Aos olhos de Alasca escrita por Vold


Capítulo 12
Feriado de Ação de Graça


Notas iniciais do capítulo

Desculpem ter demorado para atualizar o capítulo. Espero que gostem.



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Depois de nosso encontro triplo e meio não conversei mais com o Coronel e nem com o Gordo.

Até que um dia eu estava sentada na mesa do refeitório observando a chuva, foi quando o Gordo se sentou ao meu lado, e colocou um prato de quiabo frito sobre a mesa.

Ficamos quietos durante um bom tempo foi quando Gordo disse:

–Meu Deus, parece que isso não tem fim.

–Verdade – eu disse enquanto comia.

–Como tem passado? — ele perguntou.

–Não estou a fim de responder a perguntas que comecem com ‘porque’, ‘o que’, ‘onde’, ‘quando’.”

–Por que?

–Isso se encaixa na categoria dos ‘porquês’. No momento, não estou respondendo ‘por quês’. Acho melhor eu me mandar.

–O que... – Ele deu uma pausa – Eu fiz alguma coisa?

Peguei a bandeja e antes de sair eu disse:

–Claro que não, queridinho.

E me retirei.

Uns dias depois de ter encontrado com Gordo no refeitório, eu estava indo para meu quarto, foi quando abri a porta. Meu quarto estava inundado com certeza foram os Guerreiros de Dia de Semana. Sem saber o que fazer, corri para ver se encontrava Gordo e Coronel. Depois de correr um pouco finalmente encontrei Gordo e Coronel, então corri o máximo que pude e comecei a gritar. Provavelmente eles não tinham me escutado por causa do barulho da chuva. Então finalmente cheguei perto deles e comecei a dizer:

–Aqueles desgraçados inundaram meu quarto. Estragaram bem uns cem livros. Foram aqueles malditos Guerreiros de Dia de Semana. Coronel, eles fizeram um buraco na calha, conectaram um tubo de plástico ao buraco e puxaram o tubo até meu quarto, passando pela janela dos fundos! Molhou tudo! Meu exemplar de O general no seu labirinto está completamente estragado – eu disse gritando.

– Bem pensado — o Coronel disse, com um artista admirando o trabalho do outro.

–Ei! – gritei.

–Desculpa. Não se preocupe, — ele disse. — Deus punirá os perversos. E, antes que ele os puna, nós os puniremos.

Algumas semanas depois fui até o quarto do Gordo, eram 6:30 de um sábado, enquanto ele dormia decidi jogar um pouco de videogame. Ajustei o volume da tevê no máximo e comecei a jogar, movendo o controle de um lado para o outro. Um tempo depois Gordo acordou e disse:

–Não pode ao menos tirar o som?

–Gordo – eu disse – o som é parte integral da experiência estética desse jogo. Tirar o som de Decapitação seria como ler apenas algumas palavras de Jane Eyre. O coronel acordou faz quase meia hora. Parecia um pouco irritado, então o mandei dormir no meu quarto.

–Acho que vou me juntar a ele.

Fingi que não escutei o que ele havia dito então mudei o assunto dizendo:

–Fiquei sabendo que o Takumi contou para você. É verdade, eu dedurei a Marya. Sinto muito. Nunca mais farei isso. Agora, mudando de assunto, você vai ficar aqui para o feriado de Ação de Graças? Eu vou.

Ele não me respondeu, pelo contrário puxou o edredom até a cabeça e ficou quieto. Mesmo assim continuei falando:

–O Jake precisa estudar. Por isso não me quer em Nashville. Diz que não consegue se concentrar na musicologia comigo por perto. Eu disse que vestiria uma burka, mas ele não se convenceu, por isso vou ficar aqui.

–Sinto muito.

–Ah não sinta. Tenho muito o que fazer. Tenho um trote para planejar. Mas acho que você também deveria ficar aqui. Aliás, escrevi uma lista.

–Uma lista? – ele disse um pouco surpreso.

