¿Que nos está pasando? escrita por Duda


Capítulo 16
Não é só um detalhe.


Notas iniciais do capítulo

Holaaa.
Desculpem a demora.

Estou postando o último capítulo dessa parte, mas relaxem, a história não tá no fim, rs, só não sei quando vou postar de novo.

Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/496806/chapter/16

Angeles sentiu a claridade inundando o quarto e abriu os olhos vagarosamente. Sentiu a respiração de German em seu ombro e o braço forte dele em sua cintura. Ela abriu um sorriso e acariciou o braço dele. Depois, virou-se cautelosamente. German se ajeitou, mas não acordou. Angeles ficou admirando-o por um bom tempo. Ela passou o dedo indicador pelo nariz dele, depois pela boca e, por fim, deu um beijo carinhoso na testa dele.

Angeles levantou-se, colocou um roupão e saiu do quarto. Foi até o quarto onde estava sua mala, pegou uma roupa qualquer e entrou no banheiro. Tomou um banho relaxante, vestiu-se e foi para a cozinha. Violetta estava sentada na mesa e conversava com Olga.

– Bom dia – Angeles deu um beijo no topo da cabeça de Violetta e sentou-se.

– Bom dia, Angie.

– Bom dia, menina – Olga disse simpaticamente – Quer café?

– Não, obrigada, Olga.

– O tio German não acordou ainda, Angie? – Angeles arqueou uma sobrancelha.

– Como eu vou saber, Vilu? – Violetta soltou uma risada gostosa – O que foi?

– Angie, por favor, eu sou criança, mas eu sei das coisas que acontecem – Angeles franziu o cenho.

– Que coisas, Violetta?

– Ué, coisas que duas pessoas que se gostam fazem, oras.

– Tipo? – Violetta encolheu os ombros.

– Beijar, abraçar, fazer carinho, dormir junto.

– Dormir junto?

– É – Violetta desviou o olhar – Na verdade, eu sei que tem mais coisa – Ela encarou Angeles – Mas, sempre que eu pergunto, ninguém quer me dizer o que é, então, eu decidi que vou descobrir por mim mesma – Angeles sorriu.

– Você não precisa descobrir sozinha. Olha... Tem mais coisa, mas é muito cedo para termos esta conversa. Quando você for mais velha, eu explico tudo para você, tudo bem?

– Mais velha quanto?

– Quando você estiver com uns 14 ou 15 anos – Violetta bufou.

– Tudo bem, eu espero até lá.

Angeles e Olga riram.

– Angie, vamos acordar o tio German?

– Não precisa – A voz grossa de German preencheu a cozinha e as três olharam-no – Eu já acordei – Ele sentou-se à mesa e piscou para Angeles.

– Bom dia, tio German – Violetta sorriu. German encarou-a e sorriu de volta.

– Bom dia. Dormiu bem?

– Sim – Violetta suspirou – E você também, não é? – German trocou um rápido olhar com Angeles, arqueou uma sobrancelha e fitou Violetta.

– Como você sabe?

– Eu não sei – Ela encolheu os ombros – Você parece bem.

– Por quê?

– Porque parece, oras – German sorriu e passou a mão pela cabeça de Violetta.

– Desta vez, você está certa.

– Você ainda tem que voltar para Buenos Aires?

– Sim – German murmurou – Eu preciso.

– Mas depois você volta pra cá? – Violetta perguntou baixo. German olhou para Angeles, suspirou e olhou-a de novo.

– Depende de como as coisas estiverem lá. E, por falar nisto, – Ele encarou Olga – onde está Matias?

– Ele precisou voltar para Buenos Aires hoje bem cedo – German franziu o cenho.

– Ele não disse porquê?

– Não, German. Mas pediu para você ligar para ele – German assentiu e levantou-se.

(…)

Matias, o que foi? – German estava no quarto. Ele segurava o quadril e caminhava de um lado para outro.

Desculpa, eu tive que voltar bem cedo e não quis te acordar, mas é que... Eu acho melhor você voltar também, German.

O que aconteceu? – Matias ficou quieto – Fala, Matias. O que aconteceu? – Matias respirou fundo.

