¿Que nos está pasando? escrita por Duda


Capítulo 6
Novo ano feliz? Parte II


Notas iniciais do capítulo

Taí a continuação, galere.
E, hein!? Que que cês acharam da pré-estreia de Violetta?



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/496806/chapter/6

(cont.)

– German – Matias disse após abrir a porta de entrada da cabana. German estava sentado meio largado, com as mãos entrelaçadas sobre a barriga, no banco de madeira que ficava na varanda da entrada – Angie está no seu quarto? – Matias perguntou calmamente e German apenas assentiu, sem encará-lo. Matias suspirou, olhou para a frente, saiu da casa e fechou a porta. Sentou-se ao lado de German e repousou os cotovelos nos joelhos.

– Eu não estou com cabeça para discutir agora, Matias – German murmurou.

– Eu não vim discutir – Matias abaixou a cabeça – Por que estamos brigando tanto ultimamente?

– Porque vocês insistem em se intrometer na minha vida – Matias olhou-o.

– Isso é porque nós queremos o seu bem – German encarou-o.

– Vocês fazem isso por ela – Matias balançou a cabeça.

– Não é verdade – German olhou para a frente.

– Não importa – Murmurou. Levantou-se e apoiou as mãos no parapeito da varanda.

– Já que falou dela – German fechou os olhos por alguns momentos e respirou fundo – Por que sente tanta raiva dela?

– Eu não sei – Falou calmamente, ao que Matias estranhou – Quando eu a vejo, sinto um ódio enorme, um ódio que eu nem sei de onde vem, que eu pensei que nunca mais ia sentir.

– Muitas coisas você pensou que nunca mais ia sentir – German lançou um olhar repreensivo à Matias.

– Não comece – Respirou fundo e olhou para frente – Ódio é a única coisa que eu consigo sentir.

– É por isso que você a trata como um lixo?

– Sim, Matias – German respondeu rispidamente. Matias bufou.

– Nunca ouviu falar sobre psicologia inversa? – German olhou de rabo de olho – Basicamente, é assim: você diz para uma pessoa que ela não pode fazer alguma coisa ou não pode ter alguma coisa, comprovadamente essa pessoa vai querer fazer ou ter isto, justamente por ser proibido. Muita gente usa isso para conseguir o que quer.

– E daí?

– Eu acho que se encaixa na atual conjuntura – German virou-se, encarou Matias e cruzou os braços.

– Pois eu acho que não.

– Como não? – Matias sorriu – Você a trata mal com a intenção de afastá-la de você, mas tudo o que você está conseguindo é o oposto – Matias levantou-se e ficou sério – A única diferença é que você – Matias cutucou o peitoral de German com a ponta do dedo indicador – está conseguindo a única coisa que você não quer.

– E o que eu não quero? – Matias respirou fundo.

– Que ela se apaixone por você – German engoliu em seco.

– É o que está acontecendo? – Matias encolheu os ombros.

– Eu nunca vi a Angie chorar com tanta frequência por um homem, ou por qualquer outra coisa que fosse, antes dela conhecer você – German desviou o olhar – German, a Angie faria um bem enorme a você. Tenho certeza que se você deixasse, ela te faria muito feliz, mas... Se você quer tanto que ela se afaste de você, apenas seja indiferente a ela – German encarou-o – Você não precisa tratá-la mal, não precisa causar a ela o mesmo que... – Matias respirou fundo – O mesmo que a Maria causou a você – German engoliu em seco – Desculpa tocar nesse assunto, eu sei que ainda dói.

– Está enganado, Matias – German respirou fundo – Eu deixei de sentir há muitos anos e pretendo continuar assim – Matias balançou a cabeça e German continuou rispidamente: – Eu não quero saber o que está acontecendo com a Saramego, não me importa se ela está ou não sofrendo, entendeu? – Matias bufou.

– Do que você tem medo, German?

– De nada – Respondeu alterado – Para de se intrometer na minha vida, para de supor que eu sinto coisas que eu não sinto. Vá cuidar da sua vida – Matias assentiu.

– Eu não sei mais como conversar numa boa com você.

