DS (HIATOS) escrita por Lily Becker


Capítulo 1
Prólogo




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Meu psicologo disse que as vezes faz bem falar sobre meus sentimentos, seja pra alguém que realmente existe ou apenas para um ser aleatório da minha cabeça.

É por isso que estou aqui falando com você,  seja lá quem você seja.  Eu discordo dele, mas não acho que eu consiga ficar mais confusa e emocionalmente abalada do que já estou, então não custa tentar. Acho.

Isso não é um diário.  Tudo bem, admito que talvez pareça um, mas eu juro que não é. São apenas cartas. Varias palavras juntas que contam minha história, começando pela pior parte dela.

Eu me lembro exatamente do momento em que tudo começou a desabar.

Era um dia maravilhoso. O Sol estava fraco e a temperatura era amena. Conseguia ouvir meu pai cantarolando no andar debaixo enquanto preparava o nosso café da manhã que cheirava maravilhosamente bem, mas eu estava passando mal, o que acabava com qualquer animo que eu pudesse ter. Minha cabeça doía profundamente e o simples atos de abrir os olhos me causava um enorme desconforto.

— Ally! — era Brad. Meu irmão abriu a porta sem bater e praticamente pulou em cima de mim — O papai mandou a gente descer para o café.

— Hmmmm — foi tudo o que eu disse, ainda sem abrir os olhos.

— Vamos, Ly.  A Oli tá pondo a mesa e a tia Jenna e o tio Chris chegam a qualquer momento.

— Já vou.

Brad deu um beijo em minha testa e saiu sem dizer mais nada.

Eu sentia a falta da mamãe. Não sei como eu conseguia sentir tanta saudades de alguém que eu sequer conheci, mas eu sentia.

Meus pais eram bem novos quando tiveram minha irmã mais velha, Olive. Papai tinha 21 anos e minha mãe tinha apenas 19 e, apesar das dificuldades da gravidez, minha irmã nasceu saudável. Tudo bem, não seria tão difícil cuidar de um bebê. Dinheiro definitivamente não seria o problema e muito menos o apoio dos pais, já que meus avós simplesmente adoraram a ideia de ter uma netinha.

Minha mãe parecia estar lidando bem com a situação, é o que todos dizem, mas então ela ficou grávida novamente e simplesmente pirou.

Tia Jenna tinha apenas dez anos na época, mas foi ela quem convenceu minha mãe a desistir do aborto e alguns meses depois Brad e eu nascemos. Papai diz que os primeiros meses foram difíceis, mamãe amava a gente, mas ela estava mal e nem os filhos pareciam ser o suficiente para curar aquela depressão profunda.

Ela pareceu  melhorar depois que eu e Brad fizemos nosso primeiro aniversário. Ela disse que tentou por um ano inteiro. Tentou parecer feliz, fingiu que sabia lidar com toda aquela situação, tentou ignorar o fato de que tinha vinte e um anos e três filhos para criar quando ela queria viver sem nada que a prendesse a algum lugar. E então ela desistiu. Logo depois do aniversario de três anos de Olive mamãe nos abandonou. Deixou uma carta dizendo que não dava mais, pediu desculpas e simplesmente desapareceu.

Depois do sumiço da filha mais velha meus avós ficaram muito mal e decidiram que iam usar todos os recursos que eles tinham para encontra-la. Infelizmente não pareceu ter dado muito certo, já que tem dezessete anos que ela foi embora e a unica coisa que conseguiram dela foi uma carta no nosso aniversário de dez anos (vovó acha que a carta foi enviada por causa da busca deles, mas eu discordo). Até hoje eles viajam pelo mundo esperando encontrar algo sobre minha mãe.

Seria muito difícil para meus tios ficarem viajando, então no inicio nós éramos seis: eu, Brad, Olive, papai, tia Jenna e tio Christian. Uma família grande e relativamente feliz.

Meus avós paternos e meu tio ajudaram meu pai a criar as quatro crianças que ele tinha em casa até a morte do meu avó e a entrada do meu tio na faculdade. E  então nós éramos cinco, até que Jenna também foi para a faculdade e virarmos quatro. E então chegamos naquele dia, o dia em que tudo desmoronou e viramos só dois.

