Amores Destrutivos escrita por Pedu


Capítulo 1
Da perfeição à autodestruição


Notas iniciais do capítulo

Primeiro conto, espero que gostem



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Quem nunca desobedeceu os pais? Mesmo que uma ordem boba como lavar a louça, ir dormir cedo ou levar o cachorro para passear, quem nunca desobedeceu? Mas existem aqueles que são filhos perfeitos, certo? Errado!

Venho aqui contar uma história sobre alguém assim, da perfeição a ruína. Até hoje não se entende o porquê de tal autodestruição, mas assim aconteceu e, afinal, não estou aqui para entender o que houve ou julgar, estou aqui só para relatar os fatos.

Tudo começou há tempos, antes mesmo dela nascer, com sua mãe. Tinha apenas dezesseis anos quando se apaixonou por um jovem dois anos mais velho. A mãe logo que soube proibiu a relação. Vocês, caros leitores, acham que isso adiantou de algo? Exatamente, só atiçou mais os jovens e no final do ano ela estava grávida. Foi tanta briga no começo, mas logo após se tornou só paparicagem com a pequena neném, que ganhou Ana Carolina como nome.

Ana Carolina sempre foi – e ainda é – uma criança mandona e de opinião forte, mesmo que errada. Mesmo com seu jeito, metido a superior, era uma filha “perfeita”, obedecia à mãe em tudo que ela mandava e fazia o possível para ser uma boa aluna. E assim foi até fazer seus catorze anos.

Nessa idade ela botou na cabeça que merecia poder sair mais com seus amigos e por sempre ter sido tão boa filha, sua mãe lhe deu tal liberdade depois de muita insistência.

Primeiro vieram às idas ao shopping com as amigas e alguns poucos meninos. Depois vieram os encontros com meninos e as festas. Festas que iam terminar só no meio da madrugada, foi nessa época que aprendeu a usar a boca para além de comer e beber bobeira, agora sabia beijar e aprendera a tomar gosto pelo álcool. Mas com o tempo as festas começaram a ficar mais pesadas e o circulo de amigos a mudar. Já não frequentava os mesmos lugares e não via as mesmas pessoas. A sua volta via pessoas bebendo e fumando. E por fim veio as duas drogas que mudaram sua vida para sempre, a primeira se chamava “maconha”, não lhe fazia mal e nessa época mal a usava, mas a outra é que a destruiu realmente, essa sim era pesada, se chamava “amor”.

Nos seus dezesseis anos conheceu Matheus. Nunca havia tido nada serio com ninguém, todos serviam por pouco tempo e nunca serviam para a entreter por muito tempo. Mas Matheus era diferente. Ele era alto, com cabelos meio cacheados e uma barba alta que cobria o rosto todo. Tinha vinte anos. Não falava quase nada, mas em compensação fumava, bebia e cheirava como ninguém. Carol não sabia o que viera nele, só sabia que era ele.

A mãe dela não queria acreditar no que diziam da filha, ainda só via a filha como um anjo que fora um dia. E Carol ainda fingia ser tal anjo, porém já deixara bem claro para a mãe seu gosto pelo álcool, mas nada além do álcool – afinal não ficava bem para uma moça de família rica usar drogas.

Nessa época dos dezesseis para os dezessete as saídas minguaram e ficaram calmas, porém continuavam pesadas. Agora eram apenas encontro na praça ou na casa de alguém para conversar, ouvir musica e usar algo. Carol já não se interessava mais pela musica ou as pessoas ali igual antes, até dançar e animar em festas se tornaram coisas sem graça ao seu ver, tudo que lhe animava agora era usar algo e estar com Matheus, essa era a única dança que lhe fazia mexer. E foi em meio ao um fuma de cá e o outro cheira de lá que Matheus a olhou e disse:

— Eai pequena, quer namorar comigo?

Podemos admitir que não foi o momento certou ou o pedido mais encantador do mundo, mas para ela foi o melhor e mais lindo pedido de sua vida. E agora sua vida estava completa. Fazia planos de terminar a escola e sair com Matheus pelo mundo a fora. Suas notas já não eram boas, mas ela nem ligava – não queria entrar numa faculdade mesmo.

