The Forest City escrita por Senjougaha


Capítulo 29
Capítulo 29 - Presenteada


Notas iniciais do capítulo

Olá galero ♥



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Já estava ficando impaciente. Já estava impaciente, na verdade. Até quando Liam ia me deixar plantada esperando por ele? Sem problemas pra mim, já que minha vontade era me trancar no quarto e rejeitar todas as ligações de Yukina, que ocorriam de cinco em cinco minutos por sinal.

– Ele já chegou? - ela perguntava em todas as ligações, sem nem dizer “alô”.

Suspirei e me sentei pela milésima vez. Torci também pela milésima vez para que Liam me ligasse e cancelasse comigo. Seria uma dádiva divina.

Mas quando terminei esse pensamento, uma batida firme na porta soou e meu pai saiu da sala, dando a privacidade que eu não queria e tampouco precisava quando se tratava de Liam.

– Oi - cumprimentou ele quando abri a porta e me entregou um buquê de lírios.

Pelo menos não eram rosas.

– Oi - respondi e sorri satisfeita por ele não ter me dado flores vermelhas que tinham significados suspeitos.

Abri mais a porta para que ele pudesse entrar e ele o fez sem que eu precisasse convidar, o que foi um alívio.

Meu pai apareceu logo depois para conversar com Liam enquanto eu supostamente terminava de me arrumar em meu quarto. Mas eu não precisava daquela droga de arrumação toda. Só estava fazendo aquilo porque fora o que Yukina mandara e me ameaçara pra fazer.

– Dá ares de elegância e é sinal de que você quer realmente ficar bonita para ele - foi o que ela disse.

Revirei os olhos e encarei meu reflexo no espelho. Como eu tinha imaginado ao experimentar o vestido, a japonesa me fez usar um colar dourado emprestado, que eu não me atrevi a perguntar se era de ouro. E ainda por cima um brinco desnecessário que fazia cócegas todas as vezes que eu me mexia.

Coloquei o buquê de lírios num vaso de vidro com água que por motivos por mim desconhecidos, estava no meu banheiro. Suspirei e virei a cabeça de lado, pensando que eu não estava tão ruim embora me sentisse tudo menos Selene. Desci novamente as escadas, dessa vez carregando uma bolsa minúscula que Coraline me fizera usar com o celular dentro. Era só o que cabia, então mesmo que eu quisesse socar mais coisas ali dentro, não caberia nem com feitiçaria.

– Vamos? - chamei Liam tentando esconder minha impaciência.

Ele se levantou na hora e assentiu com força desnecessária. Franzi o cenho e imaginei a cabeça dele voando se colocasse mais força naquele movimento.

Liam estendeu o braço para que eu entrelaçasse o meu no dele e foi o que eu fiz depois de um pequeno (não tão pequeno assim) momento de confusão. Dãr, Selene!

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A música estava tão alta que meus ouvidos sensíveis protestavam com um zumbido. Estreitei os olhos e varri o salão procurando algum rosto conhecido, o que foi difícil. De repente, todas as garotas decidiram que seriam enfermeiras, diabinhas ou anjinhas supostamente sexys. Supostamente. Revirei os olhos e Liam riu ao meu lado, sabendo exatamente do que eu estava zombando internamente.

– Você estaria com uma delas se eu não viesse com você, o que não te torna alguém muito melhor - eu disse num tom irônico.

– Mas estou agraciado com a presença de Vossa Majestade, logo sou uma pessoa melhor - ele ironizou também.

Levantei a cabeça e ri. Aquela frase definitivamente tinha sua ironia.

– Hey! - ouvi uma voz familiar que fez com que meus olhos saltassem de alívio - vocês estão combinando!

Pela primeira vez reparei em Liam. Me senti culpada por não ter feito isso antes, mas o que eu podia fazer?

Realmente estávamos combinando. Mas Liam estava de mordomo, como aqueles dos animes, o que me rendeu muita satisfação e um sorriso brotou em meus lábios inconscientemente. Ele estava realmente bonito.

– Combinando perfeitamente - eu concordei e Liam sorriu com um brilho nos olhos, totalmente feliz com o elogio oculto na frase.

