Haly

Faziam três dias que estávamos aguardando o primeiro contacto daqueles patéticos seres que são os Hanynkis. Eu já estava ficando nervosa e bastante ansiosa para quando eles fossem justificar o motivo deles terem entrado em nossas terras. Após falarmos com o Concelho de Mont Yale, eles finalmente decidiram que, se até o final da semana, onde a lua começaria a minguar, caso eles não justificassem o motivo da invasão territorial, a aliança finalmente encontraria seu fim em uma grande guerra que decidiria, depois de tantos séculos de aliança, qual das espécies sobre-humanas reinaria em Mont Yale. Muito sangue seria derramado nessa guerra caso ela ocorresse, mas finalmente daria o fim a essa espécie patética de Hanynkis. Eu estava em minha humilde casa pensando, somente pensando nas possibilidades que poderiam vir a acontecer.

– Haly.- Jared me chama. – Preciso falar com você.

– Sim, claro. Entraram em contacto?

– É sobre isso que preciso falar com você. - ele estava claramente desconfortável e tenso. E isso não era algo bom. – Todos da aldeia estão caçando os Hanynkis que você diz ter visto, mas, já se passaram três dias e nenhum entrou em contacto, a gente pode acreditar que você talvez, só talvez, tenha se enganado? Porque o Concelho já está querendo cancelar a busca e você sabe, vai ser o fim de uma aliança de séculos, de paz, a gente vai jogar tudo fora, digo, tem a possibilidade de você ter se enganado?

– Eu não acredito nisso...Eu...Você acredita em mim? Não, você não acredita em mim. - afirmo. – Eu sei muito bem o que eu vi. Vocês são todos uns patéticos, com medo de iniciarem uma guerra. Pois eu sei que eu vi uma deles com o maldito símbolo sagrado deles no maldito braço dela correndo com alguns deles por nossas terras! Eu vi! Eu sei muito bem o que eu vi! Aquela sequencia de cortes... E se você não é capaz de acreditar no que a sua esposa diz, talvez você nem devia ser meu marido! - eu já estava aos berros com ele.

– Haly, ninguém encontrou nenhum vestígio deles, nem mesmo o cheiro peculiar que eles deixam aonde passam. Nada. Ninguém acredita que algum deles tenha passado por aqui. - ele estava firme agora.

– Ninguém acredita? Você devia acreditar! Saia daqui, eu não quero escutar mais nada de você.

– Haly...

– SAIA! - grito.

Ele sai relutante e bate fortemente a porta na saída, taco um vaso de flores na porta com raiva. Isso foi como um tapa na cara, um soco na barriga e uma facada nas costas, tudo ao mesmo tempo. Esses monstros estavam trazendo discórdia entre mim e Jared. Mas eu provaria a todos, provaria a eles que estavam errados e então eles viriam todos a mim de joelhos implorando por perdão. É as vezes eu viajo um pouco, mas vê-los implorar por perdão não seria uma má ideia. Passaram se quatro horas e Jared ainda não havia voltado, como de costume, para se desculpar. Eu estava começando a ficar preocupada.

"Toc-toc" escuto baterem na porta. "É ele." penso. Antes de abrir preparo uma cara de brava e uma frase para deixa-lo arrependido. E em seguida abro a porta.

– Por que você... Ah, olá Sr. Wilgrand. - não era ele, era o mais velho do concelho um senhorzinho de cabelos brancos, pele clara e trajes finos.

– Senhora White... Posso entrar?

Abro a porta e sinalizo para que entre e ele o faz. Ofereço alguma bebida, mas ele nega.

– Senhora White, tenho que avisá-la que entramos em contacto com o Concelho de Mont Yale em South Zahli, e eles disseram que não houve invasão territorial pela parte deles. - o interrompo.

– E o senhor irá acreditar... - ele me interrompe.

– Por favor, Senhora White. Deixe-me terminar. - assinto. – Porém eles comunicaram um desaparecimento de dois jovens de suas terras, o que poderia ser o que Senhora viu. Jovens são imprudentes em grande parte das vezes e a senhora mais do que qualquer um sabe disso. No caso, não seria uma quebra do acordo, pois os jovens desaparecidos são totalmente humanos, já que somente transformam homens em Hanynkis depois dos dezoito anos e os jovens são menores de idade.

– Sr. Wilgrand, é aí que Senhor se engana. Eu vi uma jovem com a marca deles, ela tinha os três cortes em posição horizontal em seu braços, e pelo que sei, esse é o símbolo sagrado deles. - tento ser o mais respeitosa possível.

– Ignorância sua, Senhora White. Caso a Senhora não saiba, eles vivem em um sistema escravista. Escravizam mulheres. Seria totalmente inaceitável a eles uma mulher Hanynki. Então torno a dizer-lhe que tudo que a senhora viu, foi real, mas não passou de um mal entendido. Humanos podem passar pelas nossas terras. E creio que a garota devia estar fugindo já que, em nossas terras, ela é livre. E como não houve a quebra do acordo, não haverá a quebra da aliança, sendo assim, não haverá guerra, Senhora White. Mas apesar de tudo, agradeço a senhora por denunciar ao Concelho de Mont Yale, uma atitude que a Senhora não considera correta, uma atitude nobre de defesa dos seus ideais. Mas pegue leve, é notório que a Senhora repudia os Anjos da Noite. Bom, tenha uma boa noite, Senhora White.

Ele se levanta e vai embora. Fico sem reação. Odeio quando me engano.