Receita para uma tempestade escrita por Bruna Pereira


Capítulo 3
Capítulo II - A Partida


Notas iniciais do capítulo

Aqui vai mais um.



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Verônica espere. – disse Marguerite ofegando enquanto se levantava para ir atrás da loira, que naquele instante entrava cambaleando no quarto que até então ela chamara de seu. Verônica começou a atirar todas as suas coisas pela janela, revirou seu baú onde guardava suas roupas e o esvaziou sem o mínimo de delicadeza, mas dessa vez Marguerite não reagiu, limitando-se a segui-la, recolhendo seus pertences e tentando ganhar tempo. Ah, como se arrependia de seu descontrole!

– Verônica acalme-se, espere os outros chegarem – agachou-se para pegar uma caixinha onde tinha algumas jóias guardadas – tenho certeza de que podemos resolver isso tudo de forma civilizada. – tarde demais para falar em civilidade sua tola, pensou consigo mesma.

– Você vai partir agora, não haverá diálogo entre nós, você pode compreender todos os idiomas do mundo, mas com certeza não fala a minha língua – continuou a esvaziar tudo que pudesse conter algum objeto de Marguerite.

– E pra onde você supõe que eu deva ir? – recolheu um saquinho com algumas pedras preciosas de considerável valor. Se não estivesse em um lugar tão hostil, jogaria mais algumas coisas na cara de Verônica e iria embora com gosto, iria mesmo, mas ela não tinha muita opção no momento.

– Isso já não é problema meu. – e parou para encará-la, segurando na mão tesouros que tirara de um dos muitos esconderijos da morena. – Pelo amor de Deus, olhe pra você, estou te despejando e tudo o que se deu ao trabalho de pegar foram essas pedras e jóias malditas, talvez deva usá-las para chamar um carro de aluguel que te leve a um hotel de luxo. – atirou os artefatos de Marguerite pela janela, fazendo-a correr e se debruçar sobre o parapeito.

– Vai me pagar muito caro por isso Verônica. Quem me conhece a tanto tempo quanto você já deveria saber que não é bom me ter como inimiga.

– Te conheço a tempo suficiente para saber que não é bom te ter nem como amiga, se é que algum dia nós fomos, a propósito, você é um fracasso nisso. Acho que posso viver muito melhor com sua antipatia.

Verônica largou o que estava fazendo, limpou as mãos como quem acaba que jogar o lixo fora e completou:

– Tem uma hora pra recolher suas coisas, se não for suficiente para pegar tudo, faça um balanço de consciência, caso você tenha uma, não estou bem certa disso, e escolha levar o que é mais importante. Adeus Marguerite. – e saiu deixando a morena sozinha com sua ira.

______

Esperem. – sussurrou Roxton levantando uma das mãos para parar Challenger e Malone, seu olhar estava longe e seus ouvidos de caçador atentos ao menor dos ruídos. – Escondam-se e não dêem nem um pio.

– O que está acontecendo? – Perguntou George com sua necessidade de saber de tudo.

–Você viu alguma coisa? – completou Ned com sua curiosidade de jornalista.

–Shiii! Façam o que eu mandei, e rápido! – dessa vez foi obedecido sem questionamentos. – Só saiam quando eu disser que é seguro. – sussurrou depois de também se esconder.

O trio se embrenhara entre as árvores e arbustos, e ali permaneceram até que enfim puderam entender a ordem de John. Pelo caminho que costumavam seguir vinha uma corja com uns oito homens mal encarados seguidos por duas carroças com o compartimento de carga coberto. Ned e George ficaram impressionados com a audição de Roxton. Permaneceram no meio do mato quase dez minutos até a suspeita caravana aparecer, e esperaram no desconfortável abrigo improvisado outros tantos depois que o bando sumira do campo de visão.

Podem sair agora – disse por fim - mas fiquem atentos.

George que estava agachado e mal suportava mais a dor nas costas e nos joelhos levantou-se rapidamente, fazendo-os estralarem.

