O Pianista escrita por Pedro Haas


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

:D



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John treinou aquele instrumento por toda sua vida. Sua obsessão pelo piano continuava a existir desde sua juventude, onde o ouvira pela primeira vez. Beethoven, Johan Bach; Sonata ao luar e Aria na quarta corda respectivamente. Melodias que o fizeram se apaixonar. Musicas que expressavam o mais puro sentimento do pianista. Tristeza, alegria...

Sua jornada com o instrumento não fora sempre um mar de rosas. Aos 13, desistira de tocá-lo, seu pai o achava um homem afeminado, ele começou a se tornar a vergonha da família. Tentando se encaixar na sociedade machista do começo do século XX, tornou-se um dos soldados do governo nazista de Hitler e isso orgulhava sua família, mas o próprio vivera na solidão pela brutalidade do trabalho.

Quando completara 26 anos, no término da guerra, finalmente encontrara paz. Sua família, Austríaca, voltou para o país de origem. Arrasada pela perda na guerra, tentaram recomeçar com uma pequena padaria, onde John pode levar sua vida em paz.

E até, sua paixão pelo instrumento voltar.

Demorou um pouco ate John voltar a se acostumar com o piano, no processo, seu pai morreu de doença, deixando sua mãe viúva.

Fora um choque. Ele amava seu pai, era como se uma parte de seu ser fosse embora para nunca mais voltar. Sua mãe ficou muito pior do que ele, ele tinha que se manter forte, tinha que dar forças a mãe. Isso o matava ainda mais, seu coração frágil se fingindo de forte era a gota d’agua para uma ligeira depressão, desencadeada quando descobriu que não poderia se manter forte para sua mãe, que morrera meses depois de seu pai.

Esta sucessão de desventuras era muito mais do que ele conseguiria aguentar. Um dia, trancou-se em seu quarto, decidido a não falar com mais ninguém ate que estivesse bem. Foi então que teve um encontro com o bendito piano.

John o encarou como se fosse uma maquina complexa. Seus olhos vermelhos, manchados por lagrimas, olharam para o instrumento com um misto de amor e tristeza. John não conseguira explicar, começou a tocar e a expressar tudo o que sempre quis, mas nunca tivera coragem.

Era como se o mundo fosse seu, e que ele podia subjugar tudo o que lhe convém. Sua melodia lenta e trágica, sendo uma composição melosa de um pianista em estado crítico de depressão. Essa não era a mais pura verdade, mas ele tinha o talento de mostrar muito em poucas coisas. Uma delas, o piano.

As teclas pareciam deslizar sobre seus dedos, como se fizessem parte de seu corpo, ele tocou tudo com a mais logica conduta para uma musica suave. Sempre prestando atenção nos tons, subindo, descendo. Ele então percebera, não poderia mais viver sem aquele momento de prazer, um momento de desabafo por meio de um simples instrumento. Era o seu momento.

Naquele dia, recuperou todas as forças ate então perdidas por meio dos dois choques repentinos. Reabriu então a padaria, e levou sua vida como se nada mais importasse.

Ficou alegre, espontâneo, alguém que se dava gosto ter-se por perto. Conheceu novas pessoas, novas amizades e novos amores.

Com 30 anos de idade, começou um pequeno relacionamento com Nora Schmidt, uma alemã que conhecera em uma festa na vizinhança. Loira de cabelos lisos e pele branca, olhos azuis e lábios vermelhos carnudos. O instinto de John Harvest dizia que ela era o seu amor para a vida toda.

A loira tinha personalidade forte, John a admirava por isto. Era como se, ela fosse o que ele desejou ser desde sempre, decidido, forte, cheio de vontade. Ele se diminuía perto dela, não que isso atrapalhasse o relacionamento dos dois, acabou deixando isto como um sentimento enterrado, que mais tarde o piano o fez desenterrar numa melodia aguda e arrebatadora. Nora a ouviu, alegando ser uma obra prima, com um clima épico de batalha, e ao mesmo tempo uma calmaria de verão. Algo indefinido.

Mas, o que era antes uma obra prima, se tornou algo cansativo aos ouvidos e ao gosto. John, muita das vezes, deixava de dormir para tocar o instrumento, o que claramente deixava-a irritada, mas, decidira não interferir, via como o marido era completamente apaixonado por aquilo.

Como qualquer relacionamento, um dia chegou os desentendimentos do casal. Eles brigavam e depois se amavam, em sucessões constantes de desculpas e perdões. John já não podia mais aguentar, e novamente, descarregou todas as suas emoções no seu querido piano de madeira talhada.

Nora ficara irritada por isso, e então, uma noite, resolvera partir deixando um simples bilhete no criado-mudo.

Muitas palavras podem simplesmente conquistar uma pessoa, como num discurso, mas para John, cada ato de simplicidade, cada palavra, o conquistava do melhor jeito possível. Sendo então um homem facilmente manipulável.

E então, pela primeira vez, não descontara suas emoções no piano. Talvez aquilo o estivesse enfraquecido mais do que ele já era. Na guerra, não pensara se era forte, ele tinha certeza do próprio potencial, sabia que era forte. Era um homem decidido, ele era o homem que sempre quis ser, mas aquele delicado instrumento o enfraqueceu, o deixou frágil para as emoções da vida.

Era o que achava.

Pegou então, da sua caixa de ferramentas, uma marreta. E mais uma vez descontara toda suas emoções no pobre piano, mas agora de um jeito diferente. John o quebrara por inteiro. Sua raiva desceu, e a paz alcançou seus olhos obstruídos pelas nuvens negras da ira.

John vingou a perda da amada no seu melhor amigo, um preço amargo a se pagar, mas, para ele, o certo a se fazer.

Com a noticia de que o obstáculo para o relacionamento dos dois havia finalmente se desfeito. Os dois amantes finalmente puderam voltar a se amar.

Nora voltou para a casa de John feliz, e eles puderam finalmente viver em paz.

Até então, tudo corria bem.

Passaram-se anos. Até que um dia, John acordara e vira o famigerado bilhete no criado mudo. Sua mente não teve a audácia de guardar aquelas palavras, mas somente o assunto já o deixava fora de si. Sua querida Nora, se fora, fugira com um alemão rico que estava de passagem pela cidade. Disse na carta que se apaixonara perdidamente por ele, e para não haver magoas, preferiu manter tudo em segredo, algo que não adiantou muito, sua mente implorava para que contasse pelo menos o motivo de tudo aquilo. Obedecendo-o, ela contou. E no final da carta, dizia que ela o amou realmente, e que nunca o esqueceria.

Aquele foi à facada final no peito daquele homem emotivo de 36 anos, ele se virou para a cama e chorou. Um choro amargo e odioso, não se importava com o barulho de seus prantos, esperava se expressar com o barulho.

E foi então que se lembrou de seu velho amigo, o piano que o acompanhara incondicionalmente por todos os seus devaneios. Ele se sentira um monstro por tê-lo abandonado, destruído por alguém que não valia a pena. Todos cometem erros, ele pensou. Tratou logo de recuperar seu amigo.


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Notas finais do capítulo

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