Como eu disse, o dia estava bonito. Era fim de semana e meus tios haviam combinado de vir para casa para fazermos um churrasco, então eu ignorei a dor de cabeça e desci.

— Bom dia, velhote! — murmurei, soltando um bocejo depois e me sentando no meu lugar habitual.

— Bom dia, querida. — ele disse enquanto jogava uma panqueca para cima.

— Olive?

— Aqui! — minha irmã disse, entrando na cozinha. — Bom dia, família!

Olive era maravilhosa. Com seus 1,75 de altura, olhos verdes e o cabelo loiro pouco abaixo do ombro ela parecia uma deusa. Juntando com a voz doce e as atitudes meigas, ela completava o pacote como a pessoa perfeita, diferente de mim. 

— Bom dia, querida — papai repetiu o que havia me dito.

— Ei, pensei que a querida fosse eu! — brinquei e ele revirou os olhos — Bom dia, Liv.

Ela bagunçou levemente meu cabelo e se sentou na cadeira na minha frente.

— Como vocês dormiram? — nosso pai perguntou, pondo uma montanha de panquecas fresquinhas na mesa.

— Bem — meus irmãos responderam ao mesmo tempo que eu disse "mais ou menos". — Acordei a noite toda — completei — E eu tô com dor de cabeça.

Papai suspirou. Era comum isso acontecer, mas toda vez ele ficava preocupado. 

— Vou pegar um remédio para você, querida. E nada de comer antes de seus tios chegarem.

Assim que nosso pai saiu nós três nos entreolhamos com um pequeno sorriso crescendo em nossas faces quando nossos olhos pararam nas panquecas. Com um pequeno aceno de cabeça feito por Olive, cada um pegou uma panqueca e comeu rapidamente, ignorando a calda, nutella e morangos. Papai nem poderia sonhar com aquilo. Brad pegou mais uma.

— Espero que ninguém tenha toca... vocês pegaram panquecas — ele disse assim que entrou na cozinha poucos minutos depois.

— Quecas? Oquer? — Brad murmurou, ainda com a boca cheia. 

— Você não pode negar, filho. — papai disse sorrindo, o que mostrava que ele não ficara com raiva — Tem "panqueca" escrito na sua testa, praticamente.

— Desculpa — ele disse assim que terminou de engolir.

— Tudo bem — a bochechas de meu pai ficaram levemente avermelhadas — eu também peguei uma quando vocês não estavam olhando. 

Eu gargalhei. Ele me entregou dois comprimidos e se sentou na ponta da mesa, servindo um copo de suco de laranja para si mesmo. Menos de um minuto depois a campainha tocou.

— Eu vou — disse e me levantei, já andando em direção a porta.

Admito, eu sempre fui uma pessoa extremamente animada quando o assunto era minha família e meus amigos, então eu estava praticamente saltitando até a porta da entrada e quando vi meus tios parados ali, com mochilas nas costas e algumas sacolas nas mãos, eu não consegui me segurar e pulei nos dois, dando um abraço apertado. Acho que meu tio já esperava por isso, pois antes mesmo de eu pular ele soltou as sacolas que estava segurando e, definitivamente, foi ele que nos impediu de cair.

— Ally! — Tia Jenna riu, enquanto me abraçava de volta com toda sua força e animação — Você cresceu tanto desde a ultima vez que te vimos!

— Você me viu tem um mês, tia! — exclamei.

— É muito tempo, garota — meu tio disse e bagunçou meu cabelo. — Vamos entrar? 

Meus tios eram bem parecidos. Ambos tinham o cabelo castanho bem claro, quase loiro, e os olhos da cor mel. Jenna era quase da minha altura, ou seja, era bem mais baixa que seu irmão, 

Ele pegou as sacolas que havia jogado no chão e entrou,  indo direto para a cozinha.

— Então, querida, como estão as coisas? — minha tia perguntou, me encarando preocupada.

Sabe aquela pessoa que você pode contar tudo? Aquela que você não liga de contar seus problemas, que sabe quando alguma coisa está errada ou quando você está mentindo? Jenna era aquela pessoa para mim. Minha tia sabia de coisas da minha vida que nem eu mesma sabia e ela parecia me conhecer melhor do que todos nesse mundo, até mesmo eu. Ela era a uma das únicas pessoas que eu tinha coragem de falar como eu realmente me sentia em relação as coisas, principalmente minha mãe, e foi ela que me obrigou a começar a fazer sessões de terapia para falar com um especialista sobre o abandono de minha mãe. Eu parei de ir logo depois que ele me diagnosticou com principio de depressão. 

