The Forest City escrita por Senjougaha


Capítulo 89
Capítulo 89 - Proclamada


Notas iniciais do capítulo

Oiê! ♥



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Era impossível não sentir tensão naquele momento.

Com certeza qualquer um que me visse a notaria também.

Delaryon empurrou as portas pesadas sem esforço algum e adentrou o salão sem cerimônia.

Se eu estivesse em minha forma humana provavelmente seria cegada, mas meus olhos naquela forma se adaptavam facilmente a mudanças.

Tentei conter a surpresa quando vi que na verdade o salão era um pátio enorme e cheio de criaturas, sendo que a maioria delas eu já tinha desenhado.

Fiz uma nota mental de mostrar o caderno de desenhos para papai, para que pudéssemos descobrir o motivo dos meus transes.

Seth estava ali.

Em sua forma de dragão.

Franzi o cenho e o encarei enquanto sua boca gigante se curvava num sorriso de lado, discreto.

Suas escamas roxas e negras contrastavam com as cores das outras criaturas e me senti estonteada.

— Não encare tanto - Iria resmungou - está na cara que é novata.

Assenti, ainda sentindo meu olhar atraído pelo dragão venenoso.

Caminhamos pelo salão aberto e repleto de criaturas.

Não havia um teto então dava para ver o céu em seu crepúsculo, mas haviam paredes de rocha com janelas gigantescas. Com a cabeça para dentro de duas dessas janelas eu pude ver dois dragões desconhecidos. O primeiro dragão era vermelho e o maior que já tinha visto em toda minha vida. Era maior que Daniel e Seth, maior que o segundo dragão que estava ali. Ele tinha uma aura agressiva, como se estivesse prestes a se irritar com os seres andando diante de seus olhos e conversando em línguas estranhas. Seus chifres pontiagudos ameaçavam a tudo ao seu redor ao mínimo mover de sua cabeça.

O segundo dragão era azul e podia dizer com 99% de certeza de que era uma fêmea. Seus olhos puxados eram cristalinos e seus chifres pareciam conter gotículas de água. Suas escamas eram de um azul brilhante que lembrava o oceano.

Me sobressaltei ao notar que ela olhava para mim e logo sorri um tanto desajeitada.

Não importava como eu olhasse, os dois eram lindos, mas ela parecia um tanto deixada de lado pelo dragão vermelho.

Continuei seguindo Yukina e Iria que estavam ao meu lado tocando meu braço levemente para me guiar e encontrei Solara e nossa mãe.

Minha irmã abriu um sorriso caloroso que logo foi compensado com o olhar gélido da rainha dos elfos.

Adalind me encarou dos pés à cabeça e não emitiu som de reprovação ou algo do tipo, então concluí que eu lhe parecia bem.

— É a sua primeira vez em algo do tipo, então aprenda com tudo o que ver aqui – Solara sorriu amigavelmente.

Seus olhos bicolores como os meus vasculhavam o salão e eu sabia que ela procurava por Seth.

Acompanhei seu olhar e encontrei o dragão venenoso sem muita demora.

Ele permanecia silencioso ao lado de Daniel, parecendo evitar quaisquer conversas.

Me perguntei se dragões possuíam uma língua diferente, como os elfos.

Observei Daniel.

Seu corpo dourado parecia feito de ouro, mas cada parte dele era um aviso de alerta para qualquer um que tentasse se aproximar. Daniel possuía dois chifres longos e espinhos metálicos por toda a sua coluna vertebral. Na ponta de suas asas haviam pontas afiadas e de alguma forma ele parecia solitário.

Eu queria falar com ele.

— Vocês ainda não se acertaram? – Yukina perguntou em um tom de voz baixo.

Meneei a cabeça em sinal negativo e desviei o olhar, ainda que me sentisse altamente tentada a continuar contemplando-o.

Surpreendentemente minha forma original estava se mantendo e eu não tinha vontade de retornar à humana tão cedo. Talvez fosse porque ali eu me sentia encaixada, mas não sabia dizer ao certo.

Quando todos os seres começaram a caminhar numa só direção, Iria me empurrou para fazer o mesmo.

Papai, que tinha nos deixado sozinhas sem que eu notasse sua ausência, retornou e me assustei com sua aparência.

Ele não tinha se transformado antes de sair de casa.

Não tinha passado pela minha cabeça qual o seu motivo, então naquele momento prometi a mim mesma me empenhar em conhecer Delaryon melhor.

Ele era meu pai e futuro rei, afinal.

Os olhos vermelhos eram os mesmos, mas das costas de papai saíam duas asas negras com espinhos nas extremidades, suas orelhas eram compridas e pontudas a ponto de serem maiores que sua cabeça. Seus pés descalços deixavam à mostra as garras negras e havia um rabo que se mexia no ar, inquieto.

