Eu tinha que mudar, tinha que dar um jeito nisso, não podia mais ficar só pensando em ti e lamentando por tudo que aconteceu. Afinal, já se passaram seis meses que você partiu, sem mais nem menos. Seis dolorosos meses para mim. Passei esse longo tempo isolada do mundo, chorando nas noites frias, pensando em acabar com minha vida... Nossos amigos vendo a minha situação, começaram a tentar se aproximar de mim, talvez para me distrair e me fazer por um tempo que fosse, esquecer de você, mas nada adiantava...

Eu comecei a ter sonhos frequentes contigo, neles você dizia que me amava e que nunca me abandonaria de novo. Mas ao tentar te abraçar, eu não conseguia, não podia tocar em você. Eu começava a derramar minhas lágrimas, perguntando a mim mesma o porquê daquilo estar acontecendo. Sua expressão mudava e com a voz baixa você dizia que por eu ter te amado demais, você me deixou... Ao acordar ainda no meio da noite, eu me dirigia até a sacada com a pequena raposa de pelúcia nos braços, sentava-me ao chão frio para olhar a Lua, que como eu estava sozinha... Eu soluçava baixo, pois não tinha mais lágrimas para chorar. O vento forte passava por mim, e eu rezava que ele levasse toda a minha dor e angustia embora...

Eu estava definhando pouco a pouco e vendo minha situação, minha mãe mandou-me em viagem para outro estado, uma visita aos primos, como ela disse. Ela deve ter comentado o que estava acontecendo comigo, pois eles evitavam me deixar sozinha muito tempo. Tentava não parecer muito infeliz perto deles, mas quando me via sozinha, deixava as lembranças de ti tomar conta de mim. Passei um mês com eles e até me senti mais leve ao sair de lá. Quando cheguei em casa fui recebida com um abraço carinhoso de minha mãe, ela me perguntou se eu havia melhorado, e olhando eu seus olhos vi que eu não estava só destruindo a mim mesma com o passado, eu estava destruindo àqueles a minha volta também...

Fora a partir daquele momento que eu percebi que deveria mudar, não por mim, mas por aqueles que me viam sofrer e sofriam comigo. Voltei à nossa casa, desde que fui morar com minha mãe que não pisava mais alí. Peguei minhas coisas e alguns pertences que você deixou, levei tudo a casa de minha mãe e tranquei tudo que lhe pertencia, junto com sua foto e com muita relutância, a raposa de pelúcia em um baú antigo que guardava no porão. Olhei no espelho vendo meus cabelos vermelhos longos, tinha que fazer algo em relação disso também. Peguei uma tesoura e aos poucos deixei meus cabelos na altura dos ombros, olhei o chão coberto pelas madeixas escarlates e sorri, pela primeira vez em tempos, mais leve.

Todos pareceram surpresos com minhas ações, mas vi a felicidade neles. Vendi nossa casa, voltei a conviver com as pessoas a minha volta. Eu estou vivendo novamente? Não, minha vida eu tranquei naquele baú junto com minhas lembranças de você, não as boas, pois elas são as únicas coisas que me fazem lembrar dos dias em que fui feliz. Me disseram que eu finalmente estou vivendo sem você, mas eu discordo e digo que estou...

Sobrevivendo...