Seus cabelos se misturavam à areia da praia e eu admirava seu sorriso, sua pele perfeita brilhando com o sol que caía sobre nós. A areia de seus cabelos sujava minhas mãos, meus lábios se misturavam aos seus em beijos longos. Éramos apenas uma confusão de risadas, beijos e sorrisos. Éramos apenas uma naquela praia vazia de final de temporada. O sol estava se pondo e você me convenceu a ficar. Você me convence do que quiser, e você sabe disso. Brincávamos enquanto eu corria atrás de você tentando te fazer cócegas, e quando eu te alcançava fazia você se contorcer em meio a risadas histéricas. Agarrava seu longo cabelo com toda a propriedade do mundo e te beijava, perdíamos o fôlego naquele carinho que demonstrava o mais puro desejo que sentíamos. Naquele momento você me pertencia, naquele momento você era minha. E eu estava completamente entregue à você.

Ríamos da maneira com a qual havíamos nos conhecido: no bar menos frequentado daquela cidade, que tocava músicas de décadas passadas e tinha um ar retrô que até transmitia um certo charme. As bebidas de lá eram boas, o lugar era calmo, ambas concordávamos. E nós duas havíamos fugido de nossas vida loucas da cidade grande para passar as férias na beira da praia em meio ao sol, em busca de um pouco de ar puro, em busca de aventuras. E nossa aventura com certeza não poderia ter sido melhor. Duas loucas alugando uma casa, com apenas o dinheiro necessário para comer e para a passagem de volta.

Aquela casa de madeira pequena era perfeita para o conto de fadas que vivemos. Um conto para maiores de 18 anos, não é mesmo? Porque aquelas madeiras antigas presenciaram o desejo mais intenso que alguém poderia sentir. Todas as nossas noites de amor, e porque não dias também? Todas as horas, todos os lugares, nossos aromas se espalhavam por aquela pequena casinha perto da areia da praia. Podíamos ver o pôr do sol de nossa janela, podíamos vê-lo também da beira do mar, mesmo com os olhares curiosos em cima de nós. Por isso quando a época da temporada de veraneio acabou, aproveitamos e passamos os dias inteiros na beira da praia, uma praia só pra nós e meia dúzia de desocupados que, assim como nós, queriam aproveitar um pouco mais.

Mas como tudo que é bom tem um fim, o verão acabou. E com ele nossa aventura de verão. Nosso amor repentino, nossa paixão avassaladora, nosso desejo infinito. Nenhum sentimento havia acabado de fato, mas a aventura sim. Tínhamos que voltar à nossas vidas tediosas, a nossos casos que não davam certo, a nossos empregos que exigiam demais. E aquele verão ficaria guardado em uma espécie de caixinha de felicidade, lá dentro do coração de ambas. Não, nós não estragaríamos isso levando para a cidade, mudando nossas vidas e fazendo o fato de ficar uma com a outra virar cansativo, monótono, comum. Foi especial demais pra isso.

Na despedida, nos abraçamos fortemente ao deixar nossos lábios se encontrarem em um último beijo apaixonado. Não peguei seu celular, nem você o meu. Seríamos lembranças felizes, lembranças de um amor de verão. Talvez no próximo, por destino ou acaso, nos encontrássemos novamente.