Segredos de um passado obscuro escrita por Bianca Romanoff


Capítulo 3
De volta à escola?


Notas iniciais do capítulo

O capítulo foi maior, e os dois já começaram a se tocar que se gostam... Espero que gostem!



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– Natasha, acorde! Está tudo bem, Natasha!
Acordo com um sobressalto, estou tremendo, e minha respiração está desritmada. Respiro fundo e espero meu pulso desacelerar, e vejo que Steve está na beirada da cama, segurando meus braços e me encarando.
– O que houve com você? Estava suando frio e se debatendo. - Steve exclamou. Ele parecia nervoso e preocupado.
Eu não podia contar a ele sobre meu sonho.
A partir daquele dia, eu não era simplesmente a Natasha Romanoff. Eu era a Viúva Negra. Ganhei poderes sobrenaturais naqueles experimentos, o suficiente para conseguir me libertar. Mas também ganhei traumas mentais que me fizeram uma pessoa horrível por anos e anos. Por isso a S.H.I.E.L.D mandara o agente Barton me matar, mas ele tomara uma outra decisão.
Me sinto um pouco mal pela briga com Clint, mas nunca realmente namoramos, e os ciúmes dele eram ridículos.
– Foi só um sonho ruim. - o que não é de todo mentira, mas prefiro não detalhar.
– Quer falar sobre isso? - as mãos que antes apertavam meus braços suavizam, até parecer uma carícia, o que me espanta um pouco.
– Na verdade não. Por que não voltamos a dormir?
Steve deve perceber meu nervosismo, porque não parece convencido, mas levanta-se mesmo assim. Nos deitamos de frente um para o outro, ambos nem piscam. A distância entre nós é curta, mas não me sinto mais desconfortável, na verdade, me sinto protegida.
– Não está com sono? - sussurro.
– Nem um pouco, e você?
Nego com a cabeça. Toda vontade dormir se esvaiu no momento em que fui obrigada a reviver aqueles momentos terríveis do meu passado.
– Quer dar uma volta? - ele indaga, já se levantando e colocando a jaqueta de couro.
Me coloco de pé também, e o sigo porta afora. O ar frio é cortante, e imediatamente me arrependo de não ter pego um casaco. Steve e eu rondamos o jardim da pousada, um silêncio avassalador entre nós. Em determinados momentos nossas mãos se encontram no pequeno espaço entre nós. E sou sempre eu quem desvio o toque.
– Clint a visitou? - ele pergunta, e desejo que ele tivesse continuado calado. Mas decido não mentir, porque Steve era meu amigo afinal de contas.
– Sim.
– E como foi? - ele sorri.
– Terminamos. Se é que ainda tínhamos alguma coisa.
– O quê? Por que?
– Acho que eu não sou o tipo de pessoa que tem relacionamentos, não ligo para essas coisas, e ele estava bravo comigo por causa de coisas bobas.
– Acho que você só finge não sentir, mas por dentro está mal. Vocês eram muito próximos.
Reviro os olhos. Não, eu não estou mal por causa dele. Decido mudar de assunto:
– E quanto a enfermeira? Ligou para ela?
– Não exatamente. A propósito, andei pensando, acho que ela não faz meu tipo.
– Ah, Capitão, ninguém faz seu tipo. Exceto uma idosa. - Steve engole em seco, e me sinto insensível demais ao comentar isso. - Me desculpe, eu...
– Não, esqueça isso. - fico feliz de ele não se ofender, e me pergunto quão incrível era essa garota que fascinou tanto o Capitão.
Eu afirmo com a cabeça, e Steve escorrega para o banco na varanda perto da recepção, eu me sento ao seu lado e cruzo os braços.
– Posso fazer uma pergunta? - Steve concorda com a cabeça, e eu prossigo. - Viu algo sobre mim na Internet?
– Sabe que não sou a pessoa mais atualizada. - ele ironiza. - Mas não pesquisei. Se você não me contou é porque não confia em mim o suficiente para contar, e não vou violar sua privacidade.
