Sexo, Amor e Livros escrita por Julio Kennedy


Capítulo 12
Surto semanal


Notas iniciais do capítulo

Me deu uma vontade louca de escrever então esta ai, espero que gostem. As coisas estão meio loucas na cabeça de Paulo então a minha também fica sabe.

O personagem Igor foi criado pela leitora Asheley Dream, a apresentação desse personagem merce total credito dela, pois foi ela quem o drescreveu e o imaginou! Apenas fiz uma pequena alteraçãozinha!!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/496027/chapter/12

Eu estava me sentindo tão angustiado e sinceramente não tinha certeza do por que. Talvez fosse porque eu sou um babaca e terminei o que ainda não tinha com o vendedor de livros. Talvez fosse porque eu ia ser pai, o cara mais irresponsável do mundo ia ser pai. Talvez fosse porque meu melhor amigo estava morto há um mês e eu tivesse fingido que estava tudo bem esse tempo todo, mas não estava.

Fiquei dando voltas de carro pela cidade esperando dar a hora do maldito encontro no DASA, praticamente surtando.

Depois de duas horas nesse ritmo, coincidentemente enquanto eu parava em um sinal finalmente me dei conta do que eu queria. Vi uma família atravessando a faixa de pedestres. Um casal bonito e aparentemente feliz, que segurava as mãos de um garotinho de quatro ou cinco anos que pulava enquanto sorria.

E eu estava sozinho. Depois de tudo, no fim das contas eu estou sozinho. Não tinha namorado, não tinha amigos próximos, minha família não falava comigo. Então esse era o fim pra quem não sabia o que era amar?

Eu montaria em todas as bicicletas que existem pra poder conseguir entender o que realmente era amor, mas pra mim isso realmente não existia. É como um conto de fadas, lindo na teoria, na imaginação alheia, mas não passa de um conto de fadas.

Não que eu não quisesse acreditar entende, mas eu nunca tinha sentido. O que será que tinha de errado comigo? Dei um soco na buzina do carro e a família que atravessava se assustou e olhou estranho para o meu carro.

Achei que estivesse apaixonado por Frederico, mas na verdade acabei ficando atraído pelo primeiro cara realmente bonito que me deu bola depois que comecei o tratamento. Alimentei a ilusão de que ele era o que eu queria, mas no fim tudo passou depois de uma noite de sexo mal sucessiva.

Eu não sabia quem era o vendedor de livros, eu não quis saber. Então era isso? Eu queria mantê-lo “imaculado”, santo? Acho que tudo que eu queria é que ele fosse diferente, mas no fim foi igual e isso esta me deixando frustrado?

– O que eu to fazendo meu Deus – exclamei colocando a mão no rosto.

Quando o sinal se abriu decidi que andar de carro tão nervoso quanto eu estava não ia resolver nada. Então assim que encontrei uma pracinha estacionei e fui até o primeiro banco que vi.

O dia estava quente de mais, então foi uma ótima sensação me sentar debaixo daquela arvore gigantesca e sentir a brisa um pouco no rosto. Senti que estava começando a me acalmar um pouco, então decidi não me forçar a não pensar no que estava me afligindo, mas sim aceitar o meu fato.

Dizer pra mim mesmo que estou surtando, mas que tudo ficaria bem mesmo assim. Negar a dor não te ajuda a cura-la, o sentimento cresce e a ferida apenas continua se abrindo, lentamente te corroendo.

Tirei a camisa amarela e a embolei, colocando-a no banco e me deixei usando a mesma como travesseiro. A arvore sobre mim tinha galhos finos que se entrelaçavam até por volta de uns cinco metros de altura. As folhas balançavam de acordo com a brisa quente e a madeira estalava vez ou outra pela força do movimento.

– Eu não quero mais isso – murmurei pra mim mesmo – você realmente existe se ninguém se lembra de você? Se ninguém se importa?

Continuei ali até faltar apenas cinco minutos para a reunião do DASA. O prédio cinza não era muito longe dali, então não demorei mais de dez minutos para chegar. Subi de elevador, a ultima coisa que eu estava pensando era em sexo, eu não precisava gastar energia.

Então notei outra coisa, eu não estava mais tendo meus devaneios. Não estava me pegando em um transe sexual como nos primeiros meses. Depois da morte de Marcelo tudo estava mudado.

A porta com o símbolo estava, diferentemente do normal, fechada. Bati duas vezes antes de enfiar a cara pela porta e ver que no querido circulo de Douglas apenas haviam três pessoas. Bem diferente dos fins de semana quando de quinze a vinte tarados se encontram ali.