— Tão ótimas! — menti. As coisas estavam melhores, admito, mas ainda não estavam exatamente ótimas — Vamos, estão esperando a gente.

— Vamos conversar de noite e eu não quero nem saber, Allison.

Suspirei. Certo, não foi daquela vez que eu me livrei de uma bela sessão de psicologia com minha tia.

O café da manhã foi agitado. Era sempre assim quando meus tios vinham, na verdade era assim em qualquer situação, mas sempre era melhor com eles ali.

Nós passamos a manhã conversando e contando sobre as novidades. Olive fora aceita em uma das melhores faculdades de Londres,  University College London (UCL), e deveria começar seus estudos no ano seguinte. Meu tio é pintor e parecia que, finalmente, ele ia decolar em sua carreira. Tia Jenna estava começando um consultório se psicologia no centro da cidade com seu melhor amigo e ela disse que sua primeira consulta fora maravilhosa. Como sempre, o restaurante de nosso pai estava ótimo e a gravadora que nosso avô deixara para ele estava melhor ainda. Já Brad e eu não tínhamos ideia do que íamos fazer da vida e minha maior conquista ainda era ter maratonado as sete temporadas de Pretty Little Liars em três semanas (eu ainda me orgulho profundamente disso). 

Nosso dia foi ótimo. Eu queria repetir aqueles momentos várias vezes. Queria ficar presa nele para sempre, na verdade. Tudo estava ótimo, sabe? Nossa família estava inteira e se divertindo. Era quase impossível ser melhor. 

Papai estava cuidando das comida enquanto eu e meus irmãos fazíamos uma guerra de água dentro na piscina contra nossos tios. Eu não tenho ideia de quanto tempo aquilo durou, podem ter sido apenas duas horas, mas poderíamos ter ficado lá muito mais e ninguém repararia no tempo passando. 

Mais ou menos as quatro da tarde nosso tio recebeu uma ligação da gerente dele, algo sobre alguém na cidade estar interessado em um de seus quadros.

— Eu volto logo — ele prometeu — Devo estar em casa de novo as sete. Ligo quando terminarmos lá, pode ser? 

Tia Jenna também teve que sair. Ela havia marcado de encontrar com duas amigas as cinco, mas também prometeu não demorar muito. Decidimos que íamos fazer uma sessão de filmes quando eles voltassem. 

Assim que os dois foram embora minha cabeça voltou a doer fortemente e foi ali que as coisas começaram a dar errado. Papai me obrigou a tomar um banho quente e me deu mais dois comprimidos enquanto Brad e Olive arrumavam a bagunça lá de fora. Sem toda a animação que eu estava com a visita dos meus tios eu percebi que alguma coisa não estava bem. 

— O que foi? — perguntei quando ele se deitou ao meu lado na cama.

— Nada, querida — ele murmurou sem sequer olhar pra mim.

— Papai — ele suspirou.

— Eu tenho pensado muito na sua mãe, é só isso. Eu ainda a amo, isso não é segredo para ninguém, é só que... eu nunca entendi como ele conseguiu fazer isso, sabe? Sumir assim do nada, não mandar noticias, simplesmente se afastar de tudo... eu não compreendo. Achei que ela estava feliz comigo, com a gente.

— Eu não sei, pai. Eu também queria saber. Eu queria tanto conhecer ela de verdade, não quero conhecer ela só pelas fotos ou pelo o que você me fala, mas eu não sei como eu reagiria se encontrasse ela em algum momento da minha vida. Ela abandonou a gente, deixou você pra criar três filhos praticamente sozinho. Acho que você merece mais do que isso. Você é uma pessoa maravilhosa e merece alguém que te ame de verda...

— Sua mãe me mandou uma carta. — ele me interrompeu — Recebi ela ontem, mas ainda não tive coragem de abrir. 

— Ela... o que? 

— Sim, ela mandou uma carta. Uma bem grande ao que parece.

— Mas a última já tem...

— Sete anos. Eu sei, filha. Não tem um dia que eu não pense naquelas palavras.

