Saint Seiya - Klahan - O Escolhido dos Deuses escrita por Katrinnae Aesgarius


Capítulo 2
O Advento


Notas iniciais do capítulo

Um pequeno vilarejo abandonado da qual vagam apenas a dor e a culpa. Meio ao pecado que o atormenta, Klahan verá que o julgamento nem sempre é da justiça.



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O ADVENTO

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UMA MANHÃ COMO AQUELA era raramente assistida naquela região após a forte nevasca da noite. O sol era fraco, mas era o suficiente para proporcionar um pouco de calor após uma intensa estiagem da última noite que pintara toda a região de branco, disfarçando mais aquela cidade entregue a mais completa ruína. Apenas a brisa era o som do lugar, um tanto fantasmagórica para os mais hesitantes em peregrinar naquele lugar. O sino que havia no portão soava distante, quase como um sinal para algo.

Um homem mantinha-se sentado em posição de meditação, as mãos descansando sobre seu colo e a cabeça baixa com os cabelos sobre sua face nublada. O pouco de sua expressão visível era séria e dura, compenetrado suficiente para que uma aura dourada como névoa circundasse seu corpo. Estava sentado meio um vazio, como um ponto central que ligasse diversas ruas daquele lugar.

Quando o sol apontou no horizonte e os primeiros raios atingiram o vilarejo, e pudera sentir aquele calor, levantou sua cabeça em direção deste. A energia que emanava dele parecia crescer pouco a pouco. Erguera uma das mãos e levara até a cabeça, retirando uma venda com selos antigos gregos que mantinha sobre seus olhos. Um forte vento se fez presente no local, esvoaçando seus cabelos negros antes coberto pelo capuz de suas vestimentas. Se não segurasse firme aquela venda, certamente se perderia com aquele vento. Lentamente abria seus olhos, mostrando belo brilho dourado que faiscaram emitindo um forte brilho mesclado à sua aura.

Uma grande luz emanou do centro do vilarejo, ganhando os céus naquela manhã. Vilarejos vizinhos, já despertos, assustaram-se com aquela luz que tão logo surgiu e também se dissipou, desaparecendo completamente no ar. Um forte vento cruzou o ar antes de tudo se normalizasse. Harish, que até então estava junto à lareira, meio a torrentes tosses, sentiu aquela forte cosmo energia e a luminosidade que tomou o ambiente. Porém, diferente dos cidadãos de vilarejos vizinhos, ele não se assustou. Ele conhecia bem aquele poder e imaginava de quem poderia ser enquanto ganhava a porta e olhando em direção ao centro do vilarejo. Não poderia vê-lo dali daquele casebre afastado de Sharampur, mas sabia que ele estava lá.

Klahan mantinha os dedos pressionados sobre os olhos, com o corpo curvado pra frente apoiando-se com outro braço, aquele que segurava a faixa. Ele arfava, aparentando um esgotamento físico e emocional por aquilo. Levantou a cabeça, trincando os dentes e amarrando novamente a faixa sobre seus olhos e se levantando. Uma cratera havia sido aberta ao seu redor, criando uma vala circular, com apenas onde ele estivera sentado ficando intacto. Fechou o punho com tamanha força que pingos de sangue surgiram do chão.


.oOo.


Apesar do sol, a pouca neve ainda resistia por conta do vento frio que cortava a região. Os passos deixados por Klahan deixavam uma trilha, escondendo obstáculos desde buracos a pedregulhos. Porém, isso não mostrava ser um problema para ele que conhecia bem onde estava cada e desviando com naturalidade. Já deveria ser início de tarde, pois o sol inclinava-se mais naquele momento. Porém, aquele lugar permanecia vazio, com somente os passos firmes socados na neve a quebrar o som daquele lugar. Não mesmo as aves sobrevoavam àquela região que parecia 'fechada' por uma parede invisível, alimentando ainda mais as crendices sobre o 'vilarejo fantasma' ou 'amaldiçoado'.

Caminhou até um espaço onde, há muito, foi um grandioso jardim de gramas verdejantes que mesmo nas noites mais frias mantinha sua beleza, com suas folhas cobertas pela fina película de gelo e oferecendo frutos 'gelados'. Agora era apenas uma área seca e 'queimada' pelo mesmo frio de outrora em uma terra escurecida. O único verde existente era onde havia uma pedra que marcava algo, com gramas a cercando e estendendo um curto tapete. Havia um nome escrito no dialeto local já tomado pelo musgo.

Trazia consigo um ramo de flores, Amarílis, uma espécie típica da região com sua variação vermelha natural. Ajoelhou-se diante da pedra e depositando as flores ali, mas percebeu mais um ramo, com folhas tão verdes quanto as suas e cores vivas em suas pétalas, como se tivesse sido colocadas ali recentemente. Klahan tomou em suas mãos e virou-se, olhando por cima dos ombros.

