Saint Seiya - Klahan - O Escolhido dos Deuses escrita por Katrinnae Aesgarius


Capítulo 7
Epílogo


Notas iniciais do capítulo

Uma última revelação, ou acham que não faltou nada para ser dito e esclarecido?



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EPÍLOGO

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A nevasca ganhara mais força ao longo da noite, sendo preciso aumentar o fogo na lareira. Por diversas vezes Harish verificava o pequeno Kiet, o garoto que despertara seu cosmo na luta contra Kaliam naquela manhã, mas que fora ferido apesar da barreira criada por Harish.

Klahan, por sua vez, despertou no final daquela tarde quase início da noite. Ataduras cobriam seus ferimentos nos pulsos e pescoço. Os seus ferimentos provocados pela corrente já não eram tão fortes, mas havia algo que o perturbava intensamente. Mesmo sob risco da nevasca, sairia em direção ao vilarejo. Demitri, o Cavaleiro de Ouro de Touro que chegara instantes depois do fim do embate, ajudara a levá-lo para o casebre do velho Harish. Este havia presenciado a gama de poder emanado por Klahan que agora assistia de pé. O cosmo que ele havia elevado fora algo excepcional.

Com a força da nevasca, Demitri mostrou-se preocupado quanto a saída de Klahan naquele tempo, em vista do estado que o encontrara mais cedo. Harish observava a cortina branca formada e sorriu. Era um homem conhecido por sua calma tanto nas ações como nas palavras. O Cavaleiro de Touro chegou ali movido pela convocação do Grande Mestre sobre ser o tempo de buscar os Cavaleiros para um novo tempo de conflitos que se aproximaria, e sabendo do estado do velho amigo - ferido na guerra contra Poseidon - e enviara seu aprendiz que assistia o primeiro daqueles que encontraria em sua jornada.

– Ele está seguro, acredite. Ele ainda está perdido em suas dúvidas quanto ao caminho escolher. Há muito ele escolheu um caminho, mas ainda se nega aceitar seu destino. Acredito que esta noite um novo mundo vai se abrir diante dele.


.oOo.


A nevasca ao longo da noite ganhava cada vez mais intensidade, formando uma cortina branca no vilarejo bem como via Harish de sua janela. Klahan, no entanto, já havia alcançando o vilarejo e já se encontrava dentro do antigo templo. Por mais que estivesse em ruínas, mantinha-se de pé. Ele conhecia bem aquele lugar e caminhou pelo local solitário deixando seus passos ecoarem distante. Aproximou-se na sala onde tantas vezes mergulhava na mais profunda meditação e estado de onisciência da qual recebia visões e ‘revelações divinas’.

Com um toque ele percebia que uma estátua de Buda ainda se mantinha ali, ainda que com fissuras e falhas, assim como a parede que adornava uma grande flor de lótus. Ele poderia não ver com seus olhos, mas sentia todo daquele lugar como se fosse parte dele. Desde a fatídica noite ele evitara pisar naquele lugar, mas naquela noite havia uma razão especial.

– Nos últimos dois anos evitei pisar nesse lugar.
– disse ele quebrando seu silêncio e ainda com as mãos na parede. – Não tive somente meus olhos selados na ocasião como também a minha mente, impedindo-me de perceber algo que era tão claro como o amanhecer daquela manhã. Deixei que me apresentassem um quadro falso de uma situação, permitindo-me acreditar num destino mascarado.– Klahan recolheu suas mãos e se voltou em direção às antigas pilastras. – Não é isso, Sukhon? Ou deveria chamá-la de Niké, a deusa da Vitória que sempre acompanhou a deusa Athena?

Uma silhueta surgiu meio às sombras com os braços para trás e fitando a Klahan à sua frente. Ele desviou sua atenção dela momentaneamente enquanto sentia sua aproximação e ela parar ao seu lado.

– Não imagina quanto senti a sua falta nesse templo. Apenas o assistia de longe, como hoje de manhã quando tentou...
– Ela não continuou, mas apenas baixou a cabeça e fechou os olhos. – Sinto muito, Klahan por fazê-lo acreditar de que estava morta.

– Não se culpe.– interrompeu ele continuando a manter a cabeça erguida como se ‘fitasse’ a parede com a flor de lótus à sua frente. – Não posso culpá-la por sua omissão. Desde aquela noite evitei esse lugar, e hoje retorno em busca de respostas, e por alguma razão cheguei aqui acreditando estar aqui aquilo que procuro.– e ele tocou na parede, percebendo as fissuras que ali havia e sua mente remeteu no momento em que seu cosmo aflorara pela primeira vez.