Delaryon usava um elmo com dois chifres grandes e me perguntei se não havia um par real por baixo daquilo. Seus cabelos estavam enormes, ultrapassando sua cintura e totalmente negros.

Ele era, de alguma forma, muito atraente e eu podia entender por que minha mãe o aceitara.

— Vamos? – ele disse, com sua voz normal e um sorriso singelo que mostrava presas.

Correspondi ao seu sorriso e aceitei o braço que me foi oferecido.

— Um dia você herdará alguns traços demoníacos, então se acostume com o que vê, Selene – ele disse e depositou um beijo na minha testa.

Senti o local queimar um pouco e meu corpo relaxou imediatamente.

— Mostre a eles a futura rainha do reino que voltará das sombras – ele disse e nos sentamos à mesa oval e gigantesca, onde todos os outros aguardavam.

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Não é preciso dizer que eu era o alvo de muitos olhares e cochichos.

De um lado eu tinha papai, que parecia perigosamente calmo, do outro Yukina que cumprimentava a todos com seu lado de bruxa misteriosa e antiga que eu conhecia tão pouco.

Iria se sentava ao lado de Yuki e à minha frente eu tinha os dragões vermelho, azul, Seth e Daniel.

Em momento algum Seth ou Daniel dirigiram seus olhares para mim e aquilo me chateava um pouco.

Uma discussão se desenrolava já faziam algumas horas – não podia dizer ao certo quantas, já que podia notar que o tempo corria de forma diferente.

Já era noite e as paredes que antes eram pedras cinzentas agora eram brilhantes e iluminavam o local adequadamente, como se fossem mágicas.

Eu estava cansada de ficar sentada, observando tudo, ouvindo indiretas e argumentos que pareciam sem fundo até mesmo para uma intrusa como eu.

Engoli em seco pela milésima vez e senti minha orelha queimar devido ao earcuff que a apertava.

— Se Vladimir tem interesse em Selene, talvez devamos considera-la uma ameaça também – uma voz disse numa língua que, inesperadamente, pude compreender – não é certo confiar em uma híbrida.

Disse a mim mesma para não ficar nervosa e não demonstrar medo.

Dirigi meu olhar à dona da voz e pude ver uma mulher ruiva com vestes estranhas.

Seu vestido vermelho colado à pele deixava boa parte da frente à mostra, inclusive seus seios e barriga. Em volta dela uma aura flamejante impedia qualquer outro à mesa de se sentar próximo demais.

Afastei a franja para o lado e pude ver o que de fato ela era: uma fênix. No lugar da bela mulher que atraía os olhares, havia um pássaro em chamas, mas ele não tinha muito tempo.

Em breve aquela fênix desapareceria do mundo para renascer depois de muito tempo.

Eu estava me acostumando a usar o olho negro, mas sabia que não era uma coisa boa.

— O que te leva a pensar isso? – perguntou papai, calmo.

— Vladimir saiu de seu sono milenar porque finalmente encontrou uma companheira, talvez isso? – ela cutucou as unhas, soando petulante – talvez ele apenas queira procriar pela segunda vez na vida. O surgimento de uma nova geração de puros-sangues causaria uma desordem e tanto.

Aquilo pareceu de fato irritar papai.

Ele abriu a boca para dizer algo, mas Adalind o interrompeu para a minha surpresa:

— Se minha filha tivesse intenções de procriar com o vampiro criador, ela não estaria aqui – disse a elfa rainha, mantendo sua postura rígida.

Me senti aliviada, mas não sabia o que minha mãe planejava então não me permiti relaxar tanto assim. Também sabia que suas palavras não seriam suficientes para convencer alguém que desejava duvidar.

O dragão vermelho se remexeu inquieto e quando nossos olhos se encontraram, senti vontade de desviar o olhar.

Ele era totalmente intimidador e não se parecia com a imagem que Daniel ou Yukina me passaram sobre ele.

Eu esperava alguém mais acolhedor.

“Ele é um dragão, dã”, pensei comigo mesma.

“A única forma de provar isso é se casando e formando uma aliança entre dois povos”, disse uma voz em alto e bom som, mas na minha mente.

Os que se sentavam na mesa ficaram inquietos, concordando entre si.

O dragão vermelho ainda me encarava, como se esperasse uma resposta vinda de mim.

Ele estava em nossas mentes, disso eu tinha certeza.

O que ele estava sugerindo?

Com quem eu deveria me casar?

Não queria fazer aquilo de forma alguma. Minha vida amorosa já estava fracassada o suficiente.

Senti vontade de revirar os olhos, mas me contive.

— O mais recomendado para esta tarefa seria o seu filho – a fênix mais uma vez se pronunciou – eu soube que os dois viveram algum tempo juntos, como um casal humano.

