Um Inglês Para Chamar de Meu escrita por fuckholmes


Capítulo 1
Capítulo Um


Notas iniciais do capítulo

Olá, espero que gostem do capítulo.



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— Samantha! Acorda! — Satchmo abriu a porta do quarto gritando. Desligou o ar e abriu as janelas. — Já passam das quatro, você precisa começar a se arrumar — Óbvio que me movi apenas para tentar tapar minha cara com travesseiro e impedir que a luz atingísse meus olhos.

— Sam, acorda. — O pentelho do meu irmão também entrou no quarto e pulou em cima de mim. Não sei como seu minúsculo óculos azul, que usava desde pequeno, não caiu em cima da minha cara — Você não ama o natal? Eu amo o natal.

— Calem a boca e me deixem dormir — gritei jogando um dos travesseiros nele.

— Você que decide. Vai perder o Papai Noel — a vontade de gritar que esse papai é algo que não existe e foi feito apenas para enganar crianças, era absurda. Pedro tem apenas seis anos, mas todos dizem que aparentemente ele tem cara e corpo de quatro anos. — Além do Papai Noel, você também vai perder de ver o Eduardo.

Pulei da cama e corri até a cozinha. Meu irmão só pode ter ouvido o nome errado.

Meu pai estava com o avental que usava especialmente para fazer o jantar no natal. A parte onde escondia a barriga, tinha uma enorme roupa de Noel desenhada. Ele sempre foi o cozinheiro oficial nessas datas importantes, e tudo que ele cozinhava saia absurdamente gostoso.

— Pai, eles vem? — sorri animada.

Eduardo é o filho do irmão da minha mãe, que mora na Inglaterra faz cinco anos. Eles se mudaram para lá quando a firma que o meu tio trabalha queria alguém para cuidar da filial e desde então eles não vinham pra cá. Nós eramos muito próximos, ainda somos, mas de uma maneira diferente.

— O que você tá falando? Eu tenho que terminar de fritar esses bolinhos de bacalhau para ir tomar banho! Aliás, porque você ainda não tomou o seu?

Bufei e subi a escada em silêncio.

Parei rapidamente no meu quarto apenas para ligar o notebook e, em seguida, fui para o banheiro. Quando voltei, um vestido vermelho que obviamente não combinava em nada com o estilo do meu corpo estava sobre a minha cama, junto com um par de saltos de mesmo tom.

— O que é isso? — gritei e a Satchmo abriu a porta, olhando.

— Sua mãe comprou e disse para você usar hoje Sam — ela deu de ombros rindo.

A Sat era a única pessoa que sabia que eu nunca, em hipótese alguma, usaria um vestido daquele jeito. Odeio vestidos curtos e saltos; gosto de um bom e velho tênis ou sapatilhas. Eu tenho um bom motivo para odiar, afinal, vestidos daquele jeito são usados em alguém que tenha tamanho para ele e que pretendem seduzir alguém, e eu - acredite - não tenho essa intenção. Outro motivo é que eu não sei me comportar de vestido, já que a mulher tem que ficar preocupada se a calcinha está aparecendo e não pode se abaixar de qualquer jeito porque aí a bunda aparece. Me poupem.

— Mãe, eu não vou usar aquela roupa. — Praticamente arrombei a porta do quarto, já a avisando.

— Porque não? — Ela tinha acabado de sair do banheiro, e tinha a toalha enrolada na cabeça.

— Eu não vou te explicar pela vigésima vez que eu não uso vestidos e odeio saltos — sorri irônica.

— O que eu fiz para minha única filha andar como um menino? — Começou o drama! Ela faz esse tipo de coisa toda vez que eu me recuso a usar uma roupa que ela escolheu.

— Mãe, relaxa. Eu posso não me vestir como a menina que você gostaria de ter, mas eu não gosto de meninas — ri alto e ela provavelmente só não me jogou algo naquela hora porque meu pai entrou no quarto.

— Vai se arrumar! As pessoas vão chegar logo.

Bati o pé e fui para o meu quarto.

