Rescuer escrita por Veritas


Capítulo 9
Nove




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Acordei em um lugar totalmente branco, e minha cabeça doía muito. Cami apareceu na minha frente e segurou a minha mão.

– Como você está, meu bem? - Perguntou.

– Minha cabeça dói um pouco. O quê aconteceu? Onde eu estou? - Pergunto.

– Você desmaiou depois que o Miles foi para casa dele. Eu te trouxe para o hospital. Tom está lá fora.

Meu peito aperta ao lembrar de sua expressão dizendo que eu deveria me afastar dele. Ainda consigo sentir seu cheiro no meu corpo, posso sentir sua respiração e escutar as batidas do coração. Minha cabeça gira um pouco ao lembrar dele virando-se para ir embora, e me deixar, ali, sozinha.

– Por que exatamente eu desmaiei? -Pergunto para Cami, ela está fazendo carinho na minha cabeça, lembra minha mãe nos dias que eu estava doente.

– Você teve uma crise nervosa. O médico disse que assim que acordasse já poderia ir para casa.

Faço que sim com a cabeça e apenas espero a hora de ir para casa.

Quando chego em casa vou direto para o meu quarto. Minha cama ainda está bagunçada, posso ver o desenho do corpo dele marcado no lençol. Lágrimas percorrem o meu rosto. Vou até a cama e deito-me no lugar onde o corpo dele estava. Abraço o travesseiro e sinto seu cheiro. Dói. Ele cheira a paz.Começo a chorar.

Consigo escutar os passos rápidos de Cami pelas escadas. Ela corre para minha cama e me abraça.

– Vai passar, meu amor. Vai passar. - Ela diz, mas eu sei que não vai passar.

Era insuportável, aquilo tudo. Algumas vezes eu gostaria de entender, por que algumas coisas não podem, simplesmente, ficar bem? Eu havia perdido meus pais há alguns meses, e ele foi a única pessoa que conseguiu fazer a minha vida fazer um pouco de sentido. Por que eu deveria me afastar dele? Por que ele pediria pra eu me afastar, se foi ele quem se aproximou? Por que ele juntaria todos os cacos do meu corpo, e depois espalharia-os novamente? Qual era a razão?

As pessoas vão embora na sua vida por vários motivos. Algumas não querem te deixar, como os meus pais. Quando alguém morre, não se pode fazer nada. Acabou, não há com concertar. Mas quando alguém te deixa, e esta vivo, você pensa na infinidade de coisas que você poderia ter feito para evitar.

Eu sei que comparar a morte dos meus pais com o Miles ter me deixado, é algo ridículo, e não é isso o que estou fazendo. O que eu quero dizer é que eu estava perdida, e ele me mostrou o caminho. Ele foi a única mão que eu consegui segurar. Eu depositei tudo nele, toda a minha dor, e agora que ele se foi, é como se tudo voltasse. É como se eu tivesse perdido meus pais novamente, e de brinde, perdido ele também. Meus pais não queriam me deixar, mas ele queria.

Tudo o que eu não entendo é o motivo. Por que eu precisaria me afastar dele? Se nós nos amávamos, qual a razão para a distância. Eu sei que algo maior existia ali, e eu precisava descobrir.

Eu liguei para ele 367 vezes. Ele atendeu na última e disse:

– Não torne isso insuportável para você, me deixe em paz. Siga a sua vida e esqueça de mim.

E então ele desligou, e eu não consegui nem dizer que eu o amava, e não importava o que estivesse acontecendo com o tio dele, eu apenas estaria ali do lado dele. Mas eu não pude. Ele disse para que eu não tornasse as coisas insuportáveis para mim, mas e ele? As coisas não estavam insuportáveis para ele?

Kate me ligou mais tarde. Ele queria me dar algum conselho, mas eu disse que eu apenas queria ficar sozinha. Eu disse que não ia fazer como fiz quando meus pais morreram, mas eu apenas precisava de um tempo. Ela concordou e disse que me ligava em alguns dias.

Esses dias passaram. O celular de Miles não chamava mais. Eu tentei ligar. Tentei mandar mensagens, e-mails, tudo. Eu fui até lá uma vez, mas ele não estava. Não havia ninguém em casa, então eu me sentei e esperei alguém aparecer.

Três horas depois o tio dele apareceu, eu estremeci, mas mesmo assim fui falar com ele. Quando ele me viu, apressou o passo, mas eu gritei:

– Ei! Por favor!

Ele se virou e ficou me encarando por algum tempo.

– O que você quer, menina? - Perguntou.

– Eu só quero saber dele. - Respondi.

– Você não vê que é um erro na vida daquele menino? - Ele cuspiu as palavras da boca, estava sóbrio dessa vez. - Você acha que ele tem que concertar a sua vidinha medíocre, mas enquanto a dele? Ele é um idiota que precisa crescer. Meu irmão morreu e eu vou cuidar dele, vou torna-lo melhor, e isso não inclui você. Se você gosta dele tanto assim, vá embora. Ele concorda comigo, então não há nada que você possa fazer.

Foi como um tiro. Virei e fui para casa, sem dizer nada.

Eu me sentei na janela do meu quarto e fiquei olhando as estrelas. Será que ele estava vendo as estrelas naquele momento? Eu queria que o tio dele estivesse errado, mas não estava. Eu era tão egoísta. Ele também perdeu os pais, e ele tinha que ser a base? E eu? O que eu fazia por ele? Eu o amava, e por isso tinha que deixa-lo, se era realmente isso que ele queria. Mas eu nunca o deixaria completamente. Ele sempre seria o meu amor.


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