Ele não pudera de fato assistir, mas pressentiu algo realmente forte e agonizante naquele momento antes que sua mente mergulhasse num completo estado de onisciência por dias. Naquele ínterim, aquela aparição divina tomara seus sonhos e sentiu uma mão tocar-lhe e todo seu corpo pulsar e mundo ser visto de maneira singular além da compreensão humana.

– Por muito tempo minha mente pareceu entorpecida não me permitindo lembrar daquele dia quando realmente passei assistir o mundo com outros olhos, com uma vidência que em permitia ver muito além do que as pessoas poderiam imaginar. Tudo isso porque a minha aproximação junto a eles me fez perceber uma grande perturbação que ascendeu meu cosmo naquele momento, mas que realmente jamais compreendi. Kaliam disse que fui agraciado, ‘iluminado’ pelo seu poder para que um dia pudesse lutar ao seu lado. Porém, a verdadeira graça jamais partiu dele.

– De fato, os Cavaleiros de Virgem são aqueles da qual sua constelação mais se aproxima dos deuses, sendo o canal de equilíbrio entre os homens e os deuses. – dizia Sukhon olhando-o, ainda parada no centro da sala e observando-o tocar a parede e recolher as mãos, ainda de costas para ela. – Em raros momento, desde eras mitológicas, aqueles protegido por essa constelação também recebem a graça dos deuses, e Apolo viu algo em potencial em você concedendo pouco de seu poder.

– Uma graça que levou a condenação de todos nesse vilarejo.– comentou ele lamentando aquele episódio daquele fatídico dia. – Posso não ter sido o responsável por aquelas chamas que ganharam o céu e iluminando aquela noite fria, mas penso se não o tivesse renegado se seria diferente, e carreguei essa culpa por muito tempo, deixando-me mergulhado na escuridão de dúvidas e desespero... – ele se volta para ela e sorri. – A sua voz me fez despertar algo naquele momento, do que disse enquanto tinha meus olhos selados e disse que jamais permitiria que alguém mais pagasse pelos meus pecados, pelas minhas escolhas. Ao ouvir sua voz naquele momento era como se despertasse uma parte minha que adormecera desde então.

– Aquilo aconteceria mesmo se eu não o acompanhasse, Klahan. Não pode se sentir responsável por isso. Você assistiu tudo antes mesmo dele se anunciar diante de você, e ainda assim nada poderia fazer...

Ela se aproximou dele, tocando seus ombros e contornando-o de modo a ficar frente a frente com ele. As suas mãos tocaram seu rosto, sobretudo o selo que cobria seus olhos. Ao contrário de qualquer outra pessoa, Klahan não temeu que ela o tocasse, manteve-se apenas parado como se a contemplasse naquele momento.

– Como disse, Apolo pode ter lhe concedido parte de seu poder como barganha para que um dia o servisse, mas a verdadeira graça partiu de você!
– ela desceu a mão até o peito de Klahan – A sua verdadeira graça sempre esteve aqui, em seu coração. Dizem que os olhos são a janela para a alma, e seus olhos são capazes de ler essa alma, capazes de ler o cosmo quando se trata de um cavaleiro, assim como Kaliam era capaz.

– Assim como li o de Apolo naquele momento. Havia rancor e desprezo... Tudo explícito naqueles olhos, e por isso fui punido: por enxergar parte de sua essência.– e ele força um sorriso em pensar naquilo. – Acho que meu maior pecado foi ler um deus, e por isso ele me puniu com isso... – disse aproximando as mãos próximas aos olhos. – Porém, ainda que não tão intenso quando o selo é removido, posso sentir isso emanar de qualquer um. Compartilhar sua dor, suas tristezas... Não que já não sentisse tudo isso, mas tudo se tornou bem mais intenso desde então. Se não fosse o selo de Athena, esses ‘olhos do caos’ faria o mesmo com aqueles monges naquela noite em queimar sua alma, ou explodir seu cosmo em mil pedaços quando se trata de um cavaleiro.

– Athena não estava errada quando me enviou a você naquele momento. Como me disse naquela noite em que ‘jamais permitiria que alguém mais fosse sacrificado por mero capricho dos deuses’. Esses mesmos olhos que enxergaram a ameaça que aproxima da Terra, também será aquele a enxergar a verdade quando surgir, Klahan.– ela sorri, tocando o seu rosto e beijando sua face. – Athena é realmente a deusa da sabedoria...

