A Nova Vida de Anne escrita por Biju


Capítulo 16
This is part of life


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é grandinho, mas vale a pena ler até o final.
Quero agradecer as minhas leitoras que sempre andam comentando e opinando sobre a fanfic, dedico esse capítulo à vocês!



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Na manhã seguinte me levantei em um pulo. No relógio marcava 10h15 e daqui cinco minutos Tisha estaria no meu apartamento para irmos juntas até o teatro. Tomei o famoso banho de ganho e vesti as primeiras coisas que vi pela frente: uma regata branca, um short preto e um casaquinho azul claro. O dia parecia estar ensolarado. Dei ração para Mike e Lucy que não paravam de correr pela sala e peguei uma maçã para comer, em questão de segundos a campainha tocou.

– Oi! – Disse de boca cheia dando passagem para ela entrar.

– Atrasada?

– Dá pra perceber?

– Você nem penteou o cabelo, Anne! – Ela riu da situação e tirou uma presilha de dentro da bolsa – Usa isso, é melhor.

– Obrigada – Joguei o resto da maçã no lixo e fiz um coque solto, olhei no espelho e ficou bom. Dava um toque de desarrumada, porém bonita – Vamos!

Peguei minha bolsa e meu telefone. Antes do elevador se fechar, uma bengala fez com que a porta se abrisse novamente. Era aquela maldita vizinha ignorante que eu tinha, revirei os olhos e Tisha pigarreou para disfarçar a risada.

– Senhorita Miller. Que diabo estava acontecendo ontem no seu apartamento? – Disse carrancuda como sempre.

– O que acontece no meu apartamento é problema meu – Respondi indiferente.

– Você atrapalhou o sono de Chursh.

– Chursh?

– Sim. Meu gato.

– Vou pedir para o Mike dar um jeito, tenho certeza que ele vai fazer Chursh dormir bem... Para sempre – Sorri irônica e ela fez uma feição de ofendida.

– Vocês jovens não respeitam os mais velhos...

Eu e Tisha nos entreolhamos e reviramos os olhos ao mesmo tempo. Assim que a porta abriu saímos apressadas. Aquela velha só sabia reclamar, e eu não fiz nada de mais no dia anterior.

O caminho todo Tisha me deu alguns sermões sobre ter voltado com o Maurício, mas ao mesmo tempo queria a minha felicidade. Minha amiga era muito bipolar. Aproveitamos para marcar as sessões de hipnose, amanhã mesmo teríamos uma.

Chegamos ao teatro e entramos quase que correndo, mas para a minha sorte encontrei Ricky já dentro do teatro conversando com a tal da Mary Stevens. Aquela risadinha que saia da boca dela a cada palavra de Ricky me irritava. Como uma pessoa poderia ser tão insuportável? Ela ainda forçava a simpatia. Revirei os olhos e Tisha me olhou confusa, mas também não me perguntou absolutamente nada. Quando a loira saiu de cima do meu amigo me aproximei para falar com ele.

– Ei! – Abri um sorriso.

– Ah, oi Anne – Disse com um sorriso de canto – Tisha... – Abriu um pouco mais seu sorriso.

– Oi! – Ela cumprimentou com um aceno e indo falar com um dos diretores.

– Então... Ansioso?

– Não – Disse com desdém.

– Que papel você quer que seja seu?

– Pra mim é indiferente... – Colocou suas mãos no bolso da frente da calça jeans – Meu objetivo era passar no teste e eu passei. O que vier, é lucro.

– Entendi...

– Todos sentados, por favor! – O diretor mais novo ordenou.

Quando olhei para Ricardo ele já estava indo se sentar. Tinha alguma coisa errada e eu ia descobrir o que era. Meus olhos procuravam por Tisha e vi que ela se sentou na primeira fileira, então sentei ao seu lado. Encarava-me com uma expressão de compreensão. Só não sei do que.

– Primeiramente bom dia! – Ele prosseguiu e todos responderam – Queria dizer que nem todos que estão presentes hoje participaram no grande dia. Temos alguns papéis reservas, mas isso não quer dizer que terão menos descanso do que os outros... Terão que participar de todos os ensaios e estarem a par de tudo, para que qualquer incidente, vocês entrem em cena.

– Quando eu chamar seus nomes peço, por favor, que venham até o palco – Disse Ehlena Bens, a mesma que me ligou na noite passada. - Mary Stevens, Leon Pierre, Ricardo Parker, Jessica Swint e Patrícia Jones.

