por ser um príncipe deveria despertar desejo nas mulheres, não inveja).

Entre vários puxões de cabelo e cutucadas com os alfinetes, Jihad sentiu seu coração falhar uma batida e subir pela garganta, quando finalmente pousou os olhos sobre Aladdin.

Tão lindo...

Teve vontade de beijá-lo ali mesmo, mas sabia que era falta de respeito fazê-lo na frente de tantas pessoas. E para ele, educação era o que não faltava.

Decidiu apenas analisar seu noivo da cabeça aos pés. Os cabelos negros penteados para trás, o turbante colocado perfeitamente sobre a cabeça, a vestimenta com o caimento perfeito... A pele bronzeada que parecia reluzir ainda mais sob a luz do sol, e o sorriso. Envergonha, quase acuado, que era direcionado a si, deixando Jihad mais que satisfeito.

Graças a Alá... Tudo ocorrerá bem.

E se quisermos lidar com a realidade, devemos encarar que nem tudo saí como esperamos. A vida nunca irá lhe dar o gostinho de tudo sempre ser perfeito.

O dia de sol que antes escaldava a pele do povo árabe; o céu límpido que deixava aquele dia mais especial ainda, deram lugar a um céu nublado. Com raios e trovões assustadores, que faziam os corpos estremecerem. E então, Jihad teve certeza que era magia.

E a única pessoa que era capaz de fazer toda aquela justo naquele dia e para eles, era Jafar.

Contudo, a maior surpresa foi ver quem estava ajudando o feiticeiro. Ninguém menos que o gentil e adorável Gênio da Lâmpada. Nem precisou olhar Aladdin para ver o desespero em sua face.

“Ele roubou a lâmpada...” Aladdin pareceu ser tomado por fúria ao ver Jafar se aproximar.

“Eu disse que não tínhamos terminado isso, garotos!” O feiticeiro berrou, dando uma gargalhada que fez o estômago de Jihad embrulhar.

“Jafar, seu traidor!” O pai do príncipe gritou, tendo sua roupa arrancada a força por magia.

“É Sultão agora!” Iago, o louro, fez questão de dar seu palpite.

“Cale a boca!” Foi a vez de Jihad exaltar sua voz. “Pare com isso, Jafar. Essa brincadeira já foi longe demais.”

“Brincadeira? Onde? Não estou brincando, moleque insolente.” Com um movimento de seu bastão reconstruído, Jihad voou longe, só parando com o impacto de suas costas com uma das pilastras. “Agora eu sou o Sultão e governarei lá em cima!”

Contragosto, o Gênio em seus vários metros de altura, arrancou do solo o palácio para colocá-lo no ponto mais alto de Agrabah.

“Gênio, não faça isso!” Aladdin gritou, enquanto ajudava o mais velho a se levantar.

“Desculpe-me Al, mas ele é meu amo agora.” Com pesar, o ser cósmico se rebaixou a ficar lado a lado de Jafar.

“Agora lhe faço meu segundo desejo. Quero ser o feiticeiro mais poderoso desse planeta!” Se o primeiro, que era ser sultão foi realizado, o segundo em nada seria diferente. Tampando os olhos, Gênio realizou o pedido.

Dando adeus as roupas brancas de Sultão e boas-vindas para as antigas, de cores rubras e negras, Jafar parecia ser uma ameaça maior ao amor de Aladdin e Jihad.

“Vamos recuperar a lâmpada. Eu prometo.” Foi a vez do mais velho contar uma mentira, que na realidade, ele esperava que não fosse.



Condenado a usar aqueças roupas vermelhas e que penicavam sua pele, Jihad sofria a humilhação de servir Jafar. Sentado no trono, o feiticeiro ria da desgraça de Jihad e seu pai. O velho sofria nas garras de Iago, que fazia questão de enfiar uma quantidade desnecessária de biscoito na boca do velhote.
Acorrentado, e sofrendo assédios esporadicamente do homem, Jihad pensava em como iria acabar com toda aquela palhaçada. E sobre Aladdin... Pobre rapaz. Preso em uma gaiola junto de Rajah e Abu como se fossem animais selvagens.

“Então Jihad” Seria cansativo repetir que a voz de Jafar deixava Jihad extremamente enjoado? “O que acha de se casar com o homem mais poderoso desse planeta?” Jihad olhou para o gênio e como resposta, recebeu apenas um sorriso triste.

“Dispenso.” Com nojo do que fazia, colocou mais uma uva na boca de Jafar.

“Por quê? Seria tão boa a visão de você submisso a mim todas as noites.” O homem se aproximava de Jihad, querendo intimidá-lo. Porém, o vinho que escorria pelo seu rosto após ser jogado por Jihad, deixava claro que ninguém intimidava o príncipe de Agrabah.

“Prefiro morrer.” Ditou convicto.

