Era sábado e como de costume, Beatrice estava em seu quarto treinando alguns feitiços básicos. Ela havia descoberto que era uma bruxa fazia um ano, quando acidentalmente botou fogo no ônibus escolar e sua mãe foi obrigada a contar a verdade. A sua reação foi de surpresa, claro, mas depois ela aceitou e se conformou com isso. Ela havia se conformado com muitas coisas. Como por exemplo o fato de que seus pais são divorciados. Nunca parara sua mãe para perguntar o porque de terem feito aquilo, sabia que sua mãe odiava tocar no assunto, assim como a própria.

Bea levantou de sua cama e pegou um CD trouxa qualquer na prateleira e colocou para tocar bem alto. Entrou no banheiro que tinha dentro de seu quarto e começou a fazer suas higienes matinais. Assim que terminou, se vestiu e desceu as escadas em direção a cozinha para comer alguma coisa.

— Bom dia, querida.

— ‘Dia, mãe! – exclamou Bea, enquanto esperava as torradas ficarem prontas.

— Sabe, filha... eu estive pensando sobre suas aulas...

— Olha, eu sei que ainda não sei produzir um Patrono perfeito e que não consigo pronunciar alguns feitiços, mas te garanto que eu vou treinar mais. Sério. – disse num tom casual.

— Eu sei, mas não era isso que eu ia te falar... – recomeçou a mãe.

— Era o que então? Sobre a minha... Torradas! – a menina pegou as torradas e começou a devorá-las muito rápido.

— Não, não era sobre suas torradas! Eu ia dizer que você não vai mais estudar em casa. – a mulher disse tudo de uma vez, estava com medo da reação de sua filha.

Beatrice quase se engasgou e começou a tossir, sua mãe dava tapinhas de leve em suas costas com o cenho franzido. Quando a menina agora vermelha parara de tossir, a mulher achou que deveria falar de novo.

— Você vai para uma escola. – disse a mãe, num tom leve e calmo. Beatrice recomeçou a tossir. – Ah, pare com isso! Não era como se você não soubesse que uma hora ou outra você começaria a estudar numa escola de verdade.

— Mas... Por quê? – a menina perguntou com a voz rouca de tanto tossir.

— Porque eu acho que você está muito tempo sozinha aqui e eu acho que você tem que ter amigos, sabe, interagir.

— Mas eu gosto de ficar sozinha e eu não quero interagir, mãe! Eu só tenho treze anos, não podemos esperar mais um pouquinho? Até os quinze talvez... – Bea disse com a voz chorosa.

— Não, já esperamos demais. Você deveria ter ido com onze anos, mas eu resolvi educar você porque achei que era mais seguro. Mas eu tenho que arrumar um emprego e você não pode ficar sozinha aqui.

— Posso pelo menos saber para que escola eu vou? – perguntou ciente de que sua mãe a obrigaria a ir se recusasse.

— Você vai para a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.

(...)

Com as malas na mão, o carrinho na sua frente e sua mãe ao lado, Beatrice atravessou a Plataforma 9 ¾. Havia muitas crianças e adolescentes ali, a maioria já com o uniforme, assim como a própria. Ela foi ao Beco Diagonal uma semana antes e achou tudo aquilo muito impressionante. Despediu-se da sua mãe com um abraço demorado e muita faladeira (coisas do tipo “me mande uma carta a cada semana” ou “tenha cuidado com sua coruja” e outras coisas de mãe) e subiu no trem.

Depois de demorar quase cinco minutos procurando uma cabine que estivesse vazia, finalmente relaxou. Sentou no banco macio e ficou observando a janela. Não sabia dizer o que estava sentindo, mas queria chegar logo á escola e ver se valia realmente a pena.