– Avisei que não deveria vir aqui.
– disse com voz seca e indiferente, voltando-se para a pedra e deixando aquele ramo.

Levantou a mão direita, unindo os dedos e levando o dedão para frente da palma da mão virada para frente. Era a abhaya, uma das mudras que indiciava bênção e proteção. Demorou apenas alguns segundos antes de se levantar, com a brisa despenteando seus cabelos e soltando algumas mechas que caíam sobre seu rosto e ombros. Deu a volta girando sobre o calcanhar e se afastando dali.

Poucos metros dali havia algumas árvores, ou o que restou delas. Foram árvores altas e robustas, mas agora eram apenas troncos que pareciam ter sido incendiadas e sendo apenas secas e escuras que ficavam em contraste com alguns flocos de neve presos em seus galhos. Uma silhueta escondida atrás destas árvores observava Klahan até que uma porção de neve cai sobre ele. Seu 'Ai!' foi sonoro, mas aquilo não pareceu mexer em nada com Klahan que continuou a andar. Era um garoto, limpando-se da neve e sacudindo as vestes. Lançou um olhar para a pedra, vendo os dois ramos de flores e para a figura que se adiantava a alguns metros e indo ao seu encalço.

– Se é perigoso, porque você fica aqui? Seu posso me machucar, você também não pode.
– dizia o garoto de maneira bem esperta acompanhando os passos duros de Klahan que se mantinha indiferente à presença do menino. Porém, isso não parecia intimidá-lo. – Eu só venho deixar flores para Sukhon porque gostava muito dela. Ela adora Amarílis, e ontem à noite nevou muito e sabia que aquelas que eu trouxe não resistiriam. Eu vi que você também trouxe!

"Tsc!”, foi a resposta de Klahan quanto aquilo, continuando a seguir pelo vilarejo em ruínas com o garoto seguindo-o, pulando os obstáculos como se fossem brincadeiras. Manteve seus passos sem interrupção enquanto o garoto continuava a falar sem parar, buscando acompanhar seus passos. Não devia ter mais que sete anos e não era a primeira vez que o via por ali. Uma de suas medidas quando treinava, como naquela manhã, era confirmar se ele não estava próximo, sendo esse o potencial perigo da qual sempre se referia quando falava que ele poderia se machucar.

Quando ou ouviu falar de Sukhon, o túmulo da qual ele, Klahan, visitara, teve uma atenção melhor ao garoto - mesmo porque, ele dera um salto à sua frente que precisou encurtar o passo naquele momento. Ouvia-o explanar o quanto ela era linda e amável – e realmente era, como também amiga e sua fiel companheira desde muito, sendo ela seu canal com o mundo exterior. Porém, havia algo mais que isso entre os dois.

– Todos do vilarejo temem se aproximar daqueles portões, ao contrário de você que sempre vejo-o por aqui mesmo alertando dos perigos. Por que?
– cortou abruptamente as palavras do garoto, continuando a andar firmemente. – Esta cidade está ruindo e pode se machucar ou mesmo morrer.

O menino parou suas peripécias e ficou a observá-lo por alguns instantes, e não pareceu se assustar com aquilo. Elevou os braços até altura da cabeça e sorrindo de maneira moleque, sempre acompanhando os passos de Klahan que continuou a andar.

– Eu não tenho medo daqui. Eu gosto de ficar por aqui. Você também gosta, não é? Senão, não estaria aqui como eu. Sempre o vejo andando pela vila, entrar no antigo templo e visitar a Sunkho...

O garoto não poderia perceber, mas Klahan baixara levemente a cabeça enquanto ouvia tudo aquilo e remetendo um passado não muito distante e lembrando quando aquele vilarejo ainda era povoado e o templo sempre tão visitado. Poderia até mesmo ver Sunkho caminhando pela cidade com suas flores que sempre buscava decorar o templo até que se tudo perdeu em chamas. E ao contrário de todos que ou padeceram ou simplesmente abandonaram o lugar, aquele garoto não temia ficar ali - assim como o próprio Klahan.

– Kiet!
– respondeu ele quando ouviu o garoto perguntar se ele sabia seu nome e respondendo com seu jeito seco. – Já disse que aqui não é lugar pra você. Fique no vilarejo, é melhor e não tem perigo de se machucar.

– Eles não gostam de mim por lá. – disse o garoto de maneira espontânea, quase de imediato e parando sobre uma grande pedra. O seu olhar ficou ligeiramente triste. – E também... não tenho pra onde ir.

Klahan sentiu como se fosse golpeado no peito por aquelas palavras que saíram tão inocentes, mas também muito duras. Engoliu a seco, e com dificuldade, continuando a caminhar, mas bem mais vagarosos de que alguns instantes.

