Aos olhos de Alasca escrita por Vold


Capítulo 17
O maior trote da história de Culver Creek




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Na sexta-feira estava tudo combinado para o maior trote que já houve em anos. Como combinado Gordo, Coronel e Takumi estavam conversando com o Águia, fiquei escondida entre uma coluna escutando a conversa. Quando finalmente vi que havia chegado minha vez, então corri até o Águia e o disse que eu iria passar o fim de semana na casa de Jake. Como o Águia conhecia meu pai nem ao menos ligou para ele para confirmar, acho que até ele sabia que meu pai não dava a mínima para mim. O que é de se esperar pelo fato de que ele sempre me ignora.

Quando sai vi Lara se aproximando. Sua parte do plano era dizer ao Águia que iria de carro para Atlanta para visitar uma amiga da Romênia. O Águia ligou para os seus pais para se certificar de que eles sabiam que a filha iria passar o fim de semana fora do campus, eles não se importaram.

Mais tarde estávamos sentados em nossos sacos de dormir. Eu estava fumando um cigarro quandoo Coronel pegou uma folha impressa no computador e começou a ler em voz alta.

— O objetivo da festividade dessa noite é provar, de uma vez por todas, que nós estamos para o trote assim como os Guerreiros de Dia de Semana estão para a burrice. Mas também teremos a oportunidade de tornar a vida do Águia mais difícil, o que é sempre um prazer muito bem-vindo. Então, — ele disse, pausando como se esperasse ouvir o rufar dos tambores, — vamos lutar uma batalha em três frentes essa noite:

“Primeira frente – pré-trote. Vamos fazer fumaça debaixo do nariz do Águia.

“Segunda frente – operação careca. Na qual a Lara vai invadir o território inimigo, sozinha, numa missão retaliativa tão inteligente e cruel que só poderia ter sido concebida por uma mente genial como, bem, a minha.

–Ei! – eu disse – a ideia foi minha.

–Certo. A ideia foi da Alasca. — Ele riu. — E, por fim, terceira frente – os relatórios de progresso. Vamos invadir a rede de computadores da escola e usar o sistema de dados para enviar cartas para os familiares do Kevin & Cia. Dizendo que eles serão reprovados em algumas matérias.

–Com certeza, vamos ser expulsos – Gordo disse.

–Espero que não tenham trazido o garoto asiático pensando que ele é um gênio da computação. Porque eu não sou. — Takumi disse.

–Não vamos ser expulsos, e eu sou o gênio da computação. Vocês são apenas os músculos e a distração. Não vamos ser expulsos nem mesmo se formos pegos, porque nada disso é punível com expulsão – bem, exceto, talvez as cincos garrafas de Strawberry Hill na mochila da Alasca, mas isso ficará bem escondido. Só estamos fazendo uma devastaçãozinha.

Coronel tinha imprimido cronogramas individuais para cada um de nós, com marcações de tempo precisas que levavam em conta os segundos. Com os relógios sincronizados, as roupas pretas, as mochilas nas costas, a respiração condensando na noite fria, os detalhes do plano na cabeça, o coração disparando, saímos do celeiro depois de anoitecer, por volta das sete. Nós cinco caminhávamos um ao lado do outro, confiantes.

Cinco minutos depois, o grupo se dividiu, e cada um foi para onde tinha de ir. Eu fiquei com o Coronel, nossa parte era a mais importante do plano.

Coronel e eu nos escondemos atrás da casa do Águia. Depois de um tempo o Águia saiu e finalmente entramos. Corri para os fundos do dormitório então entrei no quarto do Kelvin. Peguei seu shampoo e condicionador e joguei fora pelo ralo da pia. Então peguei a tinta azul em meu bolso e coloquei nos frascos de shampoo e creme. Sai do quarto de Kelvin e corri até o quarto de Jeff joguei fora o shampoo e o condicionador e os substitui por tinta azul. Finalmente estava acabando, faltava apenas um quarto para que minha parte do plano fosse cumprida então corri o máximo que pude e entrei no quarto do Longwell, joguei fora seu creme e shampoo e substitui pelo que restava da tinta azul. Foi quando Coronel apareceu na porta então começamos a correr.

Quando chegamos à floresta caminhamos em rumo de algumas vozes que estávamos ouvindo, provavelmente de Gordo, Lara e Takumi. Então passamos por galhos secos Coronel com raiva começou a falar:

–Isso reduz em vinte e três nomes a lista de possíveis suspeitos! Por que não seguiu o plano? Santo Deus, cadê todo mundo?

Finalmente nos encontramos então voltamos para o celeiro.

–Bem, pelo menos, ainda não fomos pegos. Certo, primeiro, — Coronel disse sem olhar para cima, — me digam que todo o resto correu bem. Lara?

–Da. Tudo certo. – Lara respondeu.