Invadiram a casa do seu pai e deram uma surra nele – German bufou e fechou os olhos com força – Pablo está com ele no hospital. Ele está bem, German. Mas estamos com medo de acontecer de novo – German sentou na cama e passou a mão pelo cabelo – Acho que chegou a hora de pegá-los.

Tudo bem – German murmurou – Ainda hoje, eu volto para Buenos Aires.

**

German entrou cautelosamente no quarto de hospital onde seu pai se recuperava. Ele colocou as mãos nos bolsos da calça jeans e parou ao lado da cama. Seu sangue pulsou mais forte ao ver as marcas da surra que Miguel havia levado. Miguel, por sua vez, dormia tranquilamente, como se nada tivesse acontecido.

O celular de German emitiu um breve som e ele o retirou do bolso. Era uma mensagem de Matias. Olhou novamente para o pai e deparou-se com os olhos negros de Miguel fitando-o fixamente.

– Pensei que não viria – Miguel murmurou. German continuou quieto e sério. O senhor sorriu sem mostrar os dentes e disse: – Fico feliz que esteja aqui, filho!

– Eu quero saber como aconteceu – German disse friamente. Miguel respirou fundo e desviou o olhar.

– Eles arrombaram a porta da minha casa. Tentaram me fazer dizer para onde você tinha ido – Miguel soltou um risinho anasalado – Eles mal sabem que eu tive que descobrir para onde minha neta tinha ido através dos amigos do meu filho – Ele encarou German – Porque meu filho não conversa comigo.

German pressionou os dentes e parou de encarar Miguel.

– Eu não falei para onde ia levá-la porque queria evitar que isto acontecesse.

– Adiantou alguma coisa? – German encarou-o novamente.

– Já foi. Agora você sabe onde elas estão, não sabe? – Ele murmurou seriamente. Miguel suspirou e assentiu.

– Eu pensei que você nunca mais voltaria para a fazenda.

– Eu tive que voltar – German disse secamente – Era o único lugar escondido que eu conseguia lembrar.

– E como foi?

German respirou fundo.

– Normal.

– Você está bem?

– Estou ótimo! – Miguel assentiu e desviou o olhar.

– Ainda é um pouco difícil voltar pra lá. Eu adoro aquela fazenda, mas... – Os olhos de Miguel lacrimejaram – Eu sinto falta dela – German pressionou os dentes e abaixou a cabeça.

– Eu não quero entrar nesse assunto – Ele murmurou e Miguel olhou-o.

– Por quê? – German levantou a cabeça e encarou-o.

– Porque não – Respondeu rispidamente. Miguel bufou e desviou o olhar.

– Por que é tão difícil falar sobre o passado com você?

– Você sabe muito bem o porquê – Miguel olhou-o – Eu não quero falar sobre o momento mais difícil da minha vida e, mesmo que eu quisesse, eu não falaria sobre isto com o homem que colocou a culpa de tudo em mim.

– German, eu errei, mas...

– Eu já disse que não quero falar sobre isto – German interrompeu-o sem se exaltar. Miguel suspirou profundamente.

– Então, por que está aqui? – German balançou a cabeça e desviou o olhar por alguns segundos.

– Você não me conhece mesmo, não é? – German respirou fundo – Eu preciso ir.

– Tudo bem – Miguel murmurou – Até mais, filho – German apenas acenou com a cabeça e virou-se – German – Miguel chamou-o quando ele já estava perto da porta. German olhou-o – Eles me pediram para te dar um aviso – German pressionou os dentes.

– O quê?

– Eles disseram que não adianta você esconder Angeles, ela não importa mais para eles. Disseram que você é o alvo agora – German olhou para o chão – German, toma cuidado. Você agarrou uma causa que não é sua. E eu sei que você o fez por amor – Miguel disse com cuidado e German olhou-o – Eu te conheço sim, filho.

**

– Que bom que você voltou, seu cretino – Agustín vociferou após German abrir a porta de seu apartamento e Agustín voar no pescoço dele – Para onde você levou a minha irmã, imbecil? – German manteve a calma.

– Primeiro: me solta – Falou calmamente, o que deixou Agustín sem reação. O rapaz soltou-o e ajeitou a própria roupa – Segundo: Angeles está muito bem, mas por uma questão de segurança eu não vou te falar onde ela está – German caminhou até a porta – Agora pode se retirar.