Então enfiei a mão no bolso e retirei um pedaço de papel e comecei a lê-lo:

–Porque o Gordo deve ficar na Creek para o feriado de Ação de Graças: Uma lista, por Alasca Young. Um. Como o Gordo é um aluno muito dedicado, ele se privou de várias experiências maravilhosas em Culver Creek, entre elas, (a) beber vinho comigo na floresta, (b) acordar cedo no sábado para tomar café da manhã no McIncomível, depois passear de carro pelo centro de Birmingham, fumando e conversando sobre como o centro de Birmingham é patético e sem-graça e (c) sair tarde da noite e deitar no campo de futebol coberto de orvalho para ler o livro Kirt Vonnegut à luz da lua. Dois. Embora ela não se sobressaia em atividades como ensinar o idioma francês, Madame O´Malley faz um peru recheado delicioso e convida todos os alunos que ficam no campus para uma ceia de Ação de Graças. Geralmente somos eu e o aluno coreano de intercâmbio, mas, que seja. O Gordo seria bem-vindo. Três. Eu não pensei no três, mas acho que o um e o dois já estão de bom tamanho.

–Vou falar com meus pais assim que eles acordarem.

Então insisti para que ele sentasse no sofá para que jogássemos Decapitação, depois soltei o controle no chão e disse:

–Não estou dando mole, só estou cansada – eu disse tirando meus chinelos e deitando com a cabeça na coxa do Gordo.

Um dia depois fui até o buraco do fumo, e fiquei sentada lá durante um bom tempo, até que avistei Gordo me chamando então fui até ele.

–Estava procurando por você – eu disse e me sentei ao lado dele.

–Oi.

–Sinto muito, Gordo – eu disse enquanto o abraçava.

–O que vou fazer?

–Vai passar o feriado de Ação de Graças comigo, seu bobinho. Aqui.

–Por que você não vai para casa nos feriados?

–Tenho medo de fantasmas, Gordo. E minha casa está cheia deles.

No dia seguinte todos já haviam ido para casa para o feriado de ação de graça, menos eu, Gordo e Takumi. Então peguei o carro para levar Takumi até o aeroporto.

Depois voltamos para o colégio e eu conduzi Gordo até uma orla na floresta, depois de um tempo caminhando eu parei e disse:

–Cave.

Ficamos muito tempo em eu: - Cave. – ele: - Cavar?

Até que finalmente ele começou a cavar, um tempo depois encontramos uma garrafa de vinho então eu disse:

–Tenho uma identidade falsa, mas não presta. Sempre que vou à loja de bebidas, tento comprar dez garrafas desse negócio e um pouco de vodca para o Coronel. Quando dá certo, fico abastecida por um semestre. Dou a vodca para o Coronel, e ele a guarda em seu esconderijo, e eu pego as minhas garrafas e enterro.

–Porque você é uma pirata.

–Argh! Sim, capitão. Mas o consumo de vinho aumentou um pouco neste semestre, então vamos ter de sair amanhã. Está é a última garrafa. – girei a tampa – não se preocupe com o Águia hoje. Ele está feliz porque todo mundo foi embora. Provavelmente está se masturbando pela primeira vez no mês.

Ficamos deitados na relva alta entre o campo de futebol e a floresta, passando a garrafa de um para o outro, inclinando a cabeça para beber aquele vinho que voltava pelo esôfago. Como prometido na lista, eu trouxe um livro de Kurt Vonnegut, Cat’s Cradle [O berço do gato], e o li em voz alta.

Depois de um tempo deixei o livro sobre a grama e coloquei a mão sobre a perna do Gordo, e ficamos ali, durante um tempo quietos, apenas observando as estrelas. Então finalmente eu disse:

–Não é nem a vida nem a morte, o labirinto.

–Hmm..., certo. É o quê?

–O sofrimento – eu disse – São as coisas erradas que fazemos e as coisas erradas que fazem conosco. Essa é a questão. Bolívar estava falando sobre a dor, não sobre a vida e a morte. Como saímos deste labirinto de sofrimento?

– O que aconteceu?

Retirei a mão de sua coxa.

–Não aconteceu nada. Mas o sofrimento está sempre presente, Gordo. Dever de casa, malária, o namorado que mora longe quando você tem um garoto bonito deitado ao seu lado. O sofrimento é universal. É a única coisa que preocupa tanto os budistas quanto os cristãos e os mulçumanos.

–Ah! Então talvez a aula do Sr. Hyde não seja uma completa idiotice.

Nós dois estávamos deitados de lado. Eu sorri, nossos narizes estavam quase se tocando, nossos olhos estavam fixos um no outro, nossas faces coradas por causa do vinho, então ele abriu a boca e eu interrompi colocando os dedos em sua boca e dizendo:

–Shh. Shh. Não estrague tudo.


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