Through Window escrita por Nat


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

OLÁ DE NOVO!
Quem talvez acompanhe a categoria Os Vingadores, provavelmente viu minha one "É, vai ser divertido..." por lá. É, amiguinhos, estou navegando outros mares agora. Mas PJO sempre!
Tenho várias ones perdidas aqui no notebook e pensei "porque não? Eu não ganho reviews por deixar elas paradas" e resolvi postar algumas.
Talvez eu poste uma Tratie no domingo ou na segunda (COMEMOREM TRATIE SHIPPERS)!
Eu tinha essa one guardada a bastante tempo aqui e gostava bastante dela, porque é o shipp com o Nico que mais gosto! E como é uma história de um shipp novo, é meio longuinha. Ela acontece com o decorrer dos dias.
Boa leituraaaa!



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Ajoelhei-me atrás de um arbusto, como um ninja. Olhei através das folhas.

O soar da concha já havia tocado tinha uns cinco minutos. Semideuses se dirigiam aos seus respectivos chalés, porque ninguém curtia a ideia de ser comido por uma harpia.

Percy e Annabeth se despediam na frente do chalé 6. Eles sorriram um para o outro, como se não houvesse mais ninguém, e desse mesmo modo, se beijaram. Era carinhoso, amoroso e todas essas melosidades.

Fechei os olhos. Porque eu só me machucava mais?

Fui sorrateiro até a sombra mais próxima. A atravessei e cheguei numa árvore do lado do meu chalé. Corri até a porta e me joguei dentro do chalé.

Fui até o banheiro. Apoiei as mãos na pia e me encarei no espelho.

Veio tudo na minha cabeça e eu me senti nauseado. Meu estomago embrulhou.

Levantei a tampa do vaso e coloquei todo o meu jantar pra fora.

Eu me odeio. Na verdade, eu tenho um sentimento de repulsa, nojo, raiva e desprezo muito grande por mim mesmo e eu queria que esse sentimento tivesse nome. Talvez os alemães tenham alguma palavra para isso...

Eu vou fazer a coisa mais estúpida da minha vida. Apenas deixando claro como a água que eu sei que o que eu vou fazer agora é muito idiota. Tipo, eu, teoricamente, “li e aceitei os termos de uso”.

E a desculpa que do “eu estava passando por ali” não vai colar. Não. Nem um pouco.

Ajeitei o capuz, correndo e entrando em sombras. Só porque sou um panaca não quer dizer que quero ser um lanche noturno para alguma daquelas galinhas idiotas.

Sai de uma sombra e me escondi atrás do chalé 6. Subi a parece me segurando na beirada da janela. Olhei diretamente para seu beliche. Vazio.

Puta merda.

Pulei e coloquei as mãos nos bolsos do casaco, pensando. Ela só podia estar no chalé 3. Mas será que o que visse lá não me machucaria mais?

Foda-se, nem sei se ainda tenho coração para quebrar. Porque era esse órgão vital filho da puta — não tecnicamente — que me fazia me apaixonar por Annabeth. A namorada do meu primo. A mulher da vida dele. Não minha.

Que Hades Afrodite andava fazendo?

Ok, muitos deuses numa frase só.

Tirei as mãos dos bolsos e corri para a sombra mais próxima, imaginando meu destino de olhos fechados. Abri os olhos e olhei para o chão. Areia.

Eu me encontrava a dez metros atrás do chalé 3, no meio da praia, os meus All Stars surrados cobertos de areia e um vento desgraçado. Puta que pariu.

Corri cansado para trás do chalé com o vento jogando cabelo no meu olho. Como se não bastasse a areia e o cansaço...

Joguei-me no chão ofegante, apoiando as costas na parede. O céu estava escuro e não havia lua, só as estrelas. Conferi algumas constelações escutando o barulho das ondas revoltas. Na verdade, estava tomando coragem para o que estava por vir. Até porque aquilo não era nem um pouco certo. E nem sensato. Nem digno.