Eu sempre amei andar só de toalha pela casa. Você tem aquela sensação de liberdade, o vento batendo no seu corpo, é refrescante. Abri o armário e peguei um jeans, meu vans azul marinho — ele estava tão sujinho, mas eu nunca o tiro do pé — e uma camisa preta com um dizeres engraçados. Me vesti o mais rápido possível, enrolei uma toalha na cabeça e fui para frente do computador escrever. Eu absolutamente amo escrever! Eu tenho um blog que faço um espécie de diário e é claro que nunca tem visitas, afinal ninguém sabe que eu o tenho. Liguei o iTunesno aleatório e a música que caiu foi “Sweet Child O’ Mine”, do Guns N’ Roses

E aí pessoal…

Estou me preparando para a festa de natal porque fui obrigada a participar dela. Não é que eu odeie o natal, mas acho que é só mais um dia onde o foco é para os católicos — o que os meus pais alegam ser — comemorar o nascimento do JC. O que normalmente nem acontece, pois eles sentam aquelas bundas ossudas no sofá ou na cadeira para comer, comer, comer e mais comer. Honestamente falando? Acho que algum deles só vem na festa porque tem comida. Ah claro, também há os presentes, meu irmão só pensa nos presentes. O natal deixou de ser a festa de aniversário para ser a festa do Papai Noel. Por isso eu não gosto do natal, por ser uma data criada para algo e que acaba não sendo comemorada. Não que eu seja católica praticante, eu sou católica apenas porque meus pais são e isso na minha família é herdado como se fosse uma doença onde você não tem saída a não ser pegá-la.

— Vem, os convidados estão chegando. — Meu irmão entrou no quarto e eu automaticamente abaixei a tela do notebook. Levantei correndo, tirei a toalha da cabeça e escovei o cabelo com pressa. Meus pais odeiam que eu me atrase, mas isso já é parte do meu cotidiano.

Minhas avós estavam sentadas na sala e eram as únicas pessoas que eu queria conversar, afinal, tínhamos muitos interesses em comum: enquanto uma adorava ler, a outra amava filmes antigos — o nosso preferido era“o baile”, um filme de 83 que mostra a história da sociedade francesa atraves dos anos em um salão de baile. Sendo uma boa filha, ou melhor me fazendo, cumprimentei todos que chegavam para festa.

— Beth, tem mais gente subindo — Satchmo veio na sala avisar. Ela estava bonita com o cabelo preso e um vestido azul; minha mãe deve ter dado de presente. Fui atrás dela na cozinha e abracei por trás. — Ai menina, um dia você ainda me mata de susto! Eu já estou velha. — Se sentou na cadeira da bancada. Ela tinha essa mania de se achar velha, mas ainda estava nos auge dos 50 anos.

— Satchmo, deixa disso — dei lingua para ela.

— Vem cá — ela me chamou rindo e eu me agachei na frente dela como fiz durante toda a minha vida. — Seu cabelo tá todo bagunçado, posso prender? — Balancei a cabeça positivamente e os dedos mágicos dela começaram a trançar meu cabelo para o lado.

— Se não colocar um elástico, ele vai soltar. — Ela sussurrou um“shiu”no meu ouvido, apontando que ela daria um jeito, como sempre dava.

— Pronto — sorriu e bateu de leve no meu ombro indicando que era a hora de levantar.

— Obrigada — beijei a sua bochecha e corri para o meu quarto. Dane-se os convidados, precisava terminar de ler"The White Queen”.

Me perdi em meio as horas lendo sobre uma das guerras mais interessantes da Inglaterra, a grande rivalidade dos Lancaster e dos York era impressionante. Li ao som da voz melodiosa do Danny, o vocalista de The Script. Senti meus fones de ouvido serem arrancados e levei um susto.

— Porque você não disse que vinha, bobão? — Me joguei nos braços do Eduardo e seu cheiro era exatamente o mesmo que de anos atrás. Possuía diversos músculos firmes e grandes, onde antes ficavam os flácidos.

— SURPRESA! — ri, mas mantive a cara séria para dar a impressão que isso realmente havia me magoado. Dei um tapa em seu braço de brincadeira e ele pareceu nem sentir dor.

