Receita para uma tempestade escrita por Bruna Pereira


Capítulo 5
Capítulo IV - De mal a pior.


Notas iniciais do capítulo

Digamos que o problema vai começar a ficar mais explosivo daqui pra frente.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/497415/chapter/5

Perto do amanhecer, a chuva deu uma refreada e Marguerite dormiu um pouco, mas profundamente. Acordou assim que os primeiros raios de sol atravessaram as folhagens das árvores. Estava faminta e com o corpo moído. Sentou-se, endireitando a coluna e observando seu estado, suas roupas estavam encharcadas e enlameadas. Colocou o rifle de lado e pegou a bolsa, procurando por algo para comer, só o que encontrou foram algumas roupas e suas pedras.

Coma-as, agora! – Podia ouvir Verônica dizer”.

– Você gostaria mesmo de ver essa cena não é? – respondeu para ninguém, mestre no hábito de falar sozinha.

Levantou-se e finalmente tomou uma decisão, iria para o único lugar além da casa da árvore onde conhecia alguém: a aldeia Zangá. O que Marguerite não sabia, mas estava prestes a descobrir, era que tinha tido uma péssima ideia.

____________________

E então, ela está bem? – Verônica perguntou para George enquanto passava a mão cuidadosamente na cabeça de Assai.

– Sim, não é nada sério. Aposto que não acordou ainda mais por causa do cansaço do que pela pancada na cabeça, mas vai ficar melhor se derem espaço para ela respirar. – e desse jeito espantou a loira e Ned que também estava na cabeceira da moça.

Roxton encharcado e melancólico não parara de olhar lá fora desde que chegara carregando Assai. Ned e Verônica foram ao encontro de Roxton e tentaram acalmá-lo, mas a própria Verônica não conseguia disfarçar sua preocupação.

– Vai dar tudo certo amigo. Ela é mais esperta que todos nós juntos, vai se arranjar bem até a encontrarmos. – disse o jornalista.

– E nós vamos encontrá-la John, é uma promessa. – e Verônica pretendia cumpri-la, mesmo ainda estando magoada com Marguerite. Mas será ela quem terá que se desculpar primeiro, pensou, estava cansada de ser sempre aquela que da o braço a torcer.

A casa já estava praticamente arrumada. Verônica já havia recolhido os antigos pertences de seus pais, e depois de analisá-los bem, concluiu que não estavam assim tão danificados, alguns deles podiam inclusive ser reparados, menos, é claro, os desenhos e o lenço. Mas mesmo com tudo de volta no lugar, parecia que alguma coisa estava faltando para aquela ser a sua casa novamente.

Ninguém havia dormido ou se lembrava de ter comido naquela noite, por isso, todos abusaram do café assim que amanheceu. Roxton voltara a segurar a roupa de Marguerite. Pareceu a Ned que ele tentaria achar sua trilha a partir do cheiro dela, tal qual um cão de caça.

– Ela acordou. – noticiou George chegando correndo do quarto de Marguerite, onde Assai estava repousando. Verônica e Malone seguiram imediatamente o cientista. Roxton caminhou a passos lentos.

A moça tinha se levantado, mas se apoiava em qualquer coisa, pois ainda estava tonta, e ao ver Verônica informou desesperada:

– Verônica, a aldeia Zangá foi atacada. Prenderam meu pai... Eu... Eu preciso de ajuda.

Como isso aconteceu? - perguntou a loira fazendo-a sentar na cama de Marguerite. George trouxe um copo de água, Assai bebeu e recomeçou a falar.

– Noite passada os sentinelas viram forasteiros chegando e trazendo carroças, eles pediram para que se anunciassem, mas os homens não lhes deram ouvidos e continuaram a se aproximar, então perceberam que se tratava de um invasão e soaram o grito de alerta. Todos os homens se reuniram nos limites da aldeia, convencidos de que iriam derrotá-los porque estávamos em maior número, mas os forasteiros tinham uma arma que nunca vimos antes, eles começaram a lançar bolas de fogo sobre nós, que explodiram deixando a aldeia em chamas. – Assai fez mais uma pausa para outro gole de água. – Parecia feitiçaria.

– E então, lhes parece familiar? – Ned insinuou para George e John.

– Deixe-a terminar. – Challenger ficou alarmado com a história das “bolas de fogo que explodiam”.

– Não tivemos como resistir, e depois de já terem nos arrasado, o líder deles exigiu, em nosso idioma, que lhe entregássemos meu pai, a recusa do meu povo o deixou furioso, mas ele mesmo se entregou para que ninguém fosse castigado, depois o levaram para um das cabanas que fora evacuada e lá ele permanece encarcerado. Depois, o chefe do grupo deu ordens para que capturassem todos os jovens fortes para serem vendidos, e as mulheres para que lhe servissem de criada. Aquele monstro se sentou no lugar de meu pai e assistiu à captura, achando tudo muito divertido, mas graças à ajuda de amigos, eu consegui escapar, e corria pra cá, Verônica, para encontrar vocês quando percebi que aquele grandalhão estava atrás de mim, aí ele me derrubou e eu não sei o que aconteceu depois.