– Entre – Douglas pediu ascendendo de uma das cadeiras – esse é Paulo e ele faz parte da turma dos fins de semana – ele contou para o trio que me olhava de rabo de olho. Dei um oi para todo mundo e eles me responderam um a um.

Eles não eram tão anormais quanto pensei que seriam, os boatos de que o pessoal que frequentava o grupo durante a semana era estranho deve ter vindo de uma pessoa maldosa.

A primeira pessoa que me cumprimentou foi uma garota que devia ter por volta de dezoito anos, diria menos se não conhecesse as regras em relação a menores. Ela tinha longos cabelos negros com pontas rosa. Usava meia calça listrada e uma camiseta preta com o símbolo do nirvana.

O segundo foi um cara que deveria ter mais ou menos a minha idade. Era bonito, mas não excepcionalmente, quero dizer, não era uma beleza frederiquiana, mas eu nem devia estar pensando nisso então. Ele tinha cabelos pretos, olhos verdes, barba por fazer e pelo que a camiseta justa dele mostrava, também sarado. Não bombado, era magro, mas definido.

E por ultimo o que confirmava os boatos. Um ser meio indefinido. Era negro e tinha cabelos pretos em um corte Chanel. Um queixo forte que me dizia “sou um homem”, no entanto usava saia justa e grandes seios enchiam o bojo do sutiã branco que estava a mostra. Tinha braços fortes e másculos, mas usava batom e rímel. Seus pés eram enormes dentro da rasteirinha, mas seus cílios eram curvados.

– Esses são Laura – Douglas começou a apresenta-los enquanto eu me sentava. A garota da meia calça acenou – Igor – o cara sorriu meio sem graça – e Priscila – e o negocio estendeu a mão.

Minha primeira reação foi encarar o movimento, mas mantendo-me imóvel. Então quando Priscila percebeu que eu não pegaria em sua mão, nem tão pouco beijaria como acho que ela pensou que eu faria, ela simplesmente bufou, cruzou as enormes pernas e recolheu sua mão pousando sobre seu colo.

– Como eu estava dizendo – continuou Douglas agora olhando para a tal Laura – você só tem que se dar mais valor. Se ele realmente se importasse com você, ele não diria isso.

A garota bufou e torceu o nariz. Seus olhos estavam em brasa, sinal de que a conversa estava sendo profunda – olha querida – Priscila começou a falar – se um homem faz eu tirar meu bebe e depois come outra vagabunda de rua eu cortaria o pinto dele e colocaria no meu congelador – terminou de falar erguendo o dedo indicador e a sobrancelha esquerda.

– Cala boca – a garota gritou se levantando. Douglas tentou acalma-la, mas já era tarde de mais – primeiro, você não tem útero. E o Carlos me ama ta.

O travesti se ergueu e vou ser sincero admitindo que tive o impulso de arredar a cadeira pra longe, tamanho medo me ocorreu. O cara, opa, mulher, tinha quase dois metros de altura e parecia disposto a quebrar todos os dentes da bota da garota.

Igor se levantou e ergueu as mãos. Ele era menor que eu, não muita coisa, mas percebi quando fiquei de pé tentando apaziguar também – calma moças – pedi. Então Priscilão olhou pra mim e sorriu.

– Só porque o boy pediu amapô – afirmou a, o... sinceramente não sei como definir.

– Tudo bem pessoal, todos calmos – pediu Douglas se sentado e respirando ofegante – porque não se abre conosco – pediu Douglas, mas assim que ele olhou pra mim novamente vi sua expressão enchendo de pavor. Ele se arrependeu no mesmo instante em que o fez.

– Quem sabe mais tarde – respondi me abaixando na cadeira. Se quer saber, até aquele momento eu estava

Vi o alivio e a cor voltando ao rosto de Douglas aos pouco. Ele tinha tanto medo de mim assim, mesmo tendo “nos resolvido”? Eu devo ter sido realmente um grande idiota!

O garoto se levantou e limpou a garganta – eu não me importo. Sei que já ouviram essa historia umas quinhentas vezes, mas hoje temos um novato e talvez isso o ajude mais do que esta ajudando a Priscila – vou chamar de ela. Ela, Priscila, sorriu malvadamente – Não vim aqui obrigado também, como ela. Decidi que precisava de ajuda depois que uma amiga de infância, que era meio fascinada por mim tentou se matar – todo o ar de brincadeira pareceu sumir, então me acertei na cadeira e comecei a encara-lo mais seriamente – acabei dormindo com ela uma vez e bom, ela era minha amiga, eu não queria mais nada. Eu conversei com ela e tal, mas na noite seguinte ela me ligou – contar aquilo realmente parecia fazê-lo se sentir mal, cada palavra saia como uma faca cortando a garganta dele.