Aos dezessete sua mãe descobriu tudo que fazia e, principalmente, descobriu Matheus. O odiou só de o ver. Não queria sua filha metida com aquele “tipinho”. Fez de tudo para que sua filha largasse tais coisas e aquela menino. Mas as drogas já a tinham viciado e o amor, mais viciante e destrutivo que qualquer droga, corria em suas veias mais do que sangue.

Faltava apenas seis meses para fazer dezoito, nada podia lhe impedir, em seis meses sua mãe não poderia mais mandar nela e dali em diante seriam só ela e Matheus pelo mundo. E então como uma guilhotina decapitando seus sonhos, sua mãe lhe mandou para uma clinica espar. Dizia ser para seu próprio bem, que ficaria ali só um tempo e que não era uma clinica de reabilitação, era uma “clinica no interior de relaxamento sem ligações com o mundo exterior”, porque clinica de reabilitação pega mal.

Foram os três piores meses de sua vida. Não tinha o que usar, as pessoas ali eram chatas e o pior era que Matheus não estava ali. No começou pensou que fosse ficar louca, não aguentava mais tanta calmaria e tédio. Até que descobriu que era possível ouvir e ler o que quisesse desde que fosse feito o pedido. E como já era amante da leitura quando pequena, essa foi a saída, começou a ler e ouvir musica de sua escolha. E com isso os três meses passaram.

Quando voltou para casa, sua mãe lhe preparara uma festa de volta, com comida de verdade e sua família. Alguns ela não conhecia ou lembrava, tinham aqueles que ela conhecia e até tinha certo apresso, já outros ela simplesmente não gostava – afinal quem disse que devemos amar incondicionalmente só porque tem parentesco?

Foram uma desastre essa festa, Carol simplesmente comeu e ignorou todos ali. Eles se sentiram desfocados e ela enjoada com eles naquela falsidade de fingirem gostar uns dos outros. A cada dia falavam mal uns dos outros mais e mais, porque tanto amor agora? Por ela, a drogadinha da família!? Duvidava muito. Tudo que queria agora era o Matheus.

Porém a festa teve um ponto mais que positivo para Carol, sua mãe lhe dera um presente, o melhor e o pior presente de sua vida. Ela lhe dera um apartamento. Estava praticamente dizendo “não lhe aguento mais aqui em casa, vá embora e se vire” de uma forma amorosa que só algumas mães conseguem dizer. Mãe é isso, né? Um ser amável, zeloso e cruel que não admite outro ponto de vista. Como a Carol mesma dizia “mães são os ditadores da sociedade atual, Hitler era uma mãe para Alemanha assim como os militares para o Brasil”.

Encheu o apartamento com comida, besteiras, álcool e pronto, só precisava disso. Agora faltava uma única coisa naquele apartamento: Matheus.

Foi até a casa dos pais de Matheus, com quem ele ainda morava. Entrou sem avisar usando a chave que tinha dali. Queria fazer uma surpresa para ele, três meses sem a ver, ele deveria estar louco já... Ou era isso que ela pensava.

Quando entrou no quarto, o viu com outra na cama. Não conseguia explicar aquilo para si. Era como ser duas pessoas naquele momento. Uma que entendia o mundo e lembrava de tudo que vivera antes daquilo e outra que não tinha qualquer ligação com Matheus e estava vivenciando o momento ali. Uma não sabia explicar para a outra a situação, mas as duas eram a mesma pessoa e estava em rota de colisão, se chocando e fazendo com que ela tomasse conta daquilo.

Fez tudo que pode sair, virou as costas e saiu. Chorar? Não se podia dizer que ela fizera isso, afinal eram tantas lagrimas que devia estar em um estagio a cima disso. Foi para seu apartamento. Chamou todos que conhecia para lá, falou que teria álcool de graça para comemorar sua volta e falou para levarem outras coisas para se divertirem. Não queria comemorar porra nenhuma, queria era ouvir algo tão alto que ultrapassasse seus ouvidos e tocasse em sua mente, tornando inaudíveis seus pensamentos. E, além disso, queria se entupir de tudo que pudesse, queria esquecer o mundo.

