RUE - As flores, O pássaro e A música escrita por Serena Bin


Capítulo 1
CAPÍTULO 1 - As flores


Notas iniciais do capítulo

Olá Lindezas. Mais uma fanfic express. Agora escrevo sobre a Rue. Sempre imaginei como teriam sido os últimos dias dela. Desde a colheita até sua morte.
O Final nós já sabemos, mas que tal descobrir o começo? Boa Leitura. :)



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O som do velho rádio de minha mãe me acorda cedo na manha amena de outono. Embora tudo pareça normal, o dia promete o temido evento de todos os anos. A colheita.

Eu olho pela janela. Ainda não há sol, mas já ouço o caminhão de trabalhadores passando em frente a minha pequena casa na periferia do Distrito 11. Minha mãe prepara um pote de arroz com passas e entrega na mãos de meu pai, em seguida sinto um beijo leve em meu rosto e o vejo sair silenciosamente pela porta dos fundos em direção aos campos de trigo.

Me levanto e vou até a sala e noto minha mãe com um olhar baixo, triste, abatido tentando estocar o mínimo de tranquilidade para mim, porque mais tarde ela e todo o distrito 11 sabem o que espera por mim e por mais quatrocentos e trinta e dois jovens entre doze e dezoito anos.

Eu toco levemente seu ombro esquerdo. Ela levanta o olhar quando percebe minha presença.

– Volte a dormir filha - diz - Ainda é muito cedo.

Me mantenho parada ao seu lado.

– Não tenho sono mãe. - Respondo.

Ela olha para mim fixando seus olhos nos meus. Contemplo uma lágrima em seus olhos. Sinto minha mãe se despedaçando por dentro, aquela angústia que a consome desde o dia em que completei meus doze anos.

– Vai ficar tudo bem mãe. - Digo tentando acalma-la. Ela me abraça fortemente e ficamos assim até o sol raiar no horizonte.

–--

Colheita. Desde muito pequeno todo cidadão do distrito 11 aprende a conviver com essa palavra que nos indica o tempo de tirar da terra tudo o que foi plantado. Tal significado torna-se meio banal com o passar dos dias. Mas quando sua ficha de registro contém 12 anos completos, Colheita passa a ser sinônimo de morte , e nashoras que antecedem a escolha dos tributos, tento me manter ocupada assim como centenas de outras crianças que sem entender muito bem a gravidade da situação, facilmente se distraem com algo, e nem que por alguns instantes param de pensar na possibilidade de morte que a capital nos impõe a 74 anos.

Em busca de distração me dirijo ao campo perto de minha casa. Um lugar onde há flores silvestres e um pequeno lago onde meus irmãos e eu costumamos brincar em dias ociosos. Atravesso uma pequena faixa de areia e logo avisto meu recanto de paz. Só retorno quando o sol já alto me diz que é hora de encarar o monstro.

Caminho a passos curtos e vagarosos, tomando nota de cada rosto triste a minha volta. É quase hora do almoço e vejo mães agoniadas colocando alguma esperança nos corações de seus filhos condenados. De longe vejo todos os preparativos para o evento desta tarde. Luzes, câmeras, um palco sendo montado em frente ao edifício da justiça, pacificadores por todos os lados e um enorme brasão da capital. Quando passo em frente à prefeitura, contemplo o olhar amedrontado de Dhom, o filho mais velho do prefeito que assim como eu, irá enfrentar sua primeira colheita. Não há classe social para os Jogos Vorazes. Rico, pobre, negro, branco, menino, menina, forte, fraco, saudável ou doente. Para a capital somos apenas candidatos.

Avisto minha casa. Minha mãe faz como as outras mães, me espera na porta com olhar triste já conhecido.

– Entre, e coma alguma coisa. - Ela diz me acompanhando até a cozinha.

Não tenho fome. Alguma mistura de ansiedade e medo me alimentam ferozmente, apenas recuso o prato de comida a mim servido e vou para o único quarto da casa onde vejo em cima da velha cama de casal, um vestido amarelo desbotado pelo tempo, mas ainda em bom estado.

– Juliet o emprestou para hoje. - Minha mãe me explica entrando no quarto - Estava um tanto grande mas eu o reformei para poder...

Eu a abraço antes que ela termine a frase. Só quero sentir o colo aconchegante de minha mãe, tentar trazer dela algum fio de esperança de que não vou ser escolhida. Quando nos afastamos, há lágrimas em nossos olhos, uma espécie de compaixão mútua nos toma conta, uma tentando abafar a dor da outra.Visto-me e minha mãe amarra em meus cabelos uma fita fazendo um laço simples.

Caminhamos eu, minha mãe e meus irmãos em direção À praça central do distrito, juntamente com a nação que a capital insiste em matar, ano após ano.