– Não sabia que você era uma sadista com fetiche por mordomos, Selene - Seth disse alegre - quer que eu me vista de mordomo?!

Revirei os olhos e ri.

– Adoraria te ver como mordomo qualquer dia - respondi piscando para Seth e correspondendo às suas provocações.

O que o deixou muito surpreso e sem reação. Dei risada de sua cara estupefata e maravilhada e da expressão ciumenta e excluída de Liam. Peguei na mão do meu par para deixá-lo tranquilo com a seguinte mensagem silenciosa: não vou te abandonar no baile, mordomo. Ele sorriu e chegou mais perto.

Avistei duas pessoas se aproximando e desejei não ter visto. Minha habilidade de ser inexpressiva foi muito bem vinda naquele momento, porque se eu não a tivesse, provavelmente demonstraria meu pânico interior e o nojo que estava sentindo de Michele, que estava colada ao corpo de Daniel.

Ele estava lindo, deslumbrante e tudo mais. Seu olhar que sempre continha carinho no fundo de toda aquela agressão, não estava nada carinhoso quando chegou perto de nós. Daniel estava vestido de pirata gostosão. Quase bati minha cabeça na parede quando pensei isso.

Para distrair meus pensamentos, encarei Michele. Ela estava diferente e mais criativa que seu séquito, que a seguia à distância. Michele estava vestida de anjo, mas havia um pequeno chifre fluorescente na cabeça dela e em suas mãos estava um tridente.

Errado. Totalmente errado. Tanto o fato de Michele estar vestida de híbrida (porque de anjo ela não tinha nada), quanto o fato de ela estar colada/agarrada/ensebada à Daniel.

Franzi o cenho.

– Oi - Daniel disse finalmente, com uma voz grossa e mau humorada.

– Oi - respondi com o cenho ainda franzido.

Ele encarou minha mão que estava sob a de Liam e desviou o olhar para sorrir à Yukina, que pela primeira vez percebi como estava tagarelando sem parar.

– Daniel, Selene não está linda? - ela perguntou com um brilho travesso nos olhos.

Revirei os olhos. Claro que ela aprontaria pra cima de mim com aquela de “shippar” Selene + Daniel.

– Aham - ele respondeu somente.

“Não fique decepcionada, não fique decepcionada...”, repeti à mim mesma. Liam apertou minha mão e lhe dei um sorriso, avisando que estava tudo “ok”.

– Olá bruxinha - Michele cumprimentou sorrindo perversamente.

Virei a cabeça de lado e dei um sorriso que seguia a mesma direção. Com tanta inocência quanto aqueles chifres fluorescentes de plástico presos à um arquinho vagabundo na cabeça de Michele representavam.

– Olá demônio - respondi e ela piscou ultrajada e confusa.

Ela olhou para Liam procurando apoio do ex-namorado e quando viu que ele só olhava para mim, recorreu à Daniel, que estava sério e pouco se lixando para a conversa.

– Dança comigo? - Liam pediu com os olhos brilhando e ainda segurando o riso.

– Claro, mordomo - respondi e fomos para a pista de dança.

Dancei com Liam pelo que parecia ser ume eternidade, mas foi agradável. Em nenhum momento ele desviava sua atenção de mim, o que era meio constrangedor e ao mesmo tempo, reconfortante. Era como se ele dissesse sem palavra alguma que se fosse Daniel, nunca me deixaria. Era essa a parte constrangedora. A consciência tanto dele quanto minha de que Daniel estava assistindo e observando cada movimento nosso e não parecia se importar.

– Posso roubar sua senhorita? - Seth pediu com um sorriso sacana no rosto.

– Desde que a devolva sã e salva - Liam torceu o nariz - e logo.

Ele se afastou e deu espaço para Seth, que não perdeu tempo e também não me deixou fugir.

– Meus pés estão no modo automático - resmunguei enquanto nos movíamos ao som da música que agora era lenta.

Seth riu.

– Mantenha-os dessa forma então - ele pediu e me girou.

Péssima ideia a de girar alguém que estava zonza pelos sons e odores exagerados de uma festa lotada de humanos que não tinham consciência do próprio cecê.

