Inesperado escrita por Chiisana Hana


Capítulo 12
Epílogo - Versão 2




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EPÍLOGO

(VERSÃO 2)

 

Dez anos depois...

Na arquibancada da arena de Tóquio, Shunrei esperava pelas manobras do marido em seu último campeonato de motocross. Aos trinta e oito anos, ele finalmente decidiu que era hora de parar. Amava saltar, adorava a adrenalina, mas sentia que era hora de levar uma vida mais segura e tranquila com a esposa e os dois filhos de nove e seis anos, Kenji e Naoki.

Além de se dedicar aos meninos, Shunrei continuou escrevendo, incentivada pelo sucesso do seu primeiro livro, “Máscara da Morte”, que ganhou o prêmio Ryunosuke Akutagawa (1). Os livros que ela escreveu em seguida também foram sucesso de público e crítica. Agora o quinto livro estava prestes a ser publicado e a imprensa especializada já apostava em um novo best-seller.

Aos nove anos, Kenji seguia os passos do pai e dava os primeiros saltos numa moto de tamanho apropriado. Shiryu via talento nele e apostava que no futuro ele seria um campeão. Naoki, ao contrário do irmão, preferia assistir as manobras em segurança, sentadinho na arquibancada.

Nos bastidores, Shiryu estava em cima da moto, fazendo uma oração silenciosa para que tudo corresse bem em sua última apresentação. Disputaria a final contra um jovem talento, quase vinte anos mais novo, e queria fechar a carreira em grande estilo, por isso passou os últimos meses dedicando-se intensamente aos treinos.

O concorrente mais novo já tinha feito sua série, com ótimos saltos e pousos sem falhas, porém não fez nenhuma manobra de alta dificuldade. Shiryu sabia que para vencê-lo precisava fazer um salto arriscado: o Beijo da Morte. Só tinha acertado essa manobra poucas vezes no treino, nunca numa apresentação, mas precisava arriscar tudo nessa final.

Shiryu respirou fundo e acelerou a moto em direção à rampa principal, partindo para o tudo ou nada. Subiu a rampa, decolou, ganhou a altura certa, impulsionou o corpo para girar junto com a moto e finalizar a manobra, mas calculou mal o tempo.

O Beijo da Morte.

Seu beijo no chão da arena.

Na plateia, Shunrei agarrou-se à grade da arquibancada quando o viu cair de cabeça no chão, o pescoço dobrando-se para trás num ângulo incompatível com o natural.

— Por que ele não levanta? – perguntou-se olhando fixamente para o marido que jazia inerte. – Por que não levanta? Por que não se mexe?

Em poucos segundos, a equipe médica correu para atendê-lo e os fiscais de pista ficaram ao redor, protegendo da visão das câmeras e do público. Seiya, que acompanhava tudo dos bastidores, correu para a arena.

A plateia fazia um silêncio nervoso e pesado, todos os olhos estavam voltados para o ponto da arena onde Shiryu e caiu e estava sendo atendido, embora não conseguissem visualizar muita coisa.

Quando o capacete foi retirado e jogado para o lado, rolou de forma lúgubre entre as pernas dos socorristas, quase em câmera lenta, anunciando um mau presságio.

— Senhor, proteja o Shiryu – Shunrei rezou. – Faça com que ele viva. Traga ele de volta pra nós. Do jeito que for... Precisamos dele vivo...

— Mãe, por que o pai não se mexeu? – Kenji perguntou. – Nunca vi ele cair dessa forma.

— O que está acontecendo, mãe? – Naoki também perguntou, agarrando-se a ela.

Shunrei mal conseguia ouvi-los. Só continuou sua prece silenciosa, sem tirar os olhos da arena. Quando os médicos pararam e Seiya caiu de joelhos, ela soube.

— Não... – murmurou. – Não... Ele não pode... Não! – ela gritou e seu grito ecoou pela arena, rasgando o silêncio.

Alguns rapazes do público ajudaram-na a pular a grade e ela correu até Shiryu. Seguranças tentaram impedir, mas Seiya pediu que a deixassem.

— Sinto muito – Seiya lhe disse, o rosto contorcido de dor e banhado em lágrimas, mas ela não ouviu.

Ajoelhou ao lado do marido e o abraçou. Os meninos vieram, abraçaram-no também. E a plateia deu a Shiryu o último aplauso.

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Shunrei estava de pé, ao lado do caixão aberto, durante a pequena cerimônia íntima que antecedia a cremação de Shiryu. Kenji e Naoki estavam ao seu lado, amparando-a. Kenji tinha demonstrado uma força que ela desconhecia nele, amparando-a, cuidando para que ela se alimentasse, dizendo palavras amorosas, e também cuidando do irmão, que parecia anestesiado. Ela ainda não tinha contado a ninguém, pretendia revelar quando Shiryu fosse campeão pela última vez, mas estava grávida do terceiro filho. Uma criança que nunca chegaria a conhecer o pai.

Mino também estava ao lado dela, junto com Ikki, com quem tinha se casado anos atrás.

Seiya estava falando sobre como Shiryu era uma pessoa boa, um grande amigo, um marido amoroso e um pai incrível para os meninos, quando Shunrei o interrompeu:

— Quero ficar sozinha com ele. Por favor, leva os meninos, Mino.

— Como? – Mino perguntou, para certificar-se de que tinha mesmo entendido.

— Quero ficar sozinha com ele! – ela repetiu, mais alto.

— Mãe, não... – pediu Kenji.

— Eu quero ficar sozinha com ele! – ela gritou.

Mino segurou as mãos dos meninos.

 – Vamos, meus queridos – ela chamou, levando-os para fora.

Os demais presentes acompanharam-na, deixando Shunrei sozinha como queria. Ela se debruçou sobre o caixão aberto onde Shiryu jazia e chorou.

Ele tinha quebrado o pescoço na queda, disseram. Morte instantânea. Não havia nada que pudessem fazer para salvá-lo. O que ela sempre temeu aconteceu bem diante dos seus olhos. Queria tanto que ele tivesse parado antes... Tanto...  Devia ter insistido... Devia ter pressionado... Ele poderia estar infeliz agora, poderiam até ter se separado, mas ele ainda estaria vivo, as crianças ainda teriam um pai.

— Meu amor... – murmurou, acariciando o rosto frio dele. – Perdoa... Não posso evitar pensar essas coisas... Eu sei que era o que você amava fazer, mas não posso evitar. Estou tentando imaginar a vida sem você, mas não consigo. Não sei como vai ser. Não sei como vou criar nossos filhos sozinha... Não sei se vou conseguir... Eu não sei...

Ficou um pouco mais ali, queria passar os últimos minutos com ele assim, em silêncio. Logo iriam levá-lo para o forno crematório e então seria o fim para ela também. Continuaria viva pelos três filhos, sabia que de alguma forma ia acabar encontrando força para cuidar deles, mas a melhor parte de si ia com Shiryu naquele caixão, seria consumida pelo fogo como ele, até tudo se transformar em cinzas.


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