– É muito gentil da sua parte, mas eu não confio em ninguém.
Eu não queria que ele descobrisse sobre os horrores que fiz, não queria que ele descobrisse quem eu realmente era. Porque eu gostava de escolher quem eu seria, e não... Ser essa pessoa. É complicado, eu sei, mas digamos que eu sempre vivia atrás de máscaras que eu acreditava serem adequadas.
– Deve ser difícil viver assim. Pelo menos, é o que eu acredito. As pessoas me ensinaram a dividir, nunca a viver recluso. - ele comenta, virando o rosto para mim e dando um sorriso de canto. Me sinto tentada a sorrir de volta.
– Vivemos em mundos totalmente diferentes. - retruco.
– Não mais.
Agora eu não tenho respostas. Nossas maneiras de pensar e agir eram completamente opostas: Steve com seu jeito de cavalheiro, gentil e altruísta, e eu, egoísta e fechada.
Nós dois ficamos calados e observamos as poucas estrelas no céu. Jogamos conversa fora depois disso, mas com um clima estranho entre nós. E depois vamos dormir.
Tomamos café da manhã rapidamente e pagamos a estadia praticamente já dentro do carro. Desta vez eu dirijo, e Sam vai atrás, dormindo o caminho todo.
– Qual é nossa próxima parada? - pergunto, enquanto percebo que o ponto que indica o soldado não se apresenta mais em Michigan, e sim em Indiana.
– Pelo que vejo Bucky está se movimentando muito lentamente, o que é bom. Estamos saindo da Pensylvania, e estaremos em Indiana até o fim do dia, então acho que podemos parar por lá mesmo.
...
Estamos mantendo um ritmo tranquilo quando o monitor do GPS começa a apitar e relusir.
– O que é isso? - Steve pergunta, e eu encosto o veículo para pegar o aparelho.
– Espere um pouco. - eu digo, enquanto vejo o que está acontecendo. De repente, escutamos a voz de Tony Stark saindo do GPS:
– O cara está em uma escola!
– Tony? - Sam pergunta.
– Sim, sou eu. A propósito, como está meu carro?
– Não interessa. - replico. - Quem está na escola?
– O homem que vocês procuram, o Soldado.
– Por que ele estaria numa escola? - Sam pergunta. - Decidiu voltar as aulas de filosofia e se tornar uma pessoa melhor?
Lanço um olhar reprovador a ele.
– Não tenho ideia, mas vou enviar o endereço para vocês. - assim, Tony desliga.
– Então, seu amigo gostava mesmo de estudar, hein? - Sam chalaceou, e Steve até se permite sorrir um pouco.
Logo depois, um endereço aparece na nossa tela, e eu sigo direto para ele.
...
– Já está tarde, e estamos andando em círculos! - reclamo pela milésima vez. - Vamos parar, e amanhã cedo chegamos à escola.
– Só dirige, Natasha. Estamos quase lá. - Steve responde.
Reviro os olhos e acelero. Já estamos na cidade, e são nove horas, então a maioria dos restaurantes estão abertos, e minha barriga protesta cada vez que passamos por um. Sigo o que o GPS está mandando, e acabo entrando numa rua sem saída. Há um portão com grades de ferro e paredes de tijolos vermelhos que me é muito familiar.
Colégio Abbey Kurt.
– Chegamos! - exclamo.
– Espere, viemos para uma escola às nove da noite? - Sam pergunta, e só então percebo quão estúpido foi isso.
– É um internato. - Steve fala. - Vamos apenas encontrar Bucky e ir embora.
– E qual é seu plano brilhante para fazer isso dentro de uma escola repleta de crianças e seguranças que não nos deixarão entrar? - pergunto, sarcástica.
Ele não responde, mas não posso fazer nada agora, porque já tem um segurança apontando uma lanterna para nós e perguntando o que estamos fazendo lá.
