CAPÍTULO VI

Na escuridão daquele quarto, só se ouviam ao suspiros e sussurros cada vez mais frequentes do casal. Suas roupas jaziam esquecidas no chão, assim como também a peruca dela. Desde a primeira vez em que a viu sem todos aqueles acessórios da Capital, Haymitch viu-se encantado com sua beleza. E ali, mesmo com a maquiagem um pouco borrada, ela parecia a mulher mais linda que já vira. Ele a segurou pelas mãos, esticando-as para cima e voltou a beijá-la calmamente, sentindo seus lábios tocarem-se levemente, concentrando-se nos movimentos vindos dos seus corpos.

Deitaram-se de lado, um de frente para o outro. Haymitch apoiou sua mão nas costas dela enquanto Effie mantinha a sua passando pelo braço dele.

– Às vezes eu sonho com você - ela começou. - Sonhei que tirava o seu nome na colheita.

– Já pensou que isso pode ter sido uma lembrança? - Haymitch sugeriu. Effie franziu o cenho, esperando que ele prosseguisse. - Você tirou o meu nome na colheita do terceiro massacre quaternário.

– Mesmo?

– Mesmo - ele repetiu. - E depois ainda saiu chorando porque...

– Katniss e Peeta voltaram para a arena - ela completou. - Disso eu me lembro... É estranho...

– Não precisa pensar nisso agora.

– Eu penso nisso sempre - disse Effie, e Haymitch a puxou para um longo abraço. Ela fechou os olhos e sentiu o cheiro de álcool que não saía dele.

– Ainda sou um estranho para você? - Haymitch perguntou. Effie riu rapidamente.

– Talvez - ela disse. - Acho que nunca vou me lembrar totalmente de você.

– Então precisaremos criar novas lembranças.

– O que quer dizer com isso? - Effie sentiu-se intrigada.

Haymitch pigarreou antes de responder.

– E se você nunca se lembrar? Prefiro que crie lembranças verdadeiras ao invés de se prender a um passado duvidoso.

– Nós tínhamos alguma...

– Não, não tínhamos - Haymitch a interrompeu.– Mas... foi só quando eu achei que ia perder você que eu percebi o quão importante você é.

– Sou tão importante assim? - Effie perguntou, sem conseguir evitar um sorriso.

– Muito.

Effie sentiu-se corar e abafou o riso. Era estranho admitir que um homem que até então era um desconhecido - e continuava sendo - conseguia mexer com ela dessa forma. De repente ela sentiu-se segura ao lado dele, como se nada de ruim pudesse acontecer.

Ela adormeceu em seus braços, sabendo que desta vez nenhum dos dois teria algum pesadelo.

No meio da noite, Effie teve uma sensação estranha ao esticar o braço e não sentir o corpo de Haymitch ao seu lado. Soluçou com o susto e logo sentou-se na cama, olhando para os lados.

– Haymitch? - ela chamou, porém ninguém respondeu. Puxando o lençol para cobrir o seu corpo, ela o chamou novamente, obtendo o mesmo resultado.

Levantou-se da cama e correu em busca de um robe. Notando a porta apenas encostada, Effie passou por ela, andando pelo corredor. Não sabendo até onde dava, ela continuou caminhando, sussurrando seu nome, à espera de uma resposta. Ela não fazia ideia de que horas eram, mas todos pareciam já estar dormindo, pois não havia um movimento sequer na mansão. Até que, de repente, ouve-se o barulho de algo batendo na mesa, atraindo sua atenção.

– Haymitch, é você? - indagou, continuando a caminhar até o fim do corredor, parando ao ver a cena de Haymitch sentado numa mesa com uma garrafa de vodca na mão. Por um momento, Effie viu-se sem ação. Ele a deixara sozinha para beber.

– Ah, olá, queridinha - ele disse, parecendo não tão animado. Effie, numa mistura de confusão e raiva, marchou até parar ao lado dele e tomar a garrafa de sus mãos. - Ei! - protestou Haymitch.

– Você me deixou sozinha por isto? - indagou Effie, balançando a garrafa na mão. Virou-se, então, e virou a garrafa na pia, deixando todo o líquido cair. Haymitch se apressou, porém quando tomou a garrafa de volta já era tarde demais e toda a bebida tinha ido embora.

– Por que você fez isso? - perguntou Haymitch, mantendo sua voz controlada. Effie o fitou com arrogância.

– Não é porque nós... - pigarreou, desviando o olhar– que você vai ficar bebendo como se fosse morrer amanhã!

– Nós transamos, Effie– disse Haymitch. - E eu não ia exagerar. Ia só beber mais um pouquinho...

Effie riu, com desdém.

– Você sempre diz que vai beber só um pouquinho e acaba virando a garrafa inteira.

Ao ouvi-la dizer aquilo, Haymitch largou a garrafa no balcão da pia, desacreditado.

– Espera - ele disse. - Como você sabe?

– Sei o que?

– Que eu sempre faço isso. Você... você se lembrou?

Effie franziu o cenho perante a pergunta de Haymitch. Tentou forçar sua mente a encontrar a resposta, mas simplesmente não encontrou. Ela apenas sabia.

Respondendo a pergunta de Haymitch, Effie balançou a cabeça negativamente. Haymitch encolheu os ombros.

– Tudo bem - ele disse. - Quer voltar para o quarto?

– Estou sem sono - respondeu Effie, cruzando os braços e indo em direção a varanda.

A brisa noturna bateu na sua pele, fazendo-a se arrepiar. Apoiando-se no parapeito, Effie observou as luzes ao seu redor. Em poucos instantes, logo sentiu os braços de Haymitch ao seu redor, abraçando-a.

– Sabia que eu prefiro você assim? Bem melhor do que todas aquelas coisas coloridas que você costuma usar.

Effie riu.

– Eu gosto das coisas coloridas.

– Sabe que não precisa dessas coisas no Distrito 12, não sabe?

– O que quer dizer com isso? - ela perguntou, sentindo-se intrigada.

Haymitch a fez virar-se de frente para ele. Olhando diretamente em seus olhos azuis, segurou-a pelas mãos, dizendo:

– Effie, você quer ir para o Distrito 12 comigo?