Pale (interativa) escrita por Harpia


Capítulo 15
Unfuck the world


Notas iniciais do capítulo

1º missão de Ás e Stefan. Estão presentes nesse capítulo: Anna, Kenshin, Ian, Evanecer, Allan, Sarah, Obel, Hikaru, Ás, Stefan, Max e Natasha.



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Era por volta das 10 da manhã de Domingo quando Anna acordou com uma baita enxaqueca e derrubou seus cobertores da cama. Não devia ter exagerado na bebida da noite passada, sempre surgia uma dor de cabeça como consequência, mesmo que a quantidade ingerida fosse pouca.

Levantando-se e se acostumando aos poucos com a claridade amarela que entrava pela persiana, enxergou Kenshin dormindo profundamente na cama ao lado. Com o cabelo negro bagunçado, ele estava sem camisa e segurando seu smartphone. Provavelmente devia ter passado a noite inteira procurando sinal de internet. Ela sorriu ternamente, lembrando-se do encontro da noite passada, aliviada pelas coisas estarem menos turbulentas e que os aliados estivessem se dando bem. Aproveitou essa oportunidade para pensar sobre como lidar com o problema em que se meteu: Allan Williams. Precisava caminhar um pouquinho para espairecer, caso se esbarrassem por aí ela o esclareceria de que talvez pudessem ter algo mais íntimo desde que não prejudicassem ninguém.

Tomou um banho, penteou o cabelo louro-acinzentado, vestiu uma roupa apresentável e saiu da cabana. Pelas ruas desocupadas nas vilas, ela assumiu que todos ainda estavam dormindo. O cheiro do incêndio ainda impregnava o ar, mas agora era suportável e a fumaça havia totalmente esvaecido.

Dando uma volta ao redor do castelo, cumprimentou os jardineiros que podavam as moitas à beira do lago abaixo da ponte vermelha, onde salmões nadavam despreocupados. No jardim, enxergou a sacerdotisa Hikaru e Nicole próximas a um salgueiro. Ao avistá-la, a líder disparou em sua direção antes que ela pudesse se esquivar.

– O que está fazendo levantada a uma hora dessas? Hoje é Domingo, você devia estar descansando, isso é um absurdo – Hikaru exagerou ao chegar primeiro do que Nicole.

– Não consigo dormir por mais de sete horas, é o meu relógio biológico – respondeu antes de cumprimentar a líder ao seu lado. – Oi, bom dia.

– Está um dia lindo mesmo – Nicole concordou ofegante e olhou céu azul-piscina com alvoroço. Será que em alguma parte de Pale existia uma piscina? É claro que o lago contava como uma piscina, mas a água estava suja por conta do massacre. Devia ser nojento nadar por lá agora. – Quer tomar café da manhã conosco?

– Mas... Obel pode não gostar – corou, encolhendo os ombros.

Hikaru deu um risinho como concordância, mas era praticamente imparcial em relação a dar opiniões.

A líder a persuadiu a fazer uma escolha. – Você vai sim. Obel tece vários elogios a você e ao Kenshin, então ele não vai se importar. Rejeitar um convite dos líderes é uma demonstração de ingratidão!

Anna não teve alternativa. No salão, andando rumo à gigantesca sala de jantar onde o Imperador e todos os líderes se reuniam durante as refeições, a assassina trocou um olhar com Sarah que descia a escadaria com Evanecer. Foi um olhar trocado por milissegundos que a causou certo desconforto. Quase deu as costas e foi embora, porém Nicole estava segurando seu braço com tanto vigor que era improvável que conseguisse escapar sem precisar concedê-la uma explicação plausível. Dando a volta na extensa mesa de vinte lugares e procurando uma cadeira disponível, quase não aguentou a pressão daqueles olhares que a fulminavam. Sentou-se entre o conjunto de cadeira desocupadas, não queria incomodar ninguém.

– O que ela está fazendo aqui? Você está mal acostumando essas pessoas. – Evanecer sussurrou enraivecida para Nicole e Anna se encarregou da leitura labial.