– Ela estava chorando muito e no fim acabou cortando os pulsos – ele continuou – ela esta bem, fazem cinco anos isso. Eu só... – ele parecia estar se forçando a parecer bem, mas era nítida a dor que aquilo causava a ele – sexo é bom, mas se for pra fazer tem que ser algo além do físico.

O Marcelo tinha morrido pelo mesmo motivo, por que eu fui incapaz de pensar com a cabeça de cima, porque sexo por sexo era o suficiente pra mim, como era pro Igor. As pessoas se machucam quando não se entende o que é o amor, não só psicologicamente, agora estava claro pra mim que também fisicamente.

Passei a mão no cabelo e me senti um lixo outra vez – olha, o que eu quero dizer é que não vale a pena – ele terminou de dizer parecendo frustrado e voltou a se sentar.

Eu corri pro DASA com vontade de conversar com alguém, de contar tudo o que aconteceu na minha vida e porque decidi entrar no grupo, mas mais uma vez e não queria falar sobre isso.

De alguma forma que eu não sei explicar, alguma coisa dentro de mim foi atraída pelo Igor, como se já fossemos amigos apenas por ele ter passado por uma situação parecida com a minha. Ele entendia o que eu estava sentindo. Pelo menos parte de tudo.

Continuamos ali por volta de quase duas horas e falamos sobre tantas coisas que seria difícil de escrever sobre tudo. Ironia não, a reunião acabou sendo divertida e muito diferente da que tínhamos nos fim de semana.

Como haviam pouquíssimas pessoas os relatos repetitivos não eram o foco central da conversa, então tínhamos tempo para contar historias que realmente interessavam. Priscila nos contou sobre seu primeira namorado e a experiência de ser passivo, opa, passiva pela primeira vez. Eu gargalhei porque na boa, ninguém entendia melhor do que eu.

Ela nos falou sobre a cirurgia de mudança de sexo e disse que se arrependeu no fim das contas. Ela deveria ter aceitado quem era ao invés de mudar e esse era o motivo que a levou ao DASA. Ela precisava se amar mais, se dar mais valor.

Já Laura se prostituia desde os quinze anos. Não que fosse obrigada, nem que precisava fazer. Segundo a ela, a emoção de fazer era o motivo. A ideia de estar sobre o controle de algo, a emoção de dar prazer e possuir, enquanto ao mesmo tempo nada é seu.

Douglas teve que impedi-la de falar, pois quando percebemos estávamos todos em frenesi, loucos por... bom.

Falamos sobre nossas experiências sexuais e abordamos o sexo como uma coisa comum, não como uma praga destruidora de vidas, mesmo a sombra de nossos atos estando ali para nos lembrar do que fizemos.

Contei-lhes que seria pai e Douglas soltou um grande suspiro. Eles me perguntaram se esse era o motivo que me levou para lá, mas depois de olhar para Douglas novamente acuado eu me senti tão mal comigo mesmo que acabei só balançando a cabeça negativamente e todos me respeitaram, não tocaram mais no assunto.

E quando por fim atacamos os últimos salgados velhos na mesa do pano xadrez eu estava me sentindo bem. Já era noite e eu estava com um pouco de frio. Cumprimentei mais uma vez a todos e fui pra casa com a promessa de que voltaria um dia para visita-los.

Entrei no meu apartamento já tirando a roupa, estava suja de cemitério, sou supersticioso. Tomei um banho demorado e bem quente. Repassei meu dia inteiro na cabeça e me senti angustiado novamente, deixei que a agua escorresse minhas preocupações e pesares e quando me senti finalmente limpo, corpórea e mentalmente fui de toalha até a sala.

Me joguei no sofá e percebi que estava exausto. Dei um tempo ali e quando por volta de dez horas criei coragem e fui pegar minha roupa no chão meu celular caiu fazendo um grande estardalhaço.

Haviam três mensagens. Uma era Marcio me cobrando o convite pra beber e as outras duas eram respectivamente de Douglas e Igor.

Douglas 08:59

Eu fiquei preocupado contigo essa noite, espero não estar me metendo de mais, mas conversei com Igor e ele se propôs a ser seu novo tutor. Sei que mal se conhecem e que falar sobre isso ainda pode te doer, mas Marcelo não ia querer te ver caindo tentação.

Boa noite."

“Igor – 09:23

Cara, não sei se Douglas já te falou, mas soube que você não tem tutor e bom, você acabou de arranjar um...”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, não deixem de comentar, eu realmente quero a opinião de voces.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sexo, Amor e Livros" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.