– Eu não vou sair daqui até você me dizer onde está a minha irmã e qual é o seu plano – Agustín disse seriamente. German bufou e fechou a porta.

– Você sabe sobre o caso em que ela estava trabalhando, não?

– Sim, eu sei.

– Ela está escondida por causa disto, para se proteger.

– Você a escondeu?

– Sim.

– Está querendo me fazer acreditar que você quer proteger a minha irmã? – German franziu o cenho.

– Eu não quero fazer você acreditar em nada – Ele murmurou. Agustín soltou um riso anasalado e aproximou-se de German.

– Acha mesmo que eu não sei qual é o seu plano? – Agustín falou friamente.

– Então me diga, qual é o meu plano? – German retrucou seriamente.

– Eu sei o que você quer com ela, mas eu não vou deixar você fazer isto com ela.

– Eu não sei do que está falando.

– Sabe, sim. Você só quer machucá-la – German respirou fundo.

– Não que eu precise dar qualquer satisfação a você, mas eu passei da fase de querer machucar a sua irmã há muito tempo – Agustín abriu um sorriso sarcástico.

– Faça-me rir, Castillo.

– Eu entendo que você pense isto pelo que aconteceu na cabana. Eu realmente fui um cretino com Angeles lá. Mas as coisas mudaram agora.

– Agora só falta me dizer que está apaixonado pela Angie – German pressionou os dentes e Agustín soltou uma risada sarcástica – Você é muito cara de pau, Castillo – Agustín balançou a cabeça e ficou sério – Se quer saber, isto não tem nada a ver com a cabana. Tem a ver com isto.

Agustín espalmou a mão, junto com uma foto, no peito de German. Este pegou a foto com receio e olhou-a. Ele entreabriu a boca e seus olhos perderam qualquer brilho que possuía.

Não há como explicar como German ficou ao ver aquela foto. Era uma mistura de raiva, decepção, angústia, vazio. Era como se ele tivesse levado um golpe no coração. Na foto, Angeles estava bem nova e estava ao lado de uma moça morena e bonita. A moça era a tal Maria, o motivo de todo o sofrimento de German.

– Meu tio me contou toda a história – Agustín murmurou – Desde a parte em que ela é minha irmã e da Angie, até a parte sobre você.

– Enrique sabia de tudo? – German balbuciou.

– Sim. E eu não consigo imaginar porque ele deixou que a Angie continuasse convivendo com um verme como você – German encarou Agustín.

Ele não possuía mais aquele semblante calmo e sério, agora ele parecia... Humilhado e consternado.

– Do que está falando? – Sua voz saiu falhada.

– Você acha que machucar a Angie vai fazer alguma diferença na vida da Maria? – Agustín murmurou – Acha que assim vai se vingar por tudo o que ela fez para você? – Ele encolheu os ombros – Nós não vemos a Maria há anos, imbecil. Nem mantemos contato com ela. Não tem porquê você machucar a Angie – German olhou para o chão e respirou fundo.

– Eu nem sabia... – Ele sussurrou fracamente – Desde o início eu queria que ela ficasse longe de mim.

– Não se faça de coitado, Castillo – Agustín disse friamente e German olhou-o – Eu quero saber onde minha irmã está.

– Está na fazenda da minha família – German disse baixo.

– Onde?

– Eu vou trazê-la de volta. Ela vai sair do país em breve – Agustín arqueou uma sobrancelha.

– Junto com você? – German negou e olhou novamente para a foto.

– Não mais – Sussurrou.

– É bom que seja assim, porque, pelo menos fora do país, ela fica longe de você – German engoliu em seco e encarou-o.

– Tem razão.

– Quando vai trazê-la?

– O mais breve possível – Agustín estreitou os olhos e pegou German pelo colarinho da camisa.

– Se você estiver mentindo para mim, eu acabo com você – Agustín soltou-o e caminhou até a porta.

