1. Desculpas

-Desculpa.

-Hunf.

A garota cruzou os braços e olhou para o lado, emburrada e com as bochechas levemente estufadas.

-Desculpaa...

A voz chorosa murmurou mais uma vez em seu ouvido e fez com que pequenos arrepios percorressem seu pescoço e braços, mas a jovem se manteve firme e continuou na mesma posição que estava.

-Takanee!

A voz pediu mais uma vez e ela sentiu os braços que a envolviam pela cintura a abraçarem com mais força e a testa do dono da voz repousou no seu ombro. Ela sentiu a sua sobrancelha esquerda tremer levemente, mas conseguiu se manter firme. Ah, quanta teimosia.

Entretanto, não durou por muito tempo, principalmente quando aquele que a abraçava e pedia desculpas decidiu que era uma boa Idea distribuir pequenos beijos desde sua nuca e passando pelo seu cabelo.

Foi aí que a garota sentiu as bochechas arderem e a palavra “TILT” com letras enormes e garrafais aparecer na sua mente.

-Ah! – Exclamou por fim. – Tá bom, tá desculpado!!

Takane sentiu os braços afrouxarem o abraço, mas ainda se mantinham ao redor dela e um riso abafado chegou até seus ouvidos. Ela bufou e se virou para encarar o jovem atrás dela, este mantinha os lábios comprimidos para impedir que outra risada saísse.

-Chantagista.

Haruka riu e assentiu um pouco envergonhado.

-É que eu sabia que se fizesse isso, a Takane ia olhar para mim. – Ele a trouxe mais para perto. – Desculpa mesmo.

A morena se manteve de braços cruzados, com a mesma expressão irritada de sempre e as bochechas vermelhas, ela deitou a cabeça contra o peito dele e resmungou:

-A- ah, que seja.

Por que ela estava brava mesmo?

2. Arrependimento

A garota balançou suas mangas de um lado para o outro enquanto seu olhar entediado as seguiam, os pixels do celular de Shintaro dançavam alegremente ao seu redor.

Como se zombassem dela.

A garota estufou as bochechas e cobriu o rosto com ambas as mãos que ficavam dentro das mangas exageradamente grandes do casaco de usava. Ela engoliu em seco.

Ah, as memórias gostavam de brincar com ela. De fazer seu coração se sentir leve para depois rasgá-lo sem piedade. E de lembrá-la o quanto ela era covarde.

Os olhos de um azul elétrico pousaram no jovem de cabelos brancos que estava sentado a poucos metros dela, enquanto comia seu quinto – ou seria sexto? – prato de comida. Ene sentiu um gosto ruim na boca e pensou em desviar o olhar, mas não conseguiu.

Porque, querendo ou não, ele ainda conseguia prender sua atenção completamente e fazer seu coração palpitar.

E isso a irritava tanto.

-Eu quero te dizer... – Ela pensou, várias memórias daquele fatídico dia invadiram sua mente de uma só vez e aquelas malditas palavras ficaram mais uma vez entaladas em sua garganta. – Eu quero que elas te alcancem.

A ironia era que mesmo que ela tivesse sido mais rápida e contado a ele quando ainda tinha tempo, não importaria, porque infelizmente, Konoha não fazia ideia de quem ela era.

Mas... O quão diferente teria sido se ela não tivesse se rendido ao medo e a teimosia?

Ah, se arrependimento matasse...

3. Manhã

Ela suspirou levemente, sua franja caía sobre seus olhos e seu corpo se balançava levemente com o que quer que ela estivesse sonhando. O moreno na frente dela soltou um sorriso, seu rosto estava apoiado na sua mão e a outra se ergueu para arrumar a franja da jovem.

Ela soltou um pequeno resmungo, mas continuou dormindo.

Haruka sorriu mais e depois deixou a mão repousada na bochecha da jovem. Ele adorava vê-la dormindo, ela parecia tão calma e serena, como se nada tivesse acontecido com ela e nada pudesse machucá-la.

E parecia tão distante, tudo aquilo que aconteceu com eles durante aquele verão. O sorriso do moreno diminuiu um pouco ao se lembrar dos tais eventos, seu dedo polegar acariciou a bochecha dela quando percebeu que a sua expressão pareceu mais tensa.

Isso sempre dava certo para afastar os pesadelos dela e ele suspirou quando percebeu que não tinha sido diferente naquela vez.

Quando ele recolheu a mão, ouviu outro resmungo – dessa vez, mais alto – e olhou para a jovem novamente. Olhos vermelhos encaravam os escuros dele.

-Parou por quê? – Ela afundou o rosto no travesseiro. – Tava bom.

Ele riu.

-Bom dia, Takane.

-Não! – Ela levantou o dedo indicador e o balançou, antes de rolar para perto dele e abraçá-lo pela cintura. – Se você falar “Bom dia”, vamos ter levantar e eu não quero fazer isso ainda.

-Certo, desculpa. – E devolveu o abraço. Bem, tecnicamente, o que ela dissera era verdade, mas só faltavam alguns minutos para a hora que costumavam acordar...

Ah, ficar na cama mais alguns minutinhos não ia matar ninguém mesmo.

-Mas você sabe que vamos ter que levantar, né?

-Eu sei. Cala a boca.

Haruka riu de novo e deitou a cabeça no travesseiro.

Você acreditaria que essa era a rotina deles todas as manhãs?