Pensei que ia cair, mas Seth me segurou de forma gentil e ao mesmo tempo, zombeteira. Tudo nele continha a dose certa de humor e sentimento infiltrado.

– Você é tão desastrada dançando quanto lutando - ele murmurou inconscientemente.

Dei um soco em seu braço, ganhando a atenção dele no mesmo instante.

– Isso é porque meus professores são péssimos - resmunguei me lembrando dos hematomas que Seth me ocasionara e das vezes que Daniel me forçava a continuar tentando mesmo que estivesse toda ferrada mental e fisicamente.

– Talvez seja porque o que ensina aula prática é irresistível demais - ele sussurrou em minha orelha.

Revirei os olhos. O professor da aula prática seria ele? Porque Daniel em momento algum saiu do seu lugar para lutar comigo. Depois de reparar nesse detalhe, franzi o cenho.

– O professor da aula teórica não tem auto-controle o suficiente para aulas práticas - Seth explicou percebendo minha linha de raciocínio e ainda assim, mantendo humor no tom de voz.

Ele me girou novamente, parecendo ter adorado descobrir que eu estava zonza. Mas antes que eu pudesse protestar dessa vez ou pisar com o salto fino em seu pé (com muita força), um grito ecoou no salão.

Encarei as expressões das pessoas presentes no baile e não notei diferença alguma. Foi então que eu notei.

O grito foi na minha mente. E algo me dizia que não era qualquer pessoa que tinha acesso à minha mente, então era Yukina.

Seth e eu nos separamos no mesmo instante por termos percebido juntos do que se tratava.

Selene!”, ela chamou desesperada.

O que foi?”, perguntei na minha mente mesmo, sabendo que ela estava ali presente.

Podia notar sua presença pelo desespero e medo que se instalou em minha mente, mas isso não vinha de mim.

Venha até o estacionamento, traga Seth e Daniel”, ela pediu.

Assenti feito uma retardada. Ela não podia me ver. Dãr mais uma vez, Selene!

Seth e eu encontramos Daniel e pelos nossos olhares, ele compreendeu que precisava nos acompanhar. E sem Michele na cola.

– Desculpe, Mi - ele disse à ela - preciso resolver alguns problemas.

– Tudo bem, querido - ela respondeu desapontada, provavelmente esperava mais daquela noite.

Ah meu Deus. Ele tinha chamado ela de “Mi”. Não sabia se ficava incrédula, impaciente, com ciumes ou com vontade de vomitar pelo apelido ridículo e pelas expectativas de Michele.

Resolvi deixar de lado e fomos apressados para o estacionamento. Eu esperava ver tudo, menos o que eu vi.

Liam estava estirado no chão ensanguentado, num lugar escuro perto das lixeiras. Seu pescoço estava dilacerado e seus olhos estavam fechados com força, como se ele tivesse visto algo que não gostaria e tivesse os lacrado para não ver de novo.

– Ele disse que voltava logo e começou a demorar - Yukina disparou chorando - então eu fui procurá-lo e encontrei ele… aqui…

Pelas expressões de Seth e Daniel, ver aquele tipo de coisa era comum e eles estavam no máximo, com pena da forma que Liam se encontrava. Mas eu estava pouco me lixando para o que eles consideravam normal, aquele era Liam.

Cheguei mais perto, embora Seth tenha tentado me impedir. O pescoço de Seth não estava só dilacerado, fora mordido com vontade. E ainda assim, Liam não estava com expressão de dor alguma.

Meu lábio inferior tremeu e por incrível que pareça, eu não queria chorar. Queria matar quem tinha feito aquilo. O que Liam podia ter feito para merecer estar… morto?

“Ah meu Deus, Liam está morto”, pensei, finalmente caindo na real.

A fantasia de mordomo dele continuava impecável embora o colarinho branco da camisa estivesse ensopado.

“Seja humana, Selene”, ordenei a mim mesma “chore um pouquinho”. Mas eu não conseguia. Respirei fundo diversas vezes e podia ouvir as vozes abafadas de Seth e Daniel tentando falar comigo, enquanto Yukina desatava a chorar. Mas eu simplesmente os ignorava.

