–Como você conta tudo para o Leo e nem se importa em me avisar?-eu disse assim que nos sentamos em cima de sua cama

–É que eu precisava de ajuda-Hanna disse

–Você não pode falar para os outros uma coisa que me diz respeito sem me avisar ou me consultar antes-eu disse irritada

–Sinto muito-ela disse-Eu só queria ajudar

–Hanna isso é uma coisa séria.-eu disse

–Eu sei que é séria!-ela exclamou-E você sabe?

–O que?-eu disse surpresa

–Você não está se candidatando para ir na rua vizinha passear com um cachorro-ela disse-Você está querendo ir para a guerra,onde mais da metade de um país está morrendo!

–Hanna-eu disse-Eu sei o que estou fazendo.

–Não parece-ela disse com a voz tremula-Você está indo para a morte.

–Eu não tenho escolha-eu disse-Simplesmente não tenho esco...

–CLARO QUE TEM!-ela me interrompeu-VOCÊ TEM ESCOLHAS.TEM OPÇÕES!

–NÃO!-eu igualei meu tom de voz ao dela

–Sempre temos outra opção-ela disse,uma lagrima descendo pela bochecha direita.

–Hanna-eu disse limpando sua bochecha-Você não entende...

–Então me explica-ela disse-Me explica por favor por que eu não entendo

–É complicado...-eu disse

–Você não sabe não é?-ela disse

–Claro que sei!-eu disse franzindo o rosto

–Então fala-ela pegou minhas mãos-Por favor

–Tudo bem-eu suspirei-Você já sabe que no dia em que bombardearam a floresta eu estava lá.

–Sim-ela disse

–Me deixe continuar-eu disse e ela ficou quieta-Então,eles sempre passavam direto por lá,nunca tinha ninguém,sempre deserto mas não naquele dia.Naquele dia eu estava lá.

Respirei fundo,fechando os olhos.Quando os abri novamente Hanna me encarava,esperando eu continuar.

–A floresta era nossa fonte de recursos-eu disse-De onde vinha nossa comida e de certa forma nossa água.Eles soltaram as bombas por que me viram lá.Eles destruíram a floresta por que eu estava lá.É minha culpa.E agora que não temos mais nossa fonte do que viveremos?

–Do salário do papai-ela disse.

–Hanna-eu ri-Você sabe quanto ele ganha?

–Bem...não

–O dinheiro dele só serve para nosso aluguel e roupas,artigos necessários-eu disse-Não da para comer.

–Você podia arrumar um emprego-ela disse

–Como estagiaria?De graça?-eu disse-Por que com minha experiencia é a unica função para qual eu serviria.

–Mamãe pode trabalhar-ela disse-Ela não se queixaria de trabalhar para que sua filha não fosse para a guerra.

–Não.Foi culpa minha.-eu disse-Eu tenho que consertar.

–Eu discordo-ela disse-Somos uma família.Nós nos ajudamos.

–Ok-eu a abracei-Vamos jantar.

Juntas fomos para a sala.Meus pais e Jully já estavam comendo.

–Desculpa-meu pai disse-Estávamos famintos

–Tudo bem-eu disse indo para a copa pegar um dos dois pratos que estavam no balcão.Como a cozinha estava destruída,não tinha fogão e a comida estava crua.Sentei no chão,encostando as costas no sofá.Hanna sentou ao meu lado,com seu prato na mão.Levei uma garfada a boca.O gosto estava horrivel,fiz uma careta.

–Até que não está tão ruim-disse Hanna vendo minha cara

–Está horrível-minha mãe suspirou

–Tenho que ir logo-eu disse-Ingressar no exercito.Vai ficar cada vez pior

Comemos o resto em um silencio desconfortável.Acabei minha comida e fui para meu quarto.Peguei uma vassoura e dei uma limpada no quarto.Juntei as coisas quebradas,guardei as que sobreviveram,arrumei o que estava bom e me joguei na cama exausta.Adormeci na hora.Acordei um tempo depois com uma voz me chamando.

–Zoe...-a voz perguntou insergura

–Hhhhm-eu resmunguei

–Está pronto-reconheci a voz de Hanna

–O que?-eu murmurei

–O modulador-ela disse-Está pronto

–O que?!-aquelas palavras me despertaram

–O modu...-ela continuou

–Eu entendi!-eu disse-Mas já?

–Bem você disse que queria ir logo-ela disse-E queria me desculpar por ter contado para o Leo.

–Hanna-eu a abracei-Não tem problema,sei que não fez por mal e que podemos confiar nele

–Me perdoa?-ela disse

–Com uma condição-eu disse séria.

–Qual?-ela mordeu o lábio inferior.

–Que você nunca deixe de ser minha irmã mais nova-eu disse jogando o travesseiro nela.Rimos e ela me ajudou a levantar.Caminhei bamba ate seu quarto.Era hora de testar minha voz masculina