4. Inverso

Mãos trêmulas seguravam o celular, uma garota de brilhantes olhos azuis o encarava com uma expressão preocupada. As feições estavam mais suaves do que antes e seus olhos e cabelos mudaram de cor – assim como os dele – mas ele tinha certeza. Porque independente de todas essas mudanças, ele sabia com todas as forças do seu ser que era ela.

Ele estava tão preocupado, estava com tanto medo e queria tanto vê-la de novo. Queria tocá-la e se certificar que estava bem, que estava viva.

Isso o frustrou um pouco, já que tudo que poderia tocar era a tela fria do celular que a mantinha presa. Ele não tinha ideia do porque isso acontecera com ela enquanto ele ainda podia se mover com um corpo.

Não importava. Era ela. Ela estava bem e apesar de tudo que aconteceu, eles estavam juntos de novo e tudo poderia ser como antes.

Mas...

“Desculpa, mas... Quem é você?”

Ela não se lembrava dele.

O jovem de cabelos brancos deixou que as lágrimas finalmente deixassem seus olhos rosados e segurou um soluço ou outro. Entre a visão embaçada, ele viu a garota virtual mexer os braços desesperada e mover-se rapidamente pela tela.

-K- Konoha?! O que houve? E- Ei! Não chora não!

O jovem sentiu mais lágrimas descerem pelas suas bochechas, mas um sorriso – que Ene não conseguiu distinguir se era triste ou aliviado, talvez os dois – se formou em seus lábios.

-Você não me chamava assim... – Ele pensou entre soluços.

Ah, como doía. Ela estava ao alcance de sua mão, mas ele não conseguia mais alcançá-la.

-Ainda bem... Ainda bem... – O jovem soltou e segurou o celular com mais força, sua franja cobrindo seus olhos.

E apesar de tudo, ele estava aliviado, porque mesmo que ela não se lembrasse dele, Konoha sabia que ela estava bem. E isso já era suficiente para ele.

5. Surpresa

-Takane!

A morena pouco deu atenção para o chamado, sua atenção estava voltada a tarefa que tinha em mãos. Onde estavam aqueles malditos fones de ouvido?!

-Takanee!!

-Que foi, Haruka?! – Ela finalmente respondeu, mas ainda sem dar total atenção para ele.

-Eu tenho uma surpresa para você!

-Eu não gosto muito de surpresas, sabe... – Ela olhou dentro de uma caixa próxima. Nada.

-Ah... – Dava para ouvir o entusiasmo do jovem se esvaindo, mas voltou com força total na fala seguinte. – M- Mas mesmo assim! Eu ainda quero te dar essa surpresa!

-Tá bom, tá bom. – Olhou dentro de uma bolsa. Nada também.

-Mesmo?!

-Sim, sim. – Ela abanou a mão. – Anda logo.

Takane franziu o cenho, já visivelmente irritada com aquela busca sem resultado e antes que pudesse gritar de frustração, ela sentiu algo lhe segurar pela cintura.

-Haru-!

E quando se deu conta, a ponta de seu nariz estava encostada na do garoto a sua frente. Seus olhos se arregalaram e ela sentiu seu pulso aumentar.

-Surpresa!

Com isso, Haruka levou sua mão para segurar a dela enquanto a trazia mais para perto e beijou levemente o seu lábio inferior, depois o superior, antes de finalmente lhe dar um beijo propriamente dito.

E prolongou por mais alguns minutos, enquanto sentia o pulso da jovem bater tão rápido que parecia que ia parar. Ah, ele adorava fazer aquilo, embora nunca pudesse admitir para ela. A jovem se deixou derreter sobre o toque dele e retribuiu o beijo, sentindo-se completamente quente da cabeça aos pés.

Quando se separaram, Haruka piscou algumas vezes e olhou para onde ela tanto mexia.

-Eh? Takane? Tava procurando alguma coisa?

-... Não sei... Esqueci. – Ela murmurou, antes de puxá-lo para outro beijo.

6. Sonho

-..Ka!

A voz estava baixa, abafada.

-...Ha...!

Estava chamando por ele? Não tinha certeza, mas parecia que sim. Afinal, sua atenção foi direcionada imediatamente para aqueles fragmentos de nome e aquela voz.

Era uma garota...? Sim, era uma garota. Estava muito nublado, mas ele sabia que era, só não conseguia ver com clareza as feições dela.

Ele pode perceber que ela tinha cabelos negros que estavam presos, era pequena e estendia a mão em sua direção, como se quisesse alcançá-lo. Sua boca mexia e tremia ao mesmo tempo.

E chorava. Chorava desesperadamente.

Uma sensação muito desagradável tomou conta do seu peito ao perceber aquilo, ele não sabia por que, mas estava odiando vê-la chorar. Doía, muito.

Tentou responder, tentou dizer para que se acalmasse e que estava tudo bem...

Mas sua voz não saiu, ele não conseguia responder.

Era sufocante.

Olhos rosados se abriram de repente e o jovem de cabelos brancos levantou da sua posição do sofá onde dormia. Konoha olhou em volta e franziu o cenho, confuso.

Nada daquilo foi real? Foi só um sonho?

Não, espere. Talvez fosse isso o que as pessoas chamam de pesadelo?

O jovem levou a mão ao peito e segurou o pano de sua camiseta com força.

... Que cruel.