Oi, Nick Oneshot escrita por Maureen


Capítulo 1
Oi, cara




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Oi, Nick.

Eu sei que você deve estar furioso comigo agora. Bom, pelo menos eu estou furiosa comigo agora. E eu sei que não devia ter te deixado nesse estado, mas é você que é o forte entre nós dois, e não eu. Eu sei que você vai superar tudo isso. Mas eu não vou conseguir. Eu sou fraca. Eu sempre fui fraca, só você não percebia, porque você sempre me amou. Você foi a única pessoa que realmente me amou, em todos os dias que eu passei com você. E, agora que eu fugi, você deve me odiar. Me desculpe, Nick. Eu te amo.

Talvez você se pergunte o motivo de eu escrever agora, depois de oito meses que tudo aconteceu. Ou talvez não. Mas, eu acho que eu não vou ter muito tempo de vida para te explicar tudo, caso um dia você vier a se perguntar sobre o que aconteceu comigo. Ou, pelo menos, se eu tiver tempo, não vou ter coragem de ir aí e encarar os olhos do papai, e de não encarar os olhos da mamãe, e de encarar os seus olhos. Não que eu esteja com raiva ou medo ou nojo de você, Nick. Eu só não vou conseguir assistir a você me rejeitando ou me ignorando ou chorando pelo que eu me transformei. E, mesmo que você me odeie, eu só peço que você leia tudo até o fim. Porque você é a única pessoa que eu amo, e me dói muito e me machuca muito eu ter me afastado de você, e agora eu vou morrer e ninguém vai se lembrar de mim e eu queria que pelo menos o meu irmão soubesse do porquê de tudo isso.

Vamos começar pela morte da mamãe. Em seus últimos dias, ou melhor, meses, ela passou a nos ignorar, ou melhor, evitar. Eu não ligava para isso. Achava que ela fazia essas coisas porque finalmente havia se dado conta de que nós dois não éramos mais bebês ou crianças pequenas que precisam de atenção constante. Internamente, eu até comemorava o fato de ela nos dar mais privacidade e liberdade. Quando é que eu suspeitaria que algo estivesse errado? Como é que eu saberia de um câncer, se ela nem por uma vez sequer o mencionou?

Aí ela se foi, repentinamente. De uma hora para outra, eu virei uma órfã. Eu e você. Porque nem ao papai ela contou. E ele ficou catatônico, e começou a beber e a gritar com as paredes, e eu sei que é um milagre ele nunca ter batido em você ou em mim enquanto estava nesse estado, ou pelo menos não enquanto eu ainda morava com vocês, mas nós perdemos o nosso pai também com aquele câncer.

E você começou a surtar. Eu ouvi você gritando e chorando e batendo na mobília quando pensou que estava sozinho em casa, Nick. Eu sei que você também sofria, e talvez ainda sofra, embora sempre tentasse parecer bem e calmo e saudável para mim, porque você realmente me amava e não queria que eu sofresse e dava seu apoio porque você era forte, eu não era forte, Nick, eu quebrei quando a mamãe morreu, e eu quebrei ainda mais quando o papai caiu em depressão, mas de algum modo eu conseguia ficar de pé. Mas quando eu ouvi você gritar e chorar eu ruí de vez. Porque todos nós estávamos perdidos.

Então eu fui pra rua. Eu não fazia a menor ideia do que fazer. Ou melhor, eu fazia uma ideia do que fazer, eu iria me matar, mas eu era fraca e nunca tive ou vou ter coragem para amarrar uma corda no pescoço ou beber veneno. Eu resolvi começar a me drogar, para ser um processo gradativo. E eu comecei a me drogar. E, aqui, oito meses depois, estou medindo um metro e sessenta e pesando uns trinta quilos e estou com os olhos saltados e a pele muito pálida e estou horrível e não quero que você me veja assim.

E eu vou morrer. Daqui a pouco tempo. E eu não sei como o papai está, ou como você está, mas eu realmente espero que tudo esteja bem entre vocês. Me desculpe. Eu te amo, Nick. Sinto muito. Por você. Por mim. Por tudo. Me desculpe. Eu te amo, Nick. Me desculpe. Espero que você possa ler esta carta até o fim, porque eu espero que você não tenha tanta raiva de mim por eu ter te abandonado e eu espero que você ainda esteja vivo para ler esta carta. Se cuide, Nick. Seja um bom menino. Você sempre foi um bom menino. E eu sei que você já é um homem, mas eu te peço que seja um bom menino. Se é que você ainda faça o que eu peço. Ou ainda que tenha lido a carta até aqui. Me desculpe. Eu te amo, Nick. Sinto muito. Eu te amo. Me desculpe.

Z


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