– Roxton salvou você e te trouxe para cá. – Informou a amiga.

– Muito obrigada – e deu um abraço amigável em John, que estava um tanto comovido com a história da garota e um tanto mais constrangido por só ter realmente se importado com ela naquele momento.

– Parece que estava certo, John, caçadores de escravos. – lembrou Ned.

– Bela hora para ter razão. – disse desvencilhando-se dos braços da moça.

– Esbarramos com esse grupo no caminho de volta, mas pelo visto, não lhe demos a devida importância. – elucidou Challenger para Verônica que aparentava estar confusa.

– Sim, mas eles não são simples caçadores de escravos. Meu pai me falou muito sobre esses homens. Pertencem ao povo raidor, antigos aliados dos zangás, por isso conhecem a nossa língua. Segundo ele, as duas culturas realizavam trocas comerciais durante muito tempo, mas há cerca de vinte anos o irmão mais novo do chefe dos raidorianos o teria assassinado por inveja e cobiça, e colocado a culpa em meu pai, assumindo depois a liderança do povo que além de se tornar nosso inimigo, também se transformara numa corja de mercenários e saqueadores. O novo rei dos raidor tentara então invadir nossa aldeia, mas os zangás com a ajuda dos homens da expedição de seu pai, Verônica, botaram-nos para correr no passado. Foi assim que Thomas Layton ganhou o respeito do meu povo. A partir de então os Zangá se tornaram hostil a visitantes, e aumentamos a segurança, mas parece que descobriram uma brecha e contornaram nossas defesas. Como isso aconteceu, ou como obtiveram aquela arma, não sei responder. – Verônica realmente se lembrava de ter ouvido algo parecido com essa história da boca do pai há mais de onze anos.

Enquanto os outros continuavam conversando e perguntando por detalhes, George que havia ficado silencioso afastou-se sem ser notado. Uma suposição perambulava em sua mente. Pela descrição de Assai, esses tais raidor devem ter coloca as mãos no segredo da pólvora, mas como? Talvez... – pensou – Tribuno? Aquela lagartixa evoluída a conhecia, Marguerite fizera o favor de lhe revelar a fórmula tempos atrás, poderia muito bem ter vendido algumas levas. Um comerciante não se preocupa mesmo com o destino da mercadoria desde que ela seja bem paga, mas no caso de tribuno, George sabia que além disso, ele se rejubilaria com a possibilidade de provocar confusão... Ele era como Marguerite costumava ser quando se conheceram... Marguerite, sim, ele também tinha uma teoria para o paradeiro dela que lhe chegara à cabeça no momento em pôs os olhos em Assai. A moça era a única pessoa que Marguerite conhecia fora da casa da árvore, tinha quase certeza que a amiga buscaria auxilio na aldeia zangá, o que, a contar com as circunstancias a levará diretamente para a boca do dragão. O cientista temia a reação do caçador quando ele mesmo chegasse a essa conclusão, e isso não demorou muito a ocorrer.

Roxton arregalou os olhos e se levantou tão depressa que assustou a todo mundo. Começou colocar balas no revolver de mão e no rifle, seu impulso o fez correr para o elevador sem dizer uma palavra, mas George sabia o que se passara pela cabeça do amigo, e pedira a Ned e Verônica para pará-lo, indo ele próprio ajudar também a deter a besta selvagem em que John se transformava quando algo acontecia a qualquer um deles, sobretudo a Marguerite.

– Acalme-se homem! – disse tentando segurar seus braços.

– Mas George, tenho certeza de que ela foi pra lá. – respondeu tentando se livrar do trio. – Ela está lá. Está lá, na aldeia Zangá. Não sei como não pensei nisso antes. – disse dando dois tapas no próprio rosto.

– Eu sei, mas precisamos de um plano, estamos em menor número. – o caçador ainda se debatia, Challenger continuava segurando-o.

– Pode não haver tempo para planos, além do mais estamos melhor armados. – disse entre dentes.

– Eles têm pólvora. – contou suas suspeitas.

Verônica e Malone pararam apreensivos, mas John não se intimidou.

– Nós também temos.

–Não, nós sabemos fazer, mas temos pouca em estoque.

– E mesmo se tivéssemos, não podemos simplesmente bombardear a casa da Assai como esses homens fizeram. – comentou Verônica enquanto Assai assistia, meio tristonha, àquela pequena batalha.

– Escute o Challenger, Roxton. Se também for pego não será de grande ajuda para Marguerite, isso se ela tiver mesmo ido pra lá. – muitíssimo a contragosto, o caçador cedeu às palavras de Ned.

– Muito bem, o que vamos fazer então? Não temos todo o tempo do mundo, então tratem de por essas cabeças pra funcionar de uma vez – Roxton nunca tinha sido tão mal educado com os amigos – Em uma hora eu saio, com ou sem plano.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E agora hein? Será que vai dar tempo deles encontrarem Marguerite?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Receita para uma tempestade" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.