"Você não pode fugir de mim para sempre"

– É o que veremos.

Naquele dia pós-briga, para evitar contato direto com o loiro, acordei cedo e saí de casa uma meia hora antes do que eu geralmente saía. Comprei um lanche numa barraquinha de salgados perto do colégio e comi com um copo de suco dr maracujá... Hmm meu preferido.

Fiquei esperando o portão abrir, é... Pelo jeito eu havia chegado cedo mesmo.

Os alunos me encaravam surpresos. Qual é! Não é tão raro assim eu chegar cedo nessa Joça... Tá... É raro sim.

– Não acredito. -me virei.

– Eae Ed.–não conti um riso anasalado.

– O que está fazendo aqui? E a essa hora? -cutucou minhas costelas.

– Ahn... Eu estudo aqui, sabe... -revirei os olhos e ele também.

– Não se faça de desentendida.

– Credo. Já chega enchendo meu saco. Olha aqui, eu realmente não estou com ânimo para isso. -bufei irritada.

– Brigou com o namoradinho foi? -arqueou uma sobrancelha.

– ...

– Mentira. Estou certo? -abafou uma risada.

– Tem certeza que você não é gay?

– Tenho sim.

– Não é a Ally que está ali? -apontei.

– Onde? -se virou e olhou na direção em que eu apontava.

– Nenhuma. Só queria ver sua reação mesmo. -dei de ombros.

– Cobra.

– Sério mesmo que você vai me acompanhar até o fim do mundo só pra me encher?

– Talvez. -deu de ombros.

– Argh. Odeio. Você. -falei entre dentes.

– Igualmente.

Discutimos mais um pouco até eu mandar ele ir preencher e organizar uns papéis que haviam deixado para mim. Pau mandado.

Sem nada pra fazer e nem ninguém para bater, optei por apoiar os braços na carteira e enfiar minha cabeça lá no meio de meus braços, arrumando meu gorro vermelho na cabeça e enrolando de qualquer jeito meus cabelos, que estavam soltos, para que eles não caíssem em meus olhos, nariz e boca.

Alguem me cutucou.

– Pres, tem alguém lhe procurando. -sussurrou em meu ouvido, ou quase.

– Diga que estou morta. -virei minha cabeça para o outro lado.

– Mas... -ela parou de falar e eu olhei para cima, só para ter certeza que ela ainda estava ali. Viva.

– Hey pres. -sorriu abertamente.

– Quem é você? -perguntei meio grogue. O que? Eu estava num cochilo bom.

– Não lembra de mim? -fingiu desapontamento.

– Ah sim. Nathan. -cocei os olhos e me espreguiçei.

– Você não sabe como eu fiquei feliz ao saber que você estudava aqui. E ainda mais... É a nossa presidente. Não é legal? -puxou uma cadeira qualquer e se sentou de frente para mim.

– É... Espera! Você estuda aqui!? -espalmei minhas mãos na mesa e me levantei, o assustando.

– Sim. E sou seu veterano, caso queira saber. -cruzou os braços.

– Meu Deus. E como eu nunca te vi por aqui, cara? -me sentei novamente.

– Sou meio anti social, sabe. -ficou um pouco sem jeito.

– Ownt. Não precisa ficar envergonhado. -apertei suas bochechas com vontade.

– Pare com isso. Está me constrangendo. -nós rimos.

– Cobra.

– Sim, querido Ed. -sintam a ironia.

– Vai lá. -apontou para fora da sala.

– Fazer o que? -fiquei confusa.

– A... -hesitou por um momento- Ally precisa de uma ajuda... Feminina. -fez aspas combos dedos.

– Ei! -bati em seu braço- Estou indo. Até mais Nat. -pisquei pra ele e corri para me encontrar com a cute.

– Presidente? -aquela voz fofa chamou minha atenção.

– O que foi? Precisa de alguma coisa? Quer que eu bata em alguem? -a segurei pelos ombros e comecei a sacudi-la.

– Pres... Presidente... Estou vendo estrelas.

– Ah. Desculpe. -sorri amarelo.

– Tudo bem. -sorriu timidamente.

– Como você consegue ser tão fofa? -a abracei.

– Obrigada... -ficou envergonhada.

– Sim, o que queria comigo?

– Com você?

– Sim. O escro- digo, Edward disse que você precisava de... Sei lá... Apoio feminino ou algo do tipo.

– Ah é. Bom... Eu queria alguemprameajudaracomprarumaroupa. -falou tudo embolado.

– O que? Respira e fala.