Meu estomago embrulhou. Por que eu não fui chamada? Calma, Anne. Espere. Meu consciente falou. Mas eu estava nervosa de mais para ouvi-lo. Pude ver eles se posicionando um ao lado do outro no palco. Mary com uma cara convencida como quem diz: O papel principal é meu. Leon com um sorriso um tanto infantil. Jessia com um sorriso bobo e vergonhoso. Ricky com a mesma cara de desdém, porém com um sorriso simpático de canto. E Tisha parecia estar um pouco nervosa e sem saber muito que fazer.

– Mary Stevens protagonizará Jan Martin – Todos aplaudiram e ela fechou um pouco o sorriso, mas mesmo assim continuou feliz.

Se ponha no seu lugar agora, convencida!

– Leon Pierre protagonizará Kenickie Willians – Ele ficou muito feliz e abriu mais ainda aquele sorriso infantil, seguido por aplausos.

– Jessica Swint protagonizará Betty – Todos aplaudiram e seu rosto ruborizou, mas ainda estava sorrindo.

– Ricardo Parker será o nosso Danny Zuko – Dessa vez os aplausos foram mais fortes, teve direito a assobios e eu é claro que gritei o nome dele, mas ele nem se quer olhou para ver quem era. Ingrato!

– E por último, Patrícia Jones será Sandy!

OQUE? Patrícia sorriu e Ricardo a abraçou. Todos aplaudiram e os “atores principais” foram cumprimentar os diretores. Eu não estava acreditando. Minha melhor amiga, que nunca fez na vida uma aulinha de teatro conseguiu o papel que eu tanto queria e eu que fiz uma faculdade – mesmo sem me lembrar disso muito bem – não? Respirei fundo e tentei sorrir, seguindo os aplausos de todos.

– Muito bem, muito bem. – O diretor mais velho, que se chamava Omar Luvier chamou a atenção de todos – Peço para que meus atores e atrizes fiquem no palco e vamos chamar mais cinco pessoas para completar o elenco.

– Vou chamar pelo primeiro nome, já que felizmente não temos nomes repetidos – Ehlena tomou o lugar e pegou sua lista – Julie, August, Lilian, François e Anne.

Anne. É meu nome. Lá vou eu. Que frio na barriga. Levantei-me e fui caminhando até o palco ficando mais a frente do que os outros já escolhidos. Tisha me fitava com um olhar pedindo desculpas, mas do que ela poderia se desculpar? De ter sido melhor atriz do que eu? Isso se chama destino. E se o destino quis assim, será.

– Vocês terão um papel muito importante. Ajudarão os atores principais da peça – É o que? – Vocês serão os substitutos – Empalideci – Julie ajudará Mary, August ajudará Leon, Lilian ajudará Jessica, François ajudará Ricardo e Anne ajudará Patrícia.

Engoli a seco. Não basta perder meu papel principal para a minha melhor amiga, teria que ser sua substituta. Puta merda. Tem como ficar pior? Tem. Ricardo me ignorou a reunião inteira! E eu não fiz absolutamente nada para merecer aquilo. Ou fiz? As pessoas são muito confusas, mais do que eu até.

Ficamos no teatro até a hora do almoço. Fizemos uma dinâmica para nos conhecermos melhor, para que nosso trabalho fosse produtivo. Já nos entregaram nossas falas e cenas para que déssemos uma ensaiada até o próximo encontro. Ser substituto não era tão ruim, até por que se nada desse errado poderíamos ser figurantes e participar da peça em outros papéis. Assim como aqueles que passaram e foram colocados apenas como dançarinos ou coral. Só pelo fato de estar participando de algo na minha área – mesmo não sendo a estrela da vez – já me deixou feliz. E ver que Tisha estava gostando e esquecendo-se daquele velho nojento me deixava feliz.

– Ele está me evitando – Disse tristonha enquanto Tisha dirigia até o Nando’s.

– Por quê?

– Eu não sei. Não fiz nada.

– Você contou a ele sobre ontem? – Me olhou.

– Não. Até por que não tinha motivo algum.

– Alguém deve ter contado.

– A única pessoa que sabe é você!

– Não fui eu. Isso eu te garanto.