Uma fumaça saiu das narinas de Daniel e senti meu estômago afundar. Era quase como se ele dissesse “não me lembre desta vergonha, eu não tive culpa”.

Dirigi o meu olhar para a fênix e semicerrei os olhos.

— Está tão desesperada pelo pouco tempo que lhe resta assim? – Perguntei, com um sorriso de lado.

A ruiva piscou, surpresa e seu rosto se tornou pálido.

Papai me cutucou e franziu o cenho, sem saber o que eu dizia.

— Ainda que digam que uma híbrida não é confiável o suficiente para fazer aliados, eu talvez seja a única capaz de dizer se há um traidor aqui – afastei a franja e senti meu olho negro arder – eu posso ser apenas uma meio-sangue, mas eu ainda sou a princesa dos elfos e sucessora dos demônios, o que significa que me ter como aliada é ter dois reinos como aliado. E vocês ainda hesitam e tentam me empurrar um casamento...

O silêncio que se instalou no salão foi tenso. Entre cada pessoa que se sentava na mesa quase dava pra ver as ondas de desconfiança depois das palavras que eu dissera e me senti satisfeita com isso.

— Você diz que é a sucessora dos demônios, mas não há reino algum para suceder – a ruiva se levantou e apontou o dedo para mim, enfurecida – apenas um rei velho e amargurado.

— Ah, não se preocupe – eu sorri, gostando da sensação de abraçar meu lado um tanto sombrio – quando você voltar vai poder ver de perto o reino que eu mesma, a híbrida desprezível, vai trazer de volta com ou sem a ajuda de vocês. E ah, é claro que eu vou pensar bem no caso de alguém me pedir socorro.

O burburinho na mesa começou e algumas vozes se levantaram contra o que eu havia dito.

De alguma forma eu sentia que dissera demais, mas não me arrependia.

Mesmo que eu tivesse a chance de me casar com Daniel, aquele que eu amava, não queria fazê-lo daquele jeito.

Ele não me amava, brincava comigo e agora, diante de pessoas importantes, sequer me olhava nos olhos.

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Me joguei no sofá e atirei os saltos para longe, bufando.

Eu não retornara à minha forma humana e tampouco papai, mas era madrugada e humano algum estava nas ruas, o que nos permitiu voltar para casa em silêncio e escondidos.

Passei a mão no rosto sem me importar mais com a maquiagem borrada e papai se sentou diante de mim, encolhendo as grandes asas negras que por um momento me lembraram as de Tanatos.

Tanatos.

Ele me dera algo que dizia ser uma bênção, mas também era uma maldição.

Saber demais sempre era uma maldição.

— Metade deles estão nos apoiando agora – Delaryon resmungou.

Ele tirou o elmo e confirmei minha suspeita: por baixo havia mesmo um par de chifres longos e curvados.

— Desculpe, eu estraguei tudo – respondi, desanimada.

Papai fez um sinal com as mãos como se o assunto estivesse encerrado, mas permanecia pensativo na poltrona.

O observei enquanto ele olhava para baixo e procurei similaridades entre ele em mim.

Nada.

Meus cabelos eram loiros e meus olhos bicolores eram totalmente élficos.

— Tem certeza de que sou a filha certa para suceder? – perguntei.

Papai me olhou surpreso.

— É claro que tenho – ele tocou minha testa com a ponta dos dedos – eu sinto o poder em você.

— Solara pode ter algo para despertar também – respondi – eu, até agora, não me sinto digna de ser o que sou.

— Ninguém é digno de ser o que é – ele respondeu, com os olhos cansados – é por isso que perdemos as coisas na velocidade em que ganhamos elas.

Seu olhar se tornou distante e me perguntei se ele se referia ao seu reino banido.

Queria saber o motivo da Queda, mas não me atrevia a perguntar pois sabia o quanto isso afetava Delaryon. Também sabia que o próprio tinha sido o responsável por isso.

— Você fez um bom trabalho hoje – ele sorriu – ainda que não tivesse dito aquilo, eu não sabia quantos deles nos apoiariam. Agora, ao menos você conseguiu tocar metade deles com suas palavras e eu não poderia estar mais orgulhoso de você, embora ache imprudente abrir a boca descuidadamente assim.

Corei e assenti.

— Da próxima vez, pense antes de falar – ele me advertiu e afagou minha cabeça – eu quase não lhe reconheci enquanto dizia aquilo.

— E isso é ruim? – perguntei franzindo o cenho.

Papai me encarou com os olhos vermelhos brilhando.

— É assustador, isso é perfeito – respondeu – boa noite pequena híbrida desprezível.

Soltei uma risada e joguei a almofada nele.

— Boa noite rei velho e amargurado – respondi.


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