O clima ficou pesado, mas apesar disso nenhum dos líderes parou de comer. O café foi servido em sua xícara por uma das serviçais e ela abocanhou alguns pães, tentando não encará-los enquanto tomava o desjejum. Allan estava distante, não lhe cedia atenção, talvez fosse de propósito. Quando Sarah chegou e o desejou Bom dia com um beijo curto, sua garganta se apertou. Sentiu-se uma intrusa. Estava passando vergonha por estar ali.

Limpando a boca com um guardanapo e as migalhas do colo, Obel foi o primeiro a se retirar da mesa e vagou para seu escritório com Hikaru em seu encalço. Parecia que ela tinha algo importante a contá-lo. Ao ser convidada a entrar, a sacerdotisa fechou a porta e destilou seu veneno enquanto o velho se servia vinho branco em um cálice.

– Ontem à noite os assassinos se reuniram na cabana. Pareciam estar se divertindo – ela relatou afobada. – Isso é uma afronta!

– Sei que eles não foram feitos para serem amigos, mas não tenho nada a ver com isso – o Imperador tentou cortar a conversa. Abriu a porta da varanda e aconchegou-se na cadeira de balanço, bebendo.

Hikaru não desistiria até que sua opinião fosse aceita como verdade absoluta por ele. Então, saiu na varanda e persistiu. – Parece que você está desatento em relação às intenções deles. Imagine só, se eles se tornarem uma resistência experiente não poderemos combatê-los.

Ele deu de ombros, desacreditado.

– Poderíamos eliminar um por um, mas se eles estiverem unidos será muito mais complicado, principalmente se começarem a cativar a população. Você se lembra bem da época das revoltas e protestos ao redor do nosso castelo – ela continuou.

– Sim, eu me lembro. Sua coleção de almas quase foi comprometida, mas essa desgraça aconteceu há muitos anos. Os sobreviventes já morreram de velhice e seus descendentes não se lembram. Botamos fogo no cuzinho daqueles anarquistas sem dó – a intolerância chispou em seus olhos azuis, aquelas palavras pairavam sob sua língua como combustível para o ódio.

– Acredite em mim, precisamos fazer algo a respeito disso. É inadmissível que outra revolta contra o nosso império estoure. Desta vez, com todas as suspeitas da polícia, Pale vai desmoronar como Roma.

– Você não pode estar falando sério – Obel tirou sarro. – Eles são só um bando de desocupados sem futuro, eles não estão planejando derrubar o nosso Império. Isso requer muita inteligência e astúcia, nossos assassinos não têm potencial para isso. Conheço meus inimigos ao olhá-los bem no rosto.

Hikaru entrelaçou as mãos, assumindo uma postura estrategista. - Obel, isso é sério... Minha intuição está me dizendo de que eles estão fazendo algo de errado.

– Vamos fazê-los machucarem a honra um do outro, competir por algo maior – a majestade ponderou. – Nesse caso, precisaremos ser discretos.

– Discretos? - ela questionou, confusa.

– Não vou transformar minha comuna em um campo de batalha e arriscar a vida dos cidadãos comuns já que eles são responsáveis pela colheita, vendem nossas mercadorias e trazem mais membros para cá – alertou-a.

– Vamos separá-los, tirar seus aliados e deixá-los isolados. Não há nada pior para o ser humano do que o isolamento, isso envenena o coração.

– Enfim, temos o nosso plano. Vamos eliminar um por um, quaisquer que restarem estes poderão deleitar de nosso poder e glória.

Ela meneou a cabeça, sorrindo simpaticamente ao virar-se para a porta. Está aí uma coisa que raramente fazia: Sorrir.

– Também preciso te contar algo importante, uma espécie de prioridade – Obel alertou antes que ela saísse do escritório.

– Certo. Estou escutando - o encarou por cima do ombro.

– Eu estou morrendo. Não há como reverter a minha situação. Já faz tempo que estou tentando esconder a doença, mas toda essa fachada vai cair algum dia. Então eu quero que você saiba que Jinx é minha filha. Eu suspeitei desde a primeira vez que a vi e quando ela me disse de que havia morado em um orfanato, a verdade veio à tona. Você sabe qual é a providência a ser tomada nesse caso, quando eu não estiver mais presente para assumir o trono.

