As árvores me cercam. Estou no meio da floresta procurando, procurando e procurando por algo que não existe. Mas quero que exista.

Sinto como se eu viesse aqui porque fui atraída por alguma coisa. Viesse aqui todos os dias porque alguma coisa está pedindo por isso...

Neste momento estou na marca que separa a vila de certo limite da floresta que é considerado perigoso.

E se...

–Te achei! – Alguém disso atrás de mim.

–Que susto Harry! Faz isso de novo e eu te mato! – Reclamei.

–Mata nada! – Harry disse, confiante. – No que você estava pensando?

–Não te interessa.

–Emilly... você ia passar o limite? – Perguntou ao perceber a marca na arvora – Você é louca? Sabe muito bem que não podemos passar da marca! – Ele me repreendeu.

–Não seja idiota! Sabe muito bem que não iria fazer isso. – Disfarcei.

–Emi, por favor! Não faça isso está bem? Se alguma vez você cogitar isso tire já a ideia da cabeça! Por favor...

–Tá. Tá. Você podia largar de ser pidão né? Agora vamos.

Peguei a mão de meu amigo e tomamos a direção para voltar pra vila.

Meu nome é Emilly, tenho dez anos e vivo numa pequena vila semi-cercada por uma floresta. Moro sozinha com minha mãe em nossa casinha feita de madeira. Aliás, todas as casas que compõe o vilarejo são pequenas e feitas de madeira.

Todos os dias, depois de ajudar a minha mãe a arrumar a casa, fico brincando com meu amigo Harry pela vila.

Harry tem a mesma idade que eu. Aqui na vila não tem muitas crianças que eu tenho afinidade. Pra falar a verdade, Harry é meu único amigo.

Fomos até a mercearia onde sabíamos que iríamos encontrar meu tio Robert.

Meu tio Robert vive constantemente bêbado e nessas horas sempre quando nos vê, deixa bem claro que nos odeia. Mas também é nessas horas que ele tem histórias incríveis para nos contar, então todos os dias eu e Harry vamos até ele, já sabendo onde ele está, ou seja, na mercearia bebendo como de costume, e pedimos que ele conte uma história para nós. Tem dias que temos que implorar e tem dias que nem implorando conseguimos.

–A não! Vocês de novo não. – Robert reclamou. – Vocês já vieram aqui e eu já disse que não vou contar nenhuma historinha chata pra vocês. Cansei disso. Caiam fora daqui e deixem eu beber em paz.

–Mas tio Robert, ainda não pedimos nada pra você hoje. – Retruquei.

–Mas vão pedir. - Profetizou

–Tem razão... – Disse Harry.

–E não vamos desistir até você contar a história de hoje. – Disse com firmeza e de nariz empinado.

–Não vão mesmo... – Disse conformado. – Está bem. Arranjem algum banco ou sentem no chão ou deem meia-volta e vão embora que por mim tudo bem também...

Depois de arranjarmos um banco para cada um de nós, eu e e Harry nos acomodamos em frente ao meu tio.

–Que história vão quer hoje? – Tio Robert perguntou.

–Advinha? – Respondeu Harry com outra pergunta.

–A não... Vocês não se cansam dessa história não?

–Não mesmo. – Eu disse e depois ri. – Queremos que conte a lenda da menina-corvo.

–Ok. Ok. Vejamos. – Suspirou – Dizem por ai...