Capítulo 6 – Fallen:

Seus olhos. Seus olhos que antes me transmitiam amor, gentileza, coragem, agora me mostravam ódio, mágoa e repúdio. Encarei Tobias e olhei novamente para os meus pés. Comecei a balançar a cabeça mas nenhum som saía da minha boca.

̶ Vou repetir Tris, você me acha um idiota? – Ele poderia estar alterado, poderia ter ira em sua voz, mas ela saía apenas autoritária e as palavras em tom pausado. Aparentemente sua tranquilidade casual me apavorava mais.

̶ Eu... – Engoli um nó na minha garganta. Meus olhos estavam lacrimejantes. Você não pode chorar Tris! Seja corajosa.

̶ Tris, eu quero saber que maldição está acontecendo! Christina me contou que você armou um plano pra me...

̶ O que? – Interrompo com raiva – Christina fez o quê?

̶ Ela me contou que você armou um plano junto com Marlene para me humilhar na frente de todos. Mostrar que eu era suscetível a dor. Para vingar você e Marlene, você fingiria que me amava só para depois me magoar.

Ouvindo as palavras de sua boca cada vez mais sentia um incômodo, um frio no estômago. Decido tentar explicar a verdade, ele me ama e com certeza vai entender que cometi um equívoco. Fique calma Tris. Respiro fundo novamente.

̶ Eu não...não foi bem assim, Christina estava envolvida também e... – Ele se afasta de mim e isso me corrói por dentro.

̶ Você...é...é verdade? – Seu olhar de dor retorna e eu não consigo! Não consigo, não consigo conter minhas lágrimas.

̶ É – Olho para Tobias e percebo que há plateia em volta. Isso me irrita. Me irrita tanto, ela era minha amiga e por causa de um garoto, destruiu tudo. Porque ela é apaixonada por ele resolveu que não me queria feliz. E agora todos nos olham com curiosidade, pena ou raiva.

Eu percebo que estou mais irada porque eu fiz a escolha. Eu decidi me destruir e fazer tudo errado.

̶ Mas Christina está envolvida nisso. Eu juro que no começo eu te odiava por fazê-los sofrer e...

Tobias estava incrédulo.

̶ Você quis que eu sofresse por conta das vítimas dos seus amiguinhos?!

̶ Não! Eu nunca quis participar desse plano. Mas escolhi que iria para ajudá-los. E quando eu te vi de novo Tobias, eu me lembrei da nossa infância, do quanto éramos felizes. E você resgatou tudo isso. Você acendeu em mim as memórias antigas. E consequentemente o amor também. E eu me vi de mãos atadas, porque era pra eu ser horrível com você, fazer você se apaixonar por mim e depois te abandonar mas como eu disse, você me fez feliz, me fez voltar a amá-lo. Por favor, eu sei que não tenho esse direito mas me perdoe...

̶ Não, ainda bem que você sabe. Você não tem o direito de pedir perdão pra mim depois de tudo. Beatrice, você é a pessoa mais insípida do planeta! E acreditar que... – Ele riu amargamente – E eu acreditei que você realmente me amava, que por um segundo da minha vida eu havia encontrado a mulher ideal. O meu amor. Uma pessoa que me compreendia, me perdoava por ser quem eu sou. Mas obviamente...

̶ Quatro! – Soltei seu apelido de criança. Uma lembrança me veio a mente.

Havia uma árvore grande e forte. Era primavera e o pequeno bateu sua mãozinha na casca áspera e quente, por conta do sol. Eu tinha 6 anos, o encarei e comecei a rir.

̶ Você chegou em quarto! Eu cheguei primeiro, depois o Eric e depois Susan. – O menininho nem ligava, apenas se preocupava em recuperar o ar pela corrida, e ria. Dava gargalhadas adoráveis de criança.

A versão mais amável de Eric riu.

̶ Vamos chamar ele de Quatro.

̶ Eu adorei, Quatro! É um ótimo apelido. – Disse minha versão pequena o abraçando. Ele sorriu e eu dei um beijo em sua bochecha.

A lembrança se desvaneceu. Tobias me encarava com nojo. Ele se aproximou de mim.