Um quadrado branco e pequeno me chamou a atenção em meio à poça de sangue ao lado de Liam e quando semicerrei os olhos para enxergar melhor sem me aproximar, vi que era um bilhete.

O peguei com cuidado para não manchar de vermelho e li diversas vezes antes de estender para Daniel sem olhar para ele. Não queria olhar para ninguém no momento, não quando tinha uma voz gritando dentro de mim para que matasse quem tinha feito aquilo e que qualquer um, repetindo, QUALQUER UM era suspeito.

“Querida, Selene.

Você cresceu. Foi coroada.

Deixe-me dar este presente de parabéns e reconhecimento.

O sangue deste garoto é adorável, prove você mesma!

Assinado: uma antiga amizade”.

Finalmente consegui chorar. Pela primeira vez na minha vida. Mas não só porque Liam estava morto. Ainda queria matar quem tinha feito aquilo e ainda por cima, escrito um bilhete como se eu fosse fanática por experimentar diferentes tipos de sangue e tivesse amizade com pessoas que tinham o homicídio como hobby.

Eu estava chorando porque Liam tinha morrido POR MINHA CAUSA. Porque nunca mais veria o sorriso sincero e inocente dele ao dizer “gosto de você” pra mim, a culpada por sua morte nada bonita. Ele parecia inocente até mesmo morto!

– Selene - a voz baixa de Daniel chamou minha atenção.

– O que é?! - perguntei irritada por justo ele ter atrapalhado meu sentimento de culpa esmagador.

– Você consegue imaginar quem fez isso? - ele perguntou.

Senti meus olhos mudarem e meu maxilar ficar diferente. Os pelos da minha nuca se eriçaram e um surto de raiva e ódio me invadiu. Encarei Daniel. Ele realmente estava me perguntando aquilo?

– Se eu soubesse, não estaria aqui batendo papo com você - respondi friamente - estaria trazendo um cadáver.

Yukina se assustou com meu tom de voz e deu um passo para tras quando viu que eu estava quase transformada. Daniel continuou impassível, me olhando de cima como se minha reação fosse perfeitamente comum e correta.

– Some daqui - grunhi e virei de costas para ele, encarando o corpo inerte de Liam.

Seth se mexeu e antes que eu pudesse protestar, ele estava checando o pescoço de Liam. Ou melhor, procurando algo que pareceu ter encontrado.

– E então? - Daniel perguntou à Seth como se tivessem tido uma conversa telepática, o que deveria ser o caso.

Seth assentiu e virou o rosto de Liam para o lado, deixando visível dois buracos certinhos de presas que pareciam ser de vampiros. Se vampiros existissem.

– Ele vai voltar, Selene - Seth disse num tom carinhoso.

Como se aquilo fosse bom ou possível.

– O quê? - perguntei confusa.

Uma mão quente tocou minhas costas e eu não sabia se gritava pra ele sair de perto de mim ou se pedia um abraço. Comecei a chorar de novo.

– Liam não foi drenado, ele vai voltar - Seth explicou - quem fez isso é um vampiro.

– Liam vai ser um vampiro? - perguntei achando aquilo pior.

Seth percebeu que aquele fato só piorava tudo e parou de tentar arrumar as coisas. Era visível o seu desespero por me ver chorando, enquanto Daniel continuava desinteressado atrás de mim.

Me levantei e parei de chorar de repente.

– O que vocês vão fazer com ele? - perguntei à Yukina, limpando as lágrimas.

Ela deu de ombros. Sua crise já tinha acabado, assim como a minha.

– Se ele der problemas, vamos matá-lo - ela respondeu simplesmente - mas se ele se demonstrar interessado em colaborar, vamos ajudá-lo a controlar os instintos.

– Certo - murmurei.

Tudo o que eu podia fazer naquele momento era torcer para que o vampiro Liam fosse tão adorável quanto o humano Liam e quisesse colaborar para a harmonia de todos. Mas eu tinha certeza, no fundo, de que não seria assim tão simples quanto Seth e Yukina faziam parecer.


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Notas finais do capítulo

hur dur, Selene adorou o presente



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