German escutou a porta bater atrás dele e fechou os olhos. Sentiu uma fraqueza nas pernas e aproximou-se do sofá. Sentou-se e recostou-se. Ficou observando o nada por um bom tempo. “Agora tudo faz sentido... O meu ódio e o meu desprezo por ela, desde o início”, pensou. “Que merda, por que eu não consegui mantê-la longe de mim?”. Ele amassou a foto e colocou-a no bolso. Deitou-se no sofá e permaneceu, o resto do dia, olhando para o nada, sentindo um vazio e uma dor no peito.

**

– Oi – Angeles murmurou após entrar no quarto de German. Ele estava terminando de colocar a camisa – Está tudo bem?

– Sim – Respondeu secamente.

– Por que eu não consigo acreditar nisto?

– Porque não quer.

– German, o que foi? Você chegou sério, nem falou com a Violetta direito e já veio para o quarto. Qual é o problema? – Ele encarou-a.

– Está assim por que eu não falei com a Violetta ou por que eu não falei com você? – Ele perguntou rispidamente.

– Os dois, caramba – Ela bufou – Nós pensamos que você não ia voltar pra cá e aí você volta todo estranho. O que aconteceu?

– Aconteceu que você vai ter que ir embora – German pegou o paletó e retirou uma passagem de avião de um dos bolsos internos dele. Jogou a passagem na cama e desviou o olhar. Angeles pegou-a e franziu o cenho.

– Passagem para a França! – Ela sussurrou.

– Você não queria fazer uma especialização lá? É a sua oportunidade! – Ele disse secamente.

– Não estava mais nos meus planos – Angeles murmurou e German encarou-a.

– Mas agora tem que estar. Você tem que ir embora.

– Eu não quero ir. Não sozinha.

– Mas você vai – Ele disse um pouco alto – Eu já dei o aviso para a emboscada da quadrilha do seu namorado Nicolas... – Angeles franziu o cenho.

– German... – Murmurou.

– ...três já foram presos, mas, enquanto todos não estiverem na prisão, você não está segura.

– Eu sei. Eu sei que eu preciso ir embora, mas é que eu achei que você e a Vilu iam junto.

– Pensou que iríamos fugir juntos e formaríamos uma família feliz longe daqui? – German balançou a cabeça – Não vivemos em um conto de fadas, Angeles. Nunca formaríamos uma família feliz.

– Por quê? – German engoliu em seco.

– Porque eu não te amo – Respondeu friamente e sem piscar os olhos.

Os olhos de Angeles se encheram de água e ela abaixou a cabeça.

– Por que está me tratando assim? – Sussurrou.

– Eu estou te tratando como sempre tratei – German murmurou sem vida e Angeles olhou-o, com os olhos mareados.

– Mas antes de você voltar para Buenos Aires, você parecia diferente, parecia calmo – Angeles suspirou – Parecia que as coisas caminhariam bem entre nós.

– Eu estava sendo fraco. Apenas pensei bem e não quero dar continuidade a seja lá o que for que nós tivemos. Eu quero ficar sozinho.

A frieza de German estava afetando profundamente Angeles.

– Pode me dizer o que aconteceu? – Angeles perguntou calmamente

– Aconteceu que eu pensei que poderia te amar, mas eu não posso, eu não quero – German murmurou e Angeles abaixou a cabeça novamente. Ela enxugou o rosto com as costas das mãos e olhou-o.

– Eu não acredito em você – Ela respirou fundo – Eu quero entender o porquê de você estar assim, German.

– Eu não quero que você tente me entender. Mas se você quer tanto saber o que está acontecendo, pergunte ao seu tio ou ao seu irmão – E enquanto caminhou até a porta do quarto, para sair, disse: – Eu não tenho obrigação de esclarecer nada para você.

**

German caminhou, junto com Violetta, até o pátio do aeroporto. Angeles terminava de dar um abraço apertado em Jackeline, a qual deixava algumas lágrimas escorrerem pelo rosto. Violetta saiu correndo em direção à Angeles, ao que esta se abaixou e abriu os braços. As duas deram um abraço apertado e os olhos de Angeles lacrimejaram. Ela não conseguia parar de pensar que as coisas não deveriam acabar daquela forma.