– Então me deixe em paz – German retrucou rispidamente. Matias ficou olhando-o e depois assentiu.

– É a sua última palavra?

– Sim – Matias assentiu.

– Ok. Você quer continuar com essa vida de bosta que você tem e morrer infeliz? Continue. Mas não esqueça que tem pessoas que ainda se importam com você, German – Matias respirou fundo – Eu... – Matias encolheu os ombros – Eu desisto, meu amigo.

**

German estivera sentado na escada da varanda remexendo as palavras que Matias dissera a ele até avistar os faróis de um carro entrando na cabana. Levantou-se apreensivo e colocou as mãos na cintura. O carro estacionou e um senhor grisalho saiu vagarosamente. German suspirou profundamente e ficou esperando que o senhor caminhasse até ele.

– Boa noite, German.

– O que está fazendo aqui?

– A cabana também é minha, não se lembra? – German respirou fundo. O senhor olhou para o carro e depois encarou German – Pode pegar a Violetta no carro? Ela adormeceu durante o caminho.

German respirou fundo e caminhou até o carro. Abriu a porta traseira e pegou, com cautela, a garota que dormia serenamente no banco. Empurrou a porta com o pé direito e caminhou diretamente até a porta da cabana, que foi aberta pelo senhor. German entrou na cabana e todos o olharam. Em seguida, o senhor de feições parecidas às de German entrou. Matias e Pablo levantaram-se rapidamente e foram de encontro a ele.

– Senhor Miguel – Matias sorriu e estendeu a mão para um cumprimento.

– Não nos vemos há tanto tempo e eu só mereço um aperto de mão, garoto? – Miguel Castillo, pai de German, falou simpaticamente e Matias abraçou-o. Logo depois, Pablo cumprimentou-o e abraçou-o.

– Como o senhor está? – Pablo perguntou e Miguel encolheu os ombros.

– Bem. E vocês? Como estão?

– Trabalhando bastante – Jade aproximou-se e cumprimentou Miguel.

– Mas como você cresceu, pequena LaFontaine – Jade sorriu – Está linda.

– Obrigada, senhor Miguel. Meu namorado, Agustín – Apresentou o irmão de Angeles, que cumprimentou Miguel gentilmente.

– E estas jovens? – Miguel apontou para Jackeline e Parodi. Matias apresentou Parodi. Jackeline parou ao lado de Pablo.

– Jackeline Sáenz, senhor – Jackeline cumprimentou-o.

– Mais conhecida como minha namorada – Pablo deu um beijo na bochecha de Jackeline e os dois sorriram um para o outro.

– Como uma moça tão linda pode estar com um rapaz tão feio como o Galindo? – Miguel brincou e todos sorriram.

Menos German, que estivera parado esperando alguém ceder um quarto porque Angeles estava, naquele momento, em seu quarto. German pigarreou e Matias olhou-o. Depois, Matias encarou Miguel.

– Desculpe, senhor Miguel. Não sabíamos que vinha. Eu vou desocupar o quarto para o senhor.

– Não precisa, filho – Matias sorriu.

– Não se preocupe – Por fim, Matias caminhou até o quarto e German seguiu-o.

– O German não levou Violetta para o quarto dele porque tem uma amiga nossa que está lá, dormindo, senhor Miguel – Pablo explicou e Miguel franziu o cenho.

– No quarto dele? – Pablo assentiu – Eles tem alguma coisa? – Pablo sorriu sem mostrar os dentes e negou com a cabeça.

– Eles tem uma relação complicada – Miguel assentiu. Matias e German voltaram para a sala. German saiu, novamente, da cabana e Matias balançou a cabeça.

– Ele não teve um bom dia – Pablo tentou explicar.

– E quando é que ele tem um bom dia, Galindo? – Miguel suspirou – Bom, eu vou descansar. Não estou aguentando as minhas costas. Boa noite, meninos e meninas.

