Depois do pesadelo que tive, não consegui mais dormir. Mas talvez isso seja bom. A insônia me faz pensar na minha vida e em mim mesma.

   Pensei em como a minha vida mudou. Ontem, eu era uma nerd e ninguém ligava para o que eu fazia. Hoje, preciso tomar cuidado com o que faço, pois há uma "espiã" da Melissa no meu bairro. Ontem, nenhum garoto, a não ser Marcus, falava comigo. Hoje, o garoto mais popular pede pra ser meu namorado. Pode parecer pouca coisa pra você, mas pra mim é uma reviravolta imensa.

   E pensei também no Alex. É estranho, toda vez que penso nele, alguma coisa fica quente dentro de mim. E essa coisa fica mais quente ainda quando penso na possibilidade de ele gostar de mim. Sei que venho sendo orgulhosa demais e agora você está apontando o dedo na minha cara dizendo: "Pare de fugir da realidade, você gosta dele sim!" Mas é difícil admitir, até para mim mesma.

   - Mas... sim. Eu gosto dele. Eu amo o Alex.

   De repente, me sinto como se tivesse tirado um peso das costas. Aliviada por ter dito isso em voz alta a mim mesma em plena madrugada. Me sinto como se soubesse exatamente o que fazer. E senti esperança em poder ser de verdade para ele, e esse talvez seja meu maior desejo. *orgulho totalmente off*

   Mas não direi a ninguém, nunca. Pois, apesar de ter aceitado tudo isso, junto com os riscos, ainda desconfio que pode ser uma armadilha ou trote. Tenho que tomar muito cuidado.

   O dia seguinte (terça feira) amanheceu bem ensolarado. As árvores estavam lindas, densas com suas copas enormes, e algumas gotas persistentes do dia anterior ainda gotejavam das folhas (sim, a chuva anterior durou até a noite, como previsto). E isso é lindo. Muito bonito. Depois de uma tempestade o sol sempre aparece, acredito piamente nisso. Amo a natureza.

   Fui pedalando minha bicicleta prestando atenção pra não bater em ninguém. Mas, como tem muito verde no caminho da escola, me lembrei dos olhos de Alex, da mesma cor, e pensei em como ele estava lindo ontem após nos beijarmos. De repente...

   - Ai! Cuidado!

   - Ah! Desculpe... - aí, olhei pra cara dele. Oh, não. É o garoto que eu atropelei no dia anterior. Não sei com que cara devo olhar para ele.

   - No mundo da lua de novo? - ele perguntou, levantando uma sombrancelha.

   - Sim... - eu disse, olhando ao redor, preocupada com aqui e ali.

   - Calma, - ele tocou meu braço - não precisa ficar nervosa. Ninguém está nos vendo. Seu namorado não vai suspeitar.

   - Ah, é? Do quê? - eu disse, desvencilhando meu braço da mão dele.

   - Acha mesmo que alguém acreditou que não sabia que estava encharcada?

   - Sim. O Alex. É a verdade e é o que importa. Agora TCHAU. - e fui pedalando minha bike o mais rápido que podia. Eu heim! Sabe-se lá o que ele pensou! Mas não quero saber.

   O dia correu normalmente, com algumas partes em que eu e Alex tivemos de atuar, fingindo marcar encontros, dando pequenos (pequenos!) selinhos e dando carinhos um ao outro. Agora que eu percebi que gosto dele, está ficando cada vez mais fácil fingir ser sua namorada. Mas tenho que manter o foco. Nós NÃO somos namorados de verdade. Não posso fantasiar muito.

   Acabam-se as aulas, e vou para casa.

   À noite, quando vou para a cama, me pergunto se terei pesadelos novamente. Rezando para que não, me deito.

   No dia seguinte, acordei dando graças que não tive nenhum pesadelo. Mas, de repente, me sinto mal. Prevendo que algo ruim vai acontecer.

   Corro para a escola. Mal falo com meus amigos, vou para a biblioteca.

   Sheyla está lá, de olhos arregalados.

   Sigo a vista dela e...

   ... Vejo a coisa mais horrível do mundo se concretizar.

   Alex. Com Melissa.

   Abraçados.

   Se beijando.

   Uma onda repentina de dor e ciúme atravessa meu peito.

   Eu sabia o tempo todo. Era uma armadilha para me magoar.

   Só não  sabia por quê.

   Como isso pode acontecer comigo? Como pude ser tão ingênua a ponto de acreditar que ele gostava de mim? Será que estou fadada a sofrer para sempre?

   Sinto lágrimas rolarem por meu rosto.

   De repente, ouço um barulho estranho.

   Pi, pi, pi, pi, pi...

   Acordo sobressaltada. Mais um pesadelo. O barulho estranho era o despertador. Me sento na cama e ponho as mãos no rosto. Ele está molhado. Eu chorei de verdade durante o sonho.

   Meu Deus. Dessa vez, o mau sonho foi pior. Meu maior medo me atacara sem dó nem piedade.