O amor era isso? Em sua infância lerá tantos contos e livros que diziam que o amor era algo lindo e magnífico. Mas ela percebeu o que era o amor agora, era dor. Aquilo dói mais que qualquer agulha que lhe perfurará aquela noite, ardia mais que qualquer cheirada que tivesse dado, queimava mais que qualquer coisa que bebesse e, principalmente, lhe alterará o estado como nenhuma droga nunca fora capaz. E era isso que as pessoas chamavam de amor?

A festa durou até a tarde do dia seguinte. Usou tudo que tinha direito, de maconha até meta-anfetamina e nada fizera aquela dor parar. Lembrou do que lerá em algum lugar uma vez, que dizia ser impossível sentir duas dores no corpo ao mesmo tempo. Sem hesitar ou pensar foi até a cozinha, pegou uma faca fez um pequeno corte em seu braço. O sangue escorreu, a endorfina foi liberada no seu cérebro e o prazer vinha a sua mente. Doía, mas o prazer causado pela endorfina era maior e a fazia esquecer aquela outra dor.

E assim passava os dias, bebendo, fumando, cheirando e injetando em festas, se cortando e mutilando em casa. Era um caminho quase que sem volta. Foi nele de cabeça, não ligava, só não queria se machucar novamente. Era autodestrutivo e ela sabia, mas não conseguia mais se importar consigo mesma.

Assim foi fácil de levar, até o dia que o viu em uma festa. Ele estava com outra já. Se só estivessem estado naquela festa e só se visto, estava tudo bem, mas ele era um filho da puta sem tamanho, teve a coragem de ir a cumprimentar e perguntar como estava. Carol não teria dito nada e o ignorado, mas antes disso tudo, ele veio e a abraço de surpresa por traz igual fazia antes. Aquilo a desarmou totalmente, a deixou na mão dele. Desgraçado, como tinha tamanho poder sobre ela?

Conversaram, ele mais calado do que falando como sempre e no fim ele teve que ir embora, sua “companhia” estava com pressa, queria ir para casa dar para o canalha. E Carol estava novamente morrendo de dor, parecia pior do que no dia que foi até a casa dele. Ele acompanhado de outra e ela ali, só. Podiam ter cerca de cem pessoas naquela festa que mesmo assim se sentia só.

Comprou o que precisava naquele lugar e foi para casa. Com suas giletes fez marcas em seus braços e coxas, mas a endorfina já não gerava mais prazer suficiente. Ejetou aqui, cheirou ali, fumou a esmo e bebeu a devassamente. O circo tava montado. Faltou algo? Ah, faltava a musica de fundo. Colocou aquela musica de sempre. Era Asleep do The Smiths, sempre lhe trazia paz ouvir aquela musica.

Aproveitando as mãos sujas de sangue começou a riscar o chão “Don’t feel bad for me. I want you to know, deep in the cell of my heart, I will feel so glad to go”. E ficou deitada no chão. Puxou a bolsa com a pouca força que ainda tinha e tomou a ultima pílula que tinha. Fechou os olhos e aproveitou a viagem. A viagem estava perfeita e autodestrutiva. E assim – jogada em meio ao próprio sangue – recebeu o ultimo abraço que poderia, aquele gélido abraço da morte.

Muitos ainda hoje dizem que foram as drogas que a matou, mas ninguém nunca cita o amor, na verdade ninguém nem se lembra dele. O amor foi o verdadeiro culpado por aquilo, foi essa a droga que a matou. Não existe e nunca existirá uma droga mais poderosa que o amor, essa foi à culpada pela morte da menina. Foi o que a levouda perfeição à autodestruição.


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Notas finais do capítulo

Eai, o que acharam? Deixem comentários ai dizendo o que gostaram e o que não gostaram



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