**

O dia seguinte amanheceu nublado e chuvoso. Um típico dia triste. Angeles acordou com uma tremenda dor de cabeça, rapidamente lembrando-se da noite anterior e sentindo-se o maior lixo da face da terra. Levantou-se e caminhou até o banheiro. Ao sair, German estava parado em frente ao armário, encharcado por conta da chuva. Ele tentara ir embora, sem sucesso algum, pois o carro emperrara na estrada de terra. German encarou-a e Angeles desviou o olhar. Sentia vergonha de si própria. German respirou fundo e voltou a olhar para o guarda-roupa. Pegou uma toalha, calça e camisa e caminhou, sem encará-la, até o banheiro. Angeles balançou a cabeça e foi até a porta, abriu-a e caminhou até a cozinha. Estranhou que um senhor estava parado em frente a pia, passando um café. O senhor olhou-a.

– Bom dia – Ele sorriu – Você deve ser Angeles – Angeles assentiu – Eu sou Miguel Castillo – Angeles arqueou suavemente as sobrancelhas e Miguel sorriu – Está surpresa por German ter um pai?

– Não é isso – Angeles sorriu e desviou o olhar – Desculpa.

– Não se preocupa. Aceita um café? – Angeles assentiu.

– Eu só... Preciso me trocar – Ela sorriu.

– Bom dia – Jackeline entrou na cozinha e parou de frente para Angeles – Como você está? – Perguntou carinhosamente para a amiga.

– Estou bem, Jackie – Angeles respondeu seriamente – Você sabe onde estão minhas coisas?

– Estão no quarto que eu dormi. Eu vou pegar.

– Ok, eu vou tomar um banho. Deixa na porta do banheiro.

– Tudo bem – Angeles olhou para Miguel e sorriu.

– Com licença – E retirou-se.

Jackeline respirou fundo, foi ao quarto, pegou as coisas de Angeles e deixou-as na porta do banheiro. Depois voltou para a cozinha e sentou-se na mesa.

– Quer café?

– Sim – Jackeline sorriu.

– Ela está bem? – Miguel perguntou. Jackeline encolheu os ombros.

– Se o senhor perguntar, ela vai dizer que sim e vai tentar se convencer disso, mas... No fundo, eu sei que não – Miguel colocou uma xícara de café em frente a Jackeline e sentou-se – Obrigada.

– E alguma coisa me diz que o German tem uma parcela de culpa nisso – Jackeline sorriu sem mostrar os dentes.

– O senhor pega as coisas rápido – Miguel sorriu.

– Na verdade, eu apenas adivinhei – Jackeline assentiu e respirou fundo.

– Eles se conheceram no escritório, há uns dois meses eu acho, e, desde então, eu não a vejo com a mesma vivacidade de antes.

– Sinto muito por ela – Miguel desviou o olhar – Angeles parece ser uma boa moça – Miguel encarou-a.

– Ela é. É uma pessoa linda, por dentro e por fora – Miguel sorriu sem mostrar os dentes.

– Eu imagino que ele a trate muito mal, certo? – Jackeline assentiu e Miguel desviou o olhar – Em outras épocas, ele agiria bem diferente – Miguel encarou-a – Acredite. German não é uma pessoa ruim, ele apenas se tornou uma pessoa fria. Mas não vou defendê-lo. Você deve sentir uma raiva enorme dele.

– Um pouquinho – Jackeline respondeu modestamente e Miguel sorriu.

– Vai ficar tudo bem, filha.

Dez minutos depois, Angeles apareceu na cozinha. Sentou-se e Miguel serviu-a um café.

– Obrigada – Angeles sorriu.

– De nada, filha – Miguel sorriu – Então, há quanto tempo trabalha no escritório?

– Pouco mais de um mês, senhor – Angeles franziu o cenho – Como sabe que trabalho lá?

– Matias me disse hoje mais cedo. E eu me lembro de você em um dia que estive lá – Angeles arqueou as sobrancelhas e Miguel sorriu – Ora, eu não me esqueceria de uma moça linda como você – Angeles sorriu.

– Obrigada – Agradeceu e imediatamente pensou em como aquele senhor poderia ser pai de um homem como German. Seus pensamentos foram interrompidos pela voz de uma pequena garota que aparecera na cozinha.

– Bom dia – Violetta disse simpaticamente. Caminhou até o senhor e abraçou-o – Bom dia, vovô.

