Assim que chegamos ao apartamento, Tisha nem me deixou procurar a chave da bolsa, já foi pegando a reserva que eu guardava no vaso da planta do lado da porta e abrindo. A casa estava... Uma zona! Lembrete: Não deixar animais sozinhos, trancados e com fome dentro de casa. ✔ Como eu não fazia ideia da onde ficava nada na minha casa deixei a Tisha dar água e comida aos meus bebês. Eram dois labradores, Mike já era adulto e Lucy ainda era filhote, e a mais bagunceira também. Como toda melhor amiga você deve estar pensando que Tisha ficou comigo, me contando mais sobre a minha vida e me ajudando a arrumar a casa não é? Mas você pensou errado, o que ela fez? Simplesmente foi embora e disse que passaria na minha casa mais tarde para nos arrumarmos e irmos ao Pub, já que o meu carro estava quebrado e eu estava... Dura para fazer qualquer coisa que envolvesse dinheiro.

Comecei pelos lugares em que os animais não estavam, ou seja, os quartos. Havia dois. Um parecia ser de hospedes e o outro era o meu. O meu só estava às bagunças que eu devia ter deixado, que eram algumas roupas e documentos em cima da cama e gavetas bagunçadas. Liguei o rádio e coloquei um CD qualquer, não me lembrava nem do meu gosto musical. A primeira música que começou a tocar foi Wannabe e foi impossível não rir. Mesmo assim, aumentei o som na altura do meu gosto e comecei a faxina. Meu quarto era bem grande, com uma cama de casal, uma TV de plasma grudada na parede, dois criados mudos - um em cada lado da cama.

Quando abri meu closet para arrumar o banheiro me espantei com o tanto de roupas que eu tinha. Vestidos longos, curtos, compridos, decotados, colados e rodados. Sapatos então? Acho que eu nunca calcei todos aqueles na minha vida! Eram várias prateleiras que iam do teto até o chão só com sapatos altos, e outra com sapatilhas, rasteirinhas, tênis e pantufas. Casacos eu perdi a conta de quantos tinham e até mesmo os mesmo modelos, porém de cores diferentes.

O meu quarto não foi tão difícil assim de arrumar, o problema mesmo era a sala e a cozinha, onde tinha muita coisa rasgadas e jogada pelo chão. Deixei os dois cãezinhos na varanda e comecei a arrumação. Duas horas depois já estava tudo limpinho e organizado, tirando o fato de que teria que comprar um sofá novo.

Eu já estava me preparando para deitar naquele sofá macio e dormir, até que meu celular apitou duas vezes, era uma mensagem.

Como está se adaptando a sua nova vida? Espero que bem.
Ricardo

Sorri quando terminei de ler a mensagem e tratei logo de respondê-la.

Estou começando uma nova vida, e você está incluso nela, será que já posso te chamar de amigo?

Deitei no sofá e liguei a TV deixando em um canal qualquer para poder dormir com o barulho de alguma coisa.

Sempre!

Foi o que ele respondeu. Bocejei e me aninhei no meio das almofadas rasgadas e acabei dormindo por ali mesmo.

Acordei com o barulho de uma porta batendo. Olhei para a TV e estava passando reprises de um seriado qualquer, os cachorros estavam brincando na varanda e a luz do meu quarto estava acesa com a porta fechada. Engoli seco.

Fui até a cozinha em passos silenciosos e peguei uma faca, devagar caminhei pelo corredor iluminado apelas pela flecha de luz debaixo da porta ainda em silencio. Abri devagar e não vi ninguém, mas a porta do closet estava fechada, o abri com os olhos fechados e quando olhei não vi ninguém.

– Devo estar ficando louca – Disse para mim mesma.

– Até quem fim... – Uma voz saiu atrás de mim.

– AAAAAAAAAAAAAH – Gritei e virei a faca em direção a pessoa.

– AAAAAAAAAAH, ANNE O QUE ESTA FAZENDO COM ISSO NA MÃO?

– VOCÊ INVADIU A MINHA CASA.

– EU ENTREI, SOMOS AMIGAS, SEMPRE FAZEMOS ISSO.

– ME DESCULPA SE EU PERDI A MEMÓRIA E NÃO ME LEMBRO DE QUE ENTRAVA SEM PERMISSÃO NA SUA CASA E ME ESCONDIA NO SEU CLOSET.

– Não grita comigo, é meu aniversário – Ela abaixou a cabeça e apertou os dedos com uma voz melancólica.

– Me desculpa, eu só... Assustei-me, me desculpa – Abaixei a faca diminuindo meu tom de voz.

– Dá pra você levar isso de volta pra cozinha? Não quero que na minha lápide esteja a mesma data que nasci e que morri.

– Claro – Ri baixinho e fui até a cozinha guardar a faca.

Lembrete: Minha melhor amiga era carente e muito sentimental ✔

– Então, eu estava pensando em pegar esse seu vestido aqui para usar hoje.

Ela estendeu um vestido pink com rendas nas mangas coladinho até a coxa.

– É lindo!

– E você vai usar o que?

– Não sei...

– Que tal esse azul?

Ela estendeu um azul royal colado também, tomara que caia com alguns detalhes dourado.

– É... Eu tenho bom gosto! – Nós rimos.

– Então vamos lá, hora da produção!

