Lá estava eu, em um banco qualquer da praça, no meio da chuva, sozinha.

Como fui parar ali, bom deixe-me contar um pouco da historia...

Flashback on

“Hoje faz um ano que eu e Victor estamos juntos. Eu já estou com tudo pronto pra termos a melhor noite de todas.

Começaria com um jantar a luz de velas no telhado do prédio, onde ele morava.

Depois iríamos dançar, ali mesmo, dançar a nossa musica. A mesma musica que dançamos no baile da escola, a mesma musica que fez ele me chamar pra dançar.

Cheguei ao prédio de Victor, subi as escadas, eu sabia onde ficava a chave reserva então entrei de surpresa no apartamento. Mas foi o que vi que me surpreendeu.

Victor e outra mulher.

Savannah, a colega de trabalho.

-Victor o que... como você pode. Faz um ano que estamos juntos e você faz isso comigo! – eu gritava, gritava tanto, tão alto.

-Calma Genevive , não é o que parece... – ele mente assim, na cara dura.

-Eu acho que é exatamente o que parece! – eu sussurrei e sai dali.”

Flashback off

E cá estou eu, encharcada, no frio de Londres, me sentindo traída, sozinha.

Eu desperdicei um ano da minha vida com ele, claro que tivemos momentos maravilhosos, mas ele sabia o que eu achava de traição, essa é a pior coisa que se existe.

Não ama mais, termina. Posso garantir que será menos doloroso do que uma traição.

A partir de hoje, para mim, o amor se transformou em nada.

5 ANOS DEPOIS

Por mais incrível que pareça, hoje eu estou vestida de branco... prestes a entrar em uma igreja, e casar com o homem da minha vida.

Depois de tudo que passei com Victor, depois de achar que para mim o amor não existia mais, ele entrou em minha vida. Me mostrou que o amor é o sentimento mais forte que existe.

Flashback on

“Fazia quase uma hora que eu estava sentada naquele banco. Chorando.

Alguma coisa impediu a chuva de continuar a molhar minhas costas.

Abri meus olhos e na minha frente tinha um homem. Ele me olhava sorrindo.

Ele me ajudou a levantar e passou seu braço por meu ombro, aquilo me deu uma sensação de segurança, proteção, algo que jamais sentira com alguém.

Fui levada até um pequeno apartamento ali perto, era aconchegante, apenas um quarto.

O homem me deu uma toalha, um moletom e uma calça.

Me dirigi ao banheiro e me sequei lentamente, coloquei as roupas que ele havia me dado. Elas ficaram gigantes, mas eu gostava.

Quando sai, um cheiro de chocolate invadiu minhas narinas. Segui aquele cheiro maravilhoso, e cheguei em uma cozinha, não muito grande, mas bonita. Ele estava preparando chocolate quente para mim.

Acho que percebeu que eu o observava, pois ele me virou pra mim e sorriu.

-Eu estou preparando algo pra você se aquecer. – ele falava calmamente, com uma voz rouca.

-Obrigada, mas por que está me ajudando tanto? – não é todo dia que eu vou para a casa de um estranho...

-Não sei, eu te vi sentada lá, e senti algo que me fez ir até você, eu senti uma vontade enorme de cuidar de você, te proteger – arregalei meus olhos.

-S-sério? – sua vontade foi realizada com sucesso.

-Sim, eu não sei o que deu em mim, nunca me senti assim antes – ele terminou de fazer o chocolate e o despejou em duas canecas, me entregou uma e pegou a outra – a propósito, meu nome é Charlie, se quiser saber – sorri.

-Genevive, é um prazer – ele sorriu.

-O prazer é todo meu.

Ficamos conversando até meia-noite. Descobri que ele tem 28 anos, é solteiro, gosta de Guns N’ Roses, sua ex-namorada ainda o persegue, e descobri que ele tem uma risada contagiante.

-Agora que já sabe algumas coisas sobre mim, conte-me de você – demorou.

-Por onde começar? – vejamos – Bom, eu tenho 26 anos, faz exatamente – olhei para meu relógio – 4 horas que sou solteira, descobri que o amor só serve pra nos fazer sofrer, e sou apaixonada por Beatles.

-Beatles... um bom gosto musical – WHAT? – sobre o amor, não sou a pessoa certa pra dar algum conselho, acho que o relacionamento mais sério que já tive foi há 10 anos, com uma garota loira do meu colégio. 10 meses. – 10 meses, serio isso?

-Então você gosta de viver sem compromisso? –

-Não é que eu goste, eu só não encontrei alguém por quem realmente valha a pena lutar... – acho que nem eu.

-Entendi – um silêncio estranho instalou-se na sala – já está tarde, eu tenho que ir pra casa.