Nós ficamos em silencio por alguns segundos. Eu não sabia como reagir aquela informação. Acho que foi uma mistura alivio por saber que ela pelo menos ainda estava viva, um pouco de raiva e, definitivamente, curiosidade. O que ela queria dizer depois de tanto tempo? O que causara aquela carta? 

— Eu posso ler ela se você quiser — murmurei com certo receio.

Eu realmente queria ler aquilo? Ela podia dizer que o motivo de ter nos abandonado foi que ela não amava a gente, ou então ela teve que ir embora para nos proteger de algo (mas o que? Não fazia sentido), mas podia só querer dizer que estava viva. Será que depois de todo aquele tempo ela queria reencontrar os filhos? Eram muitas perguntas e todas as respostas poderiam estar naqueles papeis.

— Não agora — ele disse — Eu preciso ler aquilo antes. Olive disse que tem algumas coisas faltando aqui em casa e Brad esqueceu o casaco na casa de Hans, então eu vou passar lá com seus irmãos e depois vamos ao mercado. Eu leio quando voltar.

— Tudo bem. Você vai agora? 

— Sim. É melhor ter tudo pronto quando os meninos voltarem, não é sempre que eu tenho todos os meus filhos reunidos, não é mesmo? — brincou. Ele costumava dizer que meus tios eram filhos que vieram de brinde. Tudo bem, ele praticamente criara Jenna de seus onze aos vinte e um anos e ajudou muito na criação de Christian, então aquela fala até que fazia sentido. Os dois eram realmente como filhos para ele, o que eu sempre achei estranhamente divertido.

Pode parecer bobagem, mas meu pai sempre foi meu herói. Ele passou por tanta coisa e era tão jovem! Você consegue se imaginar criando cinco filhos com apenas 23 anos? Certo, ele teve muita ajuda dos pais nos primeiros cinco anos, muita ajuda mesmo, mas mesmo assim deve ter sido difícil pra caramba. Mesmo assim ele sempre esteve ali para todos nós quando precisamos e nós sempre estivemos ali quando ele precisava. Ele sabia brincar, ser bravo, fazer piadinhas, ser o pai mais legal do mundo ao mesmo tempo que conseguia ser o mais chato quando precisava. Quando ele tinha 29 anos meu avô morreu e papai teve que assumir o controle da gravadora do pai dele ao mesmo tempo que administrava seu mais novo restaurante (foi um presente de sua mãe. Eu disse que meus avós tinham muito dinheiro, não disse? Tanto os maternos quanto os paternos - eu não sei de onde eles tiram tanta grana, mas isso sempre nos rendeu um presentes e viagens muito legais). Não acho que meu pai mereceu a vida que ele teve. Ele merecia muito mais. Merecia que coisas maravilhosas acontecessem com eles, não aquele monte de merda. Então ele realmente é meu herói, por mais idiota que isso soe.

Papai bagunçou meu cabelo levemente e me deu um beijo na testa.

— Eu vou indo, querida. — disse ele quando Olive bateu na porta do meu quarto —Qualquer coisa me liga, tudo bem?

— Vamos, pai! — minha irmã reclamou — Desse jeito a gente nunca vai sair.

— Estou indo, filha, calma — ele revirou os olhos de brincadeira e sorriu para mim. Olive bufou — Eu amo você, Ally.

— Também amo você, papai. Dirija com cuidado. 

Ele não dirigiu com cuidado. Eu estava deitada quando a campainha tocou cerca de uma hora depois. Meu quarto estava completamente escuro, pois a luz ainda incomodava minha cabeça. A voz de Hans vinda do celular invadia o comodo, mas ele se calou assim que ouviu o som.

— Não vai atender? — perguntou ele.

— Se for importante a pessoa volta depois. Você vai poder vir mais tarde? 

— Claro! Em uma hor... 

Ele foi interrompido pelo som da campainha novamente.

 —... Acho que é importante, Ally.

— Aposto que é algum testemunha de jeová. Te ligo depois.

— Certo, te vejo em uma hora.

A campainha tocou mais uma vez. Joguei a coberta para o lado e gritei "Já vai!". Desci as escadas com raiva e me amaldiçoando por não ter apagado as luzes da casa. Era obvio que sabiam que tinha alguém ali. 

