No Rugido Do Leão escrita por Céu Costa


Capítulo 23
Capítulo 23 - Terra Média - A jornada




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Abelle olhou para trás. Ver Valfenda já tão distante, quase desaparecendo por entre os paredões de rochas da montanha, dava um aperto no coração. Viajar era sua maior paixão, depois de Edmundo, desde a Inglaterra. Não que ela não quisesse ir para Gondor; ela queria muito explorar as paisagens dessa terra nova, mas tão conhecida dela. Mas agora, ver a Valfenda dos contos desaparecer à distância meio que lhe apertava o coração. Se pudesse, tiraria uma foto, só para poder chegar em casa e dizer Vovó! Eu vi o lugar dos contos! Eu vi Valfenda! e sorrir enquanto a sua vó querida observa as fotos daquele lugar lindo. Mas ela não pode. E suspira.

– Vovó, você teria adorado. - ela suspirou.

– Abelle! - Sam chamou - Não fique muito atrás!

Abelle correu até sua irmã, ficando todos juntos. O silêncio reinou sobre eles por todo o dia, mais por orientação de Legolas do que por qualquer outra coisa. As Montanhas Cinzentas são conhecidas como principal reino orc, e eles têm aberturas, fendas e passagens por toda a cordilheira. Era importante não ser detectado.

O sol estava começando a se pôr quando Caspian se aproximou de Belle.

– Estou com fome. - ele disse - Comeria tudo o que tem na minha mochila com um pouco de mel!

– Não estou com fome, mas gostaria de parar. - Belle falou - Meus pés estão começando a doer. Quanto será que já andamos hoje?

– Quarenta quilômetros. - Samantha disse, assustando-os - Já estamos na metade do caminho. Aposto que chegamos a Fangorn antes do amanhecer.

– E em Rohan antes do próximo pôr do sol! - Legolas disse, empolgado - Vamos! Logo veremos a floresta!

Passo Largo sentiu um peso muito forte, e uma pontada em sua ferida. Seu curativo se encheu de sangue, e ele gritou, e caiu.

– PL! - Samantha gritou.

Ela correu até ele e se ajoelhou do seu lado, olhando o curativo. Aquilo estava muito feio, com o esforço da caminhada íngreme, piorou.

– Legolas, precisamos parar! - ela falou.

– Não podemos parar! - ele retrucou - Sabe o quanto essas terras são perigosas!

– Bom, temos você e Caspian, dois arqueiros, Gimli, bom, tem um machado, - Belle disse - e também eu e Sam sabemos manejar uma espada.

– Bom, isso significa dois minutos de sobrevivência em um ataque! - Legolas cruzou os braços - Não podemos ficar!

– Legolas, a moça tem razão! - Gimli chamou-o - O rapaz não vai aguentar caminhar a noite toda!

Legolas olhou para eles. Não poderiam ficar, pois o local é perigoso, mas também não poderiam prosseguir.

– Vou encontrar uma caverna. - ele bufou - Fiquem alertas.

Ele correu, desaparecendo entre as rochas. Como um legítimo elfo.

– Deixe-me ver isso! - Sam falou, tocando no curativo. Porém PL se contorceu e gemeu. - Tudo bem, vou esperar ele voltar.

– Ele está voltando! - Caspian falou, e logo Legolas apareceu por entre as rochas.

– Encontrei uma fenda! - ele falou - Não é segura, mas serve para uma noite. Se apressem!

Caspian e Sam carregaram Passo Largo, seguindo Legolas e Gimli. Belle carregava as mochilas da irmã, do primo e do amigo, preocupada sempre. Logo entraram na caverna, e Caspian o deitou, recostado em uma pedra. Samantha sentou-se ao seu lado, e começou a cuidar dos ferimentos dele. Legolas e Gimli montaram guarda do lado de fora, enquanto Belle e Caspian se deliciavam com Lembas e mel.

– Caspian, tem Athelas em sua mochila? - Sam perguntou.

– Eu tenho. - Belle pegou e levou para ela.

– Obrigada.

Samantha tirou a faixa de pano. O ferimento de flecha ainda estava bem profundo, e sangrava copiosamente. Ela respirou fundo e comprimiu as folhas contra o ferimento. PL gemia. Ela pressionou por um tempo, até ele parar de gemer. Então começou a limpar o sangue.

– Então... - PL tentava se distrair da dor - Você e Caspian...

– O que tem ele? - ela perguntou, distraída.

Ele olhou para ela e sorriu maliciosamente. Sam arqueou uma sombracelha.

– Ele é meu primo. - ela limpou o ferimento com força, fazendo ele sentir dor, de propósito - Meu e de Belle.

– Posso perguntar uma coisa? - ele disse.

– Dá até medo depois desse comentário... - ela falou.

– Vocês me contou que vocês não são bem daquele reino... - PL começou, e Sam concordou - Então, como descobriram? Quer dizer, como sabem que são primos?

– Ah, isso! - Sam riu.

– Conta! - ele pediu.

Sam riu ainda mais um pouco, mas enfim, resolveu contar.