Com o mais puro ódio, a mão livre de Jafar agarrou o pescoço fino de Jihad com brutalidade, forçando o rapaz a largar a bandeja de ouro para tentar impedi-lo.

Os dedos se fincaram na pele macia, enquanto enfocava-o. As lágrimas já brotavam em seus olhos, deixando a visão completamente embaçada.

“Solte-o! Você vai ver! Solte-o Jafar!” Os gritos de Aladdin se misturavam aos do pai de Jihad, com os miados de Rajah e com os guinchados de Abu.

“Então é isso!” Jafar largou o pescoço de Jihad, jogando-o o corpo semi desacordado no chão. “Gênio, eu quero que Jihad se apaixone loucamente por mim!” A frase foi capaz de despertar o príncipe completamente.

“Não!” Murmurou, tentando levantar do piso.

“Meu amo, não vai ser possível...”

“Não negue nada a mim, seu bastardo!”

E com a imagem de Abu solto, tentando desatar o laço que prendia os pulsos de Aladdin. Jihad pensou que poderia ganhar mais tempo para a fuga.

“Jafar...” Com peso na consciência, Jihad usou o tom sedutor que sempre tentou esconder. “Desculpe-me por antes, eu não tinha reparado o quão bom você está sendo para mim...” A atenção do homem se voltou completamente para Jihad, dando a oportunidade que faltava para Aladdin ir atrás da lâmpada.

“Bom trabalho, Gênio. Assim que eu gosto.”

Segurando a repulsa, Jihad passou os braços pelos ombros de Jafar, sentindo os dedos flácidos e gelados tocarem a pele de sua cintura. Soltava elogios para o ex Vizir, enquanto silenciosamente, o mais novo chegava cada vez mais perto da lâmpada. Por um golpe de azar, Aladdin pisou na bandeja que poucos minutos atrás, Jihad segurava.

O barulho ecoou pelo salão, por pouco capturando a atenção de Jafar. Para impedir isso, Jihad teve que apelar para um recurso que ele realmente não queria usar.

Jihad beijou Jafar. Seus lábios sentiram o gosto apimentado, azedo; os lábios ressecados contra os seus dava a pior sensação que sentia em toda a vida.

Passado o choque, Aladdin conseguiu recuperar a lâmpada, porém, o o pai de seu amado não conseguiu segurar Iago por muito tempo.

“Ele pegou a lâmpada!” O louro gritou. Jafar tomado por fúria, empurrou Jihad para longe, apontando seu bastão em direção a Aladdin.

“LADRÃOZINHO DE MERDA!” Rosnou, fazendo o rapaz ser preso novamente, só que dessa vez, dentro de uma ampulheta.

Desgraçado. E então, Jihad partiu para cima de Jafar.

A disputa entre quem ficaria o bastão durou até o momento em que várias serpentes rastejava, aos pés do príncipe.

Um grito mudo pela parte de Jihad.

“Acha que eu não se dos seus medos, majestade?” Os olhos de Jafar brilhavam como dois rubis lendários. Num piscar de olhos, sua pele começou a escamar; a língua ficou fina, partida em duas na ponta.

E o seu maior pesadelo tomava forma. A cauda escamosa envolveu-se no corpo de Jihad, prendendo-o como um animal prestes a ser abatido.

“O que foi? Ficou com medo?” Jafar sibilava feliz com o pavor estampado no rosto do garoto.

“Você é cruel!” Jihad olhou incrédulo, saindo aos poucos do seu estado de inércia.

“O ser mais poderoso do mundo tem que ser cruel.”

“O que te faz achar que é o mais poderoso? O Gênio que é.” Disse simplório, enquanto segurava o choro por sentir as escamadas de Jafar na sua pele.

Deixando seu olhar encontrar o de Aladdin, percebeu que os olhos dele brilhavam como se dissessem, Você que é o Gênio.

“Então Jafar!” A serpente virou-se para encarar Aladdin que estava parcialmente engolido pela areia da ampulheta. “Como você é o mais poderoso sendo que foi o Gênio quem deu seus poderes? Conforme-se. Você está em segundo lugar.”

“Não me coloque nessa!” O Gênio ditou, escondendo-se atrás do tapete. Ou pelo menos tentando.

“GÊNIO! Meu terceiro desejo é ser um Gênio mais poderoso que você.”

Assim feito.

Uma explosão de cores se espalhou pelo lugar, cegando a todos e os impedindo de ver a queda de metros de altura que Jihad sofreu. Seu corpo caiu com um baque forte o suficiente para trincar o piso. Desacordado, repousou ao lado da lâmpada.

“Mas não esqueça que você também tem deveres para cumprir!” Aladdin conseguiu gritar antes de ser soterrado pela areia.

Jafar como gênio era assustador. Mas deixou de ser um completo perigo assim que foi engolido, junto de Iago, para dentro da lâmpada negra reluzente. E junto dele, sua magia fora embora.