Tudo bem, chega.

Escondi o rosto com as mãos, querendo arrancar meus olhos.

Ok, Nico. É isso que você quer fazer?

É.

Responda como homem!

Eu quero fazer essa merda!

Então vai fazer essa merda, seu bichinha!

Tá bom. Vamos nessa.

Levantei, limpando as calças.

O chalé de Percy era mais baixo que o de Annabeth, então eu não precisava me pendurar nas janelas como um macaco.

A janela estava fechada, mas as cortinas estavam praticamente escancaradas. Fácil.

E a visão que eu estava tendo era a melhor de toda minha vida — tirando o Percy.

Era uma clara demonstração de quem mandava na relação. Annabeth estava em cima, cavalgando, com os cabelos grudando na testa. Percy agarrava a bunda dela com uma mão e com a outra o peito dela, parecendo gostar bastante disso.

Não consegui conter o gemido.

Mas no mesmo instante, me abaixei, quase dando de cara no chão. Que merda, cara. O que eu estava fazendo mesmo?

Olhei para baixo e vi um volume anormal na jeans preta. Eu sei, amigo. Te compreendo.

Tentei ajeitá-lo com uma mão, olhando pela janela, agachado. A cena continuava do outro lado. Eles não tinham me ouvido, legal. Sou um ninja.

Agora, Percy lambia os peitos dela e Annabeth jogava a cabeça pra trás, puxando a cabeça de Percy contra si. Ela subia e descia, já no embalo. Os dois gemiam e aquilo era melhor que qualquer dança que eu já vi.

Meu pau doía dentro da calça. Apoiei-me na parede do lado da janela, vendo se tinha algum jeito de alguém me ver. Havia algumas árvores que me escondiam e sombras a dois passos de mim.

Abri o fecho da jeans, de olhos fechados. Olhei para baixo e o volume não se rendia. Abaixei a cueca com a ponta dos dedos, como se qualquer contato comigo, me fizesse pegar uma doença.

Peguei nele com a mão direita, me arrepiando com minha mão gelada.

Eu não era muito de fazer isso. Não que eu não gostasse, mas eu não tinha tempo e nem cabeça. Sempre do Mundo Inferior para o Acampamento, do Acampamento para o Mundo Inferior. O Acampamento cheio de semideuses, os chalés sempre batendo boca uns com outros. O Mundo Inferior sempre atolado, meu pai frustrado com todas aquelas almas desesperadas. Os dois lugares sempre com brigas, discussões. Eu passava tanto tempo pensando em problema alheio que eu esquecia até de bater punheta.

Olhei para os lados, garantindo que não havia ninguém lá. Ok. Voltei os olhos para dentro do chalé. A cena havia mudado. Annabeth agora estava de quatro, os olhos fechados e as sobrancelhas franzidas. Percy metia por trás rápido, batendo com força na bunda dela. Ela parecia gostar e ele mais ainda.

Subi e desci a mãe lentamente, aumentando a velocidade devagar, gemendo de vez em quando. Mantive o ritmo, olhando pela janela até que parei pra pensar. Aquilo era errado.

Muito errado.

Por que eu estou pensando mesmo?

Continuei me masturbando, vendo Annabeth e Percy treparem loucamente (tipo, eles não cansam? Espero que não). Sentia algo dentro de mim se agitar, algo perto da boca do estômago. Uma sensação meio ruim, mas não liguei.

Até que gemi alto demais. Os dois pararam e olharam na janela. Não sei se me viram, só sei que enfiei meu pau pra dentro da cueca e fechei a calça o mais rápido possível (tudo isso estando agachado), correndo na direção de uma sombra.

Abri meus olhos e estava no meu chalé. No meio dele, onde não havia sombra nenhuma, mas ok. Respirei fundo algumas vezes tentando estabilizar minha respiração. Acho que vou enfartar...

Fui ao banheiro, fechando a porta. Tirei o casaco e a camiseta. Ela estava molhada de suor. Terminei de me despir e olhei para baixo.