–Maldição, ai. – reclamou.

– Quem eram aqueles? – interrogou Malone.

– Caçadores de escravos, eu acho – sugeriu John.

– Por essas bandas? Nunca vimos contrabandistas do lado de cá da aldeia Zangá, eles sempre se encarregaram de manter os forasteiros afastados da região. – analisou Challenger.

– Ah vimos sim, não se esqueça de Marguerite. – os três riram mais descontraídos.

– Ora George, foi só um palpite, você é o sabichão por aqui, eu posso apenas garantir que não estou nem um pouco tentado a descobrir se estou certo ou não. Mas a expedição é sua, o que você acha?

– Acho que vai chover, e também penso que devemos nos apressar ou vamos encontrar duas mocinhas muito zangadas se chegarmos atrasados para o jantar.

– Atrasados COM o jantar você quis dizer não é?- riram mais uma vez.

– Uhhh – Roxton fez cara de dor – encarar Marguerite e Verônica famintas e mal humoradas ao mesmo tempo me faz acreditar que morrer estraçalhado por um T-Rex é indolor.

______

O acinzentado da tarde anunciava o anoitecer, e o nublado do céu prometia uma noite tempestuosa. Marguerite com uma mochila nas costas e munida de seu rifle procurava seus objetos espalhados dentro dos limites da cerca elétrica, e a cada vez que jogava alguma coisa na bolsa lançava uma nova praga sobre Verônica, prometendo a sim mesma que a odiaria pra sempre. Depois de provida de tudo que pode carregar, cruzou o perímetro da cerca e parou por alguns instantes, sem se atrever a olhar pra trás. A casa da árvore se tornara o lar que nunca imaginara conhecer. Ali ela tinha vivido as melhores histórias de sua vida, mesmo que não admitisse isso. Olhá-la para dizer adeus iria doer e deixá-la sentimental, afinal, estava abandonando o único lugar ao qual já se apegara. Mas não imploraria para ficar. Iria fazer o que nasceu para fazer: sobreviver. Iria se dar bem, ela era Marguerite Krux.

______

O sol já tinha se posto a mais ou menos meia hora quando John, Ned e George subiram o elevador. Roxton, confuso, trazia uma peça de roupa de Marguerite que encontrara jogada lá embaixo minutos atrás, mas a expressão de incompreensão que trazia no rosto contaminou o trio quando deram de cara com a casa toda revirada e Verônica olhando aflita pela sacada.

Mas que tipo de catástrofe natural passou por aqui? – Challenger quis saber enquanto colocava os sacos que ainda carregava num canto qualquer no meio da bagunça.

– Ou se cansaram da posição dos móveis e estão redecorando a casa?- perguntou John enquanto fazia o mesmo que o cientista, depois foi dar uma olhada geral no lugar.

Verônica não respondeu de imediato, continuou a olhar longe com uma fisionomia que não deixava claro em que estava pensando, então Ned caminhou até ela e colocou a mão em seu ombro, analisando ora o rumo que a loira admirava ora seu próprio rosto.

–Está tudo bem? – O rapaz perguntou num tom cuidadoso.

– Eu pensei que estaria, mas, não, não está. – disse a moça se voltando para os amigos.

– Quem fez isso com você? – Ned percebera seus machucados, mas Verônica estava chateada demais, magoada demais e cansada demais para falar.

– Onde está Marguerite? Não a encontrei em lugar algum. –o caçador ainda segurava a camisa branca da morena.

– E nem vai encontrar. Eu... Eu... Eu a mandei embora. – venceu o cansaço e disse olhando sem graça paras as mãos. De repente se tocou que era exatamente assim que Marguerite reagira antes daquela briga.

– O QUE? – Gritaram Roxton e Malone surpresos, George também teria dito o mesmo se não tivesse se engasgado com a água que bebia do cantil.


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Notas finais do capítulo

Depois eu gostaria que comentassem e dissessem o que gostariam de ler na história ok?



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