Após aquele momento de reencontro, olhei para porta e viO GAROTO. Não era qualquer garoto, era o mais bonito que eu já vi. Seu cabelo loiro formava um topete sedutor e o óculos de grau preto dava um toque essencial ao formato do seu rosto. Em algum momento Eduardo percebeu que eu olhava fixamente e decidiu nos apresentar.

— Essa é a minha prima de quem tanto falo. — Sorri e ele depositou um beijo na minha mão. Que antiquado!

— Prazer, sou Henry — falou em um português quase perfeito, QUASE. Estava na cara que ele era um inglês original.

— Prazer, sou Sam — fiz uma reverência como no tempo do livro que eu estava lendo pouco tempo atrás. — Eu estava com tanta saudade! — Abracei Edu outra vez. — Veio para o casamento? — Em uma semana o melhor amigo do meu pai se casaria e, por coincidência, ele também conhecia o meu tio; foi graças a eles que os meus pais se conheceram.

— Se eu conseguir um convite para o Henry, eu vou.

Puxei-o pelo braço para sentar na cama e sussurrei pedindo que chamasse o seu amigo para sentar também, mas ele não o fez. O mesmo ficou admirando minha estante de livros e dvd’s.

— Estou com fome, vamos jantar?

— Eu já vou, posso encontrar você lá em baixo? — Edu fez sinal positivo e saiu correndo. Ainda era uma eterna criança, mesmo que agora estivesse com músculos em lugares que eu nunca imaginei que ele teria. Henry não seguiu o meu primo e continuou admirado a estante.

— Você gosta de ler?

— Não — meu sorriso sumiu aos poucos; minha maior qualidade não batia com a dele —, eu amo ler! — completou segundos após, já em inglês, e o meu semblante melhorou.

— Onde aprendeu a falar português? — não era fácil para um estrangeiro falar nossa língua.

— Com o seu primo, ele me ensinou muita coisa. Somos amigos há bastante tempo e por isso já aprendi muito — mordi o lábio e balancei a cabeça positivamente.

— Vamos comer — ele saiu do quarto rapidamente, como se eu tivesse dado-o uma ordem. Achei melhor ir com ele.

Meus tios estavam da mesma forma que eu me lembrava depois de uma ligação no skype com o Dudu, onde eles se meteram querendo falar com os meus pais. Não enchi meu prato de comida, apesar da vontade de fazê-lo. Tinha certeza que se comesse demais ficaria com dor na barriga. Diferentemente das meninas da minha idade, não me importo em engordar, afinal, uns quilinhos a mais para quem tem muitos não fazem diferença. Então coloquei um pouco de arroz, o assado que minha vó trouxe e um pouco da farofa de natal, receita que a Sat trouxe quando veio para cá.

— Até onde eu lembro você não comia SÓ isso — Edu estava há menos de 24 horas no meu país e já estava me zoando.

— Não quero assustar o seu amigo — brinquei, pensando que talvez isso pudesse ser uma verdade no meu subconsciente.

— Entendi, está sozinha há tanto tempo que necessita apelar para o amigo dos outros? — ele riu.

Uma das coisas que eu mais senti falta foi sua risada, pois, não importa a situação, ela sempre fez com que eu me sentisse melhor. Lembro que no enterro do meu avô fiquei muito para baixo e quando cheguei do cemitério ele me ligou e contou tudo que aconteceu no seu primeiro encontro com uma inglesa. Me fez rir mesmo sendo um momento tão ruim para mim.

— Não tem problema eu ter um interesse por ele, afinal, Henry — adorei como o nome dele soava tão sexy — não é sua propriedade! — pisquei. — A menos que você jogue no outro time agora — completei.

— Não vi graça — terminamos de comer em silêncio juntamente ao amigo dele. Já estava perto da meia-noite e era quando trocávamos os presentes. Eu havia pedido para o “Papai-noel” uma lente para minha câmera nova, o que era bem provável eu ganhar.

— Crianças, vão para o quarto. — Revirei os olhos e meu irmão e uns primos por parte de pai foram para o quarto.