Vamos à luta.

Andei tranquilamente, as mãos nos bolsos. Eu sorria para tudo, parecia um bocó.

“Aquilo ontem à noite” me ajudou a relaxar.

Tudo numa boa.

Fazia tempo que eu não passava mais de um dia no Acampamento.

Cumprimentei alguns e até bati papo com uns poucos. Connor e Travis me pararam pra falar a respeito da loja e sobre alguma do Submundo que não entendi porra nenhuma e então Katie surgiu vermelha de raiva com um regador em mãos e com uma aparente vontade de matar, e eles saíram correndo. Continuei sem entender nada daí.

Caminhei um pouco mais e estava a alguns metros do refeitório quando ouvi meu nome ser gritado. Olhei para trás e Percy abraçado em Annabeth vinham na minha direção.

Eu logo pensei que eles tinham me descoberto. Mas pela maneira como seus sorrisos estavam radiantes e seus modos relaxados, eles não deviam nem desconfiar. Por isso, relaxei.

— E aí — cumprimento Percy com um toque de mãos e dou um beijo no rosto de Annabeth. Dói um pouco ver eles juntos, mas foda-se.

— Como anda o Mundo Inferior? — Annabeth pergunta, pegando a mão de Percy em seu ombro.

— Uma loucura, um completo estresse. Eu devia estar lá, ajudando meu pai, mas ele disse para eu dar uma relaxada aqui no Acampamento.

— O que aconteceu? — Percy franziu as sobrancelhas.

— Os mortos estão loucos, meu pai acha que eles querem fazer uma rebelião. Mas acho mesmo que eles querem é fazer uma party hard — falei rindo.

Os dois riram e entramos no refeitório. Separamos-nos e fomos comer.

Peguei dois cupcakes de morango, três sanduíches com, sei lá, umas vinte fatias de queijo, duas fatias de uma pizza de calabresa.

Fiz uma oferenda a meu pai. Espero que deuses gostem de pizza de calabresa e cupcakes de morango para o café da manhã.

Comi meu café tranquilamente, observando o mar calmo e o céu azul. Eu tinha feito uma coisa errada e estava tranquilo — apesar de um pouco tenso.

Levantei e fui assobiando para a parede de lava. Eu não precisava fazer isso. Mas talvez um pouco de adrenalina matinal me faça bem.

Não, adrenalina matinal não faz bem.

Coloquei o que restou das minhas roupas no lixo.

Sério, que vergonha cara.

Quando eu desci da parede de lava, as pessoas começaram a rir de mim e eu não sabia o porquê. E daí eu percebi que minha calça havia sido queimada na parte de trás e que minhas belas nádegas estão à vista de todos.

Tive que vir correndo até o meu chalé para trocar de roupa, tapando minha bunda. Recebi vários assobios e acho que to famosão no Acampamento agora.

Tomei um banho rápido, não curtia ser um Nico com cheiro de defumado.

Vesti uma bermuda jeans clara, porque era a única que eu tinha e estava morrendo de calor. Procurei alguma camiseta preta ou de cor escura e tipo assim, não tinha nenhuma. Caralho.

Só tinha algumas camisetas do Acampamento. Vai essa mesmo.

Calcei meu all star preto surrado e me olhei no espelho. Por sorte, meu cabelo ainda estava lá.

Sai do chalé devidamente vestido, com a bunda coberta pela jeans.

Andei com as mãos nos bolsos da bermuda. Todos me olhavam. Talvez porque fosse estranho ver Nico, filho de Hades, usando a camiseta do Acampamento tão à vontade como estou. Mas fazer o quê.

— Oi Gasparzinho! — alguma coisa pulou sobre meus ombros.

— Desirée, sua gorda! Sai de cima de mim, vai me esmagar! — gritei, empurrando ela para ao chão.

— Gordo é você, seu estúpido! — se levantou e me empurrou, fazendo eu me mover dois centímetros para trás.