– Escute, somos da polícia, e estamos procurando por esse cara aqui. - Steve diz, mostrando uma foto ao homem. Estremeço, ele não é muito bom em mentiras, devia ter deixado comigo.
– E por que vieram procurar aqui?
– Bem... O rastreamos até aqui. - tenho vontade interferir, mas decido confiar em Steve.
– Posso ver seu distintivo?
Eu pego o distintivo falso do FBI que tenho e mostro-o ao segurança, que abre os portões, relutante. Eu e Steve trocamos um olhar e ele me agradece com um gesto.
– Vou chamar o diretor.
– Não precisa, só queremos... - tento falar, mas ele já está longe.
O diretor não parece muito satisfeito em nos atender, e uma fila de adolescentes já se formou atrás dele, olhando para nós como se fôssemos objetos curiosos a serem estudados. Alguns são mais velhos, e só então percebo que não é só um internato, mas um orfanato. Já fiquei em muitos, e sei que aqueles são os que escolheram ficar e trabalhar ali mesmo. Como eu nunca fiz.
– Não o vi por aqui, mas podem ficar se quiserem, e interrogar quem tiverem que interrogar. Se quiserem dar uma olhada nas fichas, é só dizerem o nome dele. - o diretor diz, cansado. - Você me é familiar. - ele aponta um dedo para mim.
Eu sei. É porque eu já estive aqui. As memórias retornam e, então, eu me lembro. Eu estudei aqui, depois de ser pega pelo governo. Eu fui expulsa por delitos graves. Fui expulsa por algo realmente ruim, só não consigo me lembrar exatamente do quê... Mas sei que quero sair dali, quero correr para longe e apagar este momento da minha memória. E se alguém se lembrar e contar a Steve?
Realmente não quero que Steve saiba que eu era uma pessoa ruim. Ele é importante para mim e não quero perdê-lo, por mais difícil que seja admitir isso. Mas decido agir naturalmente, já passei por situações como essa:
– Eu estudei aqui. - respondo, e Steve me lança um olhar curioso. - Há alguns anos.
– Ah, qual é seu nome?
Se eu disser, ele vai me expulsar novamente?
– Natalie Clark. - minto perfeitamente. Steve contorce a boca, como se não gostasse da ideia de contar muitas mentiras.
– Bem, não me lembro, mas seja bem-vinda. Vocês pretendem pegar o homem agora ou vão passar a noite aqui e resolver isso amanhã? Porque devo dizer que já está mais que na hora de essas crianças irem para a cama.
– Tudo bem, sem pressa. - Steve diz, e eu congelo. Na verdade, prefiro que tenhamos o máximo de pressa.
Quando estamos seguindo-o para os dormitórios, e sendo seguidos pelas crianças, Steve sussurra para mim:
– Se ele checar os registros vai descobrir que você não estudou aqui.
– Eu estudei. Só não me chamava Clark. Ou Natalie.
Ele revira os olhos.
– Vai dar tudo certo, só vamos pegar o cara e podemos dar o fora ainda hoje.
Pelo menos, eu esperava que pudêssemos. As memórias que este lugar me traziam não eram boas. Na verdade, ultimamente, eu me sentia cercada de memórias que queria simplesmente apagar.
Mas as coisas estão apenas piorando, constato quando vejo uma garota parada bem na porta do dormitório ao lado do que me foi entregue. Ela não tem mais que 16 anos, mas seus olhos me são muito familiares. Seus cabelos loiros e compridos e sua pele clara... E seu olhar para mim é mortal, como se estivesse me torturando mentalmente. Desvio o olhar e entro no quarto rapidamente, me perguntando se aquilo foi obra da minha imaginação, e me deparo com algo ainda pior.


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Notas finais do capítulo

Eu sei que foi uma coisa meio estranha eles irem parar num colégio, mas isso faz parte do passado da Natasha, e vai ajudar o Steve a descobrir mais. Enfim, espero que tenham gostado. Comentem e façam uma autora feliz ;)