Minha luz escrita por Larissa das Neves


Capítulo 1
Feelings - Clara


Notas iniciais do capítulo

Já escrevi muitas histórias mas nunca postei. Antes essa fic ia ser de apenas 2 capitulos, um narrado pela Clara e outro pela Marina mas pediram continuação. O primeiro capitulo será narrado pela Clara, o segundo pela Marina e os próximos serão narrados em terceira pessoa. Espero que gostem!!!



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O amor tem dias de algodão. E dias de chumbo.

Tento usar essa frase, dita pelo Laerte dias atrás, pra definir minha atual situação. Agora estou vivendo dias de algodão no meu casamento.

Eu e o Cadu nos “casamos” de novo. Ele insistiu que seria uma boa se renovássemos os votos e trocássemos as alianças. Com um passo de cada vez, estou aceitando dar uma segunda chance ao meu casamento. Depois de tantas brigas e intrigas que estávamos passando eu cheguei a cogitar em pedir o divórcio, porém, quando passava pela minha cabeça que eu quero terminar esse casamento me vem a imagem do meu filho no meio disso tudo. Cadu me ameaçou, alegando que se eu largasse nosso casamento pra viver essa “loucura” que gira na minha cabeça, ele tiraria o Ivan de mim. Estou fazendo tudo isso pelo meu filho e tentando me convencer que fiz certo. Mas meu coração diz o contrário. Estou infeliz. Dispersada em meus pensamentos, é a imagem dela que surge na minha cabeça.

Marina Meirelles.

Mesmo tendo tomado essa decisão com o meu marido, ainda estou vivendo um dilema. Eu queria mesmo trocar o “certo” pelo “duvidoso”. Talvez não fosse tão duvidoso assim. Marina vem tirando meu sono desde que nos conhecemos em sua exposição, aqui no Rio de Janeiro. Consegue imaginar alguém que faz seu sangue ferver só de te olhar? Eu também não, até conhecer Ela. Mulher alta, de corpo esguio. Linda. Pele branca como a neve. Cabelos escuros, encaracolados nas pontas que ela sempre deixa caído por cima do ombro. Olhos castanhos que sempre que fixam em mim faz passar uma corrente elétrica que vai desde a ponta do pé até o meu último fio de cabelo.

Todas as brigas que eu e o Cadu tivemos foram por causa dela. Logo que eu e Marina nos conhecemos, sabíamos que ela era homossexual e Cadu adorava fazer brincadeiras dizendo que ela estava dando em cima de mim. Mas as brincadeiras dele tinham muito cabimento. Depois que ela fez A festa de aniversário pra mim, tudo ficou muito claro. Claro para o Cadu, porque, por mais que no fundo eu tivesse entendido, procurei me fazer de desentendida pra evitar qualquer tipo de discussão, o que foi inevitável.

Eu não sou ingênua. Entendi muito bem o que a Marina queria desde a primeira vez que fui a sua casa. Só não sei se “é” o que ela quer agora e percebi que estou vivendo dias de chumbo com ela. Desde que o Carlos Eduardo pediu que eu mostrasse a nossa nova aliança pra Marina, no galpão cultural, como forma de provocação, sinto que ela se afastou de mim. Seu pai, Diogo Meirelles, está na cidade e parece que a situação financeira da família deles é bem séria e não sei dizer se seu semblante sério é por causa de mim ou pela conversa que eles tiveram no dia anterior.

Quero me aproximar, perguntar o que está acontecendo e oferecer um ombro amigo. Mas Vanessa, sua mais antiga assistente e melhor amiga, sempre está por perto e sua presença é tão intimidadora pra mim que não me arrisco proferir uma palavra. Enquanto organizo alguns arquivos, observo de longe as duas conversando. Apesar de não estarem conversando tão baixo, não consigo prestar atenção, porque minha atenção está presa na beleza impar daquela morena. Usando uma regata preta e branca bem folgada e uma calça preta, ela fica ainda mais linda com os óculos que acabou de colocar pra analisar um documento entregue por Vanessa. Passando alguns minutos, vejo Vanessa saindo do estúdio com alguns papeis e acho que nesse momento ela viria a mim me pedindo ajuda ou algo do tipo, o que não aconteceu. Continuo a observando por mais algum tempo, vendo-a muito concentrada separando algumas fotos que estão em cima da mesa. E sinto ser a hora perfeita pra perguntar a ela o que está acontecendo.

– Marina. – Chamo sua atenção, sentando na cadeira a sua frente.

Ela levantou a vista pra mim e ficou por algum tempo me analisando. Vejo seu olhar dizendo tanta coisa pra mim e ao mesmo tempo dizendo nada e isso foi um baque pra mim. Ela está magoada.