Desirée é filha de Dionísio. Apesar da maioria dos filhos de Dionísio ter cabelos cacheados, ela tem o cabelo liso e preto, olhos azuis faceiros e uma bunda incrível — Dionísio pode ler mentes? —, todos olhavam para trás quando ela passava e eu parecia ser o seu passatempo preferido. Tipo, “como maltratar Nico di Angelo com Desirée Smith”.

Eu já havia conhecido sua mãe, Jéssica, quando fui buscá-la para trazê-la para cá. Foi um lance bastante constrangedor, a mulher achava que eu namorava Desirée. As duas não são nada parecidas. A mãe tem cabelos e olhos escuros. Só a bunda que é idêntica. As duas são tipo assim “uau”.

— Estranho ver você por aqui, normalmente está no Submundo — colocou as mãos na cintura fina.

— Resolvi dar um tempo na cabeça — fiz desenhos no chão com a ponta do tênis.

— Claro, até porque você tem muitos problemas — inclinou-se, me dando uma visão privilegiada de seus peitos e de seus olhos extremamente azuis.

— Cale a boca Desirée — enfiei as mãos nos bolsos.

Vi seu lábio inferior tremer e suas sobrancelhas franzirem. Mas então, ela me deu as costas, me chamando de idiota. Cara, como rebola!

Algumas filhas de Afrodite deram risadinhas, movendo os ombros.

— Qual é o problema?

Elas riram mais ainda e me deram as costas.

Garotas...

Andei pelo Acampamento, evitando fazer qualquer outro tipo de atividade física que tinha a possibilidade de me deixar nu e segui até os campos de morango.

Filhos de Deméter e Dionísio faziam os morangos cresceram magicamente com música. E se não bastasse o crescimento acelerado, os morangos ainda dançavam no ritmo das canções. Por isso que música é a coisa mais irada do universo.

Vi Katie mais adiante e segui em sua direção. Alguns filhos de Deméter me olhavam torto enquanto eu passava, mas não liguei. Segui tranquilamente até a baixinha que falava com os morangos vermelhos e dançantes.

— Olá Kay.

Ela olhou para cima e sorriu para mim. Katie é uma das únicas filhas de Deméter que não deseja minha morte. Às vezes, até tenho medo de comer cereal e morrer engasgado.

— Oi Nico. Quer um morango?

— Quero — sorri e sentei na terra aquecida.

Katie colheu um morango com delicadeza e me entregou, seguindo com o olhar a trajetória do morango até minha boca.

O morango era doce. Tipo, doce de verdade. Parecia que tinha sido mergulhado em açúcar.

— É tão doce. Como conseguem? — perguntei colocando a outra metade do morango na boca.

— É o amor — respondeu acariciando um morango.

Franzi as sobrancelhas, pegando um morango sem tirar do galho.

— Amor? Mas amor não é adoçante — reclamei tirando mais um morango do galho.

— Você é amargo como seu pai, Nico. E pare de comer esses morangos, são para vender! — bateu em minha mão pronta para pegar o morango.

— Não sou amargo. Só que não estou acostumado.

— Como morangos tão doces?

— Não Katie... Também, na verdade. Não estou acostumado com essa ideia de “amor” — fiz aspas com a mão.

— Se amor não existisse, Afrodite não existiria.

— E isso seria ruim?

Um trovão estourou e Katie bateu em mim, com muita força.

— Nico! Respeite! — gritou ainda me batendo.

— Tudo bem, Katie, tudo bem — tentei me defender de seus tapas. — Desculpa aí Tia Dite, não tinha a intenção, sua gata deliciosa! — gritei para os céus e juro que ouvi uma risadinha na minha cabeça.

Katie balançou a cabeça sorrindo e continuou a colher os frutos vermelhos. Olhei em volta e vi um dos Stoll — Travis, eu acho — nos encarando feio.

— Qualé a sua com o Stoll? — perguntei na lata. Comigo é assim, baby!