– Além do mais, não gosto de ficar no vilarejo, gosto de ficar aqui porque morava aqui como meus pais. A minha casa ficava bem ali!
– disse apontando para as ruínas que mostrava uma casa com o que lembrava uma oficina, ou loja como o garoto havia dito. – Mamãe cuidava dos arranjos e papai das flores...

Explanava o garoto que voltou a pular sobre algumas pedras e brincando de equilíbrio. Ouvindo aquilo, voltando-se para o garoto somente aquele momento quando algo pareceu alertá-lo, uma sensação o fizesse voltar sua atenção aos arredores e isso o fez cessar seus passos. Kiet ainda comentava algo da qual Klahan não prestava atenção.

O garoto, por sua vez, estava tão entretido que continuou a pular os montes e percebendo que Klahan parara de andar, mantendo-se parado e 'olhando' para o chão como se procurasse algo. Piscou aturdido e voltou correndo, dando alguns saltos perguntando o que houve. Tudo o que se ouvia naquele momento era o uivo do vento carregando alguns lixos próximos dos entulhos que o cercavam e de alguns cascalhos já revelados pela neve derretida.

O que é esse cosmo? Esse cosmo me parece muito familiar...”, pensou ele por alguns instantes buscando identificar nuances à sua volta, percebendo aproximação de uma energia muito próxima. Num ímpeto, como um alarme soasse em seu inconsciente, algo o assustou o bastante para reagisse rápido puxando o garoto para próximo de seu corpo, o que certamente o assustaria e gritou:

KHAN!

Uma poderosa esfera envolveu o seu corpo e do garoto que nada entendia o que acontecia. Klahan o tomara em seus braços, servindo-se de seu escudo que estava encolhido e entre suas vestimentas. Alguns milímetros de seu rosto, uma lâmina parecia fincada no invisível, mas verdadeiramente preso á esfera formada por sua cosmo-energia.

Daquela lâmina, presa ao que lembrava uma lança, havia correntes em um brilho dourado que seguia até o ponto mais alto das ruínas daquele lugar. Deste havia um homem trajando o que lembrava uma armadura de platina com detalhes em dourado, pele morena e cabelos escuros que estavam trançados. Os seus olhos eram profundos azuis, assim como o detalhe em tecido que havia em sua armadura.

Num único movimento, removeu a lança, e Klahan desfez o escudo que criou com seu cosmo, mas mantendo Kiet ainda junto a ele. O garoto parecia tão assustado que nem era preciso segurá-lo. Ouviu-se risos abafados.

– Como esperado de ti, Klahan, “o mensageiro dos deuses”. Não era assim que era chamado por essa região ou estaria enganado?
– comentou a figura misteriosa que ainda segurava sua lança e com um sorriso vil estampado sem eu rosto. Klahan somente contorceu, discretamente, os lábios em desagrado por aquelas palavras que soavam de maneira tão depreciativa. – Ao acaso eu o ofendi? Até onde sei era alguém muito calmo e temperado... Mas o que vejo agora não é a sombra daquele garoto tão próximo dos deuses. Quem é esse diante de mim agora?

“Conheço esse cosmo. Digno de um... Não!”, pensava Klahan naquele ínterim, interrompendo seus pensamentos ao pensar naquela possibilidade. Aquele cosmo era similar como àquela de algum tempo atrás.

– Quem é você e o que quer aqui? Não tem o direito de profanar esse lugar!
– indagou Klahan àquela figura com seus punhos fechados.

– Quem é você para dizer que profano estas terras? Olhe à sua volta, Klahan...
– dizia a figura abrindo os braços em expresso deboche, com uma das mãos segurando a lança que há pouco o atacara. – Já se esqueceu o que houve aqui? Isso tudo nada mais é que o resultado daqueles que renegam aos deuses, por aqueles que tentam ludibriá-los. Bem sabe disso, não é? Sabe como os deuses são justos com aqueles que lhe viram as costas.

Seu tom era provocador, e sorri de maneira maliciosa.

– Você foi agraciado por eles, melhor dizendo...
– e sua expressão se tornou séria e dura, com seus olhos brilhando intensamente – Você oi escolhido, e o que fez foi renegá-los quando eles o buscaram e punido por seu pecado. Porém...– ele esticou as correntes entre suas mãos, emitindo um som que fez Kiet encolher-se ainda mais atrás de Klahan. – Parece que lhe foi concedido uma segunda chance e por isso estou aqui. Portanto, Klahan, qual seria sua resposta desta vez?


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo...
Klahan conhece Promethee e agora se submeterá ao horror de ver, a sua frente, o juiz que que julgará seus terríveis pecados.



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