Faz um tempo que eles estão sem se falar. Nenhum dos dois pensou que terminaria assim. Mesmo assim, ali estavam eles, encarando os olhos do outro, tentando sorrir, tentando confortar um ao outro.

Eles se conheceram há alguns anos e têm sido inseparáveis desde então. Dean sabia que poderia contar com Cas para qualquer coisa e o anjo sabia que qualquer hora que ele precisasse, os Winchesters estariam lá por ele. Especialmente Dean. “Vamos planejando pelo caminho”, Castiel disse uma vez e isso era exatamente o que eles têm feito ao longo desses anos. Falta de confiança no começo, a amizade crescendo forte, o amor familiar entre eles finalmente aparecendo. Digo, Cas é um dos melhores amigos que Dean já teve. Ninguém poderia duvidar disso.

Dean sinceramente não sabe o que Castiel tem que o entretêm tanto. Talvez seja o azul poderoso que toma conta de seus olhos, ou seu gigante coração cheio de esperança, ou sua lealdade inacreditável que ele deposita no Winchester mais velho. Ou talvez sejam as coisas simples, como o modo que Cas não entende nenhuma referencia cultural, ou aquele sobretudo que ele simplesmente não quer se livrar, ou o jeito que ele inclina a cabeça um pouco para o lado quando está falando com ele.

Enquanto Cas sabe apenas uma coisa sobre Dean Winchester. Só uma mesmo. Ele é família. A única família que ele realmente se sentiu próximo, porque antes dele, estava perdido. Um anjo deslocado com regras violadas gravadas em seu coração, nada mais. Ele acharia conforto naqueles grandes olhos verdes e, também, nos raros abraços apertados que eles dividiriam de vez em quando. Castiel realmente sente falta de falar com Dean como se tudo estivesse bem, discutindo coisas simples como alguma guerra angelical ou o apocalipse. Mas isso... Isso é demais. Isso não deveria estar acontecendo.

O que nos traz para esse exato momento... Dean está encarando os olhos de Cas, procurando por algo familiar, algo para ele se agarrar, para ajudá-lo a passar por essa situação, mas não há nada. E Cas sente a culpa crescendo dentro de si. Dean não deveria ter vindo sozinho, mas Castiel não estava aqui por ele e é tarde demais. De novo. Desde que Sam morreu, têm sido desse jeito. Um desapontamento atrás do outro.

Os lábios de Castiel chamam a atenção do Winchester... Eles estão tremendo e Dean quer que eles parem de fazer isso. Porque ele nunca viu Cas daquela forma, ninguém nunca viu. E ele desejava que pudesse fazer algo a respeito. Dean juntou toda a força que restava em seu corpo e alcançou Castiel, mas ele parece cada vez mais longe.

“Não mude nunca”, Dean se lembra de ter dito uma vez e ele ainda era um anjo do Senhor. Absoluto, grandioso, grande líder e de repente nada daquilo realmente importava. Naquele momento, Cas se sentiu inútil e quebrado e perdido.

Um ataque surpresa. Filhos de uma puta, aqueles demônios eram um cretinos espertos e não era culpa do Dean. Nem do Cas. Mas ambos estavam se sentindo um lixo. Depois de meses sem trocar nenhuma palavra, o anjo ouviu Dean rezando por ele. Ele sorriu sozinho por um segundo antes de seu coração se encher de preocupação. E culpa. E medo. Cas voou para aquele grande e velho galpão. Os demônios não tiveram a mínima chance, nenhum deles sobreviveu.

Dean estava de joelhos. O sangue escorria de sua boca em grossas gotas, suas mãos estavam em seu peito como se ele conseguisse fazer a dor desaparecer e sobreviver a isso, mas ele estava ficando mais fraco a cada momento e não havia nada que algum deles poderia fazer sobre isso agora. Dean perdeu o equilíbrio e acertaria o chão se não fosse pelo corpo rígido de Cas. O anjo o segurou com sua mão esquerda, tentando conciliar todas as emoções dentro dele.

“Aí está você”, Dean disse sentindo as lágrimas escorrendo de seus olhos, enquanto ele tentava focar no rosto do anjo.

“Exatamente onde eu deveria estar”, a voz intensa de Castiel acalmou o coração do caçador.

“Eu sabia que você viria, buddy”.

“Sim, Dean”, e pela primeira vez desde sempre, um anjo chorou. O mundo parou por um momento, os pássaros pararam de cantar, o relógio parou de marcar hora alguma, a Terra parou de girar, o tempo estava parado. “Sempre venho quando você chama, não é?”

“Você está bem”, Dean sorriu levemente e mais lagrimas escaparam de seus olhos. Então, uma brilhante luz branca estava brilhando atrás de Castiel e o Winchester as viu, aquelas magníficas, enormes e perfeitas asas, “graças a Deus você está bem. Agora posso ir em paz”, o loiro acariciou o rosto triste de Cas antes de fechar seus olhos e dar seu ultimo suspiro.

“Não se vá, Dean”, o anjo disse, mas era tarde demais. Dean Winchester estava morto. “Vamos, eu preciso de você”.

E não havia mais nada. Nada além do som das lágrimas silenciosas de um anjo.

FIM.