Infelizmente não era um testemunha de jeová na porta. Era um policial.

— Eu não sei o que aconteceu, senhor, mas eu não tenho nada a ver com isso dessa vez — falei imediatamente.

— Você é Allison Levon? — perguntou ele.

— Depende. Ela tá encrencada? 

— Hum, não que eu saiba.

— Sim, sou eu.

Imediatamente a expressão dele mudou para algo mais... sombrio, talvez. O pequeno sorriso que ele tinha no rosto se desfez e vi algo em seus olhos que se assemelhavam com pena.

— Tem algum responsável com você?

— Não. Meu pai e meus irmãos saíram. Você quer entrar? 

— Acho que é melhor, se não for incomodo. 

— Fique a vontade. 

Nós nos sentamos no sofá da sala e ficamos em silencio por um momento. "O que diabos tá acontecendo?" pensei e logo ele começou a falar.

— Bem, Allison...

— Ally, por favor.

— Olha, o que eu tenho para falar é meio difícil e... Olha, esse é meu trabalho as vezes, uma das piores partes dele, admito, mas eu não sei fazer isso direito, então eu prefiro ser direto, tudo bem?

— Certo, o que foi? — eu só conseguia pensar em duas coisas. Primeira: aquele era o policial mais desajeitado que eu conheci. Segunda: porque diabos ele estava na minha casa? 

— Cerca de meia hora atras houve um acidente de carro algumas ruas daqui. 

— Tá, mas o que eu tenho a ver com isso, senhor? 

—Seu pai estava dirigindo um dos carros. 

— Meu... o que? 

— Seu irmão me disse onde vocês moram e me pediu para falar com você.

— Então está tudo bem? Se meu irmão falou com você eles tão bem, não é? 

Sabe quando seu coração está batendo tão rápido que você consegue sentir ele batendo fortemente contra suas costelas, parecendo que ele quer pular para fora de seu peito? Eu estava exatamente assim. Minha respiração começava a se descontrolar à medida que o desespero começava a tomar conta de mim.

— Allison...

— É Ally!

— E-eu sinto muito. Seu irmão estava no banco de trás e quase não se machucou, sua irmã foi levada ao hospital, mas seu pai... Me desculpe, ele não aguentou.

Eu não reagi.  Eu fiquei sentada naquele sofá por alguns segundos sem dizer nada. Não chorei e muito menos gritei. Afinal, não era verdade, certo? Como poderia ser verdade? Obviamente eu dormira enquanto falava com Hans e agora estava presa naquele pesadelo horrível. Em poucos minutos eu acordaria e veria que tudo estava bem. Mas se passaram alguns minutos e eu não acordei. Acabei percebendo que aquilo não era um pesadelo, era real. 

— Eu preciso ficar sozinha. — falei, finalmente. 

O policial disse mais alguma coisa, mas eu não entendi uma palavra sequer. Ouvi a porta bater poucos segundos depois e não sei quanto tempo aquele meu estado de torpor durou, mas de repente eu estava jogando na TV a jarra que ficava na mesinha em frente ao sofá. Os cacos se espalharam pelo chão da sala e cortaram meus joelhos nus, quando eu cai ajoelhada no chão. Quando eu senti a dor dos cacos perfurando minha pele eu finalmente chorei. Eu chorei até soluçar e ficar sem ar e senti uma dor aguda na cabeça quando a bati na quina da mesa. Então as lágrimas salgadas se misturavam com um fio de sangue que escorria do pequeno corte em minha testa quando a tontura me atingiu e eu caí no chão.

A porta da entrada se abriu e uma voz conhecida me chamou. Em poucos segundos senti que estava sendo carregada e logo depois um vento gelado me atingiu.

— Eu tô aqui — Hans disse — Eu tô aqui, Ally. Vai ficar tudo bem.

— Não — balbuciei, sem forças — Eu não... Me tira daqui

Meus olhos começaram a se fechar lentamente, mas a voz dele me impediu de dormir.

— Não! Não dorme, Allison. Você bateu a cabeça, vamos te levar ao hospital. Vai ficar tudo bem.

— Não vai.

— Isso, fala comigo. Só não dorme, okay?

Então tudo foi um borrão. Hans disse mais alguma coisa, mas eu não entendi nenhuma palavra que ele disse antes de apagar.


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