Já era manhã quando Elsa sentiu os raios de sol sobre seus olhos. Ela se sentou sobre a cama, e passou as mãos em seus cabelos, tentando arrumá-los. Ela olhou para frente e viu o garoto Frost, dormindo em uma poltrona; estava sentado e com a cabeça tombada para o lado, provavelmente aquilo lhe causaria dores depois. Seu cajado pousado sobre o colo, e mesmo assim, uma das mãos ainda estava sobre ele, os cabelos brancos bagunçados, e alguns fios caindo sobre seus olhos fechados, davam um aspecto sereno e gentil ao rosto do garoto. Era de se admitir, Jack era realmente encantador, não conseguia mais ter nenhum ressentimento com ele pelo acontecido na sacada do castelo do polo. Jack, com certeza, foi o que mais a ajudou e defendeu até agora, sentia-se agradecida à Frost. Elsa era, sim, madura e às vezes um tanto ríspida com as pessoas, mas tinha um coração gentil e sabia ser agradecida àqueles que lhe eram gentis também.

Ela se levantou, levou as roupas para o banheiro e se trocou lá, deixando o garoto dormir um pouco.

Do lado de fora, podiam se ouvir barulhos do que pareciam ser sininhos de trenó, provavelmente era North chegando, junto dos outros.

– Jack! – disse Bunny, entrando pela sacada e reparando que o garoto dormia. – Acorda, seu moleque preguiçoso. – Bunny deu um tapa na cabeça de Jack, que acordou assustado.

– Ai! Isso é jeito de acordar os outros? – Jack passava a mão na cabeça.

– Você é um guardião, devia estar vigiando a garota, não é para isso que ficou aqui?

Sand se aproximou do amigo e fez uma interrogação sobre a cabeça, perguntando se estava tudo bem com Jack.

– Tô sim, valeu. – Jack passou a mão nos cabelos, se levantou da poltrona e segurou seu cajado. – Espera, cadê Elsa?

A rainha já tinha ouvido toda aquela falação do lado de fora, e apenas suspirou e abriu a porta do banheiro, saindo de lá, indo de encontro à pequena reunião que havia se formado ali.

– Aí está ela. Dormiu bem, querida? – North, animado como sempre, perguntou gentilmente à Elsa, que se limitou a sorrir e assentir positivamente.

– Que bom, então peguem suas coisas, que temos que partir. – North já disse indo em direção ao trenó.

– Hum... Alguém sabe onde é o esconderijo de Pitch? Se não, vai ser como caçar agulha num palheiro. – Tooth se pronunciava pela primeira vez ali.

– Eu sei. – Jack levantou o cajado, em vez da mão, e saiu andando em direção ao trenó, se juntando a North.

– Como assim, você sabe? Que tipo de amizade você criou com Pitch, que até sabe onde ele se esconde? – Bunny reclamava.

Jack apenas sorriu e balançou a cabeça, ao menos sua experiência de “fazer besteira e idiotices o tempo todo” havia dado a ele informações úteis.

Todos subiram a bordo do trenó e seguiram na direção que Jack indicava, indo cada vez mais próximo ao esconderijo de Pitch, e Elsa, mais próxima de sua irmã.

❄❆❄

– Você não vai se safar dessa, e... E... Seja lá quem você for. A Elsa vai vir resgatar a gente, e ela tem poderes de gelo, e vai congelar tudinho. – um pequeno boneco de neve reclamava, ele tinha nariz de cenoura e cerca de um metro de comprimento. – Como você consegue viver nesse lugar escuro, sem luz do sol? Abra uma janela e deixe o verão entrar. – o boneco de neve volta a falar, estava enjaulado próximo a uma garota, que dormia acorrentada, e ele parecia preocupado com ela.

– Ah! Como você é chato! Se não calar a boca vou jogar água fervente em você! – dizia um homem alto, coberto de roupas negras, uma túnica que ia do pescoço aos pés. Black Pitch, senhor dos pesadelos, resmungava de volta ao boneco de neve vivo. Ele se virou novamente para frente e massageou as têmporas, tentando aliviar a tensão e a tentação de jogar mesmo água quente no boneco.

Um cavalo entrou apressado no esconderijo e relinchou alguma coisa, que só Pitch entendia.

– Eles estão aqui? Excelente. Logo estarei livre de todos vocês, e então, finalmente, poderei ter meu verdadeiro tesouro em mãos... Jack Frost. – ele sorria para si mesmo.

❄❆❄

Logo, todos foram ao local indicado por Jack.

– Da última vez esse local estava selado, os próprios medos do Pitch o selaram aqui. – North se lembrava do que havia acontecido da última vez.

– Mas agora está aberta... Outra vez. – Tooth dizia, com uma voz temerosa.

Jack apertou um pouco seu cajado e olhou para Elsa, que estava com as mãos encolhidas junto ao peito, tentando olhar o que havia dentro do buraco, que era a única passagem para o esconderijo de Pitch. Ela mantinha certa distância e parecia curiosa e receosa, ao mesmo tempo, em relação àquele lugar.

Ele olhou para seus companheiros, que assentiram, concordando em entrar. Todos pularam, um seguido do outro, até só restar Frost e a rainha de Arendelle. Jack olhou para Elsa, e lhe ofereceu uma ajuda para descer, já que ele voava e ela não. Elsa olhou para a mão de Jack estendida para si, pensou duas vezes se deveria ou não aceitar.

Ele sabia que ela estava nervosa e temerosa por sua irmã, o garoto deu a Elsa o melhor de seus sorrisos e chegou mais próximo dela. – Vamos lá, confie em mim. Vamos salvar sua irmã.