Ouvi meu irmão gritar “Eu posso ouvir o Papai-Noel vindo”. Um tempo depois minha mãe chamou-os de volta, e disse que ele fez todos nós dormimos e só tirou o feitiço quando já tinha saído da nossa casa.Ele sempre acreditava nessa história boba. Abriu o presente e pude ver que finalmente era um celular, assim ele pararia de pedir para usar o meu, mesmo que não tenha ninguém para ligar.

— Esse é seu — meus pais me entregaram um embrulho gigante, eu sabia que era a lente. Quando abri, sim, era ela, mas havia uma passagem de avião dentro. Olhei o destino e sim, a Inglaterra me esperava daqui a duas semanas! Meus olhos ficaram cheios d’água.

— Obrigada — abracei meus pais — Eu nem acredito.

— Seus tios concordaram em aceitar você na casa deles por um semestre, assim você e seu primo podem aproveitar e colocar toda a nova fofoca em dia e matar a saudade! Você vai frequentar a mesma escola que ele. O abracei também, sussurrando um"você sabia"no seu ouvido, que nem se deu o trabalho de me contrariar

— Não vamos esquecer que você ganhou um presente da sua vó e esperamos que você cante para nós — meu tio falou e olhei para o violão novinho que ela havia comprado. — Seu pai disse que sua voz continua incrível. — Mordi o lábio concordei. Conhecia minha família e eles não desistiriam ao menos que eu tocasse.

— O violão não está afinado, então não sairá perfeito — me sentei no sofá e coloquei o violão no meu colo, perguntando em seguida: — Alguma música em especial? — sorri.

— Uma que signifique muito — Henry falou em seu inglês com aquele sotaque perfeito. Arrumei o violão, já sabendo que música tocar, e comecei.

Today is gonna be the day that they’re gonna throw it back to you— minha voz não estava muito afinada a princípio, mas com o tempo da letra foi pegando o jeito. —Because maybe You’re gonna be the one that saves me, and after all you’re my wonderwall— terminei de cantar feliz pelo meu desempenho. O pessoal aplaudiu, claro que por serem meus parentes e por educação. Conversei mais um tempo com o meu primo e o seu amigo até que meu tio comecasse a reunir as coisas para ir embora.

— Amanhã a gente volta e esperamos que você cante mais — o amigo do meu primo disse. Após saber que eu iria morar no país deles, não se deu o trabalho de tentar falar mais português.

— Legal — sorri e senti meu rosto corar. Eu nunca fiquei corada por causa de um menino, ainda mais um que eu conheço há pouco tempo.

— Vamos na praia de manhã, quer ir? — Edu perguntou e eu balancei a cabeça negativamente. Não perderia essas horinhas de sono por nada.

— Amanhã a Ju e o Tom vem — disse. Meu irmão gritou"vocês vão ver o namorado dela", ele realmente era uma peste. Revirei os olhos e nenhum dos dois perguntou nada.

Todos foram embora e me ofereci — rezando para que eles não aceitassem — a arrumar a casa. Eles não aceitaram, então fui para o quarto e tirei a roupa; colocando um pijama de flanela, olhei para o notebook e notei que ele estava aberto. Tinha certeza absoluta que alguém mexeu nele. Ah como daria graças por me livrar de todos por esses seis meses. Digitei um pouco, resumindo o dia de hoje, e postei o clipe de"Wonderwall".

Oi pessoal,

Até que, de todo, o natal não foi ruim. Ganhei um violão e uma passagem para fazer o primeiro semestre escolar na Inglaterra. Sim, a terra da Rainha, dos motoristas ao contrário, dos Beatles, do Oasis e do chá das cinco, me aguarda. Nesses seis meses poderei passar um bom tempo com meu primo. Claro, se o melhor amigo dele que é completamente gostoso não ocupar toda a minha atenção. Parto daqui a duas semanas, ou seja, agora o ritmo vai ser frenético para arrumar todos os últimos detalhes. Beijos e aproveitem a música.

Deitei na cama e dormi bem rápido, o que não era tão estranho. Sabia que teria um sonho bom, mas que na manhã seguinte, com certeza, ele teria sumido.


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Notas finais do capítulo

Qualquer coisa podem entrar em contato comigo pelo twitter (@whymirallegro), no meu blog (bulhufasdanath.blogspot.com) ou no tumblr (11n04) (uipcdm). Beijos!



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