– Terminou de organizar os arquivos que pedi? Temos tanta coisa pra agilizar hoje, devo ter pelo menos uns 3 materiais pra separar pra enviar ainda hoje aos clientes. – Ela disse, voltando sua atenção para as fotos.

– Sim, já terminei. Quer ajuda com essas fotos?

– Não, tudo bem. Já estou terminando. – Sua voz estava baixa agora, ainda mantendo sua atenção nas fotos.

– Marina, olha pra mim. – Pedi, fazendo-a finalmente olhar nos meus olhos. – O que está acontecendo com você? De uns dias pra cá você está muito.. – Parei de falar quando vi lágrimas escorrendo pelo seu rosto e senti meu coração se partir. Ela tirou os óculos, colocando-os sobre a mesa e cobriu o rosto com as mãos.

– Droga, eu... eu não... não é nada, Clara. É pelo problema que estamos passando, na minha família. – Disse, enxugando as lágrimas. Tentei segurar sua mão, para oferecer apoio, mas ela se afastou, se levantando e começando a andar de um lado para o outro no estúdio - Nunca havia sentido esse tipo de pressão antes, e isso está acabando comigo. Estou cansada.

– Eu sei que esse problema financeiro é muito sério, você explicou pra todas nós. Mas eu sinto que não é só isso... – Falei, observando ela parar de andar e olhar para mim.

– Clara, por favor...

– Você está magoada pelo o que o Cadu fez lá no galpão. Você pode não admitir, mas seus olhos estão me dizendo isso. Você está sofrendo.

– Cadu é seu marido. Vocês estavam passando por um momento difícil e se acertaram. Isso é ótimo. Agora quero voltar ao trabalho. – Ela se aproximou de mim apenas para pegar os óculos e começou a se afastar quando segurei seu braço.

– Não se faça de amiga compreensível agora, Marina. Você não está alegrando ninguém desse jeito. Seja sincera comigo.

– Quer que eu seja sincera? Tudo bem! Eu não aguento mais você falar o tempo inteiro do Cadu mesmo ainda sabendo do que eu sinto por você! – Ela soltou o braço que eu segurava e ficamos frente a frente. Apesar de sua voz não estar alterada, percebi que ela estava vivendo uma luta interna para se controlar. – Porque você faz isso? É pra se convencer que ainda o ama? Você pede que eu seja sincera, mas agora EU quero que você seja sincera comigo. O que você realmente sente por mim, Clara? Vamos esclarecer as coisas, porque eu não aguento mais você se mantendo nessa zona de conforto, bem com o Cadu, mas ainda assim me mantendo por perto. Eu não sei “o que” você sente por mim, mas sei que não é pouca coisa. Eu estou infeliz com essa sua indecisão, Clara!

Fiquei estática com as palavras dela. Nesse momento veio em minha mente uma conversa que tive com a Vanessa. Ela dizia que no dia que eu me resolvesse com o que eu sinto a dor de cabeça dela, da Marina e a minha desapareceriam. Desconfiei que o assunto que a atormentava era sobre mim, mas não pensei que ela estava sofrendo tanto e isso me fez sentir a pior pessoa do mundo. Marina é a pessoa mais incrível que já conheci. Ela já fez tanta coisa por mim que vendo que seu sofrimento é por minha causa só fez meu coração se despedaçar.

– Marina, você precisa me entender. Eu tenho que agir com cuidado, eu tenho um filho e com ele eu não posso errar... – Tentava explicar, mas aquela situação estava ficando desesperadora pra mim. Estava com muito medo de agir e perder meu filho. Mas também estava com medo de agir e perder a Marina.

– Isso eu entendo perfeitamente, Clara. O seu amor pelo Ivan ninguém vai contestar. Mas você não respondeu a real pergunta de tudo isso. - Ela deu um passo à frente e nossos corpos estavam a centímetros de distância. - Quero saber o que você sente por mim.

Por conta da aproximação, acabei me perdendo na imensidão dos olhos dela. Minha respiração ficou pesada e ela percebeu. Ela ergueu sua mão direita e tocou meu braço, com carinho. Marina deve ter enxergado algo no meu olhar, porque percebi que a expressão em seu rosto havia suavizado um pouco. Talvez ela tenha visto o tamanho desse sentimento que eu tenho tanto medo de mostrar. E talvez ela tenha visto também o medo das consequências que estariam por vir. Arrisco a dizer que depois do meu filho, Marina é a pessoa que eu mais quero manter perto de mim. Eu já não amo mais o Cadu. Sinto por ele um carinho muito grande, isso é verdade. Mas olho pra ele como se fossemos amigos. O meu amor e desejo agora se concentram na mulher que está a minha frente.