Cruzei os braços como uma garotinha que tinha acabado de perder seu brinquedo favorito no parque. Chegando lá escolhemos uma mesa e pedimos nosso almoço. Quando a comida chegou me espantei ao ver o tanto de coisa que a Tisha pediu. Havia três tipos de comida diferentes e ela experimentava cada um deles. A olhei com um ponto de interrogação na cabeça, mas ela se explicou dizendo que estava sentindo muita fome. Ignorei isso, pois de vez em quando eu comia metade das coisas que estavam no meu armário.

– Anne – Ela dizia enquanto remexia a colher do seu sorvete – Você ficou muito chateada por eu ter ganhado o papel? E não venha me dizer que não ficou, pois qualquer um ficaria vendo a vitória de outra pessoa.

– Vou ser sincera com você – Suspirei – Eu fiquei chateada sim. Mas pelo menos eu estou vendo a sua felicidade, que é muito importante – Segurei sua mão – Além do mais, foi como o Ricky disse hoje: Meu objetivo era passar no teste e eu passei. O que vier, é lucro. – Sorri e ela sorriu de volta.

– Eu sei que ainda está chateada. Você não me engana. Mas eu admiro isso em você. Você sabe pensar-nos outros. E é uma grande amiga – Apertou minha mão antes de soltarmos.

– Vamos?

– Vamos!

Levantamos da mesa e caminhamos para fora do restaurante. Tisha segurou no meu braço e quando a olhei estava pálida como uma folha de sulfite. Eu não precisei dizer nada, pois o pior veio a seguir, ela correu até a lixeira ao lado e vomitou.

– Eu disse pra você não comer tudo aquilo se não estivesse com fome – Falava enquanto dirigia seu carro, já que ela ainda estava passando um pouco mal.

– Mas estava tão gostoso, eu tinha que comer!

– Mesmo assim. Levasse para a viagem então.

– Desculpa mamãe – ironizou revirando os olhos.

No dia seguinte Tisha foi lá em casa para a minha primeira sessão de hipnose. Ela me garantiu que era uma coisa segura e bem tranquila, então não me preocupei muito. Ela colocou um relógio em cima da mesinha que fazia um barulhinho irritante de “tic tac” e se sentou em uma poltrona à minha frente.

– Preciso que você relaxe – Disse num tom suave – Não pense em nada, a não ser no seu passado... O que você quer saber do seu passado? O que você acha que é importante ser lembrado? Do que você precisa se lembrar? – Disse lentamente – Agora preciso que você feche os olhos e respirei fundo... – Respirei e tentei me relaxar encostando-me ao sofá – Agora Anne, quero que você me diga onde você está...

– Estou na minha sala.

– No seu passado... Quero saber onde você está no seu passado... O que você vê?

– O que eu vejo? – Tentei me concentrar, eu não estava vendo nada.

– Respire, inspire... Respire, inspire... – Fiz o que ela pedia – Agora quero que você volte a sua vida antiga, quero que me conte o que você vê antes de ser atropelada, antes de ser demitida, antes de tudo... Quero que me conte o que você vê!

De repente senti meu corpo vibrar, uma sensação estranha. Uma claridade tomou conta da minha visão e eu via duas garotas idênticas e ruivas. Estavam em um quarto grande e rosa com duas camas, uma em cada ponta do quarto. Na parede havia alguns pôsteres de banda da época.

– Você é uma copiona! Eu disse que ia pintar meu cabelo para sermos diferentes, Lia! – Uma ruiva irritada gritava enquanto a outra fingia que não era com ela.

– Anne, você é muito chata. O que tem de mais em termos a mesma cor de cabelo?

– Eu não quero ser como você. Isso que tem de mais. Eu quero ser diferente.

– Você nunca será diferente de mim, somos gêmeas.

– Eu sempre fui diferente de você como pessoa. Quero ser na aparência também – Cruzou os braços – Vou pintar ele da cor normal.

– Então eu também irei pintar da cor normal – Sorriu.

– Por que você faz isso? Por que você gosta tanto de me irritar?

– Por que você é minha irmã. Enquanto eu estiver viva vou fazer de tudo para te irritar. Tudo!

A luz foi se apagando aos poucos e a palavra tudo ainda ecoava em minha cabeça. Logo foi substituída por outra voz.

– Agora quero que você abra os olhos e me diga o que viu – A voz calma de Tisha me despertou.

– Vi a bruxa da minha irmã tentando roubar minha vida.


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Notas finais do capítulo

Irmãos sempre nos irritam, mas Anne teve o azar de ter aquela irmã que faz de tudo para acabar com a sua vida.
Deixem seus comentários e previsões dos próximos capítulos!



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