O vento sopra suavemente, agitando as árvores e espalhando o perfume de pomares no ar. A Lua brilha no céu, alta e majestosa, e as construções de madeira branca brilham juntamente com ela, como estrelas na terra. Os cabelos de Samantha ondulam com o vento, como uma bandeira dourada em um mastro.

– Tá legal! – Abelle se aproxima da irmã na varanda, as faces coradas de raiva - Será que agora a Grande Sábia pode me dizer o que está acontecendo? Porque é insuportável ficar ouvindo Passo Largo me perturbar com perguntas sobre sua conduta!

– Você sabe que tentar usar esse idioma, que tudo me leva a crer que seja uma espécie de élfico, em terras élficas, não torna esta conversa particular, e sim pública? - Samantha falou, olhando o horizonte.

– Não interessa! Eu detesto ser a última a saber das coisas! E você sabe disso! - Abelle estava revoltada. Sentou-se em um banco embaixo de uma árvore e suspirou.– Pelo menos, pode me explicar por que viemos para cá? E por que vamos para Gondor?

Samantha suspirou.

– Sendo bem sincera, não sei por que estou fazendo isso. Desde que chegamos aqui, pelo portal, eu só penso em vovó Cathy e em suas histórias. Jamais pensei que poderiam realmente me levar a lugares concretos. - ela se sentou ao lado da irmã. - Mas agora, que sei que tudo é real, não consigo me conformar. Eu sinto que tem algo muito errado, e que precisa ser consertado. E acho que Gondor é a solução.

– Não, talvez não seja. - Belle suspirou. - Você veio para cá pensando que encontraria respostas, mas só encontrou mais perguntas! Quem é Celebrian? Quem é Aragorn? Por que eles parecer ser tão importantes para nós? E o nosso guia? Nem conseguimos descobrir o verdadeiro nome do antigo, como vamos confiar nesse?

– Não, neste novo eu confio. Mais ainda do que no antigo. - Samantha disse.

Caminharam juntas até a varanda do palácio. Lá dentro, o guia enfaixava a perna de Passo Largo, que gemia como um bebê. Ela sabia que estava doendo, mas não podia ser tanto assim.

– E será que eu posso saber por quê? - Belle perguntou, parando do lado da irmã.

– Eu sempre confiei em heróis.– Samantha sorriu. O guia ergueu a cabeça suavemente, tentando parecer que estava concentrado no rapaz, mas estava era ouvindo a conversa. E Sam sabia disso. - Principalmente naquele que sempre protegeu seus amigos.

– O elfo? Legolas?– Abelle se assustou. - Verdade?

– Cada palavra. - Samantha se aproximou de Belle e sussurrou, sabendo que o guia ouviria– Mas ainda desconfio do anão.

Legolas riu, despertando o interesse de Passo Largo.

– Acha minha ferida engraçada??? - ele esbravejou - Espera só até eu ficar bom!!! Vou cravar uma flecha no seu olho!!!

E voltou a gemer de dor. Legolas começa a dizer coisas, palavras, em um idioma que elas não conseguiam entender. Não era o que o Passo Largo e elas diziam, nem idioma de anões, centauros, ou qualquer criatura que conhecessem.

– Profecia? - Caspian disse, confuso.

– Do que está falando? - Belle perguntou.

– Ele disse algo sobre uma profecia. - Caspian repetiu.

– Peraí, você entendeu??????? - Belle se virou, assustada, para o primo. Este assentiu com a cabeça, como se já não fosse óbvio.

– Então traduza! - Sam sussurrou.

Caspian então, começou a traduzir o idioma estranho.

– Sabe, eu fico contente em saber que você finalmente encontrou aqueles de quem a profecia falava. Finalmente, uma esperança para o povo. - Legolas disse.

– Eu não acredito nessas bobagens de profecia e visões de futuro. Para mim, você faz seu destino. - Passo Largo desdenhou.

– Não são bobagens! Você sabe disso! - Legolas repreendeu – A profecia precisa se cumprir para que a paz retorne!

– Isso aí é apenas uma história, um mito que se perdeu há muito tempo. - Passo Largo olhava para o teto– Apenas mais uma história para fazer as crianças dormirem.

Legolas se levantou, nervoso. Jamais alguém fora contra sua palavra. Ele encheu os pulmões e recitou a profecia que Elrond deixara antes de partir para Valinor, fazendo as paredes do palácio se abalarem com a magia.

O tesouro mais precioso se perdeu

E em trevas se abateu

Mas a luz não esmorece, apesar da escuridão

Três sombras retornam ao lar

E então, a dor há de acabar

Com a nação outra vez

Fortalecida

– Não tem o direito de negar o retorno do rei! - Legolas disse, por fim– A profecia vai se cumprir, quer você queira, quer não! E eu juro solenemente ajudá-los, seja com minha vida ou com minha morte.

– Eu só vou dizer uma vez. - Passo Largo falou - Há muito tempo eu neguei este destino, pois não o quero para mim! Não quero essa linhagem, não quero nada! Nada! Só vou com vocês, porque quero voltar para casa, e só! Então não me diga quem eu sou, ou o que devo aceitar ou não, porque eu sei! Eu sei!

Passo Largo levantou-se, e saiu, mancando. Entrou em um quardo e fechou a porta com força. Legolas esmurrou uma coluna com força, e esta se rachou.

– AAAAAAAAAAAH! - ele esbravejava– Seu inútil! Verme! Filho de um Goblin! Vai pagar! Não pode negar! Sabe seu destino! Sabe aaaa profeciaaaaaaaaaa!

– Calma! Calma! - Gimli se aproximou dele.

Legolas sentou no sofá rústico e claro e chorou de raiva. Não como pessoas comuns fazem; ele ficou vermelho e cheio de ódio, com os punhos cerrados e a cabeça baixa.

– Legolas, se acalme! É estranho eu dizer isso, mas neste caso, não se pode ficar de cabeça quente! - Gimli tentava amenizar a situação - Ele é tão teimoso quanto um anão.

– Ou quando um elfo... - ele sussurrou– Não nega a raça mesmo.

– Legolas, pense, a razão está do nosso lado. Pois, se estes forem mesmo os heróis da profecia, - Gimli disse, misterioso– tudo vai mudar assim que colocarem os pés em Gondor.