Rebirth escrita por Miojo Maldito


Capítulo 2
Episódio 2: Algor Mortis


Notas iniciais do capítulo

“Algor Mortis (Do latim algor = frio e mortis = morte) ou Esfriamento do Cadáver é a redução linear da temperatura da pele que ocorre após a morte. [...]
A circulação do sangue pelo nosso corpo é responsável por nos manter aquecidos. Quando morremos, logicamente, o sangue para de circular, e consequentemente nos aquecer, fazendo com que o corpo se resfrie e adquira a temperatura do ambiente em que se encontra. É por isso que quando tocamos num morto, temos a sensação de que ele está frio, já que nosso sangue ainda circula e nos mantém em temperatura mais elevada.”
— Fonte: Wikipédia



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Estava frio lá fora. As últimas gotas de chuva que restavam nas nuvens caíam lentamente. Apenas o jaleco que Elliot Turner e o seu amigo mendigo cujo ele não sabia o nome com certeza não os protegeria daquela baixa temperatura que lhes castigava sem piedade.

— Para onde estamos indo? — perguntou Elliot. Os seus dentes estavam trincando por causa do frio.

Silêncio.

— Não vai me dizer seu nome? — tornou a perguntar — Você por acaso sabe o que está acontecendo?

O mendigo deu alguns passos e parou. Elliot, que seguia logo atrás, também parou.

— Meu nome é Peter Bernadone e eu quero que me acompanhe... — virou, andou alguns passos. Voltou-se a Elliot novamente — e que cale a boca.

Aquilo era realmente um sonho? Era tão real e, ao mesmo tempo tão místico! Se fosse verdade, Elliot sim poderia dizer que já esteve morto e mutilado e que, de uma hora para outra, ele se consertou como se fosse feito de plástico.

E as buzinas dos carros que passavam enquanto ele e Peter Bernadone caminhavam já não lhe faziam mais ódio. Tais buzinas, essas que repeliam todos os motoqueiros. Ele não admitia os absurdos e injustiças que os motoristas faziam contra os pilotos de moto, como ele. Mas, naquele momento, Elliot Turner não tinha mais do que reclamar. Ele já esteve morto. Era estranho pensar aquilo. Ele não sabia se era uma chance para recomeçar, se foi sorte ou se sua teoria de que a qualquer momento pudesse acordar desse suposto sonho fosse real.

Foram sessenta minutos de caminhada. Chegaram a um lugar estranho, provavelmente pouco conhecido. Atravessaram rochas e ervas daninhas em meio a um matagal rasteiro até chegarem a um pequeno templo, cujo Elliot foi obrigado a entrar.

Havia uma luz estranha e muito forte naquele lugar. Era como se o sol se escondesse na noite e ali se refugiasse. E por causa daquela luz, Elliot Turner pouco conseguia ver o que existia naquele lugar. De repente, um homem surgiu no altar. Não era possível enxergar seu rosto, apenas suas vestes: uma túnica branca, que se estendia até os pés.

Peter Bernadone se curvou diante daquela imagem, e Elliot então deduziu que aquele homem era uma espécie de deus ou algum rei. Enfim ele se curvou também.

— Peter Bernadone, finalmente! Finalmente você encontrou o seu irmão. — disse o homem para quem eles se curvaram. Ele desceu os degraus que davam acesso ao altar e ficou mais próximo dos dois. — Elliot Turner... a fênix. Aquele que renasce das cinzas. O imortal.

Tudo estava se encaixando. Tudo o que aquele homem estava dizendo era verdade. Elliot Turner era uma fênix: tudo o que aconteceu com ele provava isto. Ele podia se regenerar. O acidente de moto que ele sofrera horas atrás não lhe foi fatal, apenas serviu para que ele visse quem realmente era.

— Eu posso me sentir mais forte agora que encontrei Elliot, mestre Zuriel. — disse Peter. Então Elliot pôde saber o nome daquele homem: Zuriel, nome de anjo, cujo significado ele ainda desconhecia.

— Levantem-se! — Zuriel ordenou e gesticulou com as mãos. Elliot Turner e Peter Bernadone obedeceram. — Talvez... Eliot Turner — Zuriel segurou o queixo do rapaz, de modo que o obrigou a olhá-lo nos olhos. O jovem enfim pôde enxergar o rosto de Zuriel: era um anjo realmente. Tinha uma auréola em cima da cabeça. Os cabelos, encaracolados, cor de mel e sua pele era tão pálida quanto a de Peter— ... você não entenda o que esteja acontecendo. Apesar de tudo, você representa a vida.

— As coisas estão começando a se encaixar... Zuriel. — balbuciou.

Zuriel largou o queixo de Elliot e se aproximou de Peter. Tocou-lhe os ombros e sorriu para ele, dizendo:

— Peter Bernadone, o parasita. Aquele que suga a vida dos outros para sobreviver. Você representa a morte. — largou os ombros de Peter e voltou para o altar. Continuou — Elliot e Peter. Vida e Morte. Duas faces da mesma moeda. Vocês são irmãos.

— Irmãos? — perguntou Peter.

— Foram separados no nascimento. A vida de vocês, então, entrou em desequilíbrio. Até que hoje, vocês se reencontraram. — gargalhou — não poderão se separar, pois um completa o outro. Entenderam?

— Eu quero ir embora daqui. Estou com medo. Minha namorada estava me esperando em casa.