Angeles afastou-se e depositou um beijo carinhoso na testa de Violetta. Em seguida, olhou através da garota e avistou German. Ele estava parado há uns dois metros de distância, com as mãos guardadas nos bolsos da calça social e um semblante sério. Se não fosse pela sua respiração pesada, qualquer um diria que ele estava indiferente à partida dela.

Angeles levantou-se e aproximou-se, devagar, de German, ao que ele engoliu em seco.

– Por que veio? – Ela sussurrou e deixou uma única lágrima escorrer.

– Eu vim trazer a Violetta – Ele murmurou seriamente.

– Só por isto? – Angeles insistiu. German pressionou os dentes e ficou quieto.

Ele não queria admitir que vê-la partir estava abrindo um buraco em seu coração. Ela respirou profundamente e diminuiu a distância aos poucos. Encostou a lateral da cabeça na lateral do rosto dele e fechou os olhos.

– Se tem algo que você queira me dizer... – Ela sussurrou – Algo que me faça ficar... Por favor, diga.

Aquilo o quebrou. German não soube o que responder e Angeles tomou isto como um “não tenho nada para dizer”. Ela abriu os olhos, que a essa altura já estavam encharcados, e deu um beijo demorado na bochecha de German. Ele cerrou os punhos, dentro dos bolsos, para tentar controlar a vontade de abraçá-la. Não deixava de se perguntar por quê estava deixando Angeles partir, mas aí lembrava da maldita foto que vira alguns dias antes.

Angeles afastou-se e lançou um último olhar. German evitou encará-la. Ela virou-se, deu um último tchau para todos e partiu. German acompanhou-a com os olhos até não avistá-la mais e, a cada passo que ela se afastava, ele sentia uma parte vital de si indo junto com ela. Pablo virou-se para ele e balançou a cabeça, depois saiu caminhando, seguido por Jackeline. Matias virou-se e olhou seriamente para German.

– Agora não, Matias – German murmurou. Matias bufou e afastou-se dele. German olhou para Violetta e abaixou-se. A garota chorava.

– Por que você deixou a Angie ir embora? – Violetta balbuciou.

– É complicado, Violetta – German sussurrou.

– Não é complicado – A garota falou alto – Você que complica as coisas – Ela fungou – Eu tenho 10 anos e consigo enxergar que você ama a Angie. Por que é tão difícil para você enxergar isto? – Ela bufou e afastou-se de German, indo em direção à Matias para que ele a levasse para casa.

German não foi atrás da garota. Ele ficou olhando vagamente para o chão. Estava sem forças. Só queria ir para casa e ficar sozinho. Agora sim, finalmente, ele poderia ficar em paz. Com Angeles longe, as coisas voltariam a ser como eram. Sua vida voltaria a ser vazia e se fecharia novamente. Era o que ele queria, não era?

(…)

German chegou em casa, jogou as chaves do carro em cima do aparador que ficava na sala e foi direto para a sacada. Ele repousou as mãos na borda da sacada e fechou os olhos. Um par de olhos verdes vieram à sua mente e, sem querer, ele sentiu uma palpitação no peito. Lembrou-se do beijo dela, do abraço, do carinho. Lembrou-se do fato dela ser a pessoa mais encantadora e doce que ele conheceu em toda a vida. Lembrou-se da forma carinhosa como ela o tratava, mesmo que ele fosse um cretino com ela. Mas a dor maior foi quando lembrou que Angeles é a irmã da mulher que ele mais odeia na face da terra.

German sabia que não podia culpar Angeles por tudo o que aconteceu, ele sabia que fora injusto com ela, só que ele não conseguia aceitar que ela fosse irmã de Maria e não interessava se era meio-irmã ou que Angeles nem a considerasse uma irmã. Toda a situação era inaceitável para ele. Era como se o destino estivesse brincando com ele ou se vingando por algo que ele fez de errado. Era como se uma força superior – que, inclusive, ele nem acreditava que existia – estivesse rindo da cara dele e dizendo: “você sofreu com uma e vai sofrer com a outra, vai se apaixonar pela irmã também, imbecil”.