Elsa, ainda um tanto trêmula, porém mais confiante, resolveu apertar a mão do garoto. Juntos, se aproximaram da entrada, ela sentiu que a mão dele tinha a mesma temperatura que a dela, suas bochechas ficaram avermelhadas por seus pensamentos, porém, não era hora de pensar em Jack, e sim em Anna. Elsa olhou confiante para o rapaz, e assentiu com a cabeça que estava pronta.

Os dois pularam e começaram a cair. Elsa sentiu uma aflição, afinal, era apenas uma humana e, para ela, parecia mais uma queda do que uma descida. Ela se agarrou no moletom do rapaz e envolveu seus braços em volta dele, escondendo seu rosto no peito dele. Seus olhos fecharam, e a expressão tensa mostrava como estava com medo. Jack se surpreendeu com a reação de Elsa e ficou um pouco sem reação, até que retornou à realidade e passou um dos braços em volta dela também, tentando proteger a garota.

Quando finalmente pousaram, Elsa demorou alguns segundos para retornar à realidade. A loira ficou totalmente vermelha ao ver que estava abraçada com o guardião, de forma tão calorosa e romântica; desfez o abraço deles e continuou. – É aqui?

Frost assentiu, e ambos se juntaram aos outros guardiões, que já estavam andando à frente.

– Fiquem alerta, estou com um pressentimento ruim... Bem aqui. – disse North, passando a mão sobre a barriga. Ele e os outros guardiões já estavam armados e preparados para uma batalha, se fosse necessário.

Eles adentraram um grande salão, coberto de trevas, do chão às paredes, apenas um enorme globo em cobre era visto brilhando em meio à toda aquela escuridão.

– Bem vindos, amigos. Aconteceu alguma coisa que desejam tratar comigo? – uma voz em meio às sombras dizia.

– Pitch, sabemos que está com a garota humana, devolva ela. – Tooth dizia ao inimigo.

– Eu? Que coisa feia, Tooth... Acusando as pessoas sem prova? – ele saiu do meio das sombras, e sorriu. – Se quer algo, venha aqui e tire de mim você mesma.

Elsa tomou a frente e usou seus poderes contra Pitch, que desviou de todos os raios congelados lançados pela garota. Ele criou uma frota de cavalos bem diante dos olhos dos guardiões, porém, isso não os intimidou, só fez com que começassem realmente a lutar com o rei dos pesadelos. Sandman usou sua areia e fez uma barreira para os cavalos, que corriam em disparado na direção deles, Tooth voou por cima da barreira e jogou nos cavalos alguns dos ovos bomba que o Bunny havia dado a ela. Jack e Elsa correram um para cada lado, congelando os cavalos da lateral e se defendendo dos ataques deles, North fez um sinal para Sandman abrir a barreira, e esperou com Bunny até que os cavalos ficassem no centro, e ambos atacaram, enquanto Sandman usava os chicotes para transformar os pesadelos em sonhos dourados. Todos foram lentamente se juntando até fecharem um círculo em volta dos cavalos restantes.

– Agora conseguimos! – Jack disse.

– Não... Foi fácil demais... – Bunny mexeu as orelhas e sentiu o cheiro de algo se aproximando. Quando deram conta, estavam cercados por centenas de pesadelos, tantos quanto podiam contar, ou até mais, era de se perder de vista a incrível frota galopante criada por Pitch. Elsa fechou os punhos e os olhos, não iria perder essa luta. Não agora, que estava tão perto de Anna. Ela reuniu toda força que tinha e usou toda ela em um único golpe, que congelou todo o chão do local e, posteriormente, todos os cavalos que pôde alcançar.

Era magnífico, Elsa com as mãos voltadas para o chão, e olhando fixamente o mesmo, congelando todos os cavalos, a partir do casco até a cabeça.

Ela usou tanta magia, que quando notou que tinha conseguido, sua visão perdeu o foco, e ela se desequilibrou, até ser amparada por Jack.

– Elsa, Elsa! Hey, tudo bem com você? – o garoto segurava os ombros dela.

– Tudo. Vamos atrás de Anna.

Eles começaram a correr pelo local, e notaram que os cavalos estavam se desfazendo em areia negra. North franziu o cenho, sabia que tinha alguma coisa errada desde que chegou, e provavelmente tudo aquilo não tinha sido nada. Pitch, quando entrava em uma luta, entrava pra valar, não ia mandar cavalos fazerem o serviço e sumir de repente. Alguma coisa cheirava mal.

Eles chegaram até uma espécie de cela, onde Anna estava acorrentada e dormia apoiada em uma pilastra de parede. Olaf estava de costas, porém, quando ouviu o barulho, foi logo acordando o loiro e a rena que estavam na mesma jaula que ele.

– Sven, olha, é a Elsa! Ela veio nos salvar! – o boneco de neve pulava de alegria.

– Rainha Elsa! – Kristoff exclamou.

– Kristoff? Você também veio parar aqui?

– Eu não ia deixar Anna por nada. – ele disse, olhando a garota que dormia ao lado da pilastra.

A loira correu até sua irmã, enquanto os outros guardiões soltavam Olaf, Sven e Kristoff da jaula.

– Anna, sou eu, Elsa, acorde! – a loira disse, congelando as algemas da irmã, e as quebrando em seguida. – Vamos Anna, sou eu. Por favor.

Por mais que a loira pedisse, a ruiva estava em um sono profundo, e mesmo com a voz de Elsa chamando por ela, não havia nenhuma reação.

– Anna... Não faça isso comigo... – a loira, trêmula, se abraçou com a irmã, que permanecia imóvel.

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