The Forest City escrita por Senjougaha


Capítulo 54
Capítulo 54 - Pertubada


Notas iniciais do capítulo

Jurava que já tinha postado esse capítulo! :o



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Pisei em terra firme sentindo meu corpo esmorecer de alegria.

Não era por mal. O mar era realmente agradável e calmante, mas digamos que eu não gostaria de passar a minha vida toda tendo enjôos em troca da vista de um azul infinito, peixes saltando para fora d’água e sereias cantando os homens a bordo.

Revirei os olhos e me sentei no chão do cais, esperando a vertigem passar.

Daniel puxava as malas atrás de si com um desânimo palpável. Me permiti rir da situação e ele franziu o cenho, entediado.

– Fique em casa hoje - Yukina implorou - está tarde pra aparecer do nada diante do seu pai.

Neguei com a cabeça. Eu precisava da minha cama, meu banheiro, minhas coisas.

Meu pai e sua comida, suas piadas sem graça e a memória de tê-lo visto usando um avental e com espuma de sabão em pó até os cotovelos me causava lágrimas nos olhos de saudades.

– Entendo - ela sorriu e segurou uma mala gigante sem esforço algum - bem, em todo caso… eu te ligo amanhã quando acordar.

– Por favor, não faça isso - gemi, prevendo que ela acordaria de madrugada.

Solara deixou escapar um riso em alto e bom som, atraindo olhares dos que passavam por nós e acabavam sorrindo também.

– Vou te levar pra sua casa, irmãzinha - ela agarrou meu braço num aperto e sorriu abertamente em despedida silenciosa à Seth.

Procurei Daniel com o olhar e me surpreendi ao vê-lo já me encarando.

– O que acha de entrar pra faculdade? - ele pergunta de repente e meus olhos se arregalam.

– Faculdade? - repito, me sentindo uma anta.

– Sim - ele assente pensativo - vai ser divertido.

Yukina solta um grito de excitação e escala as costas de Daniel, dizendo o quanto a ideia fora genial e que o momento devia ter sido gravado, pois provavelmente o primo jamais pensaria algo do tipo futuramente.

Revirei os olhos e sorri de lado.

– Faculdade parece bom - assoprei a franja que caía nos olhos e imaginei ter visto Iria sorrir, mas talvez fosse só impressão minha.

– Seth vai cuidar de nos inserir em alguma de qualidade - Yukina se animou.

Ignorei a parte que não tínhamos nos inscritos em nenhuma e a ilegalidade por trás das palavras da japonesa impertinente.

– Selene? - notei que Seth falava comigo.

Arqueei uma sobrancelha em sinal interrogativo.

– Tem preferência de curso? - ele perguntou como se fosse óbvio.

Nervosa, mexi nas pontas ressecadas do meu cabelo e assoprei a franja.

– Er… Não. - respondi.

Os olhos de Yukina brilharam verdes como um gato na escuridão. Estavam acusadores, do tipo “eu sei que você mentiu”.

Revirei os olhos.

– Certo, certo - levantei as mãos em sinal de rendição - se possível eu gostaria muito de Administração.

Daniel franziu o cenho e se manifestou pela primeira vez depois de ter dado a ideia:

– Não acha isso muito… - ele deu uma pausa, hesitante - comum?

– Ser um pouco comum é a intenção - confessei com a voz baixa.

Iria sorriu, zombeteira e jogou os cabelos para trás.

– Nesse caso, eu também farei esse curso - ela decidiu - veremos quem se sai melhor no quesito “normalidade”, elfa.

Revirei os olhos e sorri.

Pensei em como ela se parecia com um cachorrinho que gostava de brincar de “puxa”. Queria que você desse algo para morder e que o puxasse, como se estivessem brigando, um cabo de guerra.

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Abri a porta e tentei dar um passo para dentro de casa, mas uma barreira invisível me impediu e choques elétricos percorreram meu corpo.

– Mas o que diabos… - grunhi.

Procurei a fonte do problema, mas nada encontrei.

Tudo parecia muito normal.