Após dizer isso, Elliot virou as costas e correu. Tentou encontrar a saída daquele tempo, mas não a encontrou. Correu, em círculos, como um louco. Peter Bernadone e Zuriel o observaram por alguns segundos, até que o anjo disse:

— Acalme-se, fênix. Você voltará a sua vida, se é o que deseja. Mas precisará tomar conta do seu irmão. — apontou para Peter.

— Este homem não é meu irmão. E ele já é bem crescido, por sinal, pra alguém ter que tomar conta dele.

— Você entenderá, Elliot.

A luz que outrora estava naquele templo, invadiu novamente o lugar. Zuriel abriu suas asas. Eram enormes. A luz aumentava a cada segundo e chegou um momento em que não era possível se enxergar mais nada. As mãos cobrindo os seus olhos para se proteger daquele grande flash era inútil.

O clarão deu origem a escuridão. Elliot e Peter caíram no chão e adormeceram.

Jessica Hudson havia preparado tudo. O jantar estava todo na mesa. A casa estava toda decorada com flores e a cama estava forrada com pétalas de rosas.

Porém, ela estava destruída. Seu noivo não apareceu.

A maquiagem estava sendo conduzida pelas lágrimas, descendo pelo seu rosto e manchando o vestido que ela comprara especialmente para aquele momento tão especial. Ela amava Elliot Turner e acreditava que aquele sim seria o homem da sua vida.

Namoravam há mais de quatro anos. Eram praticamente crianças quando se conheceram e ela se entregava a ele de olhos fechados.

A decepção, todavia, lhe definia naquele momento.

Jessica abriu mão de uma carreira de sucesso por causa dos planos que passou a vida fazendo com Elliot. Decidiu parar de estudar e agarrar o emprego de secretária para dar sustento a casa que compraria e manteria enquanto o futuro marido, Elliot, estudaria economia.

A moça estava disposta mesmo a fazer com que o Elliot se formasse seguisse o seu sonho. Ela o amava.

Amava até ele sumir no dia do jantar em que comemorariam, apenas eles dois, o noivado que por ventura abriria com chave de ouro o começo de uma vida nova.

— Alô. — de início, Jessica se recusou a atender o telefone, porém a insistência era grande e o toque polifônico do aparelho a estressava.

Ainda acordada? São três da manhã. — estava com uma voz suave, estranha. Parecia ter chorado.

— Quem é?

Se não fosse uma respiração ofegante do outro lado da linha, teria um silêncio absoluto.

Sou eu, Kelly. — era a melhor amiga de Jessica — Eu tenho uma notícia ruim pra você. Jessica, eu sinto muito, mas Elliot sofreu um acidente. Caiu da moto.

O coração de Jessica estava se remoendo de amargura, de decepção, de arrependimento. Estava arrependida, realmente, por ter achado que Elliot havia fugido. Mas não, era aquela moto, maldita moto, que lhe fez atrasar. Jessica confiava em Kelly de olhos fechados.

Cadê ele? Onde está Elliot? Kelly, me responda! Ele está morto, não está?

Minha amiga...

— Fale, Kelly!

O pior de tudo, Jessica, é que o seu corpo de Elliot sumiu do necrotério. A direção do hospital acha que o roubaram. Eu lamento...

Jessica Hudson soltou o gancho do telefone, que foi de encontro ao chão.

Eles acordaram, jogados frente ao hospital cujo necrotério deu início a toda essa história. Estavam vestidos com suas roupas normais e como se nada tivesse acontecido.

— Vamos embora, meu irmão. — disse Peter Bernadone, estendendo a mão para que Elliot se levantasse do chão.

Elliot não aceitou a ajuda do suposto irmão. Levantou-se por conta própria, espalmou suas roupas para tirar a terra e saiu. Tonto, ia a pé procurando um ponto para pegar um táxi.

Peter Bernadone o seguia.

— PARA DE ME SEGUIR! — vociferou Elliot, empurrando Peter no chão.

— Nós somos como unha e carne. Sangue do mesmo sangue. Estamos ligados.

— Eu não acredito nisso.

— Prometo que se me levar para um lugar seguro, me der comida e algo decente para vestir, explico tudo. Elliot Turner, eu posso te dizer todos os segredos, tudo o que você não sabe sobre sua vida.

Um táxi parou e Elliot entrou. Sem escolhas, ele deixou que Peter entrasse. Sentados no banco do passageiro, um encarava o outro. O motorista do táxi os estranhava.

Peter Bernadone percebeu enfim que o motorista do taxi os encarava muito.

— Elliot, veja o que eu sei fazer.

Peter agarrou o motorista do taxi pelo pescoço. Os olhos daquele que parecia um mendigo adquiriram uma cor vermelha brilhante. O motorista perdia o controle do carro e era difícil mantê-lo reto na avenida.

— Peter, pare com isso! — ordenou Elliot, tentando tirar o Peter de cima do motorista.

À medida que o tempo passava, Peter Bernadone parecia mais forte. Sua pele pálida parecia adquirir um tom mais moreno, e sua cabeça, outrora nua, estava começando a adquirir um cabelo de tom negro-cinzento.

O motorista parou de se debater nas mãos de Peter. Sua vida estava sendo levada embora nitidamente. Enquanto ele secava e enfraquecia, Peter se tornava mais forte.

Zuriel tinha razão: ele, realmente, era um parasita.

E representava a morte.


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Notas finais do capítulo

E aí? Tá muito confuso? Algumas coisas foram esclarecidas?
Qualquer coisa eu respondo nos comentários :)
Agradecendo a Alexia, Éve, Beeu e Party Poison que comentaram. Thalles Dias, Sir Douchebag, obrigado por favoritar. Espero os reviews de vcs :3
Até mais!



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