Caspian havia sido coroado na noite anterior, e todos dormiam profundamente em seus quartos, devido à festança que durou quase a noite toda. Eu me levantei naquela manhã particularmente fria, e resolvi caminhar, passear um pouco pelo castelo enorme. Depois de vagas por muitos corredores vazios, comecei a abrir portas por diversão. Tentei três enormes portas, mas todas estavam trancadas. Tentei em outro corredor, mas foi o mesmo resultado. Então, eu abri uma porta.

Ela dava para um imenso salão de música, e lá no palco, havia um piano de mogno escuro, e vitrais de flores atrás dele, iluminando-o com suas luzes coloridas. Eu sempre amei piano. Eu caminhei lentamente para ele, e me sentei em seu banco. Sua tampa estava muito empoeirada, mas ainda sim brilhava. Eu a ergui. Suas teclas eram do mais puro marfim, polidas e puras.

Eu automaticamente comecei a tocar uma melodia*, só para ver se ainda estava afinado. O som ecoou por toda a sala, tinha uma acústica incrível. Eu não conseguia parar de tocar, a canção parecia ainda mais bela naquele instrumento que em qualquer outro. Meu coração batia forte, e um sorriso se instalou em meu rosto.

No meio da melodia, uma mão começou a tocar junto comigo. Foi estranho no início, mas o dueto soou tão melodioso que eu nada falei. Caspian sentou ao meu lado, e passou a fazer as notas altas, enquanto eu fazia as baixas. O tempo passou tão depressa, que logo a melodia foi finalizada.

Ouvimos palmas excitadas, e ao nos virarmos, vimos Aslam, e Belle, que ria eufórica.

– Bravo! Bravo! - ela gritava.

Nós nos levantamos, e nos curvamos em agradecimento.

– Como você aprendeu essa canção? - eu e ele dissemos juntos, e rimes ao notar isso.

– Está em minha família há anos! - respondemos juntos outra vez, e rimos novamente com isso.

– Minha nossa, são gêmeos! - Belle ironizou.

– Muitas verdades se escondem por detrás de um sorriso. - Aslam falou.

Todos olhamos para ele. Como assim?

– O quer dizer? - Caspian perguntou.

– Todos os segredos dos universos têm seu tempo determinado para serem revelados. - Aslam disse, filosófico - Por hora, basta dizer que o mesmo sangue corre em suas veias, bem como os mesmos sonhos, paixões e determinações. E agora, carregam as mesmas lembranças.

Ficamos em silêncio por um tempo, discernindo o que Ele dizia. Então, como de súbito, eu caminhei até o piano, e de dentro dele, retirei uma pequena caixa de mesma cor e material que ele. Quando abri, encontrei este colar que uso agora, e ainda outros dois. Havia também um pequeno bilhete que dizia:

"Para as estrelas do meu céu."

Aslam soprou sobre eles, e os abençoou. Colocamos em nossos pescoços, e desde então tivemos a mesma convicção de que estaríamos para sempre conectados.

– E estamos. - Caspian sentou-se do lado de Sam.

– Então vocês acham que são primos só porque um leão disse isso? - PL disse, com um certo tom de desdém. Samantha amarrou a faixa com força, fazendo-o gritar.

– Não espero que você compreenda, já que não acredita nem nos contos e profecias de sua própria terra! - ela disse, furiosa.

– Não acredito em histórias. - PL falou - São coisas inúteis que fazem as crianças dormirem.

– Meu caro, histórias se realizam a todo momento! - Caspian retrucou - Aconteceu comigo, e agora é com ela! Por que com você não?

– Terminei. - Sam disse.

Ela se levantou e caminhou até o lado de fora, e se sentou em uma pedra. A lua brilhava alto. Quase tão alto quanto seus pensamentos. Como ele poderia ser tão descrente, mesmo vendo tudo aquilo? Mesmo depois de ter visto tantas coisas extraordinárias em Nárnia? Por que era tão difícil acreditar?

– Que saudades do Pedro! ... - ela sussurra, as lágrimas rolando em seu rosto.

– Problemas de relacionamento? - Legolas se senta ao lado dela.

– Ele é tão cabeça-dura! Como pode duvidar tanto? - Sam sussurrou - Este mundo é tão simples! Tão fácil de acreditar! A lógica é tão clara! Ele viu, tocou e sentiu tanta coisa, como pode ainda sim não crer?

– Ele é assim desde criança! Nunca acreditou em nadaque fugisse de seu mundinho restrito, ao qual ele chama de realidade. - Legolas fala - Mesmo sabendo e vendo que existe muito mais além da realidade que ele diz existir.

– Minha avó costumava dizer que realidade é um conceito relativo. Não é algo fixo, podendo sempre ser modificado, dependendo sempre do lugar onde você está, das circunstâncias que você vive, e de quem você é. - Sam olha para Legolas - Estou errada em acreditar nisso?

– Não. - ele sorri - Eu também acredito.


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Notas finais do capítulo

*https://www.youtube.com/watch?v=Od-3oxpFWB0
Eu sei que é o tema da Bella, mas eu adoro essa canção no piano!



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