– Marina.. – Eu respirava com dificuldades e tentava me manter calma. - Eu não posso trocar o “certo” pelo “duvidoso”. Eu tenho uma vida com o Cadu, um casamento de 10 anos. Não posso simplesmente jogar tudo para o alto e mergulhar de cabeça nisso.

– Acha que meu amor é duvidoso? – Falou.

Vi um olhar diferente. Fiquei em silêncio pra tentar entender e por fim, descobri. Vi desejo. Paixão. Amor. Ela queria me mostrar, através do olhar, que seria capaz de qualquer coisa por mim. De lutar contra tudo e contra todos se eu desse uma chance para nós. Senti meu coração se aquecer.

Perdida agora no perfume de Marina, que eu sentia pela aproximação, não percebi que ela havia dado mais um passo em minha direção, colando nossos corpos. Sentia sua respiração, também pesada, batendo no meu rosto. Não havíamos desgrudado os olhos uma da outra e nessa troca de olhares senti sua mão subindo pelo meu braço até meu pescoço e um arrepio gostoso percorreu meu corpo inteiro. Borboletas voavam pelo meu estômago. Aquela típica sensação quando você vai dar seu primeiro beijo no garoto que você gosta. Mas ela não é um garoto e, sim, uma garota. Uma mulher. Isso é errado. Porém, quando senti sua mão escorregar até minha nuca e a outra me abraçar forte pela cintura eu já não conseguia pensar em mais nada. Mas de uma coisa eu sabia: o que ia acontecer ali não ia ter volta.

– Clara.. – Ela disse com a sua tão conhecida voz sedutora, misturada com ternura. Uma voz única que ela usava comigo. Vê-la chamar meu nome dessa forma fez minhas pernas fraquejarem e eu só não caí no chão porque senti que ela dava suporte para mim, através do abraço. – Eu estou te amando.

Ela repetiu aquelas palavras tão conhecidas por mim, que já me deixaram sem sono por semanas. Senti que havia, sim, necessidade de ela repetir essas palavras. Sentir o amor da Marina diante daquele toque e daquelas palavras fez meus pensamentos ficarem um pouco mais claros e, por fim, acabei sorrindo pela declaração. Aproximei meu rosto, encostando meu nariz no dela e a abracei pelo pescoço. Era o momento certo.

– Eu estou te amando, Marina. – Disse num sussurro, apenas para ela ouvir.

Nada mais precisou ser dito. Quando a distância que havia entre nossos lábios foi quebrada, senti o ar parar. Meu coração deu um pulo e começou a bater descompassado. Eu permaneci parada, apenas sentindo, enquanto ela depositava selinhos em meus lábios, bem devagar, como uma provocação. Agarrei seus cabelos de uma forma que minha mão se perdeu neles e decidi colar meus lábios de vez no dela, acabando com aquela tortura. A partir dali o beijo não parou mais. Apesar de ter começado calmo, em poucos segundos ele se tornou intenso. Desesperador. Como se tanto eu como ela precisássemos disso. E nós realmente precisávamos.

Naquele jogo de línguas e sensações, Marina me abraçou ainda mais forte, e pude sentir o calor que seu corpo emanava. Quando senti sua mão direita deslizar pelas minhas costas e acariciar uma região que estava descoberta pela minha camisa, um gemido escapou pelos meus lábios e a senti sorrir durante o beijo. Quando nos separamos, sentindo o ar faltar, encostei minha testa na dela e suspirei, ainda tentando de forma muito inútil, controlar minha respiração. Quando abri os olhos ela me encarava. Acariciei seu rosto e a vi suspirar. Saber que eu causava reações nela me deixou imensamente feliz.

– Eu não consigo, Marina... – Sussurrei.

Ela me fitou, muito confusa, e eu não pude deixar de sentir meu carinho por ela aumentar em perceber o medo presente naquele olhar que tanto me encanta.

– Eu não consigo. – Repeti. – Conviver com a ausência da presença do seu amor.

O sorriso que vi surgir nos lábios dela fez toda a dor de cabeça, que eu sentia por conta de todos aqueles problemas, se dissipar. Aquela dor de cabeça que a Vanessa havia falado.

Eu havia finalmente entendido. E havia finalmente aceitado tudo aquilo que estava me consumindo por meses. Todo esse amor. Mas uma coisa eu preciso dizer: ela até pode dizer que eu sou uma pessoa iluminada. Mas foi ela que trouxe luz para a minha vida.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Desculpa se comecei a história com a frase que o Laerte usou esses dias (sei que todo mundo odeia ele, inclusive eu HAHAHA) mas eu já havia ouvido ela uma vez e achei interessante usá-la. A quem interessar, aguardem a história narrada pela Marina *-*