Andava pelos imensos e infindáveis corredores do palácio; aqueles passos curtos, lentos e delicados, com toda a sutileza que cabia àquela princesa, que já não mais queria ser princesa, só queria ser mulher. Andava pelos corredores escuros banhados pela negritude da noite, e embora houvesse uma lua brilhando no céu, para ela aquela não era a mesma lua, não havia mais o mesmo brilho. Porque seus olhos haviam perdido um pouco a vivacidade, ela própria havia perdido um pouco de tudo e um pouco de si mesma. Não é que tivesse se apagado, ela só não sentia mais nada. Apenas não sentia. E depois de inúmeros e incontáveis passos ela chegaria ao imenso jardim, onde viveria as memórias. Onde inventaria e viveria mais uma vez.

E essa era uma rotina vivenciada por ela durante um bom tempo, que ela não saberia dizer por que achou melhor não contar. A solidão rasgava por dentro. A saudade corroía a alma. Aquela angustia que se apossava de seu ser por noites. E era tudo durante a noite. Porque a noite a lembrava dele.

Kougyoku era uma princesa ilegítima, uma princesa solitária e interiorizada demais. Era uma princesa triste, sempre fora. Sua vida inteira vinha sendo uma farsa. Judal havia sido a primeira pessoa que ela considerou um amigo. Por tanto tempo, por tantos anos. E por mais que ele dissesse que não queria ser seu amigo, ele o era. Involuntariamente. Inevitavelmente.

Ela sentia tanto a falta daquele Magi... Porque ela havia perdido muito mais que um amigo. Perdera seu melhor amigo, sua paixão, seu amante. Perdera seu amor. Kougyoku o amava tanto, tanto, tanto... Amor... Haveria definição para tal palavra? Nunca haveria, pois não é apenas uma palavra, é um sentimento e sentimentos não são definidos, são sentidos, vividos e explorados profundamente.

E amor era o que eles sentiam um pelo outro. Porque se aceitavam por inteiro e se completavam plenamente.

Mas não era mais assim. Ela agora vivia apenas das lembranças tão carinhosamente guardadas. Lembranças que revivia todas as noites em silêncio, às vezes no jardim, às vezes em seu quarto. Até que um dia não aguentasse mais. Se cansasse e se entregasse. Ao quê? Talvez ela ainda não soubesse. Mas saberia.

E ela não aguentaria mais. Era doloroso demais. Estava tudo tão vazio. Tudo tão distante. Tudo tão apagado. Não poder vê-lo, não poder senti-lo. Sentia tanto a falta daqueles cabelos negros como a noite. Viver sem poder olhar aqueles olhos tão vivamente vermelhos era doloroso demais. Sabia que não aguentaria muito tempo. Talvez ele não esperasse por isso e pensasse que ela seguiria normalmente. Mas sabia ser impossível e sabia que isso iria acontecer. E ela sempre soube que achar um outro amor era inviável.

Ela então pediria para a criatura que corria por suas veias, que lhe tirasse aquela dor e que a levasse. Sempre soube que seria levada pelos braços do oceano, imenso, lindo, eterno e profundo. E então ela estava afundando, nas profundezas do oceano. Ela não estava desistindo. Ela só estava se entregando.

Porque no silêncio; aquele silêncio de tudo, de si, de alma e de coração, ela sussurrava sozinha, pedido para que pudesse ser tocada.

- Dê-me toque.

Mas ele não daria. Nunca. Porque ele já não estava mais ali.