O relógio brega continuava na parede da sala, o tapete continuava impecável com sua escrita “seja bem vindo” em comic sans e o sofá estava perfeitamente decorado com uma colcha de retalhos verde e amarela - presente de um amigo brasileiro do papai.

Franzi o cenho e arrisquei colocar o indicador porta àdentro, recebendo mais choques.

– O que diabos está acontecendo aqui? - confusa e irritada, dei um soco no ar, atingindo a barreira invisível eletrocutora e voando para trás.

Bati a cabeça nos degraus da escadinha e gemi.

Quando consegui me levantar me deparei com uma cena que talvez eu não devesse ter visto.

Meu pai surgiu ainda de avental, e isso seria engraçado se ele não estivesse com uma expressão demoníaca. Seus olhos estavam vermelhos e as veias do seu pescoço estavam saltadas.

– Pai? - chamei com a voz baixa.

Imediatamente, ele largou o objeto ameaçador que segurava nas mãos e sua expressão voltou ao normal.

– Oh, Selene - ele se surpreendeu - é você.

– Claro que sou eu - me indignei - quem diabos achou que fosse, papai?

Ele deu de ombros como se aquilo não fosse nada demais.

Franzi o cenho e limpei meu traseiro com as mãos.

– Tire essa porcaria pra eu poder entrar - resmunguei, fazendo-o me olhar surpreso com minha reação agressiva.

Mas ele queria o quê? Se recusou a falar sobre o que eu era a minha vida toda e quando volto pra casa encontro uma barreira que me impede de entrar. Ainda assim ele espera que eu não toque no assunto? Que haja normalmente como se não tivesse visto seu rosto daquele jeito?

– Entre - ele se recompos e alisou o avental, me analisando com seus olhos verdes.

– Obrigada - ironizei e entrei na casa bufando.

Meu pai me seguiu escada acima enquanto eu subia degrau por degrau batendo os pés com força, pra depois entrar no quarto e me jogar na cama. Acho que quando adormeci, ele continuou ali me olhando.

–--------

Tive um sonho estranho.

Uma mulher vestia uma armadura de prata e se esforçava para se levantar sobre o gelo fino que cobria o lago. Um homem forte, de cabelos negros e olhos vermelhos surgiu acima dela e quando pensei que a ajudaria a se levantar, ele pisou nela.

Notei que a mulher estava grávida. Sua barriga gigante impedia que seu corpo inteiro tocasse o chão gelado e úmido. Senti pena da criança ali dentro e um vento gelado me atingiu, congelando minha espinha.

Eu conhecia aquela mulher de algum lugar. Um gemido de dor escapou dos lábios dela enquanto ele a virava para cima e com uma faca negra, rasgou a armadura de prata para em seguida, rasgar suas roupas e seu ventre. O sangue da mulher era azul, e contrastava perfeitamente com o branco azulado do gelo que começava a rachar. Os gritos fracos de dor e sofrimento dela chegavam aos meus ouvidos e me faziam ter vontade de dizer para o homem parar, mas eu não conseguia me mexer, tampouco proferir palavras.

De dentro do ventre, o homem tirou duas crianças. Não pude ver seus sexos, porque dormiam profundamente enquanto a mãe sofria.

Ele alternou o olhar entre uma e outra, as analisando com seus olhos vermelhos e sedentos por sangue, vingança.

De repente, uma delas abriu os olhos. O bebê tinha heterocromia: um azul e outro negro.

O homem sorriu ternamente para a criança acordada e a acolheu com um abraço, jogando a que dormia em cima da mãe.

Acordei sobressaltada, com a respiração pesada e me parecia que todo o ar do mundo não seria o suficiente.

Joguei meus cabelos para trás e constatei que estava suada demais. Tentei me levantar da cama para tomar um banho, mas minhas pernas pareciam feitas de Fini. Como se eu fosse a mulher do sonho: com frio, cansada e retalhada.

Me joguei de volta, com o rosto entre os travesseiros.

– Mas que droga - resmunguei com a voz abafada - o que diabos está acontecendo comigo?


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