– Bom dia, meu anjo – Ela afastou-se dele e sentou-se em uma das extremidades da mesa – Estas são Angeles e Jackeline – Miguel apontou para as duas, que sorriram para Violetta.

– Olá, eu sou a Violetta – Ela sorriu – Vocês são amigas do tio German? – Jackeline sorriu sem mostrar os dentes e Angeles entreabriu a boca, ambas entreolharam-se. Depois, olharam-na novamente.

– Eu sou namorada do amigo do tio German – Jackeline respondeu tranquilamente.

– E você, Angeles?

– S-Sim – Sorriu e tomou um gole do café. Violetta olhou para o avô.

– Ele já acordou, vovô?

– Já, Vilu. Daqui a pouco, ele vem pra cá – Violetta assentiu – Quer comer alguma coisa? – Ela negou com a cabeça.

No momento seguinte, German apareceu na cozinha.

– Tio Germaaan – Violetta levantou-se rapidamente e correu para abraçá-lo.

German agachou-se e abraçou-a. Angeles olhou para aquela cena e ficou, ao mesmo tempo, confusa e enternecida. Ela pensou que jamais veria German sendo bom com alguém, mas, aparentemente, com Violetta ele ainda era capaz disto.

– Como você está? – Violetta perguntou após afastarem-se.

– Estou bem – Ele sorriu sem mostrar os dentes – E você?

– Estou bem. Eu estou com saudade de você. Onde você estava indo?

– Estava indo resolver umas coisas.

– Mas você vai voltar? – German assentiu e Violetta sorriu.

– Então tudo bem.

German levantou-se e ficou sério ao olhar ao redor. Em seguida, caminhou até a porta e saiu. Violetta voltou e sentou-se onde estava sentada.

– Bom, eu vou acordar o Pablo – Jackeline disse e retirou-se da cozinha.

Violetta olhava amistosamente para Angeles, como se quisesse iniciar uma conversa, mas sentia-se tímida demais para isto. Angeles encarou-a e sorriu.

– Tudo bem? – Angeles perguntou.

– Sim. E com você?

– Eu estou bem – Angeles sorriu sem mostrar os dentes.

– Você não parece bem – Angeles entreabriu a boca.

– Por quê eu não pareço bem, mocinha? – Violetta encolheu os ombros.

– Parece que você chorou a noite inteira – Angeles respirou fundo e sorriu sem mostrar os dentes.

– Eu vou ficar bem – Angeles deu uma piscada para a garota e sorriu em seguida.

– O que aconteceu?

– Ahn... – Angeles desviou o olhar, logo em seguida encarou Violetta – Nada de mais.

– Ah... Eu já sei o que é... – Violetta afirmou e Angeles arregalou os olhos.

– O que é?

– Bom... Só pode ser isso que vocês chamam de amor – Angeles ficou séria e Miguel olhou-a com mais atenção. Violetta encolheu os ombros e continuou com o olhar fixo na mesa: – Uma vez o tio German me disse que o amor deixa as pessoas tristes – Angeles desviou o olhar – Ele me disse para ter cuidado – Violetta olhou-a – É isso, Angeles? – Angeles encarou-a e forçou um sorriso.

– Claro que não, Violetta – Angeles disse amigavelmente e aproximou-se mais da garota – Mas olha... o amor não é assim tão ruim – Angeles encolheu os ombros – Às vezes, quando a pessoa dá azar, ela acaba sofrendo, mas na maior parte das vezes, o amor é bom, faz bem à pessoa que o sente.

– Você deu azar? – Angeles sorriu sem mostrar os dentes.

– Não. Meu problema não é o amor, Violetta. Meu problema é a raiva – Angeles suspirou – Tem uma pessoa que me faz mal e eu sinto raiva. Não é legal sentir raiva, sabia?

– Quem é?

– Ninguém importante – Violetta assentiu e desviou o olhar – Por que não conversamos sobre você? – Violetta olhou-a e sorriu.

As duas iniciaram uma animada conversa e passaram o resto do dia juntas. Ao anoitecer, todos se reuniram na sala de estar, acenderam a lareira, fizeram alguns petiscos e abriram uma garrafa de vinho. Senhor Miguel sentou-se entre Angeles e Violetta no sofá e repousou uma pilha de álbuns de fotos na mesa de centro.