Katie ficou com a cara entre um vermelho morango e o cabelo da Rachel. Eu ri.

— Nada, ué — respondeu olhando para baixo, colhendo morangos.

— Hm... — me levantei e limpei as calças.

— Que hm o que, Nico?! Eu não gosto dele! — reclamou com os braços erguidos.

— Eu não falei nada sobre você gostar dele — sorri e sai correndo.

Sério, acho que nunca ninguém gritou meu nome tão alto. Meu pai deve achar que sou imenso ou que sou um idiota.

Amarrei os cadarços e me levantei da cama. Todo de preto. Talvez eu devesse começar a usar outras cores.

Acho que não, hein fera.

Sai ninjamente do chalé, colocando o capuz e correndo para a escuridão.

Ando muito ninja ultimamente.

Embrenhei-me em uma sombra. Apareci atrás do chalé 3, sem estar na areia dessa vez. Meus olhos agradecem.

Têm uns quatro dias desde a primeira vez que eu dei à primeira “espiadinha”, e bem, eu havia feito uma reflexão tão profunda como o Tártaro e percebi que era melhor deixar Annabeth pra ele. Era só uma paixonite idiota. Não ia dar certo. Eu só ia me machucar. Na verdade, já estava me machucando.

E Desirée está me ignorando. E Travis parece querer comer meu fígado acompanhado do meu coração.

Só para deixá-los a par das coisas.

O vento jogou meu cabelo para o lado. No céu, uma nuvem negra cobria as estrelas. Eu conseguia ouvir os trovões ao longe. Quíron havia permitido que naquela noite chovesse.

Porque eu fazia sabendo que uma tempestade estava pra chegar? Eu sabia que todas as raras vezes que chovia no Acampamento, Annabeth ia dormir no chalé de Percy. Não sei como eu descobri isso, mas eu sei que é isso aí. Então, ok, vamos lá.

Fui até a janela meio que encostado à parede, andando suavemente, o vento acobertando o som dos meus passos.

Olhei pela janela e o negócio lá dentro estava quente.

Annabeth estava deitada na cama e Percy parecia tentar invadir o útero dela com a língua.

Sério, aquilo parecia ser bom porque Annabeth não parava quieta.

Resolvi não enrolar muito, pois a ventania só aumentava. Tirei o pau duro pra fora da calça e comecei a me masturbar.

Caralho, daí você se pergunta: porque Hades o moleque tava fazendo isso sabendo que ia cair um temporal filho da puta?

Resposta: eu não sei, adolescentes não precisam de razão.

Então, a porra toda deu errado. Começou a garoar fraquinho e eu não ia fazer aquilo na chuva, é desnecessário. A chuva engrossava, molhando aos poucos meu cabelo. Eu tava colocando o pau pra dentro da calça e só escuto uma voz de mulher:

— O que você tá fazendo?! — olhou para o lado apavorado e vejo Desirée com as mãos sobre a boca e os cabelos começando a grudar no rosto.

— O que você está fazendo aqui?! — gritei. Como se eu tivesse alguma moral.

Meti o pau pra dentro da calça e me joguei na sombra mais próxima. Agora, eu agradeço por ser filho de Hades. Melhor meio de transporte.

Apareci perto da porta do chalé e entrei correndo. Joguei-me na cama e dormi daquele jeito mesmo, todo molhado e fodido pra caralho.

A maldita concha soou ao longe. Acordei fedendo a cachorro molhado. Minha cama tinha o mesmo odor agradável.

Tomei um banho meio dormindo meio acordado. Mas foi quando me olhei no espelho que todas as lembranças voltaram.

Apoiei as mãos na pia e olhei no fundo do ralo, como se o sentido da vida estivesse escondido ali.

Vesti uma camiseta preta com uma estampa de um zumbi de boné e uma bermuda jeans clara. Coloquei o Vans preto e juro que tentei ajeitar o cabelo, jogando ele pra trás. Mas ele insistia em cair sobre meus olhos. Foda-se.