̶ Nunca mais me chame assim. Não volte a me procurar.

̶ Tobias! Tobias! – O chamei enquanto corria atrás dele mas alguém me segurou.

̶ Tris, não vá atrás dele agora. Ele está de cabeça quente e pode falar coisas que não quer para você.

̶ Caleb. – Apenas digo seu nome mas o desespero na minha voz sugere muito mais do que isso. Olho para seus olhos e imploro silenciosamente. Por favor, por favor, por favor. Mas ele é irredutível e não me solta. Agradeço a Deus que ele não me soltou, pois no minuto seguinte avisto Christina.

Grito, grito com toda a minha raiva. E nem Caleb é capaz de me segurar. Vou para cima dela e a faço cair no chão.

Eu a soco. Estapeio seu rosto.

̶ Sua vaca! Seu monstro! Você é uma vadia! Você é a pior pessoa que existe. – Espero sua reação alterada mas ela apenas tenta me afastar.

̶ Sério? Não fui eu que fingiu amar alguém. – Retruca ela em tom tranquilo. Alguém me tira de cima dela e estou chocada demais para fala algo.

Um par de braços fortes me leva daquele lugar enquanto ouço Susan falar.

̶ Pelo menos Tris não fingiu ser amiga de ninguém para depois traí-la.

Estou paralisada, meus pés não se movem direito. Caleb me leva para o seu carro e tem que me fazer entrar porque eu não me mexo.

Ele estaciona na minha casa e abre a porta. Eu saio do carro e nem agradeço. Minha mente está tão nebulosa como um dia de chuva. Tenho dificuldade de respirar. Parte de mim parece ter sido arrancada. Caleb me olha e pergunta algo mas eu apenas entro sem respondê-lo. Ele prefere ir embora e me deixar sozinha. De certa forma, agradeço mentalmente porque não gostaria de alguém comigo neste momento.

Eu subo as escadas e entro no meu quarto. Fecho a porta e grito. Deslizo da porta para o chão e choro. Grito. Grito novamente e nenhuma palavra sai da minha boca. Grito para tentar me libertar da dor. Mas ela não sai. Acabo dormindo escorada na porta.

Acordo com dor no corpo e resolvo sair de casa para...eu não sei exatamente o que pretendo fazer. Talvez sair me ajudaria a...eu não consigo raciocinar. Talvez me ajudaria a melhorar.

Coloco um moletom e fecho a porta de casa. Meu vizinho está levando o lixo pra rua. Seu nome é...Peter? Eu não me importo. Ele dá um sorriso e acena, mas eu apenas ignoro e continuo andando sem rumo.

Caminho pelo asfalto molhado por conta da chuva, não ligo de ser tarde da noite e nenhum poste estar com a luz acesa.

De repente alguém grita o meu nome. É uma voz feminina mas eu não a identifico, e mesmo ela me chamando continuo a andar. Sinto um par de mãos balançarem meus ombros e Susan está na minha frente, com lágrimas nos olhos. Por que ela está chorando? A minha vida que foi destruída, não a dela.

̶ Tris por favor diga que está me escutando!

Eu olho para baixo e não respondo.

̶ Tris, por favor! Tobias sofreu um acidente!

O pouco de ar que eu possuía é brutalmente sugado dos meus pulmões. Com a menção de seu nome sou despertada com uma corrente elétrica em meu sangue.

̶ O que? O que aconteceu? Como ele está? Quando?

̶ Parece que logo depois que vocês brigaram, ele saiu enfurecido com a moto e...e um carro bateu nele e... – Susan estava pálida e eu não conseguia entender o que havia acontecido, porque ela soluçava e isso estava me irritando. Eu precisava saber o que aconteceu. De repente agarrei os braços de Susan, de modo firme.

̶ Se acalme e me fale agora o que houve! – Digo num tom autoritário.

Ela assente e respira.

̶ Houve um acidente e...

̶ Susan, pelo amor de Deus! Eu entendi que aconteceu um acidente, eu preciso que você me diga como Tobias está.

̶ Os médicos...os médicos...ele. Tobias está em coma, Tris.