Ninguém se lembrou de ligar para a Scotland Yard. Essa idéia nem passou pela cabeça. A maioria dos londrinos sabiam que uma criança estava sendo torturada, mas apenas algumas sabiam que aquela criança era o filho de Sherlock Holmes.

Ali, no flat em Baker Street, o clima estava tenso. Sherlock estava isolado no seu palácio mental, enquanto John e Mycroft reviam pela 5ª vez o CD mostrando a cara de Jack e no final, o sofrimento do pequeno William.

Tinha se passado 2 horas desde o começo daquela agonia e Molly estava perdendo as esperanças. Ela sabia que não era possível arrancar Sherlock do seu silêncio brutal, mas ela não agüentava mais ficar parada esperando alguma ação. Quase entrando em desespero Molly ergueu as mãos e passou pelo cabelo. William, seu pequeno. Molly não conseguia explicar o turbilhão de sentimentos e pensamentos que passavam por ela agora. Era um misto de raiva, desespero, tristeza e dor, muita dor. De novo lágrimas escorriam pelo seu rosto.

Mas antes que pudesse começar a soluçar de tanto chorar, Sherlock deu um pulo da poltrona em que ele estava sentado. Enfim, tinha saído daquela posição. Começou a andar freneticamente pela sala, atraindo o olhar de todos. Ele tinha encaixado e descoberto alguma coisa. Talvez, ele até tenha um plano agora, Molly pensou. Ela podia ver o olhar de Sherlock, um olhar que ela conhecia bem. Sherlock tinha resolvido, sabia onde William estava:

– John – ele começou num tom sério, cauteloso – você por acaso trouxe sua arma?

O corpo de Molly gelou. No mesmo instante Sherlock olhou para ela. O olhar já tinha se transformado, ele agora parecia implorar por perdão. Como se o que ele estivesse planejando, iria arrancar o pior dele e que no final, ela teria que perdoá-lo.

– O que vai fazer Sherlock? – Molly disse se levantando. John nem tivera a chance de responder que tinha trago a arma. Quando viu o clima entre o casal ficando ainda mais tenso, John apenas a colocou sobre o braço da poltrona, para que Sherlock visse.

– Molly, eu... eu sei onde William está. Eu conheço o lugar onde Jack gravou esse vídeo absurdo. Eu sabia que conhecia, mas não lembrava onde era. É um lugar abandonado uns 4 quarteirões do St. Barts. Ali era um estúdio onde eles gravavam um programa infantil que eu assistia quando criança. Eu adorava o programa porque contava a vida de um garotinho e seu cachorrinho chamado Billy. Mas então o programa foi perdendo dinheiro, a empresa acabou falindo e abandonando o lugar.

Sherlock suspirou enquanto falava rápido. Ainda tinha a mania, mesmo depois de tantos anos, de falar sem parar quando explicava alguma descoberta, como se aquilo o ajudasse a pensar melhor.

– Eu sei que Jack levou Will para lá. Ele realmente quer me atingir Molly, tirar o que é agora a coisa mais importante pra mim e eu não posso deixar. EU não posso deixar. – Sherlock então se aproximou e acariciou o rosto de Molly. Depois plantou um beijo na testa dela e pegou a arma. – E eu vou fazer qualquer coisa para proteger o meu filho.

Antes que Molly pudesse dizer qualquer coisa, Sherlock começou a descer as escadas do flat em direção a rua. Todos na sala estavam petrificados. Ainda não entendiam o que Sherlock iria fazer, mas ele era capaz de tudo. Ele já tinha matado duas vezes por motivos importantes, mas esse com certeza era o motivo que MAIS importava.

– Molly eu vou com ele. – John começou a dizer. – Fique aqui com a Sra. Hudson e... – John hesitou olhando para Mycroft – Você também vai ficar Mycroft?

A menção a seu nome tirou Mycroft de um transe. Parecia que ele também sabia sobre o tal estúdio abandonado e sabia do que seu irmão seria capaz. Mycroft parecia estar fora de órbita, pois não estava reagindo muito bem a toda aquela situação.

– Mycroft! – Molly então gritou. Estava chamando o nome dele pela 3ª vez. Então ela entendeu o quanto tudo aquilo era um choque para ele. William tinha conquistado os Holmes, e isso parecia envolver Mycroft também. William era importante para ele agora. – Olha, eu sei que você também está preocupado com William. – Molly dizia, enquanto escolhia bem as palavras. – Mas Sherlock precisa da nossa ajuda para salvá-lo. Sherlock também precisa de você Mycroft.

O Holmes mais velho apenas encarava Molly, absorvendo cada uma daquelas palavras. Então Molly notou o inesperado: uma lágrima escorria pelo rosto de Mycroft. Rapidamente ele a limpou e tossiu, voltando ao seu estado normal:

– Eu sei que Sherlock precisa de mim Molly. Falarei com alguns dos meus contatos e verei o que posso fazer pelo... – a voz dele falhou – William. EU não vou deixar que nada aconteça com ele.

Com um sorriso, Molly então o abraçou. – Obrigado Mycroft. Não sabe o quanto isso significa para mim.

O abraço foi inesperado e também deixou Mycroft sem jeito. Então ele rapidamente, também desceu as escadas atrás de John.

Encontraram Sherlock batalhando para conseguir um táxi. Ele estava ficando todo vermelho de raiva:

– POR DEUS! NÃO HÁ UM TÁXI NESSA CIDADE?

– Sherlock, o que está pensando em fazer? – John disse, segurando o braço do amigo enquanto um táxi encostava. Sherlock apenas se virou, com o olhar destemido expressando um ar perigoso:

– Eu vou acabar com ele John.

***

– Ora, ora, parece que o seu papai não vem te salvar pequeno Holmes. – Jack dizia com um sorriso maligno enquanto passava a arma pelo rosto de William.

O pequeno estava amarrado a uma cadeira, com as mãos e os pés envolvidos numa corda apertada. O coração de William nunca tinha batido tão rápido. Estava com medo, com muito medo. E tentava gritar, mas a fita na sua boca impedia que o som saísse.

– Ninguém vai vim te ajudar Will. – Jack agora andava em volta da cadeira, balançando o revólver.

O estúdio abandonado tinha sumido e deixaram para trás o fundo infantil. Um pequeno palco ainda estava montado na frente, cheio de poeira. Uma grande pátio sujo se estendia na frente do palco. Alguns cabos e até filmadoras, foram também deixadas para trás. Uma das filmadoras estava ligada, focalizando Will.

– Você pode até tentar gritar Will, mas infelizmente ninguém vai te ouvir. – Jack disse tentando parecer triste. – Sabe, eu não era filho único igual você. Eu tinha um irmão. Mas agora... – Jack disse ficando de frente para William –... ele está morto.

Will estava desesperado, com sua visão embaçada devido as lágrimas.

– E sabe quem o matou? – Jack agora estava mais afastado, começando a apontar a arma para William.

– Eu – Jack então se virou e viu de quem era aquela voz conhecida.