Sai do chalé vendo mó galera ir à direção do pavilhão do refeitório. Enfiei as mãos nos bolsos da calça e segui a multidão. Essa gente é tão barulhenta que não consigo ouvir meu estomago roncando. OBRIGADO MULTIDÃO.

Sentei a mesa e comecei a me servir do banquete a minha frente. Percy entrou no pavilhão, acenou para mim e foi em direção da mesa de Atena. Até que eles são bonitinhos juntos.

Ok, isso foi gay.

Super gay.

Levantei e joguei dois mistos quentes na fogueira para meu pai. Senti o cheiro de queijo na chapa. Sorri e voltei a minha mesa.

Mordi um morango e saboreei de olhos fechados. Sério, o segredo deles não pode ser amor.

Abri os olhos e tomei um susto do caralho. Desirée estava sentada a minha frente, emburrada e furiosa.

Fingi que seu olhar não tinha me deixado afetado e sorri falso.

— Bom dia Desirée.

— O que você estava fazendo ontem à noite?

— Ora, o que todos fazem durante a noite: dormindo.

Ela me agarrou pela gola da camiseta, me puxando para frente. Ela estava na mesma posição que eu. Nossos rostos estavam a centímetros de distância. Eu conseguia sentir o hálito de uvas dela. Ela não parecia tão bonita semana passada. E seu decote também.

Engoli em seco, sumindo com a súbita vontade de colar nossos lábios.

— Não minta pra mim, Di Angelo.

— Do que você está falando, Smith? — soltei suas mãos pequenas da minha gola, me sentando normalmente.

Ela sentou e ajeitou os cabelos, os jogando para trás. Respirou fundo e me olhou nos olhos. Senti-me quente.

— Eu vi, Nico. Tudo.

Olhei nervoso para o lado.

— Do que você tá falando, Desirée? Comeu muita flor de Lótus?

— Nico — ela me repreendeu com o olhar. Encarou-me com seus olhos grandes e acusadores. Porra.

— Mas que merda, Desirée! — exclamei empurrando o prato.

— EU SABIA, SABIA!

Se antes atraímos alguns olhares por ela estar na minha mesa, agora todos olhavam para nós.

Coloquei um misto quente na boca e fiz um sinal para Desirée. Ela levantou e me seguiu até a floresta sem dar um pio.

Se não fosse o misto quente estar maravilhoso, eu estaria suando como um porco.

Parei e me virei para Desirée. Ela tinha os braços cruzados, apertando o peito e uma expressão raivosa que me dava vontade de...

De nada. Por que to falando isso, aliás?

Coloquei as mãos nos bolsos, olhando para o chão e desenhando no chão com a ponta do tênis.

— Você realmente viu? — senti minhas bochechas esquentarem e era uma sensação horrível. Não recomendo.

— Se eu disse que vi tudo, eu realmente vi tudo — ela disse irritada.

Suspirei bem fundo, completamente envergonhado. Acho que eu logo vou desmaiar porque todo o sangue do meu corpo está na minha cabeça agora.

— Aquilo foi doentio — Desirée desviou o olhar para floresta, suas bochechas meio vermelhas.

— Eu sei.

— E muito errado.

— Eu sei...

Ela suspirou e soltou os braços. Aproximou-se e tocou no meu braço. Eu não gosto que pessoas me toquem. Normalmente, eu não deixava as pessoas me tocarem. Mas não é como se eu pudesse recusar o contato de Desirée — ela me estapearia até eu ficar azul como um Smurf.

— O que... O que você planejava com isso?

Dei de ombros.

Era realmente uma boa pergunta.

— Eu sei lá, Desirée. Eu só... Fiz. Você sabe que eu sou meio impulsivo e eu tinha uma paixonite por ela — ela pareceu suspirar e franzir as sobrancelhas nessa parte.

— Você tinha contado — sua voz parecia meio embargada e seus olhos estavam nos seus tênis.

Peguei sua mão no meu braço e entrelacei nossos dedos.

