Sophie estava me olhando de um jeito esquisito.

Muita gente diz que eu sou bonito, engraçado e essas coisas, mas não acho que seja bem assim. Ás vezes, as pessoas olham para mim de relance, sem querer que eu as perceba, só que eu nunca fui de prestar atenção nas coisas direito, então eu sempre percebo quando estou nos meus devaneios.

Logo após o término da aula que eu acho que era de Geografia, Sophie se levantou de sua cadeira, vindo na minha direção. Eu me preparei para falar com aquela stalker louca, mas ela me surpreendeu. Quando ela viu que eu a estava olhando, deu meia volta e saiu pela gigante porta da sala de aula.

Decidi sair da sala também. Quase em frente à porta, bati com a perna em uma mesa no meio do caminho. Quando saí pela porta, Sophie já havia desaparecido pelo corredor enquanto minha perna doía.

Desisti da ideia e fui à sala ao lado para visitar meu colega de escola Pedro Cintra. Quando cheguei lá, vi que ele mexia em seu vídeo-game portátil, em um de seus jogos de zumbis preferidos.

Pedro Cintra era um menino super magro, se alguém falasse vareta, palito, vara de pescar ou qualquer outra coisa fina que você possa imaginar... Ele poderia ser a pessoa retratada. Na maioria das vezes seus cabelos negros estavam despenteados e seus olhos castanhos vidrados em alguma coisa.

— Ainda joga isso, senhor? — Pergunto a ele, quando chego perto. Puxo uma cadeira para ficar ao lado da carteira de Pedro.

— A Bia nunca terminou comigo por causa dessa minha mania. — Pedro respondeu, dando de ombros e sem tirar os olhos do jogo. Olhei para a tela do vídeo-game e vi o personagem que Pedro estava controlando decepando um zumbi com uma espada pesada. — Então acho que tudo bem.

— Realmente... Ela é bem resistente. — Olho ao redor na sala, vendo que não tem ninguém, só nós dois. — Você não vai na sala dela falar com ela?

— Hoje é o dia em que ela que vem ... — Uma explosão ocorre ao lado da porta, destruindo a parede e várias carteiras. Eu e Pedro olhamos diretamente para o nosso lado direito, assustados. — ... a-aa-aqui! — Pedro termina a frase, desesperado.

O sinal da escola disparou, pois tinha muita fumaça na sala em que estávamos. Era possível ver uma sombra entre a fumaça, chegando cada vez mais perto de nós. Um "game over" apareceu na tela do console de Pedro e ele o guardou no bolso imediatamente, olhando para o vulto.

Nós colocamos nossos braços um pouco a frente do rosto, vendo com dificuldade, para a fumaça não entrar nos nossos olhos, mas um pouco de fumaça entrou na minha boca e eu entrei em um período de tosses, como se tivesse fumado.

— Isso vai ser fácil. — A pessoa atrás da fumaça falou, era uma voz familiar. A pessoa apareceu, era Sophie, com uma espada em mãos. Minha perna começou a doer de novo, fazendo com que eu sentisse um mau pressentimento. Levantei para finalmente conversar com aquela menina.

— O que você... — Comecei, mas Sophie não quis papo e avançou na direção de Pedro com a espada levantada. Pedro se levantou rapidamente e usou a cadeira em que estava sentado para se proteger do golpe. A cadeira se estilhaçou com o toque pesado da espada.

Aproveitei que Sophie não estava virada para mim e tasquei-lhe um chute na barriga pelo lado. Sophie bambeou para a esquerda e caiu em cima da mesa mais próxima, olhando para mim com uma expressão raivosa. Pedro usou suas mãos agora livres para tentar pegar a espada da mão de Sophie.

Sophie não deixou a espada sair de suas mãos, dando um golpe de karatê no pulso de Pedro para fazê-lo largar sua espada. Pedro se contorceu de dor e saiu da frente. O olhar de Sophie para mim me deixou claro que eu estava em perigo.

— Você também é um semideus? — Ela perguntou para mim com um olhar severo, abanando suas roupas.

— O que é isso? Tem a ver com semínima? — Respondo com outra pergunta a ver com música.

Sophie revirou os olhos e veio andando até mim.

— Semideus é quem é filho de algum ou alguma deusa com um ser mortal. —Ela se limitou a explicar desse modo.

Encostei a mão na cadeira em que estava sentado anteriormente e dei um pequeno sorriso debochado.

— Eu? Filho de algum deus? Eu Sophie da minha mãe e você não tem nada a ver com isso. — Pedro deu uma risadinha baixa pela piada e Sophie me olhou com fúria nos olhos.

A espada foi levantada mais uma vez, mas dessa vez para me acertar. Eu comecei a dar passos para trás colocando a cadeira na frente para me proteger. Sophie veio com velocidade, fazendo com que eu retrocedesse até a lousa. Dei um passo para o lado e a espada de Sophie acertou a lousa violentamente, fazendo um buraco fundo o suficiente para prender a espada.

Enquanto Sophie estava distraída, Pedro pulou em suas costas, prendendo seu pescoço em seus braços. Eu peguei um punhado de giz na caixinha e joguei no rosto de Sophie. Ela gritou de dor quando acertei seus olhos, a deixando temporariamente cega.

Pedro conseguiu derrubar Sophie no chão e escolheu devolver o golpe de karatê de mal jeito em sua barriga. Sophie se virou no chão e eu decidi empurrá-la na direção da janela.

— Seu estudante maldito! — Sophie exclamou com raiva. — É por isso que... — Ela para de falar no meio da frase.

Decido não perguntar sobre aquelas idiotices. Quando estávamos em frente à janela, Sophie se levanta e Pedro finalmente consegue tirar a espada de sua prisão na lousa.

— Essa espada é linda! — Pedro exclama, animado. — É o meu estilo. Menina, deixa eu testar ela em você? — Pedro dá um olhar psicopata para Sophie e solta uma risada maligna.

— Devolva a... — Sophie começa a gritar, mas para quando vê, com os olhos estreitos, a cadeira que eu lhe tacara. A cadeira acerta ela no peito e ela cai da janela.

Eu e Pedro corremos para a janela para ver lá embaixo. Logo depois de cair de uma queda de um andar, Sophie se levantou e rapidamente fugiu para fora do colégio.

Eu estava totalmente confuso, olhei para a confusão que aconteceu na sala. Acabei percebendo que uma pessoa observava a cena escondida atrás da parede destruída. Quando ela viu que eu a olhava, se afastou pelo corredor rapidamente antes de eu identificar quem era.

Os alunos, funcionários e professores da escola logo chegaram na sala de aula, apressados.

— O QUE ACONTECEU AQUI?! — O diretor Fosc se antecedeu a dizer.

— Eu juro que eu não sei. — Respondi, enquanto Pedro estava animado, admirando a espada em sua mão.