Eu estava bem, juro que estava bem, mas mesmo assim minha mãe insistiu que eu teria que ir ao médico.

Deixamos a festa, todo mundo nem tava mais em clima de comemoração, mas pedi que continuassem, eu não queria estragar o casamento de Mary:

–Me desculpe Mary, não queria fazer todo esse tumulto, dê continuação a festa, desejo tudo de bom para você e Rodrigo, agora tenho que ir, uma consulta me espera.

Ela me abraçou novamente e agradeceu meus votos, e insistiu para que eu ligasse para ela depois que voltasse do médico, Rodrigo também veio me abraçar e me desejou melhoras. Meus pais e eu estávamos saindo do clube, quando Will nos alcançou:

–Sr e Sra Simon, queria acompanhar May ao médico com vocês, me sinto responsável por tudo isso, o que eu tiver que fazer com o meu pai será feito.

Eu fiz um sinal de negativo para meus pais, mas eles nem ligaram e autorizaram que Will me acompanhasse. Durante o caminho nenhum de nós disse uma palavra, eu estava muito confusa em relação á tudo o que tinha ocorrido.

O médico era um senhor com os cabelos já grisalhos, parecia ter muita experiência, ele era amigo de meus pais:

–Olha só que eu vejo, não acredito que essa é a May, como cresceu essa menina, parece que foi ontem que ela vinha consultar comigo e pedia pirulitos.

Will soltou um risinho, eu lancei um olhar mal encarado para ele, e ele logo parou, meus pais também riram, e então o médico me examinou. O meu diagnóstico nem foi tão assustador, ele apenas me disse que os desmaios era causados por causa do estresse nos últimos dias, e me receitou alguns calmantes, até me deu um atestado para ficar cinco dias em casa, seria muito bom, pena que essa semana eu teria provas todos os dias, e elas eram muito importantes.

A consulta foi bem rápida, mas meus pais começaram a conversar com o médico, até Will entrou na conversa, eu aproveitei a distração e saí para fora do consultório para pegar um ar, mas para a minha capacidade de não ter um minuto de paz, Will me seguiu:

–May espere, acho que devemos conversar.

Esse último "devemos conversar" me recordou a conversa com o pai dele, o que me casou muita raiva, sem muita espera peguei um calmante e o engoli, não queria estresses:

–Ok Will, mas sei que essa conversa não vai levar a nada mesmo.

Ele me levou á uma cantina que ficava perto do consultório, mas claro que antes de ir eu avisei meus pais, não queria outro sequestro não.

Will estava muito nervoso, não sabia por onde começar a falar, então eu tomei coragem e falei todo o que tinha dentro de mim:

–Vou ser bem sincera Will, eu podia estar tendo uma vida normal agora, mas desde aquela vez que você derramou café em mim e não me pediu desculpas, porque não me pediu desculpas? se você tivesse me pedido eu nunca teria ocorrido atrás de você e exigido o maldito pedido de desculpas, e você estaria bem com o seu pai e sua vida de super-herói, e eu estaria bem na minha vidinha silenciosa e normal e feliz, você entende?

Ele ficou totalmente sem palavras, e quando me dei conta, eu estava chorando, era muito pressão em cima de mim, acho que eu não queria falar tudo isso, mas no impulso do momento eu acabei falando, pedi ao garçom uma bebida bem forte, mas Will me impediu:

–Eu não sabia que eu era um problema tão grande assim na sua vida perfeita May, me desculpe de verdade, eu também não pedi para gostar de você, mas são coisas que acontecem e não tem como a gente evitar, eu também não sabia que meu pai estava por trás de todas aquelas coisas ruins que você falou, talvez ele só quisesse me proteger, ou não, quer saber eu estou muito confuso também.

Ele também chorava, e as pessoas da cantina já estavam olhando para a gente, e eu falei:

–Vamos fazer assim, eu volto para a minha casa e você para a sua, eu não me meto mais na sua vida e nem você na minha, eu não dou queixa nenhuma sobre o seu pai, só se ele prometer deixar eu e minha família em paz, e tudo acaba perfeitamente bem entre nós dois.

Eu já estava me levantando para ir embora, quando novamente Will me interceptou:

–Há quem você quer enganar May Simon? não vai ficar tudo bem coisa nenhuma, não adianta você querer esconder seus sentimentos, você ainda gosta muito de mim, e eu muito mais de você, dá para ver no seus olhos, eles brilham quando você me enxerga, porque querer acabar com um sentimento tão bonito assim?

Dessa vez foi ele quem me deixou sem palavras, eu sabia que tudo o que ele disse era verdade, mas o orgulho sempre é maior:

–Will eu tenho que ir embora, não posso ter tanta carga de estresse assim, pensa na minha sugestão e tudo vai ficar bem para nós dois, tchau.

Meus pais já me esperavam no carro para irmos embora, Will me observava de longe, minha mãe perguntou:

–Ele não vem com a gente?

Apenas fiz que não, entrei no carro e peguei meus fones, coloquei a música mais triste da minha playlist e dormi.

Cheguei em casa e sem demora comi algo e fui para a minha cama, a chuva caía lá fora.

Na manhã seguinte, acordei a todo vapor, coloquei minha melhor roupa para ir a faculdade, revisei os conteúdos da minha prova de genética, e até me atrevi a olhar o jornal, na capa do jornal tinha uma reportagem bem grande:

O CARA DA MÁSCARA EVITA ASSALTO AO BANCO DA CIDADE

"O super-herói conhecido como o cara da máscara chegou no momento exato em que os bandidos se preparavam para fazer o maior assalto á um banco registrado no ano, que bom que tudo acabou bem, valeu cara da máscara, seja você quem for"

É parecia que as coisas tinham voltado ao normal, eu só não sabia se aquilo era bom ou ruim.