— Só que eu percebi que não valia a pena ficar me magoando pelos dois e... Preferi esquecer.

Ela me olhou e seus olhos estavam brilhantes. Ela estava chorando?

— Desirée? — ela me abraçou e chorava na minha camiseta. Seus ombros balançavam com força e eu sentia seus peitos contra a minha barriga. — Qual é o problema?

Ela não me respondeu e se era possível, seus soluços ficaram mais altos e fortes e seu aperto também.

Eu estava meio sem reação porque, sei lá, as pessoas não costumavam procurar os filhos de Hades pra chorar suas mágoas ou pra desabafar.

Desirée me soltou e secou as lágrimas com a ponta dos dedos. Então, ela me puxou pela gola e me beijou.

Mas um beijo de verdade. Com língua e tudo.

Ela beijava bem. E ela tem gosto de uva.

Será que eu tenho gosto de cadáver? Porque isso não seria nada agradável...

Ela me largou e colocou as mãos nas bochechas como naquele quadro O Grito. Mas sem a parte do grito.

— Eu gosto de você.

E foi embora, correndo. Deixando-me igual a um babaca.

Ok, eu estou meio confuso agora.

Filhos de Dionísio são sempre assim?

Eu preciso falar com Katie.

— Ela realmente foi embora correndo? — Kay perguntou, colhendo um morango.

Suspirei, concordando. Era a quarta vez que eu contava a história pra Katie e ela não parecia ter conseguido capturar a essência da história: eu ser humilhado, eu ser beijado, eu ser abandonado. Eu quase pareço uma noiva abandonada no altar.

Não contei a parte da espiadinha porque ela me mataria, com certeza.

Ou me deduraria, o que seria um zilhão de vezes pior.

Não que eu tenha medo de Percy, longe disso. Annabeth me assusta pra valer. Principalmente com aqueles olhos cinza ameaçadores.

— Eu fiquei lá parado, sem saber como reagir. E agora, ela passa por mim e desvia o olhar. Eu saio atrás dela e parece que ela fica fugindo o tempo todo. Ela nem olha mais pra mim — desabafei.

Katie cruzou as pernas como um índio e abriu os braços:

— Talvez seu beijo seja ruim pra valer.

Mandei meu olhar mal para Kay.

— Sério? Sério que essa é sua resposta pra mim?

Ela deu de ombros.

— Sei lá, Nico. Ela gosta de você e ficou envergonhada.

O que?

Franzi as sobrancelhas, mexendo no cabelo da nuca.

— Desirée, gostar de mim?

Kay revirou os olhos e colheu um morango, me entregando em seguida. O mordi e seu gosto era doce, como sempre.

— Ela dá a maior bola pra você. Não sei como não percebe. Você se faz de idiota? Ela disse isso para você.

Na verdade, não me faço não. É apenas um talento natural.

Cocei o queixo.

— Eu não sei o que fazer... — coloquei o resto do morango na boca.

Vi Stoll na linha do horizonte, segurando algo amarelo. Aquilo era uma margarida?

— Acho que você deveria falar com ela sobre isso.

Levantei, limpando a parte de trás da bermuda.

— Certo... — Travis estava cada vez mais perto e sua carranca cada vez pior. — Acho que vou atrás de Desirée.

— Faz bem — ela falou concentrada nos morangos.

— Ok, vou indo — fiz sinal de positivo com o polegar para o Stoll e ele ergueu os ombros, a carranca se transformando numa expressão esperançosa.

Enfiei as mãos nos bolsos da bermuda, pensativo. Eu ouvi um arquejo baixinho da Kay e talvez o som de uma risadinha. Espero que esses dois se acertem.

Segui para os chalés, vendo todo mundo fazendo seus afazeres. Eu devia ter alguma coisa pra fazer, mas sei lá, eu não me importo muito.

Ali estava o chalé de Dionísio. Coragem, cara.

Bati na porta com a mão menos suada e secava a outra na lateral da bermuda. Pólux abriu a porta, entediado.