– Pensei que não estivesse em casa – Matias murmurou. German sobressaltou-se, olhou-o rapidamente e voltou a ficar de costas para Matias – Você precisa aprender a trancar a porta da sua casa, German – Matias bufou e cruzou os braços – Eu deixei a Violetta na casa do seu pai. Ele vai levá-la de volta para a fazenda amanhã. Vão passar o resto do ano lá, até a poeira abaixar – Matias fez uma pausa e suspirou – Você conseguiu – Matias disse baixo – Montou um plano genial pra pegar um por um da quadrilha e está conseguindo manter a Angie segura – German virou o rosto e Matias pôde enxergar, um pouco, não mais aquele semblante indiferente e sim uma expressão sutil de sofrimento interno – É uma pena que para mantê-la segura, você tenha que mantê-la longe de você – German engoliu em seco e olhou para frente – Acha mesmo que tinha necessidade disto?

German virou-se e caminhou tranquilamente até a porta da sacada. Entrou no apartamento sem dizer nada e voltou, alguns segundos depois, com uma foto amassada na mão direita. Parou de frente para Matias e encarou-o seriamente. Entregou a foto alguns segundos depois. Matias pegou-a e olhou-a atentamente. Ele abriu a boca e franziu o cenho. Estava indignado e confuso.

– Como assim? – Sua voz saiu falhada.

– Maria é a irmã bastarda de Angeles – German murmurou sem vida.

– Angie nunca mencionou isto.

– Ela não sabia.

– Por isto que ela foi embora hoje? – German assentiu e virou-se. Caminhou até a borda da sacada e suspirou.

– Eu sei que – Ele começou baixo e devagar – ela não tem culpa por ser irmã da Maria. Eu sei que ela é o oposto daquela mulher, mas... – German fechou os olhos com força e cerrou os punhos – Eu não consigo suportar esse detalhe, Matias.

– É só um detalhe, German – Matias disse cautelosamente. German virou-se e bufou.

– Não é só um detalhe. Ela não é apenas Angeles. Ela é Angeles, irmã da Maria, a mulher que acabou com a minha vida há quase onze anos – Ele disse baixo e olhou para o chão – A raiva que eu sentia de Angeles no início faz todo o sentido agora. Talvez fosse um alerta, para que eu ficasse longe dela – Ele encarou Matias – Eu fui um tolo de novo.

– É diferente agora, German.

– Por quê?

– Não é óbvio? – Matias encolheu os ombros – A Angie jamais faria você sofrer – Matias suspirou – Você sabe disto, mas está com medo de aceitar – German pressionou os dentes.

– Você a conhece tão bem para saber que ela não é como a irmã dela?

– Você mesmo disse que sabe que ela não é como a Maria – Matias murmurou – German, ela já deu mil provas de que te ama – German abaixou a cabeça.

– Eu sei – Ele sussurrou.

– Mas agora é tarde – German encarou Matias e assentiu.

– É melhor assim.

**

Dois meses depois

Angeles estava sentada no sofá de seu pequeno apartamento em Paris quando ligou a televisão e colocou em um canal de notícias argentino da TV a cabo. A manchete dizia: “Após todos os envolvidos no caso Conti terem sido presos, advogado responsável se manifesta”. German fora abordado na saída do tribunal e respondia às perguntas vazias dos repórteres.

O caso está, de fato, finalizado, Sr. Castillo?

Sim, todos os envolvidos estão presos, inclusive o verdadeiro homem culpado pelo assassinato do sargento.

Então, Rafael Conti era mesmo inocente?

Sim.

Por onde anda a advogada que era responsável pelo caso? – German respirou fundo.

Angeles Saramego era o nome dela – Outro repórter interveio.

Ela se retirou do caso faz tempo e saiu do país – German murmurou.

Vocês fizeram um ótimo trabalho juntos. Sempre trabalharam juntos?

German entreabriu a boca e negou com a cabeça.

Foi o primeiro caso dela.

Então, o senhor foi o mentor dela neste caso?

Eu não fui nada dela – German respondeu quase sem vida e tentou se retirar – Eu não vou responder mais nada.

Angeles desligou a TV, levantou-se e caminhou até a janela. Seus olhos lacrimejaram e ela os fechou. Passou a imaginar como German estaria e, mais uma vez, sentiu aquela dor da saudade no peito. Independente de qualquer coisa, ela sentia falta dele e tinha certeza de que o amaria para sempre.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí?