Subversão escrita por Queeny


Capítulo 1
Um novo mundo


Notas iniciais do capítulo

Bom, aqui vai o primeiro cap, o pilot, a base, o beta, o teste, espero que gostem e que comentem! É a partir desse que vou saber se continuo ou não a fic
Enjoy xx.



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Sempre quis ver o mar...

Ouvir o barulho das ondas, sentir a macies da areia, a brisa fria do vento... Mas nunca fui permitida.

Meu pai nunca foi um cara muito liberal. Na realidade era difícil receber uma resposta positiva dele em relação às coisas, principalmente se o que eu pedia tinha relação a sair de casa.

Eu vivi presa. Vivi presa pelo medo, um medo que não era meu.

Edward Red, o mundialmente conhecido cientista, meu pai.

As maiores descobertas da medicina dos últimos vinte anos foram feitas por ele próprio ou baseadas em suas pesquisas, sempre tive orgulho dele por isso, mesmo que seu conhecimento fosse o motivo do meu confinamento.

Quanto eu tinha oito anos, estávamos passeando num parque, eu minha mãe e meu pai. Fazíamos isso com frequência naquela época, simplesmente sair de casa de mãos dadas e caminharmos naquele pequeno e verde lugar. Na maior parte do tempo ficávamos em silêncio, um silêncio continuo que se estendia por toda a caminhada, mas que não era incomodo nada incomodo. A paz daquele momento era inigualável, eras as melhores horas da minha semana, observar as árvores, a tranquilidade que aquele lugar me transpassava, eu amava aquela sensação.

Eu estava no meio naquela tarde, meu pai à direita e minha mãe à esquerda, cada qual segurando uma mão minha, enquanto eu pisava pedra por pedra, atenta na trilha que se formava a minha frente. O Silêncio costumeiro e os sorrisos sutis no rosto tanto de meu pai quanto de minha mãe me faziam sorrir também. Mas naquele dia a paz durou pouco.

Um barulho alto, mas próximo, foi o que consegui ouvir, forte o bastante para que eu desse um pulo e procurasse com os olhos o que havia causado aquele estrondo. Primeiro levei meus olhos para cima, observando minha mãe, seus olhos estavam perdidos olhando pra frente, sua boca levemente aberta e seus olhos úmidos, algumas lagrimas escorrendo por sua bochecha, sua mãe apertou mais a minha, abaixei meu olhar até seu tórax, deixando meus olhos se arregalarem e minha respiração se prender.

Sangue manchava a regata branca de minha mãe.

Virei meu rosto para meu pai, vendo-o com uma expressão quase indecifrável, uma mistura de dor e surpresa, ele soltou minha mão, indo até minha mãe e segurando-a pelos ombros enquanto seu corpo ameaçava cair. Ele chorava.

Os olhos de minha mãe estavam vazios, ela não me movia o aperto em minha mão já não existia, sua mão havia escorregado há alguns segundos, caindo ao lado de seu corpo. Ela estava morta, eu sabia disso, mas meu pai parecia não querer acreditar.

Mais um estrondo, bem próximo dali, meu coração batia forte, mas eu não conseguia expressão o que sentia. Meu pai apertava minha mãe em seus braços, como se tentasse faze-la acordar de alguma forma.

Eu sabia o que estava acontecendo a minha volta, mas não tinha a menor ideia de como lidar com aquilo.

Eu chamava meu pai, tentando atrair sua atenção, queria sair dali. Algumas lagrimas acumuladas em meu olho, elas iriam cair, era questão de tempo pra que isso acontecesse. Outro barulho chegou aos meus ouvidos, juntamente com uma dor latejante no braço esquerdo. Levei minha mão livre até onde eu sentia o queimar torturante, e assim que toquei o lugar um baixo grunhido de dor se soltou de minha boca, enquanto eu observava o sangue que pintava meus dedos. Um soluço se soltou da minha garganta e foi só nesse momento que consegui perceber que estava chorando, meu pai pareceu sair de seu transe e me encarrar, sem acreditar no que acontecia a sua volta. Com um último beijo na testa de minha mãe, ele me pegou no colo e saiu correndo ali, em direção ao hospital mais próximo. Ele chorava, chorava como se seu mundo tivesse acabado.

Depois daquele dia eu nunca mais o vi soltar uma lágrima se quer, assim como eu jamais pisei naquele lugar novamente, ou pra qualquer lugar que fosse fora de minha casa.

Eu perguntava frequentemente o motivo de ter que ficar em casa diariamente, de nunca mais poder sair, só fui entender o motivo realmente dois anos depois, quando meus olhos se abriram e eu pude realmente ver o que meu pai representava a sociedade.

Ao mesmo tempo em que ser um gênio lhe trazia respeito, também lhe trazia ódio.

Com suas descobertas, diversos outros cientistas acabaram perdendo prestigio, o poder é algo que quando se tem uma vez, jamais quer perder, e quando meu pai o conseguiu, a raiva e a inveja que persistiam no coração de outros, os fizeram realizar atos de vingança impiedosos e cruéis. Tais como o assassinato de minha mãe... E a tentativa do meu assassinato.

Passei a ter aulas particulares, com professores selecionados a dedo por meu pai. Em hipótese alguma ele me deixava deixar a casa, mas na realidade, eu nunca reclamei com ele, ou lutei pelo contrário.

Só me recordo de ter saído de casa uma vez depois daquilo. Era uma tarde chuvosa em meadas de setembro há uns três anos atrás, eu tinha quatorze anos na época. Meu pai não estava em casa, havia saído para uma reunião rápida numa cidade próxima, jamais me deixava por muito tempo. Uma das empregadas, Lia, precisava sair por algum motivo.

Ela precisava que Josh a levasse, ele era meu guarda-costas, melhor qualificado como uma babá, ou simplesmente um olheiro, meu pai mantinha ele na minha porta, talvez pra simplesmente saber que eu me manteria lá dentro.

Eles precisavam sair, mas não podiam me deixar sozinha, então me levaram junto.

– Não conte pro seu pai, querida. Ele não pode saber!

Lembro-me de Lia insistindo enquanto segurava meus ombros com certa força.

Fomos até um supermercado pequeno perto de casa, num carro preto e comprido. Eu usava uma calça jeans azul, uma blusa num tom azul claro e uma jaqueta de moletom cinza escura, todos alguns números maiores que os meus, meu pai nunca comprava roupas do tamanho certo pra que eu usasse, na verdade todas costumavam ter as mesmas cores e modelos, não havia muita necessidade pra roupas bonitas, ninguém as veria, de qualquer maneira.

O capuz cobria meu cabelo e parte de meu rosto, que eu mantinha abaixado por um pedido de Josh, “pra que não lhe reconheçam” dizia ele.

Lembro-me de ficar observando a sessão de doces, enquanto Lia se perdida pelos corredores da loja. Três amigos entraram ali, duas garotas e um menino, eles pareciam ter a mesma idade que eu, riam de algo e caminhavam até onde eu estava. Encolhi um pouco os ombros, abaixando a cabeça ainda mais, enquanto um deles me pedia licença para poder um dos pacotes de bolacha. Sua voz não era grossa nem fina, era um meio termo engraçado, ele tentou observar meu rosto, mas eu o escondia bem atrás dos fios que caiam rebeldes em sua frente.

Eles continuam a escolher seus doces enquanto Josh se aproximava de mim, passando um dos braços por meus ombros, me puxando para longe dali. Eu lancei um último olhar á aqueles três antes de sair do mercado de volta para o carro.

Meu pai jamais descobriu nada, e eu também nunca mais consegui sair.

Permaneci assim, confinada, durante oito longos anos, aprendendo, e observando meu pai trabalhar, numa rotina comum e monótona.

Isso pelo menos até a infestação.

Quando o ataque começou, dois anos atrás, e as pessoas começaram a se tornar... Mortas, eu pensei que poderia sair dali, mas não foi bem assim.

Meu pai nós levou em um carro blindado até uma grande cúpula de aço exilada da cidade, no meio do nada.

Aquele seria minha nova casa, minha nova prisão. Éramos eu, papai, e mais dezoito funcionários que o auxiliavam no transporte dos remédios da cúpula para o lado de fora, e em sua fabricação. A cúpula era trancada por dentro, e só por dentro podia ser aberta e fechada. Não havia qualquer outra entrada ou saída. Nenhuma.

Até uns dias atrás pensei que jamais sairia dali, mas algumas horas mais cedo, minha vida inteira foi revirada. Porque de um algum modo, quando a maioria dos funcionários estava fora entregando os remédios, eles entraram na cúpula, eles atacaram o laboratório.

Eles mataram meu pai. E eu não fiquei pra olhar. Pelo menos não até o fim.

Corri com toda a agilidade que eu conseguia, meu coração parecia sair do meu peito, a cena de ver meu pai sendo completamente devorado por criaturas não era lá uma cena muito agradável. Esgueirei-me entre os moveis, me escondendo o máximo que eu podia, até então me dando bem, mas quando estava quase chegando à porta de segurança, sentindo meu pé ser pego por algo. Virei meu rosto num desespero arrebatador, reparando no morto que o segurava, fechei os olhos chutando seu rosto com força, duas, três vezes, até senti-lo quebrar e meu pé entrar em sua face, tirei-o dali, me levantando e com presa saindo dali, escorregando um pouco pelo que restava na sola do meu sapato um tipo de gosma misturada com sangue. Eu me sentia enojada, desesperada. Abri a sala secreta com dificuldade, entrando na mesma e me fechando ali. Eu sabia que estaria segura, mas ainda sim não conseguia me tranquilizar.

Fiquei lá por aproximadamente umas doze horas. Meu corpo formigava, meu sapato fedia a morte, meus olhos ardiam, minha cabeça latejava, eu não sabia o que estava me mantendo consciente. Até ouvir batidas na porta, insistentes batidas.

Eu queria me proteger, tentar me mover, encolher minhas pernas e me esconder do que poderia atravessar aquela porta, mas eu não tinha forças pra isso. Quando a mesma se abriu, o que me atingiu não foi a agressividade e podridão que eu esperava e sim luzes que chegavam meus olhos semicerrados, me fazendo pisca-los diversas vezes, até me acostumar. Eram homens, no mínimo oito com armas apontadas na minha direção.

Eu pensei que eles me matariam, mas ao invés disso, pude sentir um liquido insípido e gelado nos meus lábios, os abri imediatamente, permitindo que a água entrasse por minha garganta, segurei a garrafa com minhas mãos, tomando quase toda a água dali, tossindo duas vezes logo em seguida, permitindo olhar para cada um dos homens que ali se encontravam.

– Ela deve ter ficado aqui por um bom tempo... – um deles comentou enquanto se aproximava, passando o braço por meu corpo, me puxando para cima, fazendo-me ficar de pé.

Ele me segurava com força, parecia saber que se me soltasse eu cairia.

Eles me levaram até um carro grande, fora da cúpula. A noite era fria e a chuva caia impacientemente.

Fiquei no banco de trás, observando as imagens que passavam pela janela do carro, uma seguida da outra, a imensidão vazia e abandonada, mas mesmo assim, eu não deixei de ficar impressionada com tudo aquilo, depois de tanto tempo presa naquele lugar, eu acabei me esquecendo de como a lua era bonita, de como a brisa da noite era boa, de como as gotas de chuva na pele eram gélidas. Fechei meus olhos, deixando-me perder em pensamentos.

Meu pai foi morto.

Foi à primeira coisa que eu me permiti pensar.

Eu estou livre.

Um suspiro baixo foi liberado com esse pensamento, enquanto abria meus olhos novamente.

Meu pai foi assassinado na cúpula.