Quando me viu, ele arqueou uma sobrancelha e saiu para dentro do chalé gritando “DESIRÉE, O BRANQUELO TÁ NA PORTA”.

Que apelido simpático.

Ela apareceu com um short jeans, tênis e uma camiseta que os Stoll roubaram pra mim, que não me serviu que eu acabei dando pra ela. Nela ficava um pouco grande; era uma camiseta branca com os dizeres em vermelho e preto: “Surprise motherfucker”.

Uma bela surpresa, aliás. Desde quando ela era tão bonita?

— Ah, oi — ajeitou a franja atrás da orelha.

— Oi... Hã, podemos conversar?

Ela pareceu um pouco sem jeito.

— A menos que você queira fugir de mim de novo. Porque posso te dar uns segundos de vantagem e...

Ela me puxou pelo braço até fora a área dos chalés, irritada.

— O que você quer? — cruzou os braços.

— Tenho algumas perguntas...

Ela assentiu.

— O que você está fazendo lá aquele dia?

— A Ruby apareceu no meu chalé chorando e dizendo que tinha perdido o ursinho dela. E eu fui atrás dele. E então...

Eu sacudi a cabeça, meio vermelho. Ruby era filha de Hermes que, por uma razão desconhecida, era muito apegada a Desirée.

— Porque você me beijou? — na lata, eu já disse.

Desirée pareceu desconcertada e soltou os braços, vermelha.

— Eu já disse o motivo aquele dia... — desviou o olhar.

Arqueei as sobrancelhas. Droga.

Katie estava realmente certa.

Coloquei as mãos nos bolsos, tão desconcertado quanto Desirée.

— Era só isso? — ela perguntou, olhando para o chão. — Porque eu tenho coisas a fazer e...

Peguei seu braço, a puxando para mim.

Foda-se. Eu vou beija-la.

Beijei sua boca com vontade.

Foi intenso e rápido. Até um pouco assustador.

Mas só um pouco mesmo.

Não tive coragem para abrir os olhos quando acabou, então apertei os olhos com força e perguntei:

— Você quer... Tentar... Sei lá, nós dois? — abri um olho e ela me encarava com um sorriso mínimo.

— Como um casal?

— É.

— Como... Namorados?

— Isso — assenti, envergonhado.

— Mas você não tinha que, tipo, pedir?

— Não complique as coisas, Desirée.

Ela sorriu abertamente e pegou minha mão.

— Eu quero.

Sorri e toquei seu rosto.

— Legal.

E a beijei, como namorados fazem. Mas nós já tínhamos nos beijado assim antes, então não faz tanta diferença.

Voltamos para a área dos chalés e eu passei meu braço sobre seus ombros, a trazendo para perto, como um aviso do tipo “eu vi primeiro, babacas”. A levei de volta para seu chalé e nos despedimos com outro beijo.

Eu não sabia que a perplexidade tinha barulho. Porque eu podia ouvir as pessoas surpresas com o Vandinho d’A Família Addams e a garota do vinho.

Ok, Vandinho foi horrível.

— Nos vemos na fogueira? — ela perguntou e eu assenti. Encostamos nossos lábios sorrindo e fiz o caminho até meu chalé com aquele sorrisinho pregado no rosto.

Mas sabe quem eu encontrei no caminho?

Katie e Travis.

Debaixo de uma árvore.

Se beijando.

Na verdade, eles estavam escorados no chalé de Hermes, não debaixo de uma árvore, mas estavam se beijando, isso com certeza.

Nossa cara.

Hoje é o dia da coragem ou algo assim?

Porque isso explicaria muita coisa...


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Notas finais do capítulo

GOSTARAM DESSE SHIPP?
DIGAM QUE SIM, GRITEM QUE SIM! AEHAUEHAUEHAEUHAEUAEH
Deixem nos reviews os gritos de sim, eu não escuto tão de longe, ok?
UHEUHEAUAHEUAEH
Beijos ♥



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