Fui para a sala correndo, abri a porta, me desculpei com o professor e sentei. Meus amigos me olharam com uma cara de "Onde você estava, sua doida?" e eu os olhei com cara de "Depois eu explico".

   Depois, quando tocou o intervalo, o professor me chamou, mexendo nuns papéis.

   - Amélia, é a primeira vez no ano inteiro que você chega atrasada. Aconteceu algo? Você está com algum problema?

   Droga. Eu não queria dizer nada ao professor.

   - É que... bem, eu estava vindo para a escola no horário normal, quando de repente atropelei um amigo com a minha bicicleta. Aí, eu o trouxe para a escola...

   - Ele estuda aqui?

   - Ahn, sim. Aí, quando chegamos, por educação eu cuidei dos ferimentos dele. Era isso que eu estava fazendo agora.

   - Humm... Tá bom. Acredito. Vá para o intervalo, mas não chegue atrasada novamente.

   - Ok, professor.

   Fui para o pátio da escola, encontrei o Alex e disse que temos de atuar melhor, pois já haviam duas pessoas suspeitando de nós.

   - Quer dizer que quer namorar de verdade? - perguntou Alex, passando os dedos pelo queixo e piscando pra mim.

   - Idiota! - eu disse - Só estou dizendo que tem gente demais desconfiando! Não é como se eu quisesse ficar com você de verdade! - menti descaradamente.

   - Calma, só tava brincando, eu entendi. Nossa, Amélia, como você é ingênua.

   - Sou mesmo, pra aceitar esse negócio e achar que vai dar certo. - desdenhei, e depois me levantei da mesa, com a intenção de deixá-lo sozinho.

   - Vão suspeitar se você for embora, eu sempre ficava o intervalo todo com minhas namoradas. - ele disse.

   - Olha aqui - eu disse, baixo, mas com raiva, sentando-me - se eu fosse a Melissa, desistiria logo de você, porque você não vale um centavo! É um saco ver você me comparando com suas namoradas anteriores! Você é muito folgado, e só quer namoradas perfeitas, que façam o que você quer, que te dêem toda a atenção e não sejam ciumentas! Foi por isso que você terminou com a Melissa! Mas sabe de uma coisa? Você vai ficar sozinho!

   E me levantando, falando mais alto, eu disse:

   - Chega! Eu desisto de ser sua "namorada"! Acabou!

   E fui embora mesmo, sob os olhares perplexos de todos, não sei por que estavam tão surpresos. Alicia e Marcus me encontraram depois, e conversamos, contei tudo pra eles, até sobre o Eduardo. Amo meus amigos.

   - Mas por que todas as pessoas estavam tão perplexas?

   - Bem... - começou Alicia - se você pensar um pouco no passado, vai perceber que essa é a primeira vez que uma "namorada" do Alex termina com ele...

   - Quer dizer que foi ele que terminou com todas as outras. - disse Marcus. - Você foi a primeira a levantar a voz e dizer "acabou".  

   - Sim, é isso.

   Quer dizer que todas as outras garotas populares que ele já namorou eram todas covardes e faziam o que ele queriam só porque era popular! E qualquer deslize que elas davam, ele terminava, por isso ele tinha tantas namoradas. E eu, uma simples nerd resolve simplesmente levantar da cadeira e dizer "chega"! Fala sério! Então era por isso que ele me comparava com as outras! Eu sou muito diferente delas, e ele estava acostumado com um modelo de namorada que é o contrário do que eu sou! Ou seja, o fato de elas não reclamarem ou serem ciumentas é maior culpado disso, já que Alex não tem experiência com pessoas do MEU tipo, como eu não tenho com o dele! Agora, sou eu que estou terminando no primeiro deslize que ele dá. Ou melhor, primeiro não, porque ele fazia isso antes também, esse negócio de querer "namoradas perfeitas". Mas ele fazia isso porque não conheceu outro tipo de namorada antes de mim.

   Só que... Nós não éramos namorados de verdade. Olha o título da história. Sou apenas a falsa namorada. Por isso eu não me importava.

   Mas, de repente, passei a me importar.

   Talvez, só talvez, eu tenha sido dura demais com Alex, ainda mais porque eu gosto dele.

   Mas eu gosto dele mesmo? Sabe, me faço essa pergunta todo dia. É por isso que eu não quis dizer nada. Não há certeza do que eu realmente sinto. E, deixando o orgulho de lado, o beijo do Eduardo mexeu mesmo comigo. Fiquei vermelha na hora. E agora?

   - Oi. - uma voz disse do meu lado.

   - Ah! - gritei, me assustando.

   - Calma, sou eu. - disse ele. - Eduardo.

   - Ah, sim. - eu disse.

   - Verdade que você terminou com ele?

   - Hã... Sim. Mas não vem pensando coisa! Ainda gosto dele! - eu respondi. - Só terminei porque ele não me tratava muito bem... - disse, fingindo ter terminado com um namorado de verdade que eu adorava, mas não valia a pena.

   - Você foi a primeira namorada dele que terminou primeiro. Todo mundo ficou de boca aberta quando você se levantou e falou aquilo.

   - É...

   - Eu nunca iria te tratar mal, Amélia.

   Ai!

   - Quem sabe? - fingi desconfiar.

   - Sei que você deve estar desiludida agora. Mas você pode confiar em mim. 

   Não falei nada. Depois, ele disse, mais vermelho que um tomate (eu olhei pro seu rosto na hora):

   - Você... - ele engoliu em seco. - ... quer... sair... comi... go...?

   Credo! Essa frase quase que não sai da boca dele! Perguntei, pensando ser um sonho muito estranho:

   - O... quê?

   - Quer sair comigo?

   E agora, o que eu respondo, o que eu respondo?

   - Olha, - falei, escolhendo as palavras e organizando-as como uma escritora ou uma compositora - sabe, é que, eu acabei de terminar e, queria, sabe... um tempo.

   Nós dois estávamos muito embaraçados, dava pra sentir no ar. Marcus e Alicia só assistindo a tudo. Que sorte a deles. Parece os amigos sempre têm uma vida melhor que a nossa.

   - (Suspiro) Tá bom. - e Eduardo foi embora para a sala de aula, pois já havia terminado o intervalo faz tempo. Eu, Alicia e Marcus também fomos, eles calados. Acho que estavam com medo de dizer alguma coisa errada.

   Quando entrei na sala, todos me olhavam com cara de "Olha, foi ela que levantou da mesa e terminou com o garoto mais popular da escola! É uma idiota!"

   Ai, ai. E agora? Alex ou Eduardo? De quem eu gosto mais? Se bem que eu acho que o primeiro nem quer mais ver a minha cara, então, se for ele, não vai fazer a mínima diferença agora. E eu também não quero vê-lo por um tempo. Estou com um pouco de vergonha por ter sido tão egoísta e antipática. Preciso de paz.