-Mas já? – ele me olhou triste.

-Já devia ter ido há muito tempo – ri.

Levantei-me do sofá, peguei minhas roupas que estavam quase secas, e me dirigi à porta do apartamento.

-Acho que é isso. Eu venho te devolver suas roupas assim que ela voltar da lavanderia – estava esperando o elevador chegar.

-Não tenha pressa! – poderia haver um duplo sentido nessa frase?

A porta do elevador se abriu.

-Tchau Charlie, obrigada por tudo – sorri.

-Te vejo em breve Geny – nunca gostei quando me chamavam de Geny, mas ele falando pareceu tão, perfeito.”

Flashback off

Um mês depois e nós nos encontrávamos todo dia, na mesma praça, no mesmo banco. E eu nunca devolvi as roupas dele, elas estão comigo até hoje. Na época, não devolvi porque era aquele moletom que tinha o perfume dele, por mais que eu lavasse, aquele cheiro permanecia ali.

Volte e meia, colocava a blusa de Charlie, só pra sentir o cheiro dele perto de mim, aquilo me passava à tranquilidade que ele me passava.

Depois de alguns meses não precisava mais do moletom, o cheiro dele ficou gravado em minha memória, em mim. Eu passava tanto tempo com ele que aos poucos ele se transformou no meu melhor amigo, mas percebi que não era uma amizade, era mais, eu estava apaixonada por ele.

Lembro-me do nosso primeiro beijo, foi quando contei a ele porque eu e Victor terminamos.

Flashback on

“Eu fui até a casa de Charlie caminhando, fazia algumas semanas que ele me cobrava um segredo, o porquê de eu ter terminado com Victor, era doloroso lembrar daquilo, daquele momento.

A caminhada me ajudou a tomar coragem.

Toquei a campanhinha, e um homem moreno atendeu a porta, apenas com uma calça.

-Sabe Charlie, não se deve aparecer assim na porta sem saber quem está aqui. E se fosse uma mulher pervertida? Você ia fazer o que?

-Aproveitar – ele sorriu de canto.

-Cafajeste – dei um tapa de leve em seu peitoral.

-Brincadeira – ele riu e me deu passagem. Entrei no apartamento.

-Eu to pronta... – falei sentando no sofá.

-Pra que? – ele perguntou sentando-se ao meu lado.

-Pra contar... –

-Você tem certeza Geny? – ele estava sentado em minha frente agora e olhava no fundo dos meus olhos, procurando algum sinal de tristeza.

-Tenho – eu contei toda a história, toda minha história com Victor, e como sofri quando descobri que fui traída – qual a necessidade de fazer isso? Ele não precisava ter me traído, ele podia ter conversado comigo, não iria machucar tanto. Sabe aquela sensação de que estão arrancando seu coração? Foi isso que senti – não consegui me manter forte, lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto.

-Ei Geny, não chora – Charlie enxugou com os polegares as lágrimas que caíam.

-Por que dói tanto Charlie? Por quê? – ainda não conseguia entender.

-Eu não sei Geny, mas tem uma coisa que eu posso afirmar – olhei para o par de olhos castanhos que me encaravam – eu estou apaixonado por você.

E ele quebrou o espaço que tinha entre nós, com um beijo, calmo, sem pressa.”

Flashback off

Naquele dia começamos a namorar, e se passaram quatro anos...

Ele me pediu em casamento no banco da praça em que me acolheu. Eu estava sentada lá esperando, Charlie disse que eu devia passar na panificadora que gostava e pegar uma encomenda, depois ir até a praça. Fiz tudo que ele pediu. Passou um tempo e chegou uma mensagem:

“Abra”

Fiz o que a mensagem mandava e abri o pacote.

Dentro tinha uma caixinha de veludo vermelha, não entendi na hora, mas quando o vi em minha frente, de joelhos e com a caixinha na mão percebi o que estava acontecendo.

-Genevive Jones, minha Geny, você aceita ser minha esposa? – eu já estava com meus olhos cheios de lágrimas.

-Sim. Sim. Sim – ele tirou da pequena caixa um anel prata, com um diamante delicado incrustado.

E hoje é o dia do meu casamento.

As portas da igreja se abriram, e começou a marcha nupcial. Meu pai ao meu lado, sorrindo.

Ele me levou até o altar, depositou um beijo em minha testa e me entregou a Charlie.

Nunca me imaginei vestida de branco, nervosa, em um altar, ao lado do homem que eu amo.

Mas eu estou aqui, e descobri o verdadeiro significado do amor. Eu encontrei o meu verdadeiro amor, no momento que iria desistir.

Então... não desista do amor, por mais difícil que ele seja.

FIM.