– Claro que sim, majestade – ela fez uma pequena reverência. – Eu sei qual é a providência que devo tomar. Eu vou inserir na garota a sua alma para que ela aja como você.

– Sim, quero que ela seja tão dura quanto eu.

– Com licença – disse antes de sair e por fim deixá-lo sozinho com seus pensamentos perturbadores sobre o passado.

~

A tensão crescia. Ás, que foi mandada no lugar de Greta, Stefan e Ian, que foi obrigado a acompanhá-los por Nicole, passaram grande parte da manhã utilizando todos os meios possíveis para chegar à cidade Ichikawa na província de Chiba. Não era uma corrida contra o tempo, pois Max e Natasha não arrancariam nenhuma verdade de Dorothy e se a matassem não conseguiriam o que queriam: Que os representantes da comuna fossem atrás dela para ocultar as informações sobre os crimes. Os assassinos foram de trem para chegarem mais cedo. Atravessaram a área urbana, rural e industrial, onde as chaminés das fábricas cuspiam seus dióxidos.

Quando eles chegaram ao litoral, pensaram sobre como não havia jeito de saber em qual pousada os investigadores estavam hospedados, mas sabiam de que Max e Nicole planejavam entrevistar um professor de uma escola primária suspeito de um possível envolvimento com Pale. Talvez o jeito fosse invadir a escola e encurralá-los.

– Eles não vão causar tumulto numa escola... – Ás concluiu genuinamente. – Vão se render ao verem nós três.

Stefan grunhiu, discordando. – Eu duvido. Quem é capaz de juntar um grupo para investigar Pale é capaz de tudo. Eles são polícia, nada mancharia a imagem deles.

Ian rolou os olhos, acompanhando-os com uma carranca mal-humorada. – A única coisa que não suporto é o cheiro desse vampiro.

– Não comece - Ás ordenou.

Stefan parou a frente do lobo. – Meu cheiro te incomoda? Você já sentiu o seu? É de cachorro molhado. Suas costas ainda estão sangrando das chicotadas, mas isso não te ensinou a ser mais humilde.

Ian se calou. Precisava se controlar para não enfiar a porrada na cara dele, quando levassem suas cabeças numa bandeja para o Imperador seria recompensado por matar os investigadores e os assassinos menos prediletos da corte. Como figuras obsoletas, os três vagaram perdidos pelas ruas do interior até encontrar o endereço. Os pedestres que passavam ao redor deles ficavam desconfiados, sendo avisados pelos inconsciente de que eles eram perigosos.

De acordo com o endereço que Evanecer os indicara, os investigadores estariam lá antes do almoço, no horário do intervalo dos alunos em que poderiam interrogar o professor em paz. O local ficava próximo à praia, num terreno plano onde um jardim bonito circulava o prédio colorido de três andares. Stefan estacionou o carro na esquina. Seguindo o plano, os assassinos tocaram o botão do interfone do portão da escola e um segurança foi atendê-los. Esboçando simpatia, logo o convenceram de que eram pais de uma das crianças.

O homem os pediu para irem até a secretária que em breve seriam atendidos. Aproveitando-se da ausência da atendente, o trio implacável passou direto pelo balcão e avançou pelos corredores, buscando a sala dos professores.

Do pátio dos fundos vinha um ensurdecedor ruído dos alunos brincando e competindo pelos balanços. Pelas paredes havia decorações infantis e formas geométricas. Toda a decoração daquele lugar era criativa.

Avistando a sala dos professores próxima aos sanitários, fitaram o professor sentando-se sozinho na mesa com um copo de café. Ele acenou para eles. Parecia estar seguro e não havia nenhum sinal dos investigadores. Exceto quando do outro lado do corredor da escola, Natasha surgiu empunhando uma arma.

– Eu pensava que você estivesse morto - disse a vampira.

Ás pegou a faca que trouxera e foi interrompida quando estava prestes a lançá-la.