– Pode me ajudar a fazer compras? -me encarou. Ela nem precisa se esforçar para ser fofa.

– Tudo bem. -falei animada- Estou mesmo precisando de uma distração.

– Aconteceu algo? -inclinou a cabeça.

– Não se preocupe. Estou bem. -forcei um sorriso.

– Problemas com o namorado? -perguntou inocentemente.

– Não! Ele não é meu namorado. -me engasguei.

– Não? Vocês pareciam tão bem juntos...

– Não quero falar sobre ele. Não agora.

– OK. Podemos ir depois do colégio?

– Claro. Nos vemos. -me despedi e rumei para a sala de aula.

(...)

Depois de um dia de evitando-certo-loiro, me senti tão... Aliviada. Era até uma coisa legal de se sentir. Por enquanto... Talvez... Tyler...

– Vamos naquela loja. -a garota estava muito animada, me carregando para lá e para cá.

– Esse vestido aí está lindo. Combina direitinho. -falei. Nossa, é tão legal fazer compras com alguem que não é sexo oposto.

– Não é muito vulgar?

– Não. Até porque você tem curvas nos lugares certos, garota! -dei um tapa em sua bunda.

– Mesmo...? -ficou vermelha.

– Com certeza. Mas me diga... Há algum evento especial? -indaguei.

– Não... É só que... Vai que eu precise dele algum dia. -rodopiou.

O vestido, de fato, era belíssimo, e caía muito bem em seu corpo. Era na cor azul "caneta", o vestido era de alças finas e não era curto, na verdade ele não passava da metade das suas coxas, tinha uma faixa de cetim branca abaixo do busto, a saia era um pouco rodada... Resumindo: perfeito!

– Não vai comprar nada? -neguei com a cabeça.

– Só não queria voltar para casa agora. -suspirei.

– Então vamos tomar sorvete. -me puxou.

Jogamos conversa fora -sim, ela acabou levando o vestido-, conversamos sobre tudo, até mesmo sobre relacionamentos.

– O Tyler é um idiota. -mordi a casquinha do meu... Terceiro? Quarto sorvete?

– Mas por que exatamente? -ela me encarava esperançosa.

– Ele me irrita!

– Só por isso? -riu.

– Ele é um merdinha, inútil e... O Tyler. -suspirei.

– Você gosta dele? -me engasguei.

– Claro que NÃO!

– OK. OK. Vamos? Está ficando tarde

– Até amanhã. -acenei para ela.

(...)

– Onde estava?

– Não é da sua conta. -o cortei.

– Grace... Eu...

– Sem desculpas Tyler. Até. -subi apressadamente as escadas, com ele em meu enlaço.

– Não vai comer?

– Já comi. -Fechei a porta atrás de mim e fui dormir.

Naquela noite eu sonhei com uma terra marrom de sorvetes falantes e marshmallows. Um sonho muito gostoso, de fato.

(...)

As aulas haviam acabado e dessa vez eu fiquei sozinha arrumando meu material. Ontem a noite não consegui dormir direito, refletindo se eu não fui muito infantil ao brigar com o Tyler, então resolvi ligar para Ally. Concordo plenamente com o que ela disse: nada melhor do que se desculpar. Me dirigi à sala do Tyler para me desculpar, como fazia um certo tempo que as aulas se encerraram, não havia muitos alunos por ali.

"Tyler, me desculpe!... Não, não, não. Foi mal!... Pior ainda..."

Fiquei pensando em como me desculpar até chegar frente à sala dele. Abri a porta decidida. Era tudo ou nada.

– Tyler eu...

Meu coração acelerou por motivos desconhecidos. Estavam lá, o Tyler e a Ally, agarrados, sentados na janela. Ele com uma das mãos envolvendo sua cintura e a outra mechendo nos cabelos dela. E ela estava apoiando as mãos em seu pescoço, agarrando-o, com suas pernas entrelaçadas.

Os dois se voltaram para mim, com expressões espantadas, como se estivessem sido pegos no flagra.

– Grace, eu...

– O que, até parece que viram um fantasma, vocês... F- foi mal por interromper esse seu momento de... Intimidade!...

– Pre- Presidente, não é o que você pensa...! - disse Ally.

Minha vontade era de correr, e assim fiz. Tentando tirar aquela cena de minha cabeça. Droga! Isso é que dá tentar ser a "legal"!

– Espere Gracee! - e essa foi a ultima coisa que ouvi daqueles dois naquele dia, pelo menos ate ele chegar em casa...