–-

Às duas da tarde, a praça central do distrito está tomada por crianças. Vejo cada rosto carregando um tom de medo. Os mais novos choram desesperadamente, os veteranos respiram fundo em busca de coragem para mais esse momento. Há dois grupos. Meninos e meninas. Divididos assim em subgrupos por idades, antes há filas onde fazem o registro de cada candidato. Um furo em meu dedo indicador, uma gota de sangue e um carimbo em um livro. Vou parar na ala dos menores. Ao meu redor, meninas de todas as partes do distrito. Procuro algum rosto conhecido e de longe avisto um. Lana, uma colega de escola. Tento chegar até ela, mas o aglomerado de meninas me impede de cumprimenta-la, decido então ficar onde estou. Tento por mim mesma buscar força e coragem de algum lugar escondido dentro de mim, quando as luzes se acendem e o palco se ilumina.

– Bem Vindos À 74ª Edição dos Jogos Vorazes. - A voz de Érida Wombber ecoa pelos ares da praça.

Esse ano a apresentadora de baixa estatura, aparece com cabelos longos e azuis, vestida em um vestido prata com algum desenho que a mim lembra escamas de peixe. Se a intensão de Érida Wombber era parecer uma sereia, bem, então funcionou.

Os rostos pálidos acompanham a história de guerra de Panem, assistida e lembrada todos os anos durante a colheita. Érida, assim como qualquer pessoa nativa da capital, encara tal história como uma das mais belas da humanidade. Os Jogos Vorazes não lhe causam dano algum, por isso ela parece feliz ao sortear todos os anos os nomes das crianças condenadas. Para ela e para todos os cidadãos da Capital, isso é algo normal. Cresceram vendo crianças morrerem nos jogos assim como nós, o resto de Panem, crescemos com o medo constante da morte.

Após o vídeo que narra a história da rebelião, o nervosismo chega ao ápice. Érida Wombber faz um pequeno discurso de quão honroso é ser escolhido para os jogos, discurso esse que é ignorado pelos mais velhos, enquanto nós, a parte mais nova do negócio tomamos tais palavras como combustível, que só aumenta nosso terror. Olho para o lado e vejo uma garota, com a mesma idade que a minha, fria, trêmula, angustiada. Olho para dentro de mim e vejo o quão entorpecida estou. Não há em quem me apoiar. Procuro o olhar de minha mãe, mas não encontro. Tudo o que faço é encolher minha cabeça e esperar que o nome sorteado não seja o meu.

– E vamos À primeira parte! - Diz Érida Wombber com certo entusiasmo - As Garotas.

Os passos da apresentadora são como o tic-tac de um relógio. E quando a mulher de cabelos azuis pára em frente ao globo onde contém o nome de centenas de garotas, meu coração sente um forte pulsar. Ela coloca a mão dentro do globo, mexe um pouco e sem delongas puxa um papelzinho qualquer.

– E o tributo feminino do distrito 11 para o 74º Jogos Vorazes é...

Ainda de cabeça baixa sinto a respiração faltar. Ouço um som vazio estourar dentro de meus ouvidos

– Rue Sparks. - Érida Wombber dispara a plenos pulmões.

Meu coração pára de vez.

–--

Do fundo de algum lugar escuro estou sufocando. O chão já não existe sob meu pés. Tudo o que sou é medo, terror, choro eangustia.

– Rue Sparks ?! - Érida Wombber chama impaciente - Onde está voce querida?

A multidão se abre em volta de mim. Enquanto caminho lentamente em direção ao palco ouço um grito desesperado, sei que é minha mãe, sentindo toda a dor . Subo na pequena plataforma de madeira, existem lágrimas em meu olhar. Todo o distrito 11 agora olha para mim como quem olha para um cadáver. Ao longe encontro minha meus irmãos. Não há descrição para oque vejo naqueles rostos. Após minha rápida apresentação, então Érida se dirige ao globo masculino e de dentro dele retira um nome.

– Thresh Kindder. - A apresentadora proclama.

Do meio da multidão de garotos, sai um rapaz alto de pele escura como a minha, uns dezoito anos talvez, forte e grande. Não há medo em seus olhos, há outra coisa. Raiva. Então quando já estamos apresentados, Érida nos dá a última chance de escapar-mos da sentença.

– Alguém se voluntaria por Rue ou Thresh?

Ouvimos o doloroso som do silencio.

– Meus parabéns! - Érida diz sorrindo - Aplausos para Rue Sparks e Thresh Kindder, os tributos do distrito 11.

Sou eu e Thresh, as flores a serem colhidas do jardim. Que a sorte esteja sempre ao NOSSO favor.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por ler.Se gostou deixe um comentário, é rapidinho, é de graça e não dói nada. XD