– Pronto – Ele encarou Violetta – Estes foram os álbuns que eu encontrei, Violetta – Ele pegou o primeiro álbum – Mas se o German brigar comigo por isto, eu vou dizer...

– Que eu insisti – Violetta completou – Tudo bem, vovô – Miguel assentiu.

Ele abriu o álbum. Na primeira foto, um German adolescente sentado naquele mesmo banco do píer, tocando violão e sorrindo para uma mulher, que aparentava ter uns 40 anos, ao que ela sorria também. Miguel sorriu sem mostrar os dentes.

– É a dona Elena, vovô? – Miguel encarou Violetta e assentiu. Depois, olhou para Angeles, que olhava atentamente para a foto.

– É a minha esposa. Mãe do German – Angeles encarou Miguel. “Por que Violetta chama a avó pelo nome?”, Angeles pensou.

– Muito bonita – Eles voltaram a observar a foto.

– Sim – Ele virou a página. Na foto de trás, German apoiava o violão no chão e estava prestes a dar um abraço na mãe – Ela adorava quando ele tocava para ela e ele adorava fazê-lo – Miguel encarou Angeles, como se o interesse maior sobre a vida de German fosse dela e não de Violetta – German nunca mais encostou no violão depois da morte da mãe dele – Angeles encarou Miguel.

– Faz tempo?

– Dez anos – Angeles assentiu e olhou para o álbum. Na outra página, German estava abraçado com a mãe.

As coisas faziam um pouco de sentido agora, embora o que Angeles pensava e o que todos faziam parecer que era é que German sofrera uma decepção amorosa e que por isto ele era sempre tão indiferente e ficava sempre na defensiva. Mas ao que tudo indica, German ficara assim pois não conseguira superar a morte da mãe.

German entrou na cabana e, a princípio, ignorou-os. Mas, em seguida, bateu os olhos na sala e percebeu os álbuns. Miguel sabia que German faria um inferno se soubesse que eles estavam vendo aqueles álbuns, pois, para German, aquilo era o mesmo que invadir sua privacidade. Ele aproximou-se dos demais, ao que os outros pararam de conversar e Miguel, Angeles e Violetta olharam-no. Ele cruzou os braços e estreitou os olhos.

– O que está fazendo com isto? – Perguntou seriamente. Miguel fechou o álbum e levantou-se.

– Eu estava mostrando para elas – German pressionou os dentes e colocou as mãos no quadril.

– Quem deu permissão? – German perguntou e retirou o álbum da mão do pai. Miguel arqueou as sobrancelhas.

– Eles são meus também.

– Eu que pedi para vê-los, tio German – Violetta interveio e levantou-se. German ignorou-a – Você não fala muito e eu queria saber mais sobre a sua vida – Ele encarou-a – Você ficou triste? – German respirou fundo e negou com a cabeça. Ele jogou o álbum na mesa de centro, virou-se e sumiu pelo corredor – Por que ele ficou assim, vovô?

– Por nada, Vilu – Miguel olhou-a e deu um beijo na testa dela – Está na hora de você ir dormir.

– Ah vovô... – Violetta resmungou e Miguel arqueou uma sobrancelha. A garota bufou – Tudo bem. Boa noite, pessoal – Ela virou-se para Angeles – Boa noite, Angie – Abraçou-a rapidamente e foi para o quarto.

– Eu acho que eu também vou – Angeles falou baixo – Boa noite – E sumiu pelo corredor.

**

German estava sentado no banco do píer, com os antebraços apoiados nas coxas e olhava fixamente para o chão. Ele sentiu a presença de alguém e olhou para o lado. Angeles estava lá, parada, olhando-o e com a mão esquerda estendida. German olhou para a mão dela, suspirou profundamente e colocou sua mão sobre a dela. Levantou-se e encarou-a. Angeles depositou um beijo suave e demorado na bochecha de German, ao que ele fechou os olhos. Em seguida, ela o abraçou, deixando-o atônito. German abriu os olhos e respirou fundo. Depois, colocou os braços em volta da cintura dela, apertou-a contra si e repousou o queixo no ombro dela.