Tisha me mostrou uma parte do closet em que eu guardava meus acessórios. Eu tinha um ótimo gosto! Havia milhares de colares de todos os tipos e tamanhos, brincos e pulseiras então? Era o que eu mais tinha. Mas nenhum sinal de anel.

– Eu não gosto de anéis? – Perguntei vasculhando algumas caixas.

– Não, o único que você guarda é esse aqui – Ela estendeu uma aliança banhada a ouro.

– Nossa, que... Lindo! – Peguei-a de sua mão e fiquei admirando o brilho que transmitia.

– É. Mas como eu disse... Você enjoou do seu namorado – Ela se virou para o espelho enquanto experimentava um par de brincos de argola.

– Você se lembra do nome dele?

– Hm... – Ela ficou pensativa – Maurício! Isso, Maurício Hudson. Ele é um médico muito bem sucedido.

– Ele era bonito? – Tisha se virou para mim com a sobrancelha arqueada.

– Você não está pensando em ir atrás de um antigo amor, está?

– Não! – Respondi rápido demais – Eu só queria... Quem sabe... Conversar e saber o porquê não estamos mais juntos – Virei minha atenção para uma gargantilha dourada e a coloquei.

– Sei... – Disse num ar de ironia – Você está linda!

Look: Vestido azul royal de manga longa com rendas, salto 8 cm preto, gargantilha dourada, um par de brincos da mesma cor. Deixei de lado as pulseiras para não acabar enroscando nas rendas do vestido e experimentei a minha antiga aliança.

– Você também está linda!

Tisha estava com um vestido lilás. Lembrete: Minha melhor amiga era muito confusa ✔ Um salto agulha prata, colar e brincos da mesma cor e sua make estava bem mais chamativa do que a minha.

– Então vamos! - Pegamos um casaco, pois a noite estava fria, nossas bolsas e fomos.

Espera! Eu estava noiva de um médico, lindo e bem sucedido e simplesmente dei o pé pra trás? A antiga Anne deveria ser louca, não é possível! Quem em sã consciência faria isso? A nova Anne descobriria o porquê dessa loucura toda.

– A antiga Anne adorava essa música – Tisha aumentou o volume do rádio do seu conversível – Vamos ver se essa Anne gosta também.

A música começou a tocar e o toque era bem envolvente, imaginei mil coreografias na minha cabeça e comecei a fazer movimentos com a mesma, seguida por Tisha. Abri a janela e fiquei observando a paisagem, NY era absurdamente linda a noite! Com todos aqueles prédios bem iluminados e da onde estávamos dava para ver claramente a Estátua da Liberdade, o que era mais incrível ainda.

– Baby grind on me... Relax your mind, take your time on me – Tisha começou a cantar.

Tentei arriscar alguma coisa, mas foi em vão, pois eu ainda não me lembrava de como cantar, o que fez minha melhor amiga rir.

– Você vai aprender logo, não esquenta – Foi o que ela disse – Ah, chegamos!

Havia uma fila enorme na entrada e alguns seguranças, pessoas muito bem vestidas e com cara de serem filhos de presidentes, vereadores ou até mesmo donos de empresas multinacionais, o que certamente não era o meu caso e da Tisha.

– Teremos que pegar essa fila toda? – Reclamei.

– Claro que não – Ela estacionou o carro em uma vaga que o manobrista indicou.

Saímos do carro e em seguida ela jogou a chaves para o mesmo.

– Cuida bem do meu bebê!

– Pode deixar senhorita Jones.

Caminhamos até o começo da fila onde tinha um segurança moreno de quase dois metros de altura e muito bonito por sinal. Assim que viu Tisha ele abriu um largo sorriso.

– E ai Josh! – Ela disse sorrindo sedutoramente.

– Tisha, que bom te ver! Vejo que trouxe a Anne, como vai?

– Bem, obrigada – Respondi sem saber se devia.

– Acredita que ela sofreu um acidente e não lembrava nem de mim? – Falou em um tom ofendida – Então a trouxe para cá, pra ver se reavive a memória desse ser – Ela me chacoalhou pelos ombros.

– Com certeza – Ele riu – Roger, deixem as madames entrarem – O mesmo disse para outro segurança, que apenas concordou com a cabeça.

– Mais tarde a gente se vê – Ela piscou e saiu puxando o meu pulso.

O pub estava bem lotado! A pouca iluminação, a música alta e as luzes de neon me encantaram por aquele lugar. Andamos um pouco até acharmos um lugar no bar vazio e nos sentamos por ali mesmo. Havia dois andares, digamos que o de cima parecia um lugar de “lazer” para os “clientes”, mesmo assim eu estava achando tudo muito divertido. Até os funcionários daquele lugar eram bonitos, imagine as pessoas que frequentavam? Não preciso nem dizer.

– Esse lugar é incrível! – Gritei para que ela pudesse me escutar.

– Sabia que ia gostar! – Respondeu no mesmo tom de voz.

– O que vão querer? – Um barman sem camisa perguntou.

– Tequila – Tisha respondeu com uma piscada sexy.

O garçom piscou de volta e em seguida olhou para mim de uma maneira que irresistível. A antiga Anne não dava bola para ninguém, certo? Mais ninguém disse que seria errado se a nova desse.

– Me surpreenda – Pisquei para ele.

– Com todo prazer – Ele piscou de volta e foi preparar os drinks.

Tisha e eu nos entreolhamos e começamos a rir muito.

–Já falei que estou amando a nova Anne?

– Pode dizer sempre que eu der uma dentro.