–Pode me dar mais detalhes, por favor?

–Fiz tudo que dizia no papel. Eu me escondi atrás da casa do Águia e esperei até ele sair atrás do Miles e do Takumi. Depois corri para os fundos do dormitório. Entrei pela janela do quarto do Kevin. Coloquei o negócio no gel e no condicionador, depois fiz o mesmo no quarto do Jeff e do Longwell. – Eu disse.

–Que negócio? – Gordo perguntou.

–Tinta industrial azul não diluída número cinco para cabelo, — eu disse. — Comprei com seu dinheiro dos cigarros. Basta aplicar no cabelo molhado, e a coisa não sai por meses e meses.

–Nós tingimos o cabelo deles de azul? – Gordo perguntou fazendo careta.

–Bem, tecnicamente, — o Coronel disse, ainda falando para baixo, — eles é que vão tingir o cabelo de azul. Mas nós ajudamos, é verdade. Sei que tudo correu bem com você e Takumi, porque nós estamos aqui e vocês estão aqui, então significa que fizeram seu trabalho. A boa notícia é que os três palermas que tiveram a audácia de nos pregar um trote vão receber relatórios de progresso informando que eles repetiram em três matérias.

–Uh-oh. Qual é a má notícia? — perguntou Lara.

–Ah, sai dessa, — eu disse. — A outra boa notícia é que, enquanto o Coronel se escondia no mato, pensando ter ouvido alguma coisa, eu me lembrei de mandar relatórios para outros vinte Guerreiros de Dia de Semana. Imprimi boletins para todos eles, coloquei em envelopes timbrados da escola e deixei na caixa de correio. —Me virei para o Coronel. — Você demorou bastante, —eu disse. — O Coronelzinho... tem medo de ser expulso.

O Coronel ficou de pé, erguendo-se acima de todos nós, que estávamos sentados.

–Não é uma boa notícia! Não estava no plano! Agora o Águia pode riscar vinte e três nomes da lista de suspeitos. Vinte e três pessoas que podem descobrir que fomos nós e nos dedurar!

–Se isso acontecer, — eu disse séria, — eu assumo a culpa.

–Claro. — O Coronel suspirou. — Como você fez com o Paul e a Marya. Vai dizer que estava passeando pela floresta, soltando bombinhas ao mesmo tempo que invadia a rede de computadores da escola e imprimia relatórios falsos em papel timbrado? Tenho certeza de que o Águia vai acreditar!

Tive vontade de dar um murro no Coronel mais consegui me conter.

–Calma, cara, — disse Takumi. — Primeiro, não vamos ser pegos. Segundo, se formos pegos, vou assumir a culpa com a Alasca. Você tem mais a perder do que nós. — O Coronel assentiu com a cabeça. Era um fato inegável: o Coronel não teria a menos chance de ganhar uma bolsa em outra escola se fosse expulso de Culver Creek.

–Como foi que você invadiu o sistema? – Perguntou gordo ao Coronel.

–Entrei pela janela da sala do Sr. Hyde, liguei o computador e digitei a senha, — ele disse, sorrindo.

–Adivinhou a senha? – Gordo perguntou.

–Não. Na terça-feira, fui até a sala dele para pedir uma cópia impressa da bibliografia do curso. Então fiquei de olho quando ele digitou a senha: J3ckylnhyd3.

–Porra, — disse Takumi. — Eu podia ter feito isso.

–É, mas não teria tido chance de usar esse seu chapéu engraçado, — o Coronel disse rindo. Takumi tirou a touca e a colocou na mochila.

–O Kevin vai ficar furioso quando vir o cabelo, — Gordo disse.

–Bem, eu também fiquei furiosa quando vi minha biblioteca alagada. O Kevin é uma boneca inflável, — eu disse. — Se você nos espeta, nós sangramos. Se espeta o Kevin, ele estoura.

–É verdade, — Takumi disse. — O cara é um idiota. Ele meio que tentou matar você, lembra?

–É, achou que sim, — Gordo reconheceu.

–Tem muita gente assim nesta escola, — continuei , ainda bufando. — Sabe? Esse malditos garotos-riquinhos-infláveis.

Então eu encerei a conversa e me deitei atrás de um fardo de feno e fiquei lá durante muito tempo.

Depois de duas horas Coronel me chamou para finalmente beber vinho, passamos a garrafa de mão e mão. Eu não gostava exatamente do vinho, gostava da sensação que ele me trazia de ficar bêbada e esquecer todos os meus problemas. Quando a garrafa passou por Gordo ele bebeu, porém fazendo várias caretas. Ele realmente não gostava de beber mais bebia. Será porque ele queria ser como nós? Será que queria impressionar alguém de nós? Ou como eu queria que seus problemas desaparecessem por um tempo e simplesmente curtir o momento? Essa era uma das duvidas que mais me atormentava.


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