O pensamento volta, se fazendo engolir a seco enquanto algo importante me voltada à mente.

A cúpula só se abria por dentro... Foi alguém do laboratório que abriu a porta.

Nessa hora, sou interrompida dos meus próprios devaneios por um homem que segura meus ombros e me puxa para fora do carro, saio obedientemente, como sempre fiz em toda minha vida, sendo recebida pelas fortes gotas de chuva. Eu já me encontrava completamente encharcada.

Entramos por duas grandes portas, guardadas por dois homens altos e fortes, que me encararam com atenção quando passamos, seguindo direto a um longo corredor. Ao fim dele, havia uma larga escada, da qual descemos, entrando num tipo de saguão com diversas pessoas bebendo, rindo e conversando entre si.

– Phil – chamou o homem ao meu lado. Um loiro, alto se colocou a nossa frente, seus olhos azuis eram atenciosos e preocupados.

– Onde a encontrou? – perguntou colocando as mãos em meus ombros, como gesto de carinho. Não me movi.

– Na cúpula – informou, pude perceber e mudança na expressão de Phil que se tornou quase desesperada.

– Por deus – murmurou abaixando um pouco pra me encarar – Você está bem? – ele perguntou encarando meus olhos. Fiz que sim com a cabeça depois de algum tempo em silencio, recebendo um “ótimo” baixo em resposta. Ele então voltou a ficar ereto, procurando com os olhos algo no salão. – Blake! – gritou o homem, atraindo a atenção de um dos garotos no canto do lugar, ele conversava rindo com mais dois homens, com um copo em mãos, quando ouviu seu nome ser chamado, deixou o copo em cima de umas das mesas dali e caminhou em nossa direção. Ele era forte, seu cabelo era castanho assim como seus olhos, usava uma blusa verde e uma jeans surrada, mantinha as mãos nos bolsos da calça ao se aproximar, era bonito, tão alto quanto Phil.

– Phil – cumprimentou com uma reverencia de cabeça.

– Preciso que pegue algumas roupas limpas e leve-a até o banheiro feminino, depois procure um quarto pra que ela possa se acomodar, sim? – disse encarando o garoto, que levantou uma das sobrancelhas, confuso.

– Porque eu faria isso? Quem é ela? – ele perguntou frio, mantendo o olhar desconfiado.

– Isso não importa, vai fazer porque eu mandei e porque você agora será o responsável por ela, entendido? – ele falou dessa vez mais autoritário, enquanto eu observava atenta as feições de ambos os homens dali.

– Eu o que? Espere ai, você pode fazer isso? – ele parecia nervoso.

– Eu já fiz – afirmou simplesmente com um sorriso no rosto. O moreno pigarreou, travando o maxilar.

– Eu não quero – insistiu, cruzando os braços em frente ao tórax.

– Você não tem escolha. – Phil concluiu. O garoto levou a mão até sua nuca, coçando-a em nervosismo, era obvio em seu olhar sua irritação.

– Posso pelo menos saber o nome da garota? – perguntou encarando o superior com certa raiva, dizendo com puro desdém o “garota”, como se eu fosse algum bicho desprezível, ou algo do tipo.

Phil esticou sua mão em minha direção, como se pedisse para que eu me aproximasse, assim fiz, levantando levemente minha cabeça, mas não muito.

– Qual seu nome, loirinha? – perguntou suave, com a mão espalmada no meio das minhas costas. O moreno que antes não me encarava, agora fazia seu olhar pesar sobre mim, como se me analisasse enquanto esperava uma resposta.

Eu não sabia o que fazer, queria dormir um pouco, queria comer, mas principalmente queria permanecer em silêncio, mas como sempre, eu acabo obedecendo.

Eu sempre obedeço.

– Mercy – sussurrei engolindo a seco, logo em seguida declarando um pouco mais alto. – Mercy Red.


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Notas finais do capítulo

Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=-M0FPP9Mkdg
E ai? Merece continuar?