– Fantasmas sempre voltar para assombrar – Stefan não parecia surpreso de reencontrar sua ex-namorada; ela era a garota que o transformou e depois chutou sua bunda como um rato miserável.

Ainda apontando para seu conhecido, Natasha manteve a conversa leve. – Você está ótimo.

– Uma pena eu não poder dizer o mesmo de você – lançou-a um olhar de desdém.

Achando aquela situação muito banal, Ás não se intrometeu e concedeu que seu aliado dominasse o confronto. Os dois vampiros cautelosamente deram um passo na direção um do outro.

– Acha que minha profissão é decadente? Olha só para você, trabalhando como um assassino particular. Esse tipo de coisa não combina com o homem que você era.

– Algo morreu dentro de mim naquela noite em que você foi embora.

– Eu nunca prometi ficar – ela sorriu insolente. – Abaixe a sua arma.

– Abaixe a sua primeiro – ele rebateu, sorrindo de volta. Era bom vê-la de novo.

Cedendo, ela ativou a alavanca de segurança e guardou a arma no cinto. Num átimo, Ian fincou a estaca por trás de suas costas. O objeto de madeira atravessou seu coração e enfraqueceu seu corpo. Stefan ficou boquiaberto, não tivera chance de dizê-la tudo o que queria. Natasha caiu trêmula no chão, a cor negra invadiu seus olhos conforme uma poça de sangue se formou ao seu redor. Ela estava faminta por seu próprio sangue, mas também estava morrendo e se desintegrando.

Stefan inclinou-se até ela que ergueu a mão para tocar seu rosto.

– Posso te fazer um último favor, mas não por quê eu gosto de você. Eu nunca te amei de verdade Stefan, apenas te devo os bons tempos que passamos juntos – afirmou com a voz entrecortada e respiração pesada.

– Qual?

– Sua amiga está na pousada Yamagata – e morreu, amolecendo o braço.

Cada átomo de seu corpo explodiu em cinzas cintilantes que voaram misticamente pelo teto até que por fim se tornaram transparentes, como se ela nunca tivesse existido.

Ele encarou enfurecidamente Ian. – Por que você fez isso?

– Precisávamos eliminar a vampiranha primeiro – ele respondeu com crueldade, agindo como se o que acontecera fosse corriqueiro.

Avançando para cima do servo, Stefan agarrou-o pela camiseta e o empurrou violentamente contra os armários. – Desgraçado. Eu disse para você agir ao meu comando. Ela merecia permanecer viva!

– Não estamos mais em Pale para eu seguir as ordens do Imperador.

Max Due surgiu de dentro de um dos armários e o atirou na cabeça. A bala marcou um buraco na lateral de sua cabeça, que logo se regenerou. Stefan abaixou-se e protegeu Ás em seus braços.

– Só essa bala não vai acabar comigo – o lobisomem assegurou, estufando e batendo no peito. – Vai, atira bem aqui.

– Sem problema – o investigador rebateu.

O professor saiu abruptamente da sala e o atirou um balde que transbordava prata derretida. Escorrendo entre o líquido, Ian caiu de joelhos enquanto sua pele queimava, se desgastando. Reza a lenda de que um amaldiçoado como ele só pode ser morto com prata pura. Ele gritou de dor e impotente, se deu conta de que os outros assassinos haviam fugido pelo pátio onde as crianças brincavam. Max e o policial – que até então estava infiltrado como professor – os perseguiram entre o tumulto de alunos, mas não puderam usar suas armas.

Os aliados pularam o muro e ao avistarem seu carro, correram para dar a partida. A próxima parada seria na pousada Yamagata.


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Notas finais do capítulo

Vocês perceberam que estamos nos aproximando do desfecho dessa história?

Primeiro gostaria de dizer que não postei por falta de inspiração. Segundo, estou eliminando propositalmente personagens por seus criadores terem sumido na névoa ( ͡° ͜ʖ ͡°) são as regras. Aos que restaram, me deem sugestões.

O que vocês gostariam de ver de novo nessa história?