Havia muitos anos que German não abraçava alguém assim. Havia muitos anos que ele não sentia uma calmaria tão grande dentro de si, como se um simples abraço fosse capaz de tirar toda a dor que ele ainda sentia, embora negasse isto. Inclusive, ele já até havia esquecido o bem que um abraço pode fazer.

Angeles afastou-se lentamente e colocou as duas mãos no rosto dele. Ela passou a acariciá-lo suavemente.

– Eu não sei o tamanho da sua dor – Ela sussurrou – Mas agora eu sei que você não é vazio – German desviou o olhar.

– Não tente encontrar uma explicação para eu ser como eu sou – Ele murmurou e encarou-a – Eu sou assim... E não vou mudar – Angeles assentiu.

– Eu não espero que você mude.

– Então, por que está aqui agora? – Ele sussurrou – Depois das coisas que eu disse pra você... – German balançou a cabeça – Eu, se fosse você, não insistiria muito, porque você vai se machucar.

– Eu não estou insistindo – Ela afastou-se dele – Eu não estou aqui agora porque estou achando que as coisas mudaram ou algo assim. Eu estou aqui porque... – Ela desviou o olhar rapidamente – Eu vi como você ficou na sala por causa dos álbuns.

– Ah é? – Ele perguntou seriamente – Como eu fiquei? – Angeles respirou fundo.

– Você ficou... Você ficou incomodado de um jeito estranho, como se as lembranças que os álbuns te remetem fossem dolorosas – German pressionou os dentes e desviou o olhar – Enfim... Eu só estou aqui porque pensei que você precisasse de um abraço – German encarou-a.

– Eu não preciso de nada que venha de você, garota – Angeles balançou a cabeça e abaixou-a.

– Tudo bem – Ela suspirou e olhou-o – Mas eu espero que um dia você fique bem a ponto de não precisar tratar as pessoas mal para se sentir melhor.

– Se você fica tão incomodada, por que não fica bem longe de mim? – German perguntou rispidamente. Angeles olhou para baixo e engoliu em seco. Em seguida, assentiu e olhou-o.

– Tem razão. Acho que é o melhor a se fazer – Ela virou-se para sair dali e German segurou seu braço, fazendo-a virar-se para ele e ficar bem próxima. O coração de Angeles palpitou subitamente.

– Mas não é o que você quer – Ele murmurou e segurou o outro braço dela também. Ele traçou um trajeto com os lábios do canto da boca de Angeles até a orelha e, por fim, sussurrou: – Você não consegue – Angeles fechou os olhos e respirou fundo. Tentou empurrá-lo, mas German envolveu os braços na cintura dela e colou os corpos. Angeles encarou-o.

– Me solta – Ela sussurrou.

– É o que você quer? – German murmurou. Angeles não respondeu. Óbvio que não era o que ela queria, ela ficaria com ele a noite inteira se ele não a tratasse como um lixo. German soltou um riso anasalado – Eu sabia! – e soltou-a e ficou sério – Eu vou pedir uma coisa, Saramego: não se atreva a se meter na minha vida, no meu passado ou em qualquer outra coisa que diz respeito a mim. A minha vida interessa somente às pessoas que eu permito que façam parte dela e eu não quero que você faça parte dela, entendeu? – Angeles fechou os olhos.

– Pelo visto eu e ninguém mais, né? – Ela encarou-o.

– Não interessa – Ele falou alterado – Limite-se a fazer o seu trabalho dentro do escritório – German respirava fundo. Por fim, murmurou friamente: – Fora dele você é a mesma coisa que nada para mim.

Angeles balançou a cabeça e saiu. Entrou na cabana e, depois, no quarto de German. Fechou a porta, encostou-se nela e começou a chorar. German podia ser um cretino, mas ele tinha razão quando disse que Angeles não consegue ficar longe dele. Sempre há alguma coisa que faz com que ela queira ou precise ficar perto dele. E Angeles odiou perceber que o que ele havia falado era verdade. Foi então que ela percebeu que as coisas não estavam tão bem, que algo precisava ser feito, mas o quê?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

;)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "¿Que nos está pasando?" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.