Gênio fez questão de mandar aquele objeto para longe. Ficar escondido por uns dez mil anos abaixo das dunas de areia seria um bom castigo para Jafar e Iago.

Foi somente com o rugido desesperado de Rajah, que perceberam o corpo trêmulo e encharcado com sangue, estirado no chão próximo ao trono. Aladdin correu até Jihad, que tentava recobrar a consciência completamente. Sem muito sucesso.

“Meu amor...” Jihad conseguiu murmurar, sentindo sua boca ser tomada pelo gosto metálico do sangue. Rajah aproximou-se do seu dono, passando o focinho no rosto como gesto de carinho e preocupação. “Está tudo bem, Rajah... Não fique triste.” Jihad conseguiu uma força sobrenatural para abraçar seu amigo tigre. Rajah colocou com cuidado a pata sobre a mão machucada do rapaz. Jihad chorou fraco com o animal em seus braços.

Eu não posso morrer.

Aladdin teve seu coração partido quando os olhos de Jihad perderam e força e se fecharam.

Rajah levantou a cabeça e tocou o garoto que chorava sobre o corpo de Jihad.

De primeira, não entendeu muito bem o que o tigre queria dizer, mas deduziu que ele deveria continuar ali. Ao lado de Rajah, Aladdin ficou esperando por ajuda médica.



O sol foi o primeiro a dar bom dia.

Os olhos abriram lentamente, absorvendo aos poucos as informações a sua volta. Percebeu que estava em seu quarto. O corpo inteiro pereceu sorrir quando avistou Aladdin adormecido numa cadeira ao lado da cama. Então Rajah, que estava dormindo na cama, acordar. Jihad riu fraco, e mesmo com a dor insuportável que o atingiu, não deixou de aproveitar a presença do tigre logo de manhã cedo.

“Quanto tempo fiquei desacordado?” Perguntou assim que Aladdin acordou.

“Cinco dias.”

As memórias daquele dia passaram em relances por sua mente. Mas lembrar não era sua prioridade no momento.

Nem precisou virar o rosto para ter seus lábios tomados por Aladdin. Riu internamente com o estado de tensão que o mais novo se encontrava.

“Pode me beijar, seu bobo. Não vou morrer.”

Aladdin não riu da piada.

“Não fale assim... Esses cinco dias foram como um pesadelo.” Jihad sorriu triste, fazendo um carinho na bochecha do maior.

“Mas estou aqui. E vou continuar.” Beijaram-se mais uma vez, somente interrompendo o selar porque Aladdin parecia ansioso para entrar em novo assunto. le tinha a capacidade de fazer Jihad sorrir sem muito esforço. O príncipe era grato por isso.

“Esfregue.” O mais novo riu com a confusão estampada na face do outro. Aladdin entregou a lâmpada para seu amado. “É sua. Por direito.”

Jihad engoliu seco e esfregou a lâmpada com calma. A cena cômica que transcorreu ali, deixou claro que finalmente, o príncipe havia encontrado seu ponto de equilíbrio.

O Gênio xingou algumas vezes até perceber quem havia chamado.

“Meu amo!” Gênio gritou, soltando fogos de artifício em nome de Jihad. “Tudo bem? ” E bombardeado de perguntas, o príncipe decidiu ir direto ao assunto.

“Eu tenho três desejos, certo?”

“Sim.” Num puf, Gênio estava a pode se uma secretária. “E quais serão, Ji?”

“Ji?” O príncipe sorriu e fechou os olhos. “Bom... Desejo poder sair dessa cama. Ou melhor, andar novamente.”

“Tudo bem!” E sendo mágica mesmo, Jihad sentia-se revigorado.

“Segundo, majestade?”

“Que nada e ninguém interfira na minha felicidade ao lado de Aladdin.” Entrelaçou os seus dedos com o do parceiro, lançando um sorriso sincero. “E o terceiro... Deveria ter sido o terceiro de Aladdin, mas como ele não fez, eu faço. Gênio, eu desejo que você seja livre.”

“M-Mas...”

“Até algum tempo atrás, eu teria desejado a liberdade para mim... Mas agora eu vejo que existe alguém tão merecedor dela quanto eu. Apenas seja feliz e faça o que quiser, Gênio.” E com a explosão de felicidade do ser azul, Jihad sentiu a culpa sumir. Não havia mais nada para temer.

E para a felicidade de Jihad, o abraço seguido por um beijo, foi a cereja do bolo.

Já que para ser livre, bastava ter Aladdin ao seu lado.






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Notas finais do capítulo

Obrigada quem leu. ;a;

Não sei o que falar e. q Fiquem de olho no perfil e leia as outras ones. ;D

E os lemons serão postados até semana que vem.

— "Essa one faz parte de uma coleção de ones do projeto Dinsey in Reverse que busca mudar um pouco a visão romantizada da Disney sobre relacionamentos. Nem todas serão necessariamente yaoi ou yuri. Trabalhos próprios, não copie parcial ou totalmente"