Sukhon se afastou dele e seu corpo foi tomado por um intenso brilho dourado antes de explodir em incontáveis pontos de luz que se dissiparam no ar. Klahan esticou o braço de modo a tocar nesses pontos e segurando, tardando desaparecer, fechando em suas mãos e ficando ali, por um longo tempo e ajoelhando-se naquele chão. Como quando há muito tempo, mergulhou em estado de meditação.


.oOo.


– QUEEEE?
– exclamou Kiet apontando para si enquanto piscava aturdido fitando Klahan sentado ao lado dele na cama. – Eu ir para o Santuário e me tornar um cavaleiro? Um cavaleiro como você, Sr. Klahan? Também vai para o Santuário? O garoto sorriu, muito animado com aquilo, recebendo um afago de Klahan sob o olhar de Harish e de Demitri.

Ao retornar do templo, Kiet ainda estava adormecido. Aproveitou para conferir seus ferimentos e Klahan abriu um pequeno corte em sua mão, deixando que algumas gotas caíssem sobre suas feridas. Um brilho surgiu nas feridas e selando cada uma delas, conforme as cobria com gotas de seu sangue. Enquanto enfaixava a mão, assistiu o pequeno despertar, e aguardou que comesse algo antes de anunciar que acompanharia Demitri. Klahan esboçou um discreto sorriso com a animação do garoto.

– Sim, Kiet. Percebi ontem um despertar de seu cosmo e no Santuário poderá treinar e melhor desenvolver isso. Claro...
– se voltou para Demitri – Se não se importar desta companhia em seu regresso ao Santuário. Aproveito para me desculpar por preocupá-lo na noite passada. Não o acompanharei por momento. Antes, preciso fazer algo e espero que Harish possa me ajudar com isso.– O velho apenas sorriu e assentiu concordando com seu jeito calmo e sereno de sempre.

Naquela mesma tarde Demitri partiu levando o pequeno Kiet com ele. Klahan e Harish os assistia cruzar o vilarejo do alto. A brisa se tornara quente naquela tarde, assim como naquela manhã quando em companhia de Sukhon, quando um jovem garoto em seu templo. Pela primeira vez, desde àquela noite, sentia uma profunda paz em sua alma. Teria sido as Correntes do Suplício de Kaliam ajudado a expurgar a culpa que o consumia?

– Desde quando sabia sobre Sukhon, Harish?
– indagou Klahan sem se voltar para ele. O velho homem apenas esboçou um sorriso e baixou a cabeça. – Acredita mesmo que posso sucedê-lo como um Santo de Athena? Ser o Cavaleiro de Ouro de Virgem?

– A armadura já o escolheu como um, Klahan... – respondeu o velho olhando o horizonte – Ela apenas aguarda para que esteja realmente pronto para que possam se tornar um. O meu tempo está passando, e só havia mais uma missão incumbida a mim por Athena, e Niké foi minha guia nesse processo me levando até você.

Os cabelos de Klahan voaram com o vento. Em sua mente, lembrou-se de quando aquele velho homem surgiu no templo, silencioso e observador, da qual por muitas vezes esteve presente com todos e sozinho sem jamais falar qualquer algo, surgindo somente para auxiliá-lo na noite caótica, levando-o para seu pequeno casebre e cuidando dos ferimentos enquanto ele gritava aterrorizado com a idéia de também matá-lo. Foram dias até que retomasse a calma e mergulhasse nas sombras da culpa.

Ao longo das semanas que se seguiram, recusava-se a sair, buscando retomar a calma e controle da qual se perdeu naquela noite, e foi Harish a guiá-lo de volta para este caminho com toda sua serenidade e paciência. Foi quando percebeu a grandiosidade de seu poder, da dor que consumia aquele velho homem e aliviando-o daquele fardo. Agora, após cinco anos, estavam ali, lado a lado, e Klahan percebendo uma realidade jamais imaginada.

– Ao que parece, Harish...
– dizia Klahan e voltando para ele – Não foi você que buscou por minha ajuda naquele templo, mas foi guiado para ser a minha salvação.
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Klahan seguiu para o Santuário dois anos depois, após a morte de Harish que foi sepultado no antigo templo de Sharampur. Herdou de seu antigo mestre a armadura sagrada de Virgem, a indumentária que pertenceu ao velho cavaleiro até a segunda metade do século XX, quando partiu em missão pelo oriente e encontrando Klahan, após anos de busca pelo 'herdeiro dos deuses'.


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Notas finais do capítulo

Agradeço a todos que acompanharam esse Gaiden até aqui